O CÉU.

A Lua também tem um céu. Eu e você também. Dizem que existe Deus, mas eu só acredito no céu. Que nem sempre é azul. Vamos, não se prenda ao detalhe e olhe nos meus olhos. Não há um céu azul neles. Há uma eterna conjuntivite. Feita de baseado e licor. Meu céu é como o azul de seus olhos e têm cílios grandes como as caudas de um pavão. O pavão é um bicho feito de arco-íris. Qual será a cor do céu do planeta dos pavões? Sim, pois quando estou doidão acho que cada bicho tem seu planeta natal. Deve ser colorido demais. Existe um céu em Van Gogh, um céu em Bacon, um céu em Kandinsky. Mas nem em todos tudo é tão azul assim. Por que o azul é a cor do céu da Terra?

Sunday, December 30, 2007

DELIRIUM



Ninguém despertou do ano novo
e todo mundo se divertiu
Hoje dou um de bico na minha cama
e vou voar em outro aroma
Há delírios vários
e um me persegue:
a de que o cheiro da pasta de laçar
me enlaça como um cheiro de bosta
Como eu posso ir à praia feliz
e surfar minhas ondas de Amplictil?
Meus tisunamis interiores são tão maiores
Mas só podem matar a mim
Menos mal

Friday, December 28, 2007

QUINZE.

A fúria silenciosa do vento que bate na janela e prossegue o seu caminho de errância até levantar as pontas da minha camisola. O obstinado silêncio que eletrocuta o dia-a-dia. Eu vou quebrar ele. Eu vou quebrar ela. E nos encontramos nas curvas da estação do metrô. Todos quebrados e nos quebrando mais ainda. Eu não sei mais andar. Você quer fazer sexo com uma paralítica. Eu vou te quebrar inteirinha. Vou arrancar seus testículos. Soprarei seu horizonte para longe de mim. Empurrarei você abismo acima. Puxarei pelos pêlos do púbis. Pelos seus cabelos. Quebrarei uma a uma as suas falangetas. Depois te darei um beijo. Depois vamos para as férias. Eu não entendo você. Que não é meu. Bebo, babo, bebo. Sou uma mulher que bebe em casa, mais que socialmente e menos que uma alcoólatra. Sou uma prostituta de luxo. Ganho porrada de graça. E não sou masoquista. Quero te ferir um pouco. Tirar seus contornos de mim. Fazer um outro princípio final. Por que sou assim? Por que aceito levar estas chicotadas com palavras de choque? Caio dentro de mim tão em mim que de mim não saio. Estou paralisada agora, olhando a tevê. Nada me diz nada. A não ser aquela propaganda que vendia uma família cheia de filhos e todos saudáveis. Nós temos um e sou eu quem sustenta tudo. Eu que dou duro na rua. Eu que trago o leite das crianças. Com quantos abismos se faz uma canoa pra navegar o nosso caos? Eu não entendo você. Você me entende com esse punhal na mão e com esse soco inglês e com essa bandeira do Atlético e com este puçá e espinhos e baiacus boiando feito eu, toda inchada. Cheia de hematomas pelo corpo onde corre uma voltagem que te repele. Mas eu não sei mais viver. Não sei o que é viver. Parece que todo o meu prazer foi apagado feito HD de computador. Há muito tempo não tenho o antivírus contra você. Me dá um tempo antes que eu te mate agora mesmo e venha tirar de mim um pouco da minha dignidade. Vergonha na cara é o que eu não tenho. Sempre volto pra você. Sempre me pede mais uma chance. Sempre digo que sim. Sempre bebo mais um pouco e mais e mais. Depois vem isso. Fazemos sexo e tudo volta a ser como era nos nossos melhores dias. Fica assim uma semana e você pega o soco inglês e me ameaça com uma pistola taurus. E ninguém sabe que você me bate que você arranca o meu couro que você me trata assim. Você é cordial com todo mundo. Comigo, áspero, cheio de cacetetes nas mãos e aquela população inteira de seres violentos que você carrega. Não adianta eu tentar. Já tentei de tudo. Já procurei pai de santo, já fiz mandinga, já tirei você de outras e tem isso. Você tem outras e as outras têm você. Mas você só bate em mim. Por que sou eu quem te sustenta? Por que você é incapaz de realizar uma boa ação pra mim? No final disso tudo nunca tem final e a gente vai levando feito uma bola de neve. Crescendo e levando tudo. Eu preciso de um tempo que seja suficientemente grande pra eu me esquecer que você existe, pois você se esqueceu da sua antiga elegância e de como era amável e bacana. Você só joga o corpo em mim pra me dar porrada ou socar seu sexo dentro de mim. Depois me fura com o furador de gelo. Eu passei a máquina zero no cabelo. Eu vou mudar. A beleza é o que a mulher tem de mais importante pra você. E eu já estou velha e cansada e perdendo tudo, as esperanças indo bueiro abaixo. Qual arco-íris é o verdadeiro? O do chão posso tocar: estou na sarjeta. Você é sujo e cheira a perfume barato. Hoje estou com pena de você. Não sei como pude agüentar tanto tempo. Você me deu tapas na cara. Me quicou na parede e foi tomar uísque barato, fumando seu cigarro barato. Botou suas botinas e me deu um pontapé. E aquele filho que perdi por você ter me jogado de brincadeira, depois de um porre, numa piscina sem água? Flores e mais flores. Quero pétalas de rosa. Quero orquídeas e tudo isso pode ser ao mesmo tempo o que quero e o que não quero, porque não adianta vir mais com meu amor e com meu benzinho e com minha querida.
Eu vou te foder, menina. Vou tirar o seu filho de você. Num tenho nada em meu nome. Você num vai ficar com nada. Só vai ficar com as marcas no corpo dessa última surra que vou te dar. Você acha que é poderosa, mas num tem poder nenhum. Você é melancólica triste chata burra. Nem sabe quanto é três vezes cinco.
Quinze vezes ela atirou nele com duas pistolas diferentes. Quinze chutes deu no saco dele. Quinze estocadas com o quebra-gelo. Quinze marteladas na cabeça. Depois rezou quinze ave-marias, quinze pai-nossos e dormiu ao lado do corpo, esperando a polícia chegar.

Wednesday, December 26, 2007

O SACI E OS PRESENTES.

Papai Noel está pobre.
Às vezes menos nobre do que Deus.
Às vezes mais chegado aos filisteus
do que aos filhos teus.
Por isso tu sabes que este ano que passou
voou rápida águia
sobre os escombros do que fomos.
Isso se nós somos mais do que somados:
um só e mais eles.
Os filhos que não tivemos pedem presentes
e nunca deixaram de morrer.
As meias dependuradas na lareira têm chulé.
O Saci é um papai Noel sem pé.

Tuesday, December 25, 2007


Friday, December 21, 2007

ESCRAVIDÃO OU ESCROTIDÃO????????

Porrada no peito do pé de Pedro
O peito do pé de Pedro era preto
Porrada no peito do Pedro preto

Porrada no Pedro
Porrada no preto

Uma porrada de Pedro dando porrada no preto
Preto dando porrada em preto

E agora Pedro?

Thursday, December 20, 2007

HUMANIDADE.

Como pode um louco débil mental
Com a idade de quatro anos
Viver num mundo tão vasto

Tão vasto é o mundo
Quão vasto será o mundo do louco
Com a idade mental de quatro anos

Se uma criança de quatro anos vive
Por que não pode viver o louco
Com a idade mental de quatro anos

Tuesday, December 18, 2007

LINGUAGEM.

O louco baba um licor de excrescências
O louco faz excrescências
entre o que baba e o que faz

Esta é a linguagem do louco
Ele está no que baba
Na excrescência que ali jaz

O louco não rasga dinheiro
Compra cigarros bem fortes
para que possam matá-los

Antes que a morte lhe mate

Sunday, December 16, 2007

CONTRATO COM DEUS.

[Eu e meu ex-computador. Ganhei um novo de um puta amigo. O nome do amigo é Iosif Landau. Fiz este poeminho pra nós todos os fodidos. Resolvi botar a minha foto porq tá choveu mulher no site do Iosif, quando ele botou sua foto lá kkkkkkkkkkkkkk Sou mais feio do que ele em tudo. O que não nos impede de sermos muito amigos].


Quando ele acordou para aquele dia ele acordou
para Aquele dia. Acordou sabendo que iria morrer e sabia
que seria naquele dia. Os dias eram tão iguais menos este
que estava vivendo. Caminhou contra o vento e partiu.
Bem longe dali, ela deu um beijo em si mesma beijando
o espelho e caiu do parapeito. Não deu tempo para o
pára-quedas abrir. Eles morreram no mesmo instante e
hoje têm um contrato com deus: até que a vida os separe
serão ateus.

Saturday, December 15, 2007

VARIAÇÃO DE ATOMIC E UM POEMA.


QUÍMICA CEREBRAL

Bom dia Lexotan
Bom dia Prozac
Bom dia Diazepan
Bom dia coquetel
Bom dia amplictil
Bom dia fenergan
Bom dia sossega-leão
Bom dia eletrochoque
Bom dia Piportil
Bom dia Lorax
Bom dia Litium
Bom dia Haldol

Boa noite Rodrigo

Friday, December 14, 2007

INFÂNCIA NO LEBLON ENQUANTO ELA.

A tela em branco é o inferno que me arrepia
O céu sou eu dentro dela
Vestido formalmente com uma nova fantasia

A canção que eu escuto assim mesmo
É a mesma lua que vejo nua segurando o umbral
É a sua voz que flutua nas águas do canal

O Leblon me assusta na entrada do Miguel Couto
Enquanto eu vejo o meu papai e mamãe
Sumariamente interrompendo o coito

Wednesday, December 12, 2007

REGURGITANDO.

A gente prende e arrebenta
Depois de novo faz isso

Com loucos não se mexe
É o que querem no circo

No circo do hospício mais perto
Da sua casa bonita

Vá visitar algum louco
E entenda que o que ele vomita

É o mundo que o regurgita

Monday, December 10, 2007

UMA VARIAÇÃO DE UMA TELA E UM CONTINHO.


CÓRTEX

Comprei uma arma prateada para me matar. Era a mais bonita e a mais linda pistola e também a mais cara. Gastei todo o meu dinheiro na compra. Mas você não quis atirar em mim e como sou um covarde não puxei o gatilho. Preferi me jogar. Mas não sabia que eu tinha asas e naturalmente elas voavam ou me faziam voar. Tentei tantas vezes me matar que desisti por incompetência.

Certo dia bati numa quina de mesa e tudo foi-se quando não queria mais morrer. Eu não havia sido feliz, mas era um aquário com muitos peixes naquele momento. Foi como se uma baleia caísse dentro do aquário e se debatendo estourou meus tímpanos.

Não entendi.

Não levo nada.

Sunday, December 09, 2007

AUTO-AJUDA.

O poeta é um ladrão
Rouba tão descaradamente
Que chega a dizer que é seu
O poema de outro indigente

E aquele leitor de sempre
Não chega a reparar
Que o poeta é um louco
Luz querendo brilhar

Por isso estou em pessoas
Em pessoas quero estar
Roubando a eternidade
De outro que me roubará

Thursday, December 06, 2007

A FORÇA INCRÍVEL.

Fisicamente
a noite
é só um segundo

Dormir
é entrar
no mundo

Alice se olha
no espelho

Estão brancos
os seus pentelhos

Os clássicos em mp3
O e-book

Quem sabe
eu não viro o verde

Hulk?

Wednesday, December 05, 2007

TÚNEL.


Indo tudo indo como vindo
algum trem: pé na embreagem

Tudo indo como se nada fosse
todo o verso fez-se foice

O martelo e a bigorna
forjando uma estação

O trem novamente indo
Ele vai para o nunca mais

Vai de onde venho vindo
Há coisas que jamais

acontecem
A noite chega e a gente vai

se perseguindo
O pesadelo pelos poros vem surgindo

Brota numa folha de papel
Um anzol preso no lóbulo

e no final o prólogo

Monday, December 03, 2007

RESENHA NO JB.

na
partitura
da loucura
vou
tocando
meus instrumentos.

[ Saiu uma resenha hoje no Jornal do Brasil (de minha autoria) sobre o CD Sonorizador, de Ricardo Corona. Confira em http://jbonline.terra.com.br/editorias/ideias/papel/index.html ].

Saturday, December 01, 2007

TELA E 2 POEMAS CURTINHOS.

O masoquista

Sentou num ouriço
Gozou


O afogado

Ar rima com mar
E respiração boca a boca

Thursday, November 29, 2007

OLHOS

Nos seus olhos
os meus olhos espelhados
são olhados

Vejo tigres desfocados
dando o bote
no caos da pupila

Nos seus olhos
vejo os ossos de minha face
devorados pelo tempo

Tudo é reflexo
Tudo reflete a mim e ao tigre
E o deus em tudo gira feito

uma baiana da Portela
Seus olhos são jibóias perfumadas
descendo rumo aos pés da existência

Você é uma criança pálida
e magra enguia que me guia
ao feroz de uma alma

os seus olhos

Wednesday, November 28, 2007

DOIS POEMAS E UMA TELA.

Eu não tenho medo de ninguém
Nem de Deus
Nem do diabo
Nem de fantasmas
Nem de camisas de força
Eu só tenho um medo
O de não ter medo de ninguém

EU INFERMO NO INFERNO

Falo dos infernos da vida
Pena
:
os que vivem no paraíso
estão enfermos

Sunday, November 25, 2007

DEMENTE.

A minha mente tem uma fauna esquisita.
Orangotangos dançam tango.
A formiga carrega um pterodátilo.
O elefante é um chuveiro.
O porco é um banheiro.
E, além disso, as neuroses habitam sem calma
o galinheiro. A galinha cisca pra frente.
Mas o caranguejo anda pra trás.
Todos os cachorros são azuis.
Mesmo assim me habito sem traumas.
Nas minhas veias corre sangue de enguias.
Cheiro os pássaros que voam.
Vomito águas-vivas que moram na minha flora intestinal.
Tudo é assim tão selvagem lá dentro.
Por isso não consigo ser meu centro.

Thursday, November 22, 2007

ESTRELAS.

Os anjos estão dispostos a nos ajudar
É meia–noite e eu me divido em três
Sou o cavalo branco diante do abismo
E o morcego que vê na escuridão
E a esfinge que baba sêmen

Alguns corvos estão a nos olhar
O nosso longo beijo de compreensão
E a morte tão próxima quanto o medo
De que um anjo vire uma verdade suspensa
E assim se enforque com a própria luz

E um anjo enforcado é mais um aviso
De que a voz que escuto em mim
Continuará a pedir ajuda a todos
Haverá então o encontro das trevas com a noite
E eu ouvirei outras vozes além daquela

Que dirão que tudo está no início
E o universo ainda não copulou com a terra
E o dia que isto acontecer
Será o início de uma nova era
Será noite de dia e de noite

E os zumbis jogarão xadrez com o resto
De corpos mutilados
E o fogo inundará as pradarias
Aí os loucos estarão todos livres
Por que todos estarão loucos

Tuesday, November 20, 2007

ONTEM.



[alguém q passa pela nossa vida e leva tudo que deu. fiz este poema ontem de madrugada, depois que ela foi embora].


e ela olhou
fixo pra si
se achou tanto
que sumiu
no espelho

além de levar
algo que era meu
cuspiu bocejou
e não disse
adeus ou até já

ela roubou-me
levou o poema
e hoje eu com fome
vomito ontem

Sunday, November 18, 2007

DEPOIS DO ALMOÇO.


PAPO FURADO

A Antonio Mariano


O meu poema burilado
É como um pum molhado

Ele não fede nem cheira
Gosto de Manuel Bandeira

Thursday, November 15, 2007

REMÉDIOS.


Um remédio que faz você tremer e babar
Um remédio pra você parar de beber e babar
Um outro pra você parar de tremer
Um remédio pra você relaxar
Um remédio pra você gozar sem se tocar
Um remédio pra você não ouvir música alta
Um remédio pra você não falar palavrão
Dois remédios: um para a mente e outro pra o coração
Três remédios para dor de cotovelo
Tomei o quarto por causa do terceiro
Foi um remédio que me fez
sujar o banheiro
Foram os remédios que me obrigaram a gostar deles
Não é um amor como o meu por você




Wednesday, November 14, 2007

SE JOGAR.

[daqui de casa dá pra ver o mar de Copacabana distante e estas redes de proteção impedem-me de fazer algo mais brusco: como me jogar. daqui de casa dá pra ver a Lagoa bonita. outro dia eu mostro. mas esse negócio de rede não era pra mim. nunca foi. apesar de ser um suicida em potencial. era pra Marina, quando era pequena. por que as crianças têm essas propenções aos abismos?]


Matei um homem e
Uma mulher
Comi-os de colher
E vomitei um poema
Outro dia também me mataram
Mas me comeram de garfo e faca
Saí pelas fezes
Calmamente
Como quem nasce
Lentamente
Usando um disfarce
De gente
Vestia Negro como a noite era negra
Me confundia com ela
Até que viramos a cadela
Que defecava no tapete
Um bilhete
Ela me veria de estilete
Um outro Valete
A queria de sapatos altos
Alguns fatos são menos exatos
A poesia é um fetiche
Quando ela existe
E o poema é só o princípio
De um precipício

Monday, November 12, 2007

Cada vez tem mais gente no mundo. Gente que fala. Que ri. Que chora. Gente que corre. Gente que morre. Gente pra tudo. Pra tudo tem gente.
E cada vez todo mundo está mais perto da morte. Até eu que já nasci morto.
Apesar de a punheta ser a certeza de que existe céu. A boceta é a melhor coisa que Deus inventou. Uma ex-freira quis transar comigo. Depois ela me pediu a extrema unção. Disse que tinha pecado. Eu fumei um baseado e dei o que ela precisava. Depois do depois chorou tanto que ria convulsivamente como se o nada e o tudo se completassem numa oferenda. Ela me deu uma flor. Eu coloquei a flor no cabelo dela. Depois disse adeus. Ela me ligou e eu não atendi o telefonema porq meus poderes para normais diziam que era ela que tava ligando. Depois fui ver Tropa de Elite. Puta que pariu. Que falta do que fazer. O Word grifou diziam e puta. Um concerto maestro. Três acordes é tudo e tudo é como a pessoa fala, tudo é como a pessoa fala e tudo e como a pessoa fala: melhor ficar calado. Once more.

Saturday, November 10, 2007

MUITAS VEZES.

Às vezes eu penso, mas só às vezes. Numa coisa venho pensando muito. Aquele rapaz q vem pegar o lixo todo o dia ganha pouco pra caralho. Eu também ganho pouco e fico a me perguntar constantemente: por que não sou eu no lugar dele?
Restos de comida. Garrafas pet. Latas. Tudo que corta a alma.
Já que ganhamos pouco, poderia estar carregando o lixo e não estou.
Não acredito em força divina que me protege e não a ele. Em que acreditar então?
Sei lá.
Perguntas nunca cansam de me perguntar. Gostaria de ter respostas para todas, mas seria como ter todas as chaves pra tudo. Eu não tenho resposta. E acho que, pelo menos, ele é mais feliz que eu porque não deve se fazer tanto essa pergunta. Ou.

*
Às vezes eu penso, mas só às vezes.
Quando alguém morre, eu fico triste porque não sei pra onde esta pessoa, objeto ou coisa vai.
O fato de não ter certeza é que me incomoda.
Quando eu morrer, não fique triste só porque não sabe para onde eu vou.
Fique triste porque gosta de mim e sentirá minha falta. Mesmo sendo você alta voltagem. Sentirei sua falta também.Estarei no cemitério do Caju e lá sediado esperarei as flores que sempre quis lhe dar.

Wednesday, November 07, 2007

SOBRE O POP.

Acho que as pessoas tristes vivem mais
Elas tomam mais remédios

Os doidos só não tomam mais remédio
Por que os laboratórios não querem

Governos preferem habitar algum planeta
Do que habitar algum remédio e alguma mente

É tão perigoso falar da loucura
Podem achar que eu sou louco mesmo

Monday, November 05, 2007


Detesto falar como você fala de mim.
Detesto falar como eu falo de você.
As palavras às vezes se suicidam.
Às vezes como as pessoas, as palavras fazem loucuras.
Eu não me controlo tanto assim.
Às vezes tudo parece bem fácil,
mas quando vejo o tumor que criamos junto:
um em cada um;
nestas horas é que mastigo árvores invertidas
e o silêncio do silenciador me vicia.
Saio dando teco em todo mundo.
Pena que a arma é silenciosa e as balas explodem no corpo:
também sem som.
Queria ouvir algum som de seu vácuo,
mas não vejo o barulho nas coisas que me diz.
Sequer um esgar quando morre pra mim.
Sequer um ponto final.

Friday, November 02, 2007

PUNK 2


Camisa de força

Tira esta camisa de louco de mim
Assim não posso mentir e dizer que sou louco

Está muito apertado aqui por perto
Mal posso falar como falo com as mãos

Não posso fazer nenhuma mágica
Me diga se sou um perigo pra mim

Aceita que eu sou um doente
Já me aceitei desde a minha última morte

Tuesday, October 30, 2007

COMPULSÃO

Eu lavo a mão toda a vez que toco alguém
Eu não me toco depois de ter tocado em alguém
Quando o lixeiro vem eu faço o máximo
Para que não exista nenhum toque entre nós

Quando o carteiro vem com vírus dele
Eu tomo cuidado para não haver qualquer contato
Detesto que me toquem e que falem tocando
Detesto cumprimento de mão com mão

Quando eu cumprimento alguém logo lavo a mão
Vejo sujeira em todo o lugar
Menos dentro da minha mente
Que deve ser o lugar mais sujo do mundo

Friday, October 26, 2007

DUPLO





Freud dizia que defecar é um prazer
e que todo mundo ama sua mãe

Eis que defequei um filho com barba
Onde foram parar minhas hemorróidas,
eu pergunto

Só uma puta poderia te parir, respondo
E vou pondo naftalina na latrina
do dia-a-dia

Para não apodrecer de mim mesmo

Tuesday, October 23, 2007

A IMOBILIDADE DIANTE DOS FOGOS

parado, o silêncio me confunde
imóvel, teu laço de amizade
toda a mobilidade parada ainda

só pra te ouvir soltar cachorros
e engolir toda a pólvora de luz
cuspir nosso amor em fogos

Saturday, October 20, 2007

DELÍRIO

Ninguém despertou do ano novo
e todo mundo se divertiu
Hoje dou um de bico na minha cama
e vou voar em outro aroma
Há delírios vários
e um me persegue:
a de que o cheiro da pasta de laçar
me enlaça como um cheiro de bosta
Como eu posso ir à praia feliz
e surfar minhas ondas de Amplictil?
Meus tisunamis interiores são tão maiores
Mas só podem matar a mim
Menos mal

Monday, October 15, 2007

DOIS POEMAS SEM TÍTULO

não carece sol
alguma elisão

carece só compor
algum vento

e assim apagar
o que a chuva

dentro de mim
mar

fora de mim
pano com ponta

varal:
nuvens e nuvens

seda de botuca
queimando humos

*

o nada nada no nada
enquanto o nada nada
no nada estamos todos

todos esperamos a chegada
do nada no nada

se chegará nadando
ou pulando a enseada

o fato é que falta pouco
pro nada ser o todo

Wednesday, October 10, 2007

ESGRIMANDO COMIGO

1
O sol-reflexo sobe pela latrina

Qualquer vulcão sabe
Do perigo que é o fogo

O fogo é o sol
Que gira em torno de si
E a si consome

2
Quando eu sento e paro para olhar
O que vejo é o amarelo em minhas mãos de cigarro
O que não vejo não me importa
Só uma vez ou outra
Quando
Aciono minhas espadas

Por isso queimo por dentro
Todos os carvões de minha locomotiva
E chego tão próximo do toque
Que me afasto

São mais de quarenta anos perseguindo quem sou

Sunday, October 07, 2007

Pai Nosso

Um homem alto e forte apontava uma arma sofisticada para a cabeça de um senhor os seus oitenta anos. O homem alto e forte tremia. Suas veias pareciam pular da face como que armadas também. Ele vociferava e pedia ao velho que passasse tudo que desse tudo que fosse o mais rápido possível que tudo estava por um triz. O velho pedia calmo e com atitudes lentas de velho: pedia que o homem alto tivesse calma que o homem alto não atirasse que ele iria passar tudo o que tinha para ele, pois a sua vida era importante. O homem alto e forte tirou o relógio do velho e a camisa e o suspensório e a calça e a carteira. O velho ficou só de cueca enquanto o homem forte contava o dinheiro e queimava as roupas do velho. O homem alto e forte que havia roubado tudo do velho deixou o velho caído depois de um soco e sumiu nas esquinas seguintes. Quando eu encontrei o velho queria saber o por quê que o velho estava rezando naquele momento se ele velho havia sido roubado e todos os seus pertences foram levados pelo homem alto e forte. O velho me respondeu que rezava por si mesmo, pois era ele velho que poderia estar no lugar daquele homem alto e forte.

Wednesday, October 03, 2007

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Muitas pernas pernas esquisitas pernas de elefantes pernas de lince. Dores na perna na perna de elefante na tromba de um cordeiro. Muitas faces na face dela. Muitos beijos no beijo que dei e tropecei nas próprias pernas. Mal caí e me quebrei. Mal parti e me alonguei como o vento que sacode a enseada e os galhos verdes das árvores que vejo do meu quarto parecem tremer de frio. Eu não sei mais muita coisa e sobre o que falar: perdi as pernas e ouço versos deste lugar sem pernas. Onde está o meu corpo morto? Eu diria que este silêncio me confunde nesta tarde sem binóculos. Não posso ouvir o que digo. Não consigo mais levar minhas pernas pra onde quer que eu vá só levo tentáculos enfurecidos e as cascavéis com seus chocalhos perguntam-me onde estamos indo com tanta velocidade. Pernas pra que te quero. Não consigo entrar. Não consigo sair. Me deixe ficar. Parado. Imóvel. Morrível. Aqui onde ninguém possa tropeçar nas minhas pernas.

Tuesday, October 02, 2007

PUNK


Sexo

À Denise e à Valéria

Sexo nas pistolas
Que esporram
Gomalina na garotada

Moicanos negros
Desbotam a noite
Nos coturnos

Em algum telhado
Dentro do crepúsculo
Surge Cubatão

Onde cabelos
De várias cores
Coloriam as Dolores

Duran-durante
O pó saudável
Que em mim

Agüente

Saturday, September 29, 2007

UM POEMA OU UM CONTINHO? QUAL A MELHOR OPÇÃO?

Versão 1:

A gente jogava tênis. Algumas pessoas me disseram: como você conseguiu jogar tênis com ela? Ela não joga com ninguém, como foi jogar justamente com você?
Um fodido. Um mal jogador. Um quatro olhos. Ainda por cima tem um backhand ruim.
Deve ter sido por pena.
Eu disse que ela queria me ensinar uma jogada nova. Uns lances de efeito.
Ou seja: nenhum interesse. Só o de que eu aprendesse a ser um melhor jogador.
As bolas amarelas ficaram no chão. Elas não duram uma partida inteira.
Eu queria continuar jogando. Mas ela jogava muito mais que eu e marcamos um outro jogo que durasse menos.
Jogamos. Jogamos e jogamos. Eu melhorei tanto que deixava ela me ganhar.

Versão 2:

A gente jogava tênis. Algumas pessoas me disseram:
como você conseguiu jogar tênis com ela?
Ela não joga com ninguém, como foi jogar justamente com você?
Um fodido. Um mal jogador. Um quatro olhos.
Ainda por cima tem um backhand ruim.
Deve ter sido por pena.

Eu disse que ela queria me ensinar uma jogada nova. Uns lances de efeito.
Ou seja: nenhum interesse.
Só o de que eu aprendesse a ser um melhor jogador.
As bolas amarelas ficaram no chão. Elas não duram uma partida inteira.
Eu queria continuar jogando.
Mas ela jogava muito mais que eu
e marcamos um outro jogo que durasse menos.
Jogamos. Jogamos e jogamos.
Eu melhorei tanto que deixava ela me ganhar.

Thursday, September 27, 2007

CROSTA

planto
plantas
plânctons

plural de abismo:
céu

orquídeas brotando do lixo
coturnos andando solitários

armários que voam na noite
algum alguém ou algo

nata no leite quente
restos de rastros no espaço

almoço: papel almaço

Wednesday, September 26, 2007

Atomic

Monday, September 24, 2007

MUNDO PARALELO

Todos saíram quando entraram
Todos entraram quando saíram

Alguns foram enterrados vivos
Outros são vivos enterrados

Fico: em ambas as frases: sem saber
O por quê de os vivos serem tão vivos

E os mortos tão mortos

Sunday, September 23, 2007

Palhaço.



Me acho
um gênio
enquanto
faço
Depois
Palhaço

I am
a genius
while
I take now.
After
I am clown.

Friday, September 21, 2007

BICO DE LACRE

Ana era um tesão. Mulher gostosa para homem nenhum botar defeito. Todo mundo na faculdade queria come-la. Não havia homem vivo que não fizesse reverência à beleza de Ana. Eu sempre gostei de mulheres que falassem algo de inteligente, pelo menos de hora em hora. Não cobrava uma mente brilhante o tempo todo: o que eu queria era um corpo brilhante como o de Ana. Possui-la seria algo muito especial com certeza.

Passei a sentar perto dela na sala de aula. Mas eu corava um pouco diante daquela mulher. Era tesuda. Linda demais para mim. Era tudo que eu queria; tanto que babo enquanto escrevo estas linhas mal traçadas. Além do tesão, fui construindo dentro de mim uma mulher maravilhosa: capaz de recitar Rimbaud de cor. Capaz de soletrar em alemão. Capaz de traduzir para o francês parte da obra de Joyce.

Ela só crescia em mim enquanto pessoa e enquanto mulher. Como pessoa mostrava-se militante da causa do mais pobres e como mulher estava cada vez mais maravilhosa em sua minissaia babante ao chão. Eu não agüentava mais o meu pênis e a minha cabeça. Meu corpo e minha mente estavam fascinados pela mulher maravilhosa chamada Ana.

- Ana qual è o seu nome?
Perguntei pra ela o nome dela que eu sabia. Que gafe. Vai me reduzir a esterco.
- Como sabe o meu nome?
- Todos sabem o seu nome.
- Todos?

A filha da putinha estava me dando mole. Vaca profana: toda mulher gostosa gosta de saber que é gostosa.

- Todos somos seu fã.
- E você vê: eu estou sem namorado há mais de um mês.

Não sei o que eu tenho, mas ela estava me dando mole. Enquanto falava gesticulava. Adoro mulheres que gesticulam. Elas passam uma verdade para a gente. Passa uma sensualidade toda própria. Adoro mulheres que sabem falar. Falar é primordial e Ana falava bem:

- Sabe, você fala tão bem!
- Quero ser professora de Português e escritora. Meu sonho sempre foi escrever um livro do tipo do Patavina Angústia.
- Patavina Angustia! – eu não conhecia porra nenhuma do Patavina – eu adoro Patavina – falei mentindo, óbvio.

E Ela ficou ali meia hora falando do Patavina Angústia e de como a linearidade discursiva poderia ser substituída pela tensão estrutural no texto do tal escritor. Fiquei gamado e nos dias que se seguiriam leria toda a obra do Patavina Angústia.

Era amigo de Ana. Um amigo distante e – com medo de ver o meu planejamento de aproximação – cair por terra, não fazia nada fora das dadas planejadas para que eu traçasse Ana ou não. Ana era tão gostosa que dei um prazo a mim de um ano para que comesse a mulher mais gostosa da faculdade, que eu saiba virgem indevassada ainda nas bocas das matildes da facu.

Fomos estudar junto o tal do Patavina na biblioteca quando ela pegou na minha mão. Havia uma barata andando perto da mesa e de sua bolsa. Eu tremi de medo. Se há uma coisa que detesto é barata, mas se eu mostrasse toda aquela minha porção viado a ela, meu deus! correria o risco de perder meu bem para sempre. Fui macho e matei a kafquiana. Ela, Ana me elevou momentaneamente a condição de herói grego e ainda bem que eu percebia que aquela mulher estava se afeiçoando a mim: porque estava chegando no final do meu prazo de varredura e eu não havia liquidado a promissória, sequer me aproximara dela. E o pior: estava apaixonado. Vivia o dia todo escrevendo Ana no caderno. Fazia balõezinhos com a palavra AMOR. Estava caído de amor. Quedado.

Passava horas a fio em busca de uma idéia salutar que me fizesse chegar a aproximação de minha deusa. Cantava aquela música; “Eu pensei em tanto pra dizer enquanto esperei pela chegada triunfal desta deusa”. Enquanto não a possuía maritalmente e enquanto ela não era a minha mulher e a mulher de meus filhos e a mulher mais perfeita quase a virgem Maria, eu me masturbava libidinosamente pensando em seu corpo. No que me falava. Na sua voz. Nas suas coxas. Na sua zona do agrião. Cheguei – de tanto descabelar o palhaço – a conviver com uma dor de cabeça tão forte que só vinha na hora em que o meu sexo tremia de amor mais sincero: a hora do gozo eufônico. Eu gozava recitando o soneto da fidelidade e minha vida era feliz.

Suficientemente perto do natal fui acometido de uma dor que me ofuscava a entranha, uma dor rimbauldiana mesmo: nós iríamos entrar de férias e resolvi partir com tudo antes que mais um fim de ano chegasse e eu ficasse a ver navios, ou melhor, a ler revistinhas do Hary Jone, a ver os filmes da coleção Sex Hot ou a fazer o plano total de aquisição da tv a cabo, só por causa dos quatro canais de sexo. Estava doido. Quicava dentro de mim. Era a última prova do ano. O tema da prova era Patavina Angústia. Pronto!

- Ana quer estudar o Patavina Angústia lá em casa?
- Tudo bem. Eu vou. Que horas?

Eu não acreditei. Ela iria. Ó Ana Júlia aahaahh ahhahhahahahha/Ó Ana Júlia ahahahahahahah”.

Preparei todo o ambiente da minha casa. Cheguei a chamar uma amiga decoradora – que tive de traçar por conta dos palpites que me deu – e decorei a casa com flores e fragrâncias florais. Botei um espelho no teto para dimensionar todos os ângulos do sexo selvagem que iria rolar. As tamancas vão quebrar, eu dizia a mim mesmo. Era que o meu pai dizia quando me levou pela primeira vez nas termas Santo Amaro.

Ting dong, tocou a campainha. Eu já estava puto de tanto esperar. Ela estava numa calça tão grudada que chegava a ver o âmago da sua xaninha. Meu pau logo endureceu. Eu era um garoto e tinha só vinte e poucos anos: o que potencializava a minha força sexual.

Ela era doce, meiga, bonita, gentil, delicada, bondosa e usava um Pierre Merdon: o melhor perfume do mundo. Sentamos e ela fez questão de ficar bem distante de mim. Li vinte e cinco páginas de um texto que havia feito sobre Patavina. Falei e falei. Dei aula do assunto. Dentro dela eu sentia que ela pensava: “COMO ESTE CARA SABE DE PATAVINA”.

Eu sabia de Patavina para caralho. Não gostava tanto do Patavina quanto da Rosecler Lisboa Prado de Almeida e Fragon, mas tudo pelo sexual.

Conversa vai e vem. A cada meia hora me aproximava vinte centímetros: o que deu no final de duas horas, uma quase coxa a coxa com Ana.

O tempo estava passando e o assunto se assuntando e se espargindo, indo pelo ar. Resolvi partir para o ataque. Botei minha mão sobre as coxas dela. Ana tirou as mãos. Toda a mulher recatada é mais gostosa. Depois de meia hora de tira e bota a mão pra lá e pra cá, eu resolvi parar tudo:

- Pára tudo!
- Por que?

Resolvi me declarar.

- O amor é o fogo que arde sem se ver.
- É ferida que dói e não sente.

Falei por meia hora e olhei por meia hora no azul piscina daqueles olhos e mergulhei na sua boca. Bingo. Vitória. Gol do Mengão no Maracanã.

Ficamos quinze dias saindo e levei dois meses para que fizéssemos amor. Eu não faço sexo. Eu só faço amor. Fizemos de tudo menos o tal do boquete: sexo oral. Ela alegou que exigia uma melhor “enturmação” com o meu ser e que um dia chegaria e nós faríamos o tal do boquete.

Eu estava amando e havia achado a deusa da minha vida e a mulher que iria guiar o meu carmanguia vermelho. A senhora do meu sono. A perfeita. A deusa. A formosa e a imaculada: Ana.

Passeávamos de mãos dadas na praia. Íamos ao cinema. Fizemos todo o roteiro de amor do Rio de Janeiro. Tudo vale a pena quando a pica não é pequena, dizia ela em seus momentos de maior aproximação... Só havia um problema: ela não fazia o boquete. Não chegava perto do Godofredo. Não beijava o bichinho.

- Um dia será o dia em que tudo se revelará e nós faremos sexo oral.


Aguardava este dia tanto que resolvi, pelo fato de ter encontrado a mulher de minha vida, a deusa de meus caminhos, resolver aquele problema com uma profissional. Aquilo não era traição. Era só uma fissura minha que estava aumentando e podia terminar prejudicando o amor da minha vida. Para o meu relacionamento não sucumbir em discussões de relação, procurei uma mulher no jornal. Eu era contra. Juro que sou um homem que preza o amor como algo superior. Não sou do tipo que só pensa em carne. A única carne que como é boi ralado. Com mulher eu faço amor. Desculpe meu bem, mas lá fui eu para a RAINHA DO BOQUETE, um antro de perdição mais conhecido como termas Copacabana.

- Quero conhecer a rainha do boquete. Falei a recepcionista que me olhava.

Pedi desculpas a Ana. O fiz internamente. O fiz por nós dois. Eu não iria beijar. Não iria fazer sexo. Eu não iria me prostituir às avessas e me entregar a luxuria. Era só uma chupadinha. Fui ao reservado e tirei a roupa enquanto pensava numa boca mecânica, numa dessas ordenhadoras de tetas de vaca automática. Eu estava fazendo aquilo pelo meu amor.

A barraca estava armada. O sangue pulsava. Só de pensar que o meu fetiche, algo que não fazia há muito tempo ia ser concretizado, me fazia babar.

Virei-me e fiquei de bunda para a porta e me olhando no espelho. A recepcionista chegou trazendo uma mulher à tira colo. Ela disse que a garota com o véu era a Rainha do Boquete.

Me aproximei. Olhei nos olhos dela e uma lágrima caiu. Tirei o véu e ela era Ana. Ana Júlia era a rainha do boquete. Meu pênis broxou na hora. Cai fulminado com um ataque cardíaco. Hoje me encontro no CTI sexual do céu. Fui condenado a viver de pau duro esperando Ana para consolidar meu desejo mais ulterior.

Thursday, September 20, 2007




Ouça a música Nada, de Rodrigo de Souza Leão.

Este é o Conservatório Erik Satie.
É um rústico Tascam (ou seria Toscam) onde cantei e toquei esta canção.
Não tem uma qualidade boa de gravação.
Mas dá pra ter uma idéia do que faço.
Espero que gostem.

Ab

Rodrigo

Monday, September 17, 2007

LOWCURA NO BLOOKS.

O blogue Lowcura está participando da exposição BLOOKS. É no espaço Oi Futuro. Ainda não fui lá. Dizem que está bem legal. Se você estiver pelo Rio, dê um pulinho lá e confira. Eu participo com o poema Gosma:

Gosma

gosma de silêncio: nóia
ficar mastigando um palito de fósforo
procurando em si uma respiração

encontrando o próprio bafo
na ponta do nariz alheio

ser a melhor parte do bolo
o recheio


BLOOKS

“– letras na rede é um olhar lançado sobre a produção literária na internet, um novo espaço que está sendo conquistado de forma acelerada pelas práticas literárias: prosa, poesia, quadrinhos, grafismos, conexões letra e som. Mostra o universo da palavra vista com todas as implicações de se escrever em um mundo conectado e veloz no qual se produz diariamente uma quantidade surpreendente de literatura. Além da velocidade, o ambiente www, traz consigo uma inédita facilidade de produção, publicação e divulgação para a criação literária. Incluindo-se neste quadro a natureza de excesso que essas facilidades permitem. A literatura na web define uma nova forma de criação na qual o conteúdo da escrita se adapta à sua ferramenta de produção. A data torna-se importante, as horas, os minutos. É a nova experiência de criar e produzir em um meio onde tudo se perde e se encontra com assombrosa simplicidade. O hoje é arquivado semanalmente e se perde entre outros milhares de hojes. O importante é ir além do factual, ficcionalizar. Em Blooks tentamos capturar não só o conteúdo das práticas literárias produzidas na ou partir da internet, mas criar uma experiência sensorial, transportando o espectador através de ambientes distintos, propondo que mergulhe conosco no nesse mar revolto de invenção e criação. Seja bem-vindo à Blooks. O acesso a tudo. O excesso de tudo.”

Curadoria:
Heloisa Buarque de Holanda
Bruna Beber
Omar Salomão

Visitação:
08 a 30 de setembro de 2007
terça a domingo, das 11h às 20h

Oi Futuro
Rua Dois de Dezembro, 63
Flamengo - Rio de Janeiro
[21] 3131-3060


Mais informações aqui.

Thursday, September 13, 2007

CORTINAS


olho interno
saúda a cócega
algum comichão
nasce pra morte
algum espantalho
explode um corvo
meu aneurisma
algum sangue pisado
ou a menstruação
do espaço sideral
em mim, mímica
algum esqueleto
inválido de plêiade
defeca um arbítrio

Wednesday, September 12, 2007

SÉRIE FACE DUPLA














Tuesday, September 11, 2007

dois poemas curtinhos

mente

prisão maior que eu
do tamanho do mundo

prisão maior do mundo
do tamanho de mim



enquanto

todo mundo é eterno
enquanto dorme
depois que acorda:
morre

MULHER BARBADA

A mulher barbada pediu ao guarda que guardasse o silêncio. O silêncio olhou pra ela e sorriu e lhe deu um beijo. Foi o único beijo que deu em vida.

A mulher sem dente era gostosa por isso a comiam. O fato de estar sem dente não a diminuiu até o dia em que a barba apareceu e ela virou uma mulher barbada que usava Prestobarba. A barba cresceu até a Groenlândia e um esquimó (ou sei lá quem mora na Groenlândia) se apaixonou por ela.

Ele gostava dela assim como era e ficou velho igual a Papai Noel que entrou aqui porque todos morremos e a mulher barbada foi feliz para o céu.
Curtiu a vida como pode deixando pros urubus sua barba podre.

Monday, September 10, 2007

crio mundos inocentes
parâmetros para pensar a doença
(não é todo mundo que
tem uma bomba que
pode explodir)
(que pode imprimir um texto em sua mente que
pode numa fração de segundo
não distinguir mais entre qual realidade
mais se adapta a cada loucura /que
também ao se olhar no espelho depois de tudo
deixe de se angustiar tanto que possa
pôr um ponto final. que
só se reconheça em reticências que
só se diga aquela palavra
na hora exata
em que se plugue na mente
uma conexão qualquer que
navegue como um som)
às vezes ouço um piano
às vezes ouço uma voz
pior quando não ouço nada e estou sozinho
e o pior acontece
aço na testa e o início de um calafrio que não termina
nem com uma gota anatensora
((só a realidade é calma
enquanto coço o infinito com o meu maior dedo do pé pois
não estou mais
aqui))

Wednesday, September 05, 2007

A MAIOR PRISÃO


Não é a prisão de ventre
É a prisão de mente

Monday, September 03, 2007

ACHISMO

Eu acho que nós somos muito mau
Nós quer ver guerra pela televisão
Nós quer ver atentado em todo o 11 de setembro
Nós torce pelo mais fraco
Nós quer torcer por um
Nós quer ver programas de polícia na tv
Nós não quer aprender a falar
Não fale por mim idiota

Friday, August 31, 2007

Virei homossexual aos 65 anos de idade. Depois de uma selvagem vida heterossexual, onde posso ter feito muita coisa, mas não tudo. Abandonei-a para tornar-me o tudo que me faltava. Parafraseando a canção de Gilberto Gil, eu percebi que a porção mulher que até hoje em mim se resguardara era a minha melhor porção. Sai dando por aí. E olha teve gente que comeu e se lambuzou. Horácio, o bom de cama, me comeu já três vezes e garantiu que com o meu corpinho vou continuar nesta vida até meu cu criar bico. Certo dia desses, me envolvi com um aluno da Faculdade em que eu dou aula. Maior de idade. Coisa fina. Garoto requintado. Eu só ainda não consigo beijar na boca de homens. Eu tenho náuseas. Só beijo na boca de minha mulher. Sou um homem casado e tenho filhos e netos. Mas desde que virei a folha, o mundo parece mais iluminado. O mundo tem a cor do amor livre. Ainda bem que pude viver em minha vida o amor livre. Ainda bem que pude sentir que tudo era muito mais do que um homem e uma mulher e uma noite. Podia ser um homem e outro homem e noites. Foi assim com o Guilherme. Passamos noites e noites tirando suor de nossos corpos. Ele tinha um membro muito avantajado que começou a me doer o ânus. Tive que romper com Guilherme porque eu ia acabar mal na história. Já estava ficando com feridas em volta do cu. Tenho que confidenciar uma coisa a vocês: desde que fiz 65 anos, sempre fui o passivo e perdi o gosto e a felicidade de uma ejaculação. Minha mulher não reparava em nada, apesar de eu vir fazendo a coisa com cada vez maior freqüência. Procurava garotos de programa e gastava uma fortuna. Foi quando um desses rapazes me falou:
- Você não é podre. Por que procura este mundo?
- Só tem gente podre neste mundo?
- No da prostituição só. O senhor é casado. Tem filhos. Só porque é broxa ou broxou resolveu dar o cu. Tem remédio. Tem implante. O senhor num gosta nem de beijar na boca.
- Beijo na boca é para quem a gente ama.
- O Senhor ama a sua mulher?
- Amo.
- Quando o senhor vai amar a outro homem?
Amar outro homem. Eu não percebia que o que o rapaz estava querendo me dizer era que eu não pertencia aquele mundo dos gays. Eu era um falso gay.
- O que fazer então para ser um gay verdadeiro?
- Tem que começar freqüentando. O peso da noite não é para qualquer um. O senhor já é um homem idoso. Volte para sua mulher. Diga pra ela te comer de consolo. Tudo se resolve. E você não vai precisar fazer nada.
Eu entendia que era necessário que eu mudasse para que a minha nova vida viesse à tona. Fiz o cabelo e fiz a mão. Fiz tudo. Rompi com família e virei mulher. Só não podia trabalhar como garoto de programa porque não tinha mais pau duro. Era uma flacidez. Comecei a soltar a franga. Sai do armário A freqüentar os becos. Tudo em busca de um amor. Mas as pessoas só queriam sacanagem comigo. Eram homens com suas mulheres. Vários homens. Não encontrei na vida homossexual o meu verdadeiro amor.
Até que num dia vestido de homenzinho - em plena luz do dia – meus olhos se abriram para uma mulher. Afinal eu era homem no meu desejo e só podia me apaixonar por mulheres: assim entendi.
- Mas a Lúcia é um puta de um sapatão.
- Gamei nela.
- Me apresenta ela. O mínimo que pode acontecer era o nada.
Mas eu acreditava no tudo. Fora paixão a primeira vista. Fui apresentado a Lúcia e senti que ela ficou balançada comigo. Passamos a sair juntas. Tornamos amigas e confidentes. O importante era que não competíamos. Ela era o tipo macho e eu fazia o travesti bem afeminado. Duas amigas velhas de guerra. Lucia tornou-se muito grata a mim porque a aliviei de certos perrenhos monetários. Eu tinha uma aposentadoria farta de funcionário de estatal.
- Se você fosse mulher eu tirava uma com você.
- Eu sou mulher.
- Mas tem um quinze centímetros entre as coxas.
Aquilo foi me incomodando, pois cada vez mais eu me sentia apaixonada ou apaixonado: eu já não sabia mais o que era.
O certo é que nós saíamos para balada juntas e nunca terminávamos no zero a zero. Ela com a sapatinha dela. E eu com o meu homem. Num dia onde ambas ficamos no zero a zero ela me deu um selinho e disse um poema:

A
Boca
Que
Ousa
Na
Boca
Que
Usa

Eu a segurei forte nos meus braços e tasquei-lhe um beijo de língua. Foi à boca mais perfeita que a minha já beijou. Eu havia encontrado o meu amor.
No dia seguinte abandonei minha esposa e embarquei para a Dinamarca para fazer a minha operação de troca de sexo. Hoje sou uma mulher feliz casada com uma mulher feliz. E é isso que importa. Estou beijando muuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiito.

Wednesday, August 29, 2007

BOMBADO



Mergulhei de cara no ar
Quando eu respirei
Meu coração ia a duzentos por hora
Capotar na primeira endorfina
E ir adrenalizado bater e bater
Até uma morte circunscrita
A alguns idiotas que me matavam
Mas eu voltei vivo
Da camisa de força que apertava
Ainda sem conseguir separar
A realidade da realidade
Por que tudo era realidade
Aquelas vozes que me esmagavam
Aquelas mãos que eram pinças
Aquelas pinças que pareciam caranguejos
E arrancavam meus pedaços
Mas não comiam
Porque era só por prazer
Que faziam aquilo


Monday, August 27, 2007

fantasmas


em especial as sombras
sobrevoam a borboleta

ela quem pousa e é pousada
pela sua silhueta

o que será de uma sombra sem ninguém
ou nenhum objeto?

todo o fantasma começa assim
sobrevivendo a tudo

Friday, August 24, 2007

a voracidade do sexo
meus dedos dos pés nos calcanhares
de todas as luas cheias

e se abrindo um crepúsculo
o músculo do infinito
entre algumas pedras que se abrem

abismos ou grutas onde só me perco
quando encontro
a calmaria total de quem silencia

e feito uma onda plácida
deixa que surfe
no caos enquanto me engole

Wednesday, August 22, 2007

instinto

o plástico que lhe protege
na pele que me arrepia

a aurora no banho de espasmo
que nossas bocas copulam

diversos ventres entre os afagos
e guilhotinas de plumas

cortando cardando o plástico
chegando ao teu átomo

o indivisível dizível
entre paredes de quatro

Monday, August 20, 2007

ÓCULOS


MAQUIAR CADÁVERES

A cicatriz de urtigas
sob a pele de nesga

sob o contorno dos lábios
algum batom que esconde o branco

O escarro do sol nas costeletas
O prisma aberto de suas pernas

Tornar-se claro sem ser verídico
O pó de arroz doce sem canela

Alguns pingos de chuva
Tempestades de orquídeas brancas

Formas paradoxais de ser estátua
Um bronze sardento e sua lágrima

Ela queria nascer ele e nasceu ela
Ele queria nascer ela e nasceu ele

Todos estão mortos por enquanto
Ninguém sabe quem é o pai

E este poema confuso é pra aumentar
a confusão. Jogo xadrez comigo

e sempre um de mim acaba perdendo

Friday, August 17, 2007

DOENÇA DE TREVAS

Um poema é uma coisa tão simples
Assim
Quando não se quer dizer nada

Quando quero dizer tudo faço um furo
No meu plexo
E digo para que olhem através de mim

Se houver horizonte há poema
Há poente

Tuesday, August 14, 2007

CERTEZA SEM NUVENS E ESTRELAS


Nunca saio de mim
Por isso sou só

Tenho uma camada de pó
Tomo remédios coloridos

Escuto com três ouvidos
E vejo com um olho só

Agora me olha e me diz
Se estou certo

Se sou mesmo este céu deserto

Sunday, August 12, 2007

O SELO DA COERÊNCIA LOUCA

o eu suturando tudo: a mesura do silêncio

o escopo do clandestino
pra sempre ser sempre


*
olhar a si mesmo nem sempre como si

*
a culpa de ser quem sou não é a única

ser outros além de mim
também

Thursday, August 09, 2007

CONSTATAÇÃO PRIMEIRA

Há um colibri naquela flor
Há algemas para prender os animais?

Há camisas de força pra enforcar
E um varal cheio delas no meu quintal

E há ainda uma quinta-feira por viver
E talvez nada mais importe tanto assim

Do que o colibri naquela flor
Porque ela sabe dar e ele sabe receber

Se alguém (inclusive eu) soubesse disso
Evitaria internar alguém em um hospício

Monday, August 06, 2007

PAPAGAIOS

Há vinte anos tomo Haldol e ainda não me curei porque não tem cura:
por que não tem cura?
Continuo vendo papagaios ao invés de ratos no meu quarto e
sei que não tem papagaio algum: são só ratos
O q um rato pode fazer de mal a alguém? Garanto que um outro
ser humano pode fazer mais mal do que os muitos ratos q não são papagaios
q vejo.
O fato de ver papagaios ao invés de ratos é uma dádiva. Imagine se eu visse ratos?
Imagine se eu visse seres humanos?
Os papagaios pelo menos falam com a gente.

Friday, August 03, 2007

desenho meu e poema.
Entrou pelo meu ouvido uma mosca e uma tarântula e uma borboleta. Saiu um poema. Bem pequeno. Quase nada.
Comi um pastel de minhoca.
Peidei um certo aroma de jasmim.
Algumas coisas acontecem com o meu braço quando escreve sobre animais.
O braço abraça a barca da loucura onde um esqueleto é o capitão.
Enquanto ele comanda o leme eu vou remando contra o vento e a maré.
Alguma ilha quer encontrar.
Diz alguma coisa sobre mim e a maré e a mosca e a tarântula. A borboleta não precisa.
Silencio.
Ela voa.

Wednesday, August 01, 2007

PAÍS

Havia um país que tinha um padeiro com o nome de Stalin. Um outro país em que o açougueiro se chamava Mussolini. Neste mesmo país havia o tal do Adolfo. E um outro cujo jogador de futebol se chamava Mao. E havia ainda um outro país em que todos os pais que deram estes nomes aos filhos diziam: este país não tinha nome

Sunday, July 29, 2007

SÉRIE FACE DUPLA

Um desenho meu.

Thursday, July 26, 2007

PODRE

Dentro de mim há algo podre
algo
algas verdes que flutuam
na química cerebral

Alguma coisa estranha nisso tudo
como um dente com chip
que a CIA colocou

Aquela dentista era minha amiga
era
e hoje ela me telefonou

Disse coisas com sentido
q a vida era um perigo
era
e isso eu já sabia

O que ela não me disse foi o q me deixou triste
Não disse que eu estava podre
Mas sei tudo isso tão bem
q não acredito em mim

Tuesday, July 24, 2007


Pintei esta tela. Não sei q nome dar.

Sunday, July 22, 2007

GÊMEAS

Ana era linda
Era bela e era maldita
Era uma quimera
Era o seu nome Ana Vera

Vera era tão Ana
Cinderela era o que era
Era uma banana
Era o seu nome Vera Ana

Ana se olhava no espelho
E via a Vera
Vera se olhava no espelho
E via Ana

Até o dia que surgiu Pedrinho
E comeu as duas
Vera virou Ana
Ana virou Vera

Wednesday, July 18, 2007

por Paulo de Toledo e Rodrigo de Souza Leão

Saturday, July 14, 2007

AGORA DEPOIS QUE O TEMPO PASSOU E VOCÊ NÃO VEIO.

Um poema tíbio. Um lixo prolixo. Isso o que tinha de dizer pra você. Uma vacuidade era melhor: o nada. Performance de abismo no trampolim do medo. Era melhor se jogar sem medo do que vem. Mas você é tão forte que não sei por onde penetrá-la. Mal tem buracos. Todos os canais estão fechados. Não dá pra ouvir nenhuma canção. Nenhuma música. Nenhum assobio. Só vejo um transeunte passando pela sua rua. E escrevendo seu nome com um giz no chão. Sem deixar pegadas nas areias afofadas de algodão doce. Que as crianças deixaram cair quando voltavam do parque.
Eu estive tão só estes dias que quase me sufoquei bebendo um copo d´água. Engasguei com um milhão de pterodátilos que falavam pai pai painho meu. E eu não tenho filhos de olhos azuis. Para que possam olhar meu horizonte castanho. O que vêem seus olhos verdes? Você fica bonita vestida de preto e seus cabelos castanhos esvoaçantes me fazem lembrar as cobras na cabeça da Medusa.
Papai Noel deixou um presente gordo na meia. Eu fui o inquilino de seu corpo por alguns dias. Só quero ser seu amigo e nada mais que amante. Diamante e rubi e esferas em toda a parte rodolitas e aquele programa às dez horas da noite onde mulheres vendem jóias. Vendo tudo hoje. Vendo minha fé. Meu codinome. Quero um color bar pra me meter entre suas cores. Sua cara tem muitas cores. Quero beber o azul do color bar no bar da minha Tv. Quero me afogar numa piscina vazia. Quero coisas impossíveis como lhe ver de novo aqui e ali mesmo onde esteve vinte quatro horas antes de um trem ter despencado sobre nossas cabeças vindo de não sei onde e indo pra algum lugar que detesto, pois pra ir teve que passar por aqui e nos destru-ir. Ir fundo. Mergulhar da ponta daquele iceberg e dar duas piruetas no ar e cair. O sangue escorrendo. A vida indo. O que não pode voltar não volta. O que não vem não vem. Deus deu também vinte quatro horas para que eu fizesse tudo que eu queria fazer olhar seus olhos de chocolate verde de preto verde de azul verde, portanto era algo verde que eu tinha medo de olhar para.


Thursday, July 12, 2007

de Paulo de Toledo e Rodrigo de Souza Leão

Sunday, July 08, 2007

NÃO DEU PRA COLAR

Tinha um louco no hospício q rasgava dinheiro. Dizem q só um louco rasga dinheiro e q tem q ser muito louco para fazê-lo, mas ele rasgava pra multiplicar. Ele achava q rasgando em quatro partes ficava mais rico. Até o dia em q ganhou na loteria e não ganhou nada. Havia rasgado o bilhete em quinze partes.

Thursday, July 05, 2007

Rugi leão fora da concha
aerando um Universo
de pólen e nuvem

Cobri meus dedos com neom
e com tinta meus cabelos
Logo era um gorila

Travestido de quase gente fui
vestir uma enseada
Nadei entre os despojos e enfrentei
a morte

Gorila e leão e homem enfim
Nadei e nadei e a praia secou no azul-
piscina que no varal escorre

Sunday, July 01, 2007

BRINCAR

1
a sinceridade das nuvens
que choram quando se encontram
comove meu olhar que transita hospedeiro
de algum azul que não tenho e quero

quando negra a manhã
açoita ainda a alvorada com espadas de sol

eu venho para brincar
com as nuvens que vejo nascer no dia
arrepiado de sombras
e sobras de cadáveres que guerrearam ontem

dizem que foram
para onde ninguém sabe onde vai quem não tem fim
aqui
ou quem tem um fim que não quis ter
pois ambos morreram na folia
e era carnaval
e se devoravam feito dois antropófagos
letrados
letárgicos
litúrgicos
se ofertando ao prazer demiurgo
de um beijo de florete ardendo entre o colo
e o reto

diziam que os índios americanos achavam que a maior humilhaçào
e pior que morrer
era verem seu cu tocado pela lança alheia
o que por muitas vezes acontecia
e fez com que milhares de índios morressem até entender
que uma bala perdida é igual a uma direcionada
e mata do mesmo jeito

2
jasmins descendo pela guela
via sangue arterial O positivo
e glóbulos
e hemácias e
leocemia a beira dos dias de fim de ano
índio de si
indiana jones e james bond e zumbi
fundando palmares nos tumores
covardes cavando covas no queixo de um morto
ou aquele afegão chutando um afegão
em rede
via televisão
ah, quanta cooperação
e eu só queria morrer na arena entre os leões
feito um gladiador suicida
pruridando sua última volúpia
arrancando os contornos das unhas
da primavera
incêndio em meu corpo e fogo no louco asilo
que velho escolho
como escopo
me esculpir do nada
as veias poluídas onde algas e fetos boiam
amalgamados pela vitrea chama
de meu cordão umbilical
vida, vida, vida, vida!
vomito tudo pra dentro de mim

Monday, June 25, 2007

NOITE BRANCA

O vinho congelou meu sangue. O inverno congelou quem eu era. As cicatrizes hibernam.

Aquelas marcas de pico viraram verrugas. Minhas sardas ainda tomam conta de mim. Estou tão velho que começo a me lembrar de tudo.

Sou um derrotado crônico. Pronto pra mais uma ilusão.

A alquimia do fogo que a si devora. A chatice do lodo que sobe pelas pernas e eu não tento mais me limpar. O que restou das cinzas já não sou eu.

Engulo alguma química nova. Quem sabe dê certo com um coitado. Não tenho pena de ninguém. Alguém tem pena de mim? Não mereço compaixão alguma. Eu sonho toda noite e não é um pesadelo azul. Negro. Negro. Negro. Negro como todos os dias negros.

Wednesday, June 20, 2007

PLÁSTICA

O poeta e amigo Leonardo Gandolfi fez uma plástica no poema q fiz. Opine e diga se ficou melhor.

FOI A PRIMEIRA VEZ

Estava chovendo quando nasci,
hoje estava chovendo:

estava chovendo quando te conheci,
tinha tomado remédios e tinha lido um pouco.

Eu tremia no frio do Haldol,
algumas gotas de chuva pareciam furar.

Com frio: estava com frio quando veio o sol,
não acabou o frio quando te conheci.

Estava chovendo quando nascie estava chovendo quando morri em Paris,
com muita chuva,era quinta-feira, provavelmente.

Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.

Estava chovendo: como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia de chuva, se possível, quinta-feira.

Meus ossos quebrados, sobretudo, os húmeros.
Eu estava tão feliz por isso:por estar chovendo quando eu nasci.

Feliz como se soubesse mesmo
que estava chovendo quando eu morri.

São testemunhas disso Vallejo, a chuva,
as quintas-feiras, o sol e as demandas.

Friday, June 15, 2007

PELA PRIMEIRA VEZ

Estava chovendo quando eu nasci.
Hoje estava chovendo:

estava chovendo quando eu te conheci
e havia tomado os remédios.

Eu tremia no frio do Haldol
e algumas gotas de chuva pareciam me furar.

Com frio: estava com frio quando veio o sol
e não acabou o frio quando te conheci.

Estava chovendo quando eu nasci.
Estava chovendo quando morri.

Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.

Estava chovendo como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia

de chuva. Eu estava feliz por isso.
Feliz como se soubesse mesmo

que estava chovendo quando eu nasci
e estava chovendo quando eu morri.

Friday, June 08, 2007

DA MINHA RELAÇÃO COM O COMPUTADOR

Preciso
salvar este poema
de qualquer jeito
senão ele morre
no lixo
Que vá então
para o único lugar que eu existo
Eu insisto

Friday, June 01, 2007

JACARÉ

Tem festa no prédio do lado
Tem preso no meu presídio
Alguns amores no calabouço

Tem festa e está animada
e eu no meu pântano
apenas com os olhos de fora

Alguns abutres por perto
q por dentro bicam os corvos
e cospem na minha cabeça

Tem festa no prédio ao lado
Todo o dia tem festa lá
E eu aqui no meu velório

tentando agüentar mais um dia
Vencer a minha loucura
Bebendo Morte in natura

Monday, May 28, 2007

AINDA

Ainda
Não circundei
A tarde toda

Vazio sou
Agora sei
Que ainda

Continuo
Desabando
Em você

Meu terremoto
De edifícios
E desabafos

Monday, May 21, 2007

CHECK MAIL

Nenhum spam. Nenhum e-mail. Nenhum vírus. Nada. Somente a certeza que eu não existo. O céu deve ser chato. O inferno deve ser quente. Pra onde vou se ainda sou gente? Pra onde ir nesta cidade de remédios? O que preciso para ser feliz? Se já nasci morto: pra onde ir? Resta-me o rastafari nos cabelos: os obscuros fantasmas como eu. Resta rezar a um Deus ateu e pedir a ele o nada: que me deixe numa estrada: que só tenha fim no dia exato. Bem que o mundo inteiro podia acabar quando eu morresse ou agora que estou morrendo. Eu não tenho filhos. Não tenho ninguém. Não deixo semente. Será que ainda sou gente ou sou só mais um egoísta inofensivo que ofende a todo mundo? Quero rezar, mas não sei a oração. Quero a extrema unção, mas só conheço um padre pagão. E não acredito em mais nada. Só em você que é só pecado. Não sou de Deus e nem do diabo.

Monday, May 14, 2007

mallarmé

segura
prende e bate
e arrebenta
os testículos
o ventre
não aumenta
derrama
a discórdia
do silêncio
arranca
estripa e amputa
freme
bisturis
em punho
na medula
lobo
toma os uivos
selvagens

Sunday, May 06, 2007

poema

prenhe de poesia
cataplasma

catapulta o poeta
sampleador

da rima

nasce o poema
e a armadilha

e dentro do alçapão
a poesia

busca o poeta
e é só sutura

aquilo q está
de armadura

pronto pra lutar
e lapidar

o verso e o vaso
e a veia

até escultura

Monday, April 30, 2007

sonoro fim das estalactites
que em brisa brigam de ceifar
que ejaculando para dentro
explodem-se de uma antiluz

ó antiluz que navega o fim
de alguma bruma divisora
divisória do que taquigrafia
alguém algum dia orquideou

de dia na visão simplória
do afago da lua para besta
delineou seus olhos sol
e algum batuque sincopado

da água com a plêiade vária
é vero que produza vagas

Tuesday, April 24, 2007

GOSMA

gosma de silêncio: nóia
ficar mastigando um palito de fósforo
procurando em si uma respiração

encontrando o próprio bafo
na ponta do nariz alheio

ser a melhor parte do bolo
o recheio

Thursday, April 19, 2007

TANTO BATE ATÉ QUE ÁGUA

A gota
Guarda
Um guarda

Dentro dela
Cacetetes
E porrada

Quando ela
Explode na testa
O corpo
Todo
Sente
Que seria melhor que ele
Fosse feito de água
Também
(o que às vezes acaba
acontecendo)

Thursday, April 12, 2007

http://virtualbooks.terra.com.br


Friday, April 06, 2007

ECLIPSE - PARTE DO HOMOCHIP

1
engoli um chip
um eletrodo
engoli-o todo

hoje não cuspo
bolas de sabão

hoje só cuspo
o que tem no chão

no chão do chip
no chão do eclipse

tal língua de iguana
ou de camaleão

(que é como se chama
o novo vírus que com o chip
eu engoli)

engoli o sistema
cuspo algemas

sem reticências
pra não prolongar

a eternidade
que é estar num chip



2
pra sempre é só
até a morte

pra sempre só
além do depois

algum sentido
procuro na avaria

haveria algum
dilema maior?


3
cintilam cintilantes tropas de sargaços
creme com amêndoas no pudim
as amêndoas me lembram o chip
aquele que eu um dia engoli

como viver sabendo que alguém
é quem manda em mim?
e que só sou eu por alguns instantes
quando não penso que engoli o chip

por isso o fato de ter engolido um chip
pouco importa se é verdade ou não
o que importa é que sou uma rosa
e tenho no talo um chip em botão

e o que faz vou sabendo na medida
em que vai fazendo suas monstruosidades
são sempre coisas que eu quis mas nunca
tive coragem de fazer por dor ou dó


4
por dor ou dó
ou por pudor

pouco se faz
muito se rói

quanto osso
quanto ofício

quanto buraco
sem precipício


5
em mim cio
do contrabando de mim

ao caos

da canção caliente goma
se enrasca no aroma

e conta e assoma que ser
é muito mais não ser

por isso se morto agora
ou se na hora do desuso

pouco importa de estou
vivo ou se uso os dez

por certo uso de minha
neuronicidade vã

Tuesday, April 03, 2007

Rubra testa de floragem
Ramo de boceta em flor

Carda a sua maquiagem
Faz-me rubro e incolor

Ama-me a ponto d
Beliscar a sua realidade

Quando em cruz de fato
Não rimo com sacanagem

Thursday, March 29, 2007

CERTA VEZ

Comeu hipófises
eletroblastos e
osteócitos. Mal
me quer celular.

Bem me quer em
arterial compasso
de espera aspirai
cocaína e caos em

hidrólise de rum.
Campeniquanum
sendonum est pó
rus day in day o

R day in and out
]open in the samba[
Cocaína e caos em
tempo de têmporas.

Maça rubra rosto.
Folha morta de nervos
de fígado bife de
fígado do bife de

fígado no olho contra
a dor de cabeça contra
os do contra contra os
contrários do contra

Sunday, March 25, 2007

BOSTA

A cidade tem um cheiro de puteiro
O puteiro tem um cheiro de banheiro
O banheiro tem um cheiro de esgoto
O esgoto tem um cheiro de morto
O morto tem um cheiro de rato
O rato tem um cheiro de mato
O mato tem um cheiro bosta
E mesmo assim todo mundo gosta

O pão tem um cheiro de mofo
O mofo tem um cheiro de patrão
O patrão tem um cheiro de estado
O estado tem um cheiro de ladrão
O ladrão tem um cheiro de roubada
A roubada tem um cheiro de privada
A privada tem um cheiro de bosta
E mesmo assim todo mundo gosta

Todo mundo gosta da própria bosta

Tuesday, March 20, 2007

Estão tentando me matar: sempre
Sou o covarde de plantão

Estão sempre querendo me dizer o q é certo: sempre
E quase sempre é quase nunca

Assim é assim mesmo
Nem aceitam a minha misericórdia

O outro dia é sempre um outro: se houver outro
Se não houver termino assim

Wednesday, March 14, 2007

AUSÊN&CIA

Eu falto de mim alguns dias
Não vou a encontros marcados
Em certos horários
Estou tão ocupado comigo
Que sinto de mim uma falta
Sou eu mesmo quem me mata

Desato o nó da gravata
E deixo assim habitado
Meu mundo cheio de abismos
Flutuando no limbo saudável
De mais uma nova cura
Pois quando não estou em mim
É que sinto a sua falta
Sei que a miragem flutua
Na minha alma
Quando passa a ser tua

Sunday, March 04, 2007

Quero uma boceta
Uma boceta vermelha

Onde eu possa enfiar
Até a minha sobrancelha

Quero uma boceta
Uma boceta azul

Pra eu pedir pra vc
Tomar no seu cu

Quero uma boceta
Uma boceta amarela

Que de tão chupada
Fique com minhas remelas

Quero uma boceta
Somente uma

Onde lá dentro
Meu eu suma

Tuesday, February 27, 2007

ermo

a lápide de soslaio olha-me
o mundo de soslaio me peida
o que não pode ser mundo, muda

muda a moda que agora sobe
escondendo as barrigas do ontem

hoje sou o que nunca quis ser
e o habitual é habitar o nada quando

ermo penso

Wednesday, February 21, 2007

ÀS VEZES

Às vezes eu tenho vontade de fumar e fumo. Às vezes eu tenho vontade de comer e como.
Às vezes eu tenho vontade de você e nada.

Nenhuma mão vem me acudir no pesadelo.

Existe um desfiladeiro entre mim e você. Existe um foguete espacial. Sondas e satélites e bombas.

Às vezes tenho vontade de morrer e cuspo pro alto para não sujar ninguém, só a mim. É quase a mesma coisa.

Todo o dia os mesmos remédios e a melancolia melando a cueca do dia a dia. Um certo cheiro de merda que me vicia. Aqui então tudo é todo o dia. Assim sempre.

Wednesday, February 14, 2007

A LEI DA INÉRCIA ou OS OLHOS DO FELINO DIANTE DA PRESA

tudo
tende
ao nada

nada
é como
tudo

tudo
tende
a ficar

a estar
como
surdo
mudo

tudo
está

sem
se
moviment
ar

Wednesday, February 07, 2007

IGUAL

Hospícios são lugares tão bonitos
Lembram os cemitérios

Remédios azuis são tão ingênuos
Lembram alguns internos

Há ladeiras e um grande degrau
E flores e gente e muita gente

Muita gente gritando comigo
Como se só eu pudesse ouvir

Todo aquele pedido de vida

Thursday, February 01, 2007

FANTASMAS

Fotos desbotadas
Feridas na pele da alma

Tuesday, January 23, 2007

PRONTUÁRIO

Fico pensando nas pessoas que catalogam pessoas. Que dizem: este é isso e aquele é aquilo.

Fico pensando que sou um bicho-grilo na barriga de um jovem de quinze anos.

Eu engoli um grilo um dia desses, faz tempo. Foi a primeira vez que disseram: esse menino é doente e devia freqüentar uma escola especial para doentes como ele, que são um perigo para a ordem.

Fico pensando em quem disse que ele é esquizofrênico. Fico pensando se a doença está nele que viu ou nele que via.

Fico puto de a vida de duvidar de diagnósticos. Mas às vezes é melhor acreditar do que andar em círculos.

Porque as pessoas que catalogam pessoas não existem para o mal. No fundo catalogam para o bem.

Você, meu filho, é que é incatalogável.

Todo mundo sabe o fardo que você é para a família.

Precisamos de um nome de doença para pôr no prontuário. Que tal dizer que é síndrome de alguma coisa paranóide?

Que tal não esconder que não é letal?

Morre-se com isso e talvez morrer não uma má idéia.

Sunday, January 14, 2007

AINDA BEM

Hoje em dia, quando alguém está doente, a família chama a polícia.

A polícia vem e bate um papo com o cara. Se for preciso, colocam a camisa de força.

Eu não tinha como resistir: eram três tiras mais fortes do que eu.

Eles me levaram junto com o meu irmão. Acharam que eu não tinha nada, mas meu pai sentia um medo danado que eu fizesse alguma loucura

Mas eu era um perigo só para mim mesmo.

Do meu começo podia sair o fim, mas eu não quero rimar pobre com nobre em versos de impacto, só quero um pacto entre mim e você.

Eu jamais poderia dizer que só faria mal a uma mosca. Eram centenas e centenas delas, e matei algumas por prazer.

Saturday, January 06, 2007

 
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