OLHOS.

O infinito é tão lindo
que esquisito eu me sinto.

O infindo me aflige ao
saber que o que é lindo

também é findo e
tem o fim onde meu olhos

não podem tecer o horizonte:
olhos diante de minha fronte.

Sunday, June 29, 2008

A TORMENTA.

elemorrerá
eviráoutro
atormentar
a tormenta

ele viverá
e enquanto
ator o for
atormentar
áááááááááá

Saturday, June 28, 2008

cabra macho pra chuchu

O homem era só mais um homem qualquer até o dia em que quis virar mulher. Sua mãe chegou perto dele e cortou seu pinto. Seu pai passou mertiolate e ele era alérgico a mertiolate. Ficou com assaduras pelo corpo todo. Foi neste dia que ele virou mulher que eu o conheci como mulher. Era uma mulher bonita e um homem feio. Porque mesmo sem o pinto ele era homem. Um homem comum. Uma mulher bonita porque quando usava maquiagem, ela escondia as imperfeições de seu rosto redondo como uma lua ou um prato ou uma bola de futebol ou um ovo ou um disco voador. Sua mãe cortou seu pinto porque ele pediu. Sangrou tanto, mas cicatrizou. Ele já vinha com aquela idéia há muito tempo. Era um homem que queria ser mulher. Não encontrava utilidade para seu pênis. A utilidade que os homens dão. Era uma poesia aquele pênis. Uma inutilidade. Assim como o poeta abandona a poesia, ele abandonou seu pênis. Sem tristeza e com muita animação, pensando que ia ter vida nova. Passou a ouvir das pessoas coisas horríveis: que era chato, insuportável, imaturo, burro, ignorante. Tesouras rasgavam sua auto-estima. Tudo porque sua mãe cortou sua inutilidade. Se todos cortássemos as coisas inúteis da vida, íamos acabar nos matando. E foi assim que ele acabou... Enforcado... O outro homem dessa história, o outro ser humano que sou eu, gostava do cara que se suicidou. Tínhamos muita afinidade e cumplicidade na nossa amizade. Foi impossível não ficar triste com o fato de ele ter tirado a sua vida porque perdeu o pênis. Foi a mesma coisa que aconteceu comigo quando perdi a poesia. Fiquei triste e meu tempo ocioso era dedicado a procurar uma forma de me matar sem dor. E consegui num dia desses. Num dia em que o sol foi enorme e que o céu ilustrado de estrelas anunciava mais sol para o dia seguinte. Vi um cometa passar. Fiz um pedido e me joguei num vidro de Amplictil. Deixei uma carta para que me entendessem nesta hora. Não fui uma pessoa triste e sim despreocupada e sem pretensões na vida. Tudo me iludia e a poesia me filtrava. Deixei um último poema que dizia

Papai do céu foi um homem
um homem como outro qualquer
por que será que um homem não pode virar mulher?

O infinito está sempre num outro dia
e assim a flor nasce depois de uma morte
dentro do peito onde o poeta é mais forte

Sei que não vou entrar apra a história com um poema como este, mas quero dizer que o poema quando deixa de nascer no poeta é como um abismo que cai. E a última coisa que cai. É o inferno que não quer mais seu fogo. Mesmo sendo eu um poetastro. É diferente de abandonar a poesia e o poema e partir para ser feirante ou motorista de táxi ou médico ou engenheiro ou advogado ou michê. Quando a poesia abandona o poeta resta a morte. Foi o que restou a mim que sou só uma mulher comum. Que amava uma mulher e um homem: o poema e a poesia. Que era uma mulher dentro de um homem e um homem dentro de uma mulher.

Friday, June 27, 2008

Os olhos dela sempre brigam com os meus. Suas meninas parecem brincar com os brinquedos e luzes no teto. Se eu tivesse em mim tanta Marina quanto adrenalina, eu morreria todo o dia. Só para senti-la em mim eternamente.

Thursday, June 26, 2008

A mente mente muito
Diz algo q o corpo não sente

A mente pode ser um ente
Uma estrela cadente

Ou algo que não sei dizer
Vivo em minha mente

Na sua não posso viver

Tuesday, June 24, 2008

O tempo é
o tempo.
Faz do tempo o tempo
enquanto tempo.
É alguma coisa: tempo:
o temporal de momento
alguma coisa que
só o tempo sabe
o que é.

A falta de tempo
esconde
o sim: o não: talvez.
De vez a falta de tempo
esconde
um monumento:
um castelo que derrama-
mento:
o seu si-
lêncio e o meu escondem
um sentimento.

Monday, June 23, 2008

Rodrigo de Souza Leão e Paulo de Toledo

Rimbaud comia Verlaine
Que comia Rimbaud
Eu li os dois
Sem comer ninguém

Alface era comida boa
Ela vestia verde
Eu comia vento
E colhia às vezes

Todos os garotos
Foram perdigotos
Perdidos em algum esgoto
Fiz dela meu coice

Meu coito

Saturday, June 21, 2008

meu e de Paulo de Toledo

OUTRO CALIBRE DE DEUS.

uma lente acende a folha
sob o sol

sobe o sol no Japão
entra aqui

no Brasil desce o sol
assim é

nasce e morre o sol
todo dia

como eu

Thursday, June 19, 2008

Plácido.
O sol plácido sob o ácido
de asfalto flácido:
estruturas que se formam
e bordejam o vento.
O vento eqüino de alguma crina.
Passeia sobre a menina:
enguias pélvicas.
Vive Elvis na sua nevoa.
Escuta a escuna na nuca
e um arrepio lhe come
o chão
e a bolha faz o cachorro
latir e engolir a explosão.

Wednesday, June 18, 2008

DUCHAMP.


meu e de Paulo de Toledo

ONG.

Eu vou formar uma ong
Para jogar ping-pong

Com o neurônio de algum
Cérebro importante

Chutarei os miolos
De algum líder qualquer

Um desses caras que
Trata mal sua mulher

Trata mal os seus filhos
Trata mal o seu povo

E só se da bem
Quando tem alguém novo

Pra seguir suas ordens
Pra lhe dizer amém

Eu vou formar uma ong
Pra eu jogar ping-pong

Tuesday, June 17, 2008

ã.

ter possuir destru-
ir

rir prescindir par-
ir

são flechas equi-
nó-
cio(s)

estrobolábios e b-
oc
a(s)

a festa esta bomba-
ando

o sexo flui a-
roma

Sunday, June 15, 2008

HÍMEN. HOMEM.

O homem é só um pedaço de carne.
Aquele homem é só um hímen.

O hímen é só um pedaço de carne.
Aquele hímen é só um homem.

(Qualquer coisa dita além disso
pode ser simplificar o simples):

(Assim como esquecer de um hífen).
(O hífen é só um homem-hímen).

Saturday, June 14, 2008

meu e de Paulo de Toledo

pteroframes surgem
na imagem

logo se vê o fantasma.
e além disso
se dissolvem
os chuviscos

alguns seres
orgânicos que
me causam náusea
como o carrapato-azul
e a lampreia e
os vagalumes
com lâmpadas
na ponta de
suas bundas
piscam
estroboscópicas

mas os piores
são os homens com
monitores voltados
para o seu próprio cu
e o umbigo colado
no ego

sabendo que
todos acabaremos lá:
sete palmos abaixo

Thursday, June 12, 2008

meu e de Paulo de Toledo

Wednesday, June 11, 2008

de pérolas.

os porcos fartos ainda mastigam
e trituram ao vento
expandindo a distância
entre os beijantes casais corpulentos

perplexos
ficam os versos que o vento esculpe
nas encostas recalcitradas de macacos
e lesmas
caminham rapidamente

as tartarugas
tardam a morrer

quantos porcos matar
até encontrarmos as pérolas?

Aranhas e cavalos são sombras perpétuas. A minha sombra não fala de mim. Sequer posso vê-la. Na escuridão/com uma vela acesa/acendo minha mão.
Na imensidão do olho dela posso vê-la. Quem é? Quantos anos?
Tudo me devora até meu ápice e volta devagar como se o dragão que eu cavalgo cuspisse em mim cem mil bocetas azuis.

Monday, June 09, 2008

NOMES TROCADOS.

Peço uma linha de sentido
ao meu ser dividido
: entre o opúsculo e o
músculo que nasce másculo
dentro de sua válvula.

Aceito o inquieto retrato:
ela e sua sombra na parede
do quadrado. Ali onde os
mortos ficam pra sempre
vivos e enterrados.
Aqui onde nós tentamos
ter os nomes trocados.

MENOS UM POEMA.

1.número um:
algo que lhe faça
um vestígio de ventre
um ângulo entre as pernas
2.pra q números?
servem para mudar
de assunto e continuar
nele como se não fosse nada
3.detesto número
mas sinto vontade de
numerar um poema errado
(este poema é um erro inevitável)
4.está na hora
de o programa terminar
Mickey Mouse vai partir e
a verdade está toda fora do poema

Saturday, June 07, 2008

MY ONLY FRIEND: THE END.

Aquele número telefônico. De vinte anos atrás. Aquela série de seis números. Aquela esperança de te encontrar um dia. Voltou tudo. Mexia nas gavetas e encontrei aquele guardanapo. Pedaço. Ponte entre mim e você. História que não aconteceu. Um beijo apenas que nos separou. Tudo voltou. Por um segundo. Por um minuto. Tudo apareceu de novo. Como se existisse algo ainda entre nós. Algo como aquele beijo. Aquela noite de beijos. O número estava lá para ser digitado e liguei e você não estava lá. E o telefone não era mais seu e por que eu havia encontrado aquela memória naquele dia? Aquela circunstância. Eu liguei de novo. Percebi que não sabia seu nome. Você podia ter filhos. Família. Marido. Namorado. Percebi que tudo só podia ser lembrança. E fogo ardendo agora para que o nunca mais esteja entre nós. Eu queimei o guardanapo e enquanto via o azul do fogo e o amarelo Gogh consumindo o meu passado com você, percebi que você era minha musa. A mulher que sempre quis. A mulher que não falou comigo. Só me beijou ardentemente enquanto uma banda de roque tocava. Uma banda que eu gostava e você também. Será que você ainda gosta? Eu não gosto mais. Tudo mudou e nada mudou. Os cabelos brancos no peito que estão subindo pela barba e descendo pelo púbis. Tudo é o nosso desencontro. Como se nunca existisse um nós. Não. Existiu. Por uma noite. Algumas horas. Éramos tão jovens que nem percebemos que aquela seria a nossa primeira e última vez. Finito como um eletro-choque. Puro. Fim. In.

Friday, June 06, 2008

Crispim Duarte era uma menina doente. Pelo menos era o que ela descobriu depois de fazer alguns exames de rotina. A rotina eram os exames de rotina. Até ser abduzida e curada por um et. O et se casou com ela e eles foram felizes até ele morrer dois dias depois de ela ter sido curada. A doença passou pra ele. Ele passou. Hoje ela ta casada com um elefante que lhe dá banho todo o dia. Assim ela vive com uma tromba: duas trombas, pois nasceu na sua boceta um pau em formato de tromba. Eles se comem e são felizes. Pelo menos foram felizes até o elefante morrer de cirrose. Casou de novo e ficou grávida de um pterodátilo. Que saiu de seu corpo voando. Levou-a para Terra do Nunca. O Peter Pan se apaixonou por ela e a Sininho fugiu com o pterodátilo. Crispim Duarte aguardou o nunca como sempre. Até que o nunca aconteceu e eles foram felizes. Pra sempre foi muito tempo. Todos morrem. Inclusive quem me contou esta história morreu ontem de algum mal ingrato. De alguma dor que aconteceu do nada. Morrer do nada é a melhor morte. É como se nunca tivesse existido nada aqui ou nunca aqui. Cacofonia é o nome do caqui que como agora entre uma palavra e outra.

Thursday, June 05, 2008


meu e de Paulo de Toledo

Wednesday, June 04, 2008

Carie.

Dentro de mim há algo podre
algo
algas verdes que flutuam
na química cerebral

Alguma coisa estranha nisso tudo
como um dente com chip
que a CIA colocou

Aquela dentista era minha amiga
era
e hoje ela me telefonou

Disse coisas com sentido
q a vida era um perigo
era
e isso eu já sabia

O que ela não me disse foi o q me deixou triste
Não disse que eu estava podre
Mas sei tudo isso tão bem
q não acredito em mim

Gostaria que existisse
a pílula
anti-paranóia

Assim eu estaria
curado
Seria a Glória

Tuesday, June 03, 2008

ANTIPENSAMENTO.

Às vezes o que a pessoa pensa é só uma coisa que a pessoa pensa e só ela pensa. Outras vezes outras pessoas pensam outras coisas sobre o que existe. E ainda muitas vezes todos pensam a mesma coisa: o que de fato dá mais força para a coisa em si. Mas a coisa em si não fica mais forte quando há uma unanimidade. Somente quando um pensa e aquele que pensa sobre a coisa em si é uma pessoa especial para a flor da espécie, somente aí o que a pessoa pensa sobre o objeto em si valoriza o objeto em si. Mas não penso sobre o que pensam de mim. Não importo muito com o que pensam, mas o pensamento nulo é chato. Talvez seja fundamental não pensar. É o que busco mais no meu dia a dia. Viver não é pensar. Há um tempo para tudo. Tempo de viver. Tempo de pensar. Nem sempre estes tempos caminham juntos. Quase nunca há um caminho em comum. Por isso procuro não pensar: sou quase sempre antipensamento.

Monday, June 02, 2008

PIERROT

Escorrendo sangue de tinta óssea
Olhos que choram uma inexistência

Punhado de confetes e serpentinas azuis
O carnaval tem cores de felicidade curta

Escuta-se um berro uníssono canto
Sobrancelhas verdes de quem já foi um et

Aqui ali borrões que podem ser tristeza
Um sobrevivente triste feito uma pilastra

Uma tela em branco seria tão expressiva
que a formiga motorizada dirige o ocaso

Tudo flutua no limite de cada cor inacabada

Sunday, June 01, 2008

 
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