FRAGMENTO.

meu eu
tão pequeno
que me algemo
para me aumentar

seu ego
tão grande
que sonego
o seu olhar

solitário andar
por entre a gente


trazer você pra dentro
da minha
música

de repente


deixar a noite ir
vazia e tísica

abrir espaços dentro
da minha física

Tuesday, December 30, 2008

MONÓLOGOMANIA.

Matei muita gente nessa vida. Nessa vida, que embaraçada sobre a minha mão, acolhe-me por um segundo: como se duas mãos se misturassem tanto que fossem caindo uma a uma de si. Matei. Roubei. Gaguei e peidei dinheiro porque o importante não era o dinheiro e sim o poder. O poder é uma bola de sabão e eu flutuo dentro dela. Sou um porco. Sujo. Imundo. Nojento. Abjeto. E qualificativos vários que aqui poderia enunciar, mas não o faço porque sou generoso comigo. Vomito um ventre novo por dia. Bebo. Esfolo bocetas selvagens e me dou um sonífero antes de dormir.

Sunday, December 28, 2008

Foge o silêncio pelo ralo
Nasce uma flor em meu falo

Às duas horas da manhã
Ele acorda pensando no satã

E a minha palavra sempre exígua
Está mais morta do que viva

Deus não é um diabo invertido
É só mais um ser oprimido

Pela beleza que o crânio carrega
Quando defeca tudo que nega

Enfim, ando meio puto com
Deus fazendo meu Satiricon

Thursday, December 25, 2008

NATAL.

É muito difícil escrever um poema
de natal.
Não é muito difícil. É dificílimo.
Por que quero escrever sobre uma metáfora: ela?
Por que? Um bilhão de porquês.
Por que todos não vão pro céu?
Eu acredito em papai
Noel.

Tuesday, December 23, 2008

CACHORROS AZUIS, POR MARCIA TIBURI.

Todos os cachorros são azuis de Rodrigo de Souza Leão (ed. 7 Letras, 78 páginas) é um grande conto, dividido em quatro partes cujos títulos merecem menção: Tudo ficou Van Gogh; Deus não: deuses; Humphrey Bogart contra Charles Laughton; [Do gr. epílogos]. Confesso que comecei a ler (desta vez não pela capa), mas pelo título e pelos subtítulos. Pensei: se for ruim (ou seja, cansativo, só uma historinha, metido à besta, etc.) desisto logo com aquele tantinho de dor que sobra quando se tem uma frustração literária. Continuei porque era o contrário. O assunto perfeito: um rapaz de 38 anos vivendo em um hospício, rodeado de pessoas que não aparecem senão como fantasmagorias que mostram o quanto a vida dita normal também não empolga pela ordem (o pai, pediatra que vira psiquiatra para entender os filhos, os enfermeiros meio policiais, a mãe açucarada fazedora de bolos, a turma da injeção benzetacil…) e fazem a vida alucinada muito mais interessante. O protagonista divide sua mente com as alucinações Rimbaud e Baudelaire. Diante deles a tal “realidade” é que merece um desconto. Diante deles é que o protagonista pode lançar que “quero ser promovido à alucinação de alguém”. O protagonista, a propósito, é um sujeito que engoliu um chip, quebrou tudo dentro de casa, foi internado pelos pais que dez anos antes souberam que ele tinha engolido um grilo. Depois disso o que ele engole é o Haldol.
O estilo de Rodrigo Leão é uma grande qualidade de seu escrito. Para quem gosta de tratos sérios com a linguagem, será leitura das melhores. Quem espera, no entanto, só uma historinha contada, ou tem pouco senso de humor, não leia o livro, nem a última parte, a do “epilogos” em que o protagonista resolve nos contar sua aventura com uma “liga que agregava todos os seres do universo”. A liga tinha também a sua língua: TODOG. Sua vantagem era que ninguém a entendia, e, por isso, unia a todos que estivessem dispostos.
O fim da história, se ele saiu ou não da clínica, se viveu, se morreu, eu não conto, mas garanto que é tudo bem parecido com o mundo que todo mundo conhece. E, por isso, mesmo, assustador.

Sunday, December 21, 2008

MY ONLY FRIEND: THE END.

Aquele número telefônico. De vinte anos atrás. Aquela série de seis números. Aquela esperança de te encontrar um dia. Voltou tudo. Mexia nas gavetas e encontrei aquele guardanapo. Pedaço. Ponte entre mim e você. História que não aconteceu. Um beijo apenas que nos separou. Tudo voltou. Por um segundo. Por um minuto. Tudo apareceu de novo. Como se existisse algo ainda entre nós. Algo como aquele beijo. Aquela noite de beijos. O número estava lá para ser digitado e liguei e você não estava lá. E o telefone não era mais seu e por que eu havia encontrado aquela memória naquele dia? Aquela circunstância. Eu liguei de novo. Percebi que não sabia seu nome. Você podia ter filhos. Família. Marido. Namorado. Percebi que tudo só podia ser lembrança. E fogo ardendo agora para que o nunca mais esteja entre nós. Eu queimei o guardanapo e enquanto via o azul do fogo e o amarelo Gogh consumindo o meu passado com você, percebi que você era minha musa. A mulher que sempre quis. A mulher que não falou comigo. Só me beijou ardentemente enquanto uma banda de roque tocava. Uma banda que eu gostava e você também. Será que você ainda gosta? Eu não gosto mais. Tudo mudou e nada mudou. Os cabelos brancos no peito que estão subindo pela barba e descendo pelo púbis. Tudo é o nosso desencontro. Como se nunca existisse um nós. Não. Existiu. Por uma noite. Algumas horas. Éramos tão jovens que nem percebemos que aquela seria a nossa primeira e última vez. Finito como um eletro-choque. Puro. Fim. In.

Saturday, December 20, 2008

TRAVECO.

Átimo de pedra sobre nuvem
Átomo de plástico

Corredeiras de enguias-crustáceas
Outro sonho pesado pesadelo

Tamanho do ósculo de sangue
Coagulado em algum ponto do sofá

Pende um minúsculo objeto do ventre
Dela pode-se esperar qualquer coisa

Friday, December 19, 2008

CARTA DO LEITOR E POETA PEDRO RODRIGUES.

OLÁ, RODRIGO! TUDO BEM?
RECEBI SEU LIVRO PELO CORREIO HÁ QUASE DOIS MESES, UM AMIGO CARIOCA O PEGOU PARA LER, MAS NÃO DEVE TER GOSTADO, PORQUE NÃO FALOU NADA. NÃO SABE O QUE PERDEU!
SOFRI UM PEQUENO ACIDENTE DE BICICLETA, EM QUE PODERIA TER IDO DESTA PARA, NÃO SEI QUE ADJETIVO SUPERLATIVO USAR, O FUTURO LOCAL QUE NINGUÉM SABE ONDE É QUE VAI DAR. MAS ESTOU AQUI, JÁ LI O LIVRO, AS PASSAGENS DA INTERNAÇÃO SÃO FANTÁSTICAS, PORQUE POR MENOS TEMPO QUE EU TENHA FICADO NA SANTA CASA, MUITA COISA DO QUE VOCÊE SCREVEU ERA O QUE TINHA ACABADO DE VIVER COM A CARA TODA ARREBENTADA NAQUELE LUGAR ESCROTO.
A CONTEMPORANEIDADE É FATOR MUITO RELEVANTE, POIS DIZ REPEITO A UMA GERAÇÃO, A NOSSA, COM DIREITO A VERSOS MUSICAIS DE RENATO RUSSO E TODOS OS ÓTIMOS AFORISMOS ETC. ISSO É MUITO BOM, É IDENTITÁRIO, É MUITO PRÓXIMO.
O TEMPO ESTÁ PASSANDO, ESTAMOS NOS AFIRMANDO COMO"ADULTOS", COMO ESCRITORES, POETAS, ENFIM... EENCONTRAR ALGO QUE É DO SEU TEMPO RELATIVOEINSTEINIANO NUM LIVRO É UM PRIVILÉGIO. PRECISAMOS DE MAIS LIVROS ASSIM. E A FICÇÃO, CARA!... O QUE EU POSSO DIZER?
PROCURE
TAMBÉM SOU MÚSICO EM FASE DE REGRAVAÇÃO. NO MESMO SITE, NO LINK "SOPA/POETAS", PROCURE POR "NUNNO DORA". TUDO INDICA QUE SEREI HOMENAGEADO AGORA DIA 29/12/2008.
LÁ NO CLUBE. O CONVITE JÁ ESTÁ FEITO. ENTRE NO SITE, OUÇA AS MÚSICAS, TEM UMA GALERA SUPERLEGAL PRA CONHECER E ÓTIMOS COMPOSTORES E COMPOSIÇÕES. OS POETAS PRIMEIROS SÃO DE PRIMEIRA LINHA, O QUE PRIMEIRAMENTE E ULTIMAMENTE ME APETECEU MUITO NOS ULTERIORES QUATRO MESES À INAUGURAÇÃO DO LINK.
UM GRANDE ABRAÇO!
PARABÉNS!
OBRIGADO!
TODOG!!!
PEDRO!!!

Tuesday, December 16, 2008

Camboja.

O copo A noite A morte
Enfim o grito de socorro

A britadeira ou o som
Do motor no dentista

Faz desaguar o mar que há
Numa criança

Mija

Monday, December 15, 2008

uma mãe como eu fui quer.

no diagrama da manhã
cutuquei minhas folhagens
e erigi meu diadema
entre os olhares das tatoo

quantas tristezas me fiz hoje
se o dedal me fere mais
do que a angústia de agulha
em meu ventre que ubíquo é

o filho que me olha parado
dedilha o meu sentimento
e refuga o meu corpo

diante de mim quero-o filho
amamentando o sutiã do dia
com cada vento que nos poluir

Friday, December 12, 2008

DIREITOS HUMANOS.

Deveres humanos são direitos quando um míssil percorre o azul do olho de uma criança que suspira um horizonte de chamas. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. A humanidade cinza de quem desfigura um índio na calçada e joga as tranças de Rapunzel pela janela da própria boca. Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua,de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. A quem reclama da fraterna esfera celeste aquela abelha redonda de bola de fogo e aquele cão de sutiã. A quem pede ao fogo que decalque mais rapidamente os galhos em que os sagüis se acostumaram a tomar Fanta uva. Nega a si mesmo o dever de seguir no caminho traçado pelo esboço do que foi o seu almoço e ilha seu eu no paradoxo mais perto porque tudo parece muito bem empregado neste cemitério. Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. De que adianta sobreviver na estrita terra que leva tuas mãos ao marasmo do armário cheio de roupas cuidadosamente arrumadas por um personal arrumador de roupas. Há personal para tudo. Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Há um nascer e um morrer todo dia há o existir e há um elixir para o existir que é o bocejar. Paz cão. Peace Dog. Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis,desumanos ou degradantes. Entre os dois irmãos que lutam pelo poder foi o que cuspiu no outro que morreu primeiro. Foi o primeiro que morreu primeiro. Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.
Advogo em situações difíceis como a sua. Mas não dá para trazer o horizonte para o mar e nem levar o vice para o versa. Versa versejar o pouco de vento ainda e respirar ouvindo um átomo de colibri girinascendo. Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Nelson ficou preso uma porrada de tempo levando cordas para o seu suicidador suicida-lo na dor mais torturante. Toda a pessoa direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. No olhar de mamãe há um saco de boxe e dizem que sou eu que dou o soco nela todo o dia. Ninguém pode ser arbitrariamente preso,detido ou exilado. Os padres rezam com a fé de que o céu nunca pode cair sobre suas cabeças. Tudo é possível até na impossibilidade há a segurança de que tudo é impossível. Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Num sei quem julga é Deus e virá para os vivos e os mortos. Os mortos coitados dos direitos dos mortos. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. Até os mísseis que olhavam Cuba com bons olhos beberam naquele dia em que Fidel engoliu-se de falar. Fidel estava Castro ainda. Castrando. Mas será que saber que está sendo Castrado é melhor do que acordar castrado? A ditadura do invisível é invencível. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Cláudio Manuel da Costa era maior do que o espaço que foi enforcado. Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Há programas do Gugu que salvam uma pessoa por semana enquanto o resto come a mão ou a colher com sal. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. O mundo em Ibiza. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Londres e seu fog nunca voltaram a quem foi e alguns ficaram em Londres e pior os que Brasil na testa escrito tiveram que ser brasileiros. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. Baby eu dormi na praça pensando nela. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Nobel foi o inventor da dinamite. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. A nação Rubro negra é católica e canta hinos bonitos. Eu sou mengão com muito orgulho com muito amor. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Nunca quis ser americano. Nem torcer pelo Botafogo. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família,sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.Um amigo que nunca foi amigo me mostra a foto da mulher nua e pergunta se ela é gostosa. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado. A Fat Family vai tocar no Canecão. Toda a pessoa, individual ou colectiva, tem direito à propriedade. A Igreja é a maior detentora de terras e os cemitérios deveriam ser no Egito vivo. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Quem é o proprietário dos meus sentidos? Quantos sentidos têm a vida? Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção,assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção,sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Eu comunguei quando pequei e depois disso só pequei! Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Viva a lista sem discussão. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. Ninguém pode bater num homem de saias. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. A carteira de sócio atleta federado está sendo vendida por quinze mangos. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, público do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Se o porteiro pode votar pode ser poeta. Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Eu não sou profissional da escrita e nem quero ser. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Os meus interesses são o de ficar mais rico do que o mais rico dos riquinhos e peidar dólar. Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Das sete até ás dezenove horas papai trabalhava no Hospital X e depois ia dar plantão no Hospital e um dia perguntei quem era aquele homem que dormia com mamãe e era pouco visto e era ele mesmo. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Engraxa o sapato da cola. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Pode escolher entre educar em Esparta ou Atenas? Eu estudei tanto que hoje sou burro. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Principalmente os chatos como eu. Os chatos como eu são chatos. Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. O espaço, a fronteira final estas são as viagens da Enterprise em busca de novos mundos audaciosamente indo onde quem sabe o mal que existe por detrás dos corações humanos. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente e aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Carcará pega mata e come. Nenhuma disposição da
presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados. Acabaram com o World Trade Center e deixaram a estátua da liberdade intacta. Os loucos têm seu céu particular. O meu dever é sempre fazer a lição de casa e um bom menino não faz pipi na cama.

Wednesday, December 10, 2008

ENTREVISTA PARA JULIANA KRAPP. JB.

RIO - O narrador de Todos os cachorros são azuis (7Letras, 80 páginas, R$ 25) é um esquizofrênico. Por isso, a trama do segundo livro de Rodrigo de Souza Leão – o primeiro em prosa - se passa, em sua maior parte, num hospício. Ou dentro das alucinações do protagonista-narrador, que tem amigos imaginários como Rimbaud e Baudelaire. Que acredita que engoliu um chip, ou um grilo. E que, fazendo jus ao estilo do jovem autor, encadeia uma narrativa exuberante, repleta de um lirismo – por que não dizer? – alucinado.
É, o próprio Souza Leão, um esquizofrênico, que se baseou em sua experiência pessoal para compor o livro. Não por coincidência, ele começou a escrevê-lo depois de sua segunda internação, em 2001 (a primeira fora em 1989), com o “quarto escurecido por doses de Litrisam”. Ao aproximar sua prosa da esquizofrenia, o autor também a aproxima da poesia, como conta na entrevista abaixo.

1 - Como e quando começou a escrever o "Todos os cachorros são azuis"?

Prefiro responder primeiro quando começou e depois responder como.

Comecei a escrever “Todos os cachorros são azuis” depois da minha segunda internação, que foi em 2001. Não me lembro exatamente o mês. Eu estava com 120 quilos de peso e muito gordo para o meu metro e setenta e um. Faço questão desse um, rs. Suava muito porque fazia um calor infernal. Agora me lembro. Era verão. Voltava de mais uma estadia no inferno. Internações são muito traumáticas. Às vezes não é necessário internar, ainda mais como eu fui, da maneira como foi. Estava em casa e minha família muito atormentada com as coisas que estava fazendo e acontecendo na minha vida, resolveu sair de casa e me deixar só com minha avó que era viva e estava com noventa anos e numa cama. Eu avisei a eles que se saíssem não iam mais entrar. Duas horas depois eles tocaram na campainha. Eu havia passado o trinco na porta. Falei que ninguém iria entrar. Mas era uma mistura de brincadeira com uma tentativa de dar um susto neles. De eles não me abandonarem. Mas eles chamaram a polícia. A polícia arrombou a minha casa. Eu havia acabado de passar um interurbano para Minas e estava ao telefone com a Silvana Guimarães. Não ouvi o barulho. Pelo menos a PM teve o cuidado de tirar as armas antes de invadir meu lar. Eram três policiais militares e eles tentaram durante uma hora me convencer a ir para o Pinel. Não tocavam em mim. Mas deixavam claro que se fosse necessário, usariam de força. Vendo que demoravam muito, oficial mais graduado resolveu subir. Ele estava em baixo, na viatura. A princípio expus meus argumentos. Falei que se tratava de uma brincadeira. Mas não deu e resolvi ir sem necessidade de ser usada a conhecida força policial. Sai do edifício escoltado por quatro policiais. Me botaram numa viatura e me levaram para o Pinel. Meu irmão foi junto comigo e meus pais foram no carro da família. Cheguei ao Pinel e minha família optou por me internar numa clínica particular. O hospício que havia ficado internado pela primeira vez em 1989.
Fiquei internado por vinte dias. Quando voltei a minha casa, dois dias depois, no meu quarto escurecido por doses de Litrisam, comecei a escrever “Todos os cachorros...”.

Agora o como? Eu já havia escrito “Carbono pautado – as memórias de um auxiliar de escritório”. Uma prosa mais convencional. (Século XIX). O “Carbono...” (ainda bem) não teve boa acolhida em nenhuma editora. Era um texto de duzentas páginas.
Quando começo a escrever uma narrativa não sei quantas páginas vai ter. Mas queria escrever uma coisa diferente e com menos quantidade de páginas. Escrevi uma página por dia e ao final de quarenta dias tinha uma novela em estágio embrionário. Necessitava de revisão e de uma burilagem. Teria que mexer mais no texto final. Mandei para Leonardo Gandolfi e Franklin Alves Dassie, meus amigos. Eles acharam o livro ótimo. O Leonardo deu uns pitacos que me ajudaram muito. Fiquei com aquilo guardado. Depois de um tempo mandei fazer uma revisão e enviei para algumas editoras. Fui rejeitado por todas, menos a 7Letras. O Jorge Viveiros de Castro gostou e queria publicar, mas eu não tinha grana alguma para ajudar. Veio o prêmio da Petrobras e ganhei a bolsa. Reescrevi o texto todo e acrescentei mais um capítulo. Aleluia!
2 - Apesar de ser um livro autobiográfico, não é narrado de forma linear. Como foi o seu processo de escritura?

O meu processo foi o de tentar aproximar a prosa à esquizofrenia. Para isto, resolvi achegar a prosa à poesia. A linguagem natural de um louco é, digamos, um pouco poética. Quando um poeta diz, por exemplo, “Guardei o Sol em sete partes”, usa uma linguagem específica. O Sol não tem partes e nem pode ser guardado. Só num poema isto é possível. Por isso, o livro pode ser poético. Foi isso que busquei. Fiquei possuído por esse espírito e acho que não errei de todo.
Queria também ser ágil e um pouco diferente sem ser chato. Já existem muitos escritores herméticos e chatos, não queria ser mais um em que o hermetismo fosse o principal da narrativa. Mas nunca facilitei o texto. Usei também muito a repetição. Repetia que tinha engolido um chip, que engolira um grilo e outras coisas mais. Só não havia engolido espadas. Aliás, nem gosto muito de ver mágica e magia.
3 - Você já disse algumas vezes que tem esquizofrenia. Gostaria que você falasse um pouco sobre como isso influencia a sua escrita.

Sou esquizofrênico. Tomo remédios coloridos para poder me controlar e viver da melhor forma possível. Se devo algo – e devo muito –, devo a escritores como Ruben Fonseca, João Gilberto Noll, Wilson Bueno, entre outros; eles é que fizeram eu escrever. Acho que estou indo, mas muito longe deles. Aliás, não dá nem para chegar perto de gente tão boa como esse pessoal aí de cima. De modo que a esquizofrenia em si não me ajuda; muito pelo contrário, me atrapalha. Ser esquizofrênico é muito difícil. Depois que li num compêndio psiquiátrico que a esquizofrenia é uma doença “altamente incapacitante” fiquei preocupado. E se eu piorar? Como manter um controle para escrever? Existe o mito esquizofrenia/inteligência. É um problema. Imagina o que o matemático Nash teria feito se não tivesse alucinações persecutória e ouvisse vozes e visto alucinações. Sua contribuição teria sido bem maior.
Van Gogh. não teria arrancado a orelha e talvez não tivesse feito sua obra com tamanha criatividade. Mas teria vivido melhor. Ser esquizofrênico é muito ruim e não faz de ninguém um ser melhor.

4 - Imagino que algumas das alucinações que aparecem em "Todos os cachorros" você tenha experimentado, de fato. Mas nem tudo é memória. Como surgem essas idéias alucinatórias, esse jeito no qual a própria linguagem puxa o insólito?

A esquizofrenia tem diversos níveis. Cada louco é um louco. Na minha experiência não tive muitas alucinações auditivas e visuais. Mas vivo com sensações persecutórias. Acho que estão me perseguindo e que vou ser assassinado. Convenhamos que isto não trás tranqüilidade. O que tenho é atualmente chamado pelos psiquiatras de distúrbio delirante. Para o livro coloquei um protagonista que via e ouvia alucinações. Aproveitei experiências do meu irmão Bruno. Ele é bipolar e já teve uma psicose séria. Só voltou a si graças ao eletro-choque. Ficou abobado, mas agora está normal. Misturei também as duas internações que existiram na minha vida. A primeira foi muito traumática. Fui internado com camisa-de-força. Me botaram num cubículo. Me deram um sossega-leão. Fiquei na ala destinada ao Suis. Foi horrível. Um verdadeiro pesadelo. O lugar da clínica onde fiquei era tão ruim que o chamavam de Carandiru. Mas não culpo ninguém da minha família por isso. Não havia outra opção. Amo muito minha família.

5 - Você está investindo mais pesado na prosa?
A poesia secou em mim. Eu já escrevi muitos poemas. A maioria da minha produção é disso. Mas a prosa vem me dando mais frutos. Também não consigo escrever algo um pouco melhor no formato poema faz muito tempo. Sinto que não tenho nada mais a dizer. Apesar de a poesia me tocar, eu sinto que ela está me abandonando. Fugindo. Escondendo-se de mim. Mas confesso que tenho mais facilidade de escrever poemas, um tanto ruins, é verdade. A prosa é uma coisa difícil e não me faz mais feliz. Tenho dificuldade realmente. A prosa requer uma paciência que tenho aprendido.
Tenho uma teoria boba na poesia: a de que a forma tem que ser apolínea e o conteúdo dionisíaco. Mas isso só vale para um estudo superficial, porque forma é conteúdo. Digamos que o apolíneo e o dionisíaco me abandonaram. Fiquei muito só na poesia. Percebo também que meus poemas estão meio que datados (alguns). Procuro sempre novas formas de escrever algo. Sou impaciente. Mas percebo que era melhor poeta quando tinha mais caoticidade nas minhas coisas. Hoje escrevo de forma mais simples. Nunca perfumei a flor, contudo fui simplificando demais meu texto. Também tem algo que ainda não disse. Minha prosa é meio poema. Uma elipse aqui, uma metáfora ali, e assim seguimos.
6 - E a poesia, como anda?
A poesia é uma coisa muito difícil. É complicado publicar um livro. Custa um dinheiro que não tenho. Gostaria que ao lerem minha prosa fossem procurar meus poemas. Existem três e-books sobre loucura e internação. O primeiro é “Síndrome”. Graças a este livro fui incluído na antologia feita por Claudio Daniel e Frederico Barbosa. Ela se chama “Na virada do século – Poesia de invenção no Brasil”. Foi uma vitória, porque lá estou junto com nomes bacanas. “Síndrome” é sobre a minha primeira internação. Tem uma linguagem muito particular. Pode ser encontrado na editora Virtual Books. Também por esta casa editorial publiquei “Suorpicios Mind”. Trata-se da minha segunda internação. Falei muito dela na primeira pergunta. É um texto em que há muito o hermetismo e um pouco da coisa surrealizante. O outro e-book está no site da Germina. Denominei-o de “Cataclismo”. Tem o prefácio de Sebastião Nunes que captou bem o que eu queria abordar; ele foi muito simpático. A temática é também a mesma, mas os poemas formam um conjunto, digamos, mais harmonioso e a escrita não é fechada. Gosto disso. De mudar de estilo. Sou qualquerista. Um movimento que inventei. O qualquerismo tem um integrante só. Um movimento do eu sozinho.
Mas uma coisa que queria deixar claro. Não sou médico, psiquiatra ou psicólogo. Me formei em jornalismo. Não quero ser conhecido como um chato que só fala de loucura. Nem como portador de uma boa nova. Tenho outros e-books e o meu primeiro livro impresso chama-se “Há flores na pele”. Um livro sobre amor. Afinal, o amor.
7 - Na verdade, será que é possível, ainda mais no seu caso, separar poesia de prosa?
É possível, mas não no caso de “Todos os cachorros...”. O bom deste livro é ser uma prosa sem muito limite, mais parecido com determinado tipo de poesia.
Como comecei escrevendo poemas e me dediquei a isto desde os dezoito anos, penso que é uma coisa que acontece naturalmente. Pelo menos foi assim com “Todos os cachorros...”. Mas tenho livros menos próximos da poesia. Inclusive o que estou escrevendo.
Creio que – como trabalho nesta nova narrativa com outros temas que me pedem outra escrita – este texto novo vai seguindo na direção que acho mais correta. Uma coisa mais contida. Por enquanto estou com um material de um romance de 300 páginas. Chama-se Tripolar. Serão novelas que, entrelaçadas, podem dar em um romance. Preciso trabalhar ainda muito neste novance. É como chamo este misto de novela com romance. Mas o importante é que é uma narrativa que não entra em uma categoria específica. É um híbrido, melhor, uma mixagem como se eu fosse um dj.
8 - Você já lançou e-books, tem um blog, colabora para sites, tem uma vasta produção online. Como a internet incide na sua criação?
A internet foi mais importante na minha formação do que na minha criação. Comecei publicando um e-zine. Era um fanzine distribuído por e-mail. Publicava poemas, textos e entrevistas. O nome deste veículo que escoava a minha produção era Balacobaco. Circulou por quase seis anos. Pude entrevistar diversos escritores. De alguns virei amigo. Eles me mandavam seus livros. Assim entrei em contato com boa parte da produção de literatura da nova geração. Depois veio o site Caox. Eu fazia o design do sítio cibernético. Fui um dos fundadores da revista Agulha. Colaborava como webmaster e como repórter. Mas só fiquei um número. Não gostava muito da função de web designer. Hoje em dia atuo em três frentes. Atualizo o meu blog http://lowcura.blogspot.com e faço entrevistas e resenhas para a Germina http://www.germinaliteratura.com.br e ainda edito junto com o poeta Claudio Daniel a revista Zunái http://www.revistazunai.com
Não considero que exista uma escrita específica na internet. Fica claro que o que há é um vocabulário diferente, mas ainda não chegou a influenciar tanto assim os escritores. Muita abreviação e adaptação. Creio que caberá à moçada da novíssima geração escrever o internetês em livro. Como tenho 43 anos, não fui educado com essa linguagem. O fato: existe uma nova forma de escrever no mundo, mas desconheço ainda algum escritor que trabalhe ostensivamente neste sentido.
9 - E o pesa-nervos acabou?
O pesa-nervos foi um blog criado por mim, pelo Franklin Alves Dassie e pelo Leonardo Gandolfi. Eles não estavam ainda nesta onda da rede que passou a ser surfada por muitos. Franklin e Leonardo são professores universitários, outro clima. Têm uma bagagem cultural muito enriquecedora para mim. Tornamo-nos grandes amigos.
A princípio eu atualizava o blog, já que tanto um quanto o outro não estavam enturmados com o formato. Publicávamos textos pequenos, poemas, fotos de telas, cultura em geral e poesia no particular. Aos poucos Franklin e Leonardo aprenderam como fazer um blog e então o primeiro ficou com o Pesa em http://pesa-nervos.blogspot.com e o segundo criou um chamado Robert Míssil. Todos moramos no Rio de Janeiro e mantemos um profícuo relacionamento cultural e de amizade.
10 - "O louco é muito sedutor", diz um trecho do livro. É verdade?
É uma verdade relativa. Temos que relativizar e ver que tipo de louco é sedutor. O louco que seduz é aquele que não tem conexão muito forte com a realidade e vive dentro de um estereótipo: o de usar roupas folclóricas e ter todo um aparato que o faz ser reconhecido como doente em qualquer lugar.
11 - E para a literatura? A loucura é sedutora?
Esta pergunta está ligada à de cima. A loucura que interessa é a esteorotipada. Existe muito esquizofrênico e muito bipolar que tenta e às vezes consegue levar uma vida normal e até ter uma visão crítica da própria da doença. É o meu caso. Mas o doente mental que interessa mesmo é o folclórico. Como me visto como uma pessoa normal e tenho uma articulação discursiva boa, não devo ser muito interessante para isso.
12 - Falemos sobre a produção dos loucos. No campo cultural, quais os loucos que mais lhe instigaram?
Van Gogh foi quem mais me instigou. A relação que tinha com o irmão é muito parecida com a que tenho com meu irmão Bruno. Ele é um puta companheiro. Nós nos ajudamos mutuamente. Outro que era diferente é Marcel Proust. Talvez não tivesse uma patologia forte, mas não tinha um grau de sanidade muito alto. Sua contribuição à literatura foi fundamental. Outro borderline era o Kafka. Chegou a ponto de pedir ao seu melhor amigo que queimasse quase tudo que havia escrito. Ainda bem que isso não aconteceu. Artaud vivia uma dupla dificuldade: homossexual e louco. Há muito o que falar nessa seara, mas, sinceramente, não me sinto muito capaz de falar bem disso, acho.

Saturday, December 06, 2008

DOMINGO.

Tudo é cheiro nesta esquizofrenia inoculada.
De viver cansado (e com alguém para amar)
também me canso. Este céu que eu respiro,
a quase um pulo, é todo decadência. Os deuses
todos provaram todos que não estão nem aí
para nós. Peido na farofa e sei que vou morrer
asfixiado. Tipo um suicídio quase tão presente
quanto este domingo. Quando algum efeito
colateral provocar em você (não me provoque).
Quando o quase toque vai se aproximando
sei que me afasto. Talvez não queira só um
simples contato imediato. E sim colocar na
boca coisas várias como Eros e Tanatos,
Ogum e Cristo rei: ou algum deus Inca
que não sei o nome. O que será que Platão
queria dizer ao certo não sei nada. Alguma
espada vem se esforçando para degolar-me
e a primeira coisa que quero quando chegar
é uma vitamina de banana: banana engorda e
faz crescer. Tostines só é bom fresquinho
e ele está sempre bem fresquinho e pronto como eu.

Thursday, December 04, 2008

JB ON-LINE.

Salve pessoal

Juliana Krapp, do Jornal do Brasil, fez uma entrevista legal comigo. Convido-os a darem uma olhada em http://jbonline.terra.com.br/editorias/ideiaselivros/

Wednesday, December 03, 2008

FOLHA DE SÃO PAULO, SEXTA-FEIRA PASSADA.

Todos os Cachorros são Azuis – Rodrigo de Souza Leão

Houve um tempo em que nem todos os escritores desejavam ser Charles Dickens ou se identificavam dizendo “sou apenas um contador de histórias”. Esse tempo acabou, mas volta e meia surge alguém para lembrar que a literatura nem sempre se compõe só de historinhas contadas tim-tim por tim-tim. Não me refiro ao experimentalismo inócuo (se chamam o romance de experimental, é porque a experiência não funcionou, dizia William Burroughs), mas à porra-louquice literária e muito bem-vinda.

É onde se encaixa “Todos os Cachorros são Azuis”, novela de estréia de Rodrigo de Souza Leão. Misto de diário hospitalar com delírio quimioterápico, é um livro que tem antepassados em Lima Barreto, Maura Lopes Cançado, Campos de Carvalho e Waly Salomão. Doidão, o narrador vai parar no hospício, aonde encontra seus melhores amigos, Rimbaud e Baudelaire. Curado, funda uma religião, o Todog, e uma nova língua. “O que é a morte, mãe?”, ele pergunta. Ela responde: “A morte é uma novela da Globo, filho”. É de morrer de chorar. Ou de rir?

Joca Reiners Terron

Tuesday, December 02, 2008

E-MAIL DE UMA LEITORA.

Olá... ainda não sei como usar um vocativo apropriado, visto que ainda não nos conhecemos, embora eu saiba seu nome, mas creio que não seria apenas o nome o suficiente para me dirigir a você com intimidade. Quero apenas dizer isto: engoli um livro! O nome dele é "todos os cachorros são azuis". Foi uma atitude um tanto quanto esquisita, visto que não é do meu feitio fazer isso com este tipo de objeto, não assim, em um quarto de hora, como diz nosso mestre Saramago. Engulo, sim, livros. E sempre. Mas não sem mastigá-los. Tudo começou assim: na escola em que dou aula (Lá no Pedro II de S. Cristóvão) encontrei, sobre a mesa da sala dos professores, o livro mencionado. Achei o título digno de uma excelente experimentação. Então, perguntei a alguns colegas de quem era aquele pertence. Surpreendentemente, ouvi de uma professora de matemática que aquele livro foi trazido por ela e deixado sobre a mesa de professores, para que o mesmo fosse adotado por alguém que tivesse algum interesse. Ela mesma não o seria. Eu o quero, disse. Posso levá-lo? Claro! Disse-me ela. Peguei-o e o pus na minha bolsa. Confesso que o título provocara em mim, de imediato, uma louca vontade de iniciar a leitura ali mesmo, naquele momento. Mas eu estava repleta de provas, redações e trabalhos de Literatura para serem corrigidos. As notas deveriam ser entregues o mais rápido possível e “euzinha” não poderia me atrasar, furar os prazos. A DIREÇÃO não iria gostar nada disso. Foi então que tive que adiar a leitura do título instigante. Foi então que o fenômeno aconteceu hoje, quero dizer, ontem (escrevo "demadrugada" e me refiro ao episódio da noite de 29 de novembro de 2008). Engoli o livro! Não sei como. Simplesmente aconteceu. Assim do nada. Como o EU do livro engoliu um grilo na adolescência e depois um chip. Eu engoli o livro. Comecei a lê-lo exatamente às 21:12, na mesa do Sobrado das Massas (no bairro de S Teresa, onde levo minha vida), enquanto aguardava, ansiosa, a vinda de um Fetuccine a 4 queijos ( eta coisa que vem quente!...). Desci o morro e cheguei à Lapa, mais precisamente no Clube dos Democràticos, na Rua do Riachuelo, no. 91, onde continuei a leitura e a finalizei- ali mesmo, não sei, e nem se sabe como, mais ou menos por volta das 3:00 da matina. Confesso que não tive como mastigar nada. Apenas engolia, num único fôlego e de modo inexplicável. Digo como foi: sou professora de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira, mas trabalho junto à produção dos grupos musicais "Anjos da Lua" Orquestra Republicana", há seis anos. Por isso mesmo, tive que findar a leitura ali, engolindo cada frase, sílaba, morfema ou fonema, enquanto recebia os “festivos”, entre uma cobrança e outra de bilhetes de entrada. Engoli numa ânsia estranha a mim mesma, sem mastigar nem solver, sequer, a prosódia. Apenas foi! Findei o livro!. E queria muito dizer-te, humildemente, que fiquei fascinada pelo Eu que fala, que conta sua história, que sofre porque se acha um caco e que precisou quebrar tudo para se livrar dar dor de se sentir cacos. Que quebrou a casa dos pais e foi parar no hospício, que tem como amigos imaginários o Rimbaud e Baudelaire. Que engoliu um grilo e depois um chip. Que é gordo e gosta de goiabada, por ser a melhor comida daquele lugar. Que é acusado de matar o Temível e que sabe que é inocente, mas se angustia. Que, enfim, fez-me chorar e sorrir, quase gozando de estar descobrindo aquela história.
Obrigada, VOCÊ, por me propiciar este doce delírio, assim, de maneira inusitada, depois de um dia dormindo, sob a chuva incessante, para trabalhar descansada durante a noitada adentro. Que delícia de viagem! Que doce e leve loucura!...
Vai adiante Rodrigo! E nunca perca esta reticência que nos leva longe, longe, muito além de Pasárgada, Paracambi ou do próprio Caju.
Um grande abraço, Gilda.
Amei descobrir esta linda história! E como amo agora aquele gordo garoto me apresentado por você.
Abraços “santateresianos” e daqui a pouco tem Krassik no Parque das Ruínas (de graça, a partir das 18h.) Preciso, pois, mimir...

Sunday, November 30, 2008

RESENHA DE AMADOR RIBEIRO NETO.

Todos os cachorros são azuis
Amador Ribeiro Neto

O que é que você faz quando lê um livro, gosta imensamente dele, mas de tanta satisfação fica atordoado como o personagem principal? É o que me aconteceu depois de ler “Todos os cachorros são azuis”, de Rodrigo Souza Leão, editora 7Letras.
O livro não pé nem cabeça. E faz questão de não ter. Se você forçar a barra vai encontrar um fio mirrado de narrativa. Mas só se forçar a barra. Se se deixar levar pelo ritmo das palavras, pouco se importando com que diabos de gênero literário ele parece, vai ficar em dúvida. Ensaio? Poesia? Conto? Romance? Teatro? Roteiro cinematográfico? Rascunho? Diário? Diário de um louco? Tributo a Nietzsche? Ao José Mojica Martins? A Artur Bispo do Rosário?
Não se meta a engraçadinho querendo botar ordem no hospício das palavras esplendidamente encadeadas na estréia do poeta RSL como prosador. Prosador? Bem, é o que diz a orelha do livro. Mas, tal como os loucos, pouco ouvido devemos dar a palpites que vêm de estruturas viciadas/vigiadas. O caminho entre uma coisa e outra (seja esta coisa qualquer coisa e a outra idem) é vicinal. Como no interior do país. Como nas marginais das metrópoles.
Van Gogh cortou a orelha. O personagem principal desta geringonça de palavras não cortou nada além da lógica, da ilógica, da analógica. Deixa o leitor assim: com cara de quem tomou Haldol. E viajou. E viaja. E está aqui e agora. De repente escapa. Encontra Baudelaire, geralmente de mau humor. Cruza com Rimbaud, este mais desencanado. A modernidade dá as caras e mostra seu preço. Todog pode ser o salvador. O caminho. A saída do supermercado de sabão e cebola.
Sim: tem família no meio. Pai e mãe e irmãos. Claro: como um louco existiria sem família e sem hospício? Faz parte da cena real, irreal. É do roteiro. Do desnorteio.
O grande gancho está no fato de este texto tomar o leitor como comparsa numa levada de contrabando. Não diria um seqüestro, pois o leitor é levado porque consente. Poderia desistir na primeira página se quisesse. Mas ele não quer. Ou não consegue. O que dá no mesmo. E assim o livro vira a morada do ser-leitor.
Os cachorros azuis do título do livro não passam de um cachorro de pelúcia, inútil como todo bicho.... de pelúcia. O narrador manda o leitor lamber sabão. Ou cortar cebola. Entendeu, hipócrita leitor, meu espectador da MTV. Meu igual, meu irmão de Arrigo Barnabé. Clara Crocodilo escapuliu. Em tempo: a Terra é azul.
(publicado no jornal “a união”, de 25/11/2008, caderno de cultura, p. 20).

Saturday, November 29, 2008

Às vezez acho q vou morrer envenenado. Às vezes tenho certeza. O que me falta é o sempre para enfrentar os cheiros e a doençaa. Querem me matar.

Será que o dia que for seu
serei céu?

Friday, November 28, 2008

CINEMA.

A arte maior de Walter Benjamin. Uma sinuca de bico todo o dia. Só consigo falar de você tatuagem nua. Em alguma manhã como agora estarei acordado e escrevendo de novo a você ou será a última vez que Tróia será invadida. Mataram Agamenon. Glauber Rocha era que sabia fazer cinema. Com a máquina na mão e um berro na garganta. Um berro na mão e um berro na mão de lampião. Dois berros que berravam. Alguém chega bem próximo de mim. Agora estou tão longe e com péssimos sentimentos sobre o mundo. Você traiu? Perguntei a um amigo como foi. Se teve muita festa e cerveja. Se foi uma reunião social. Me falaram que foi um bacanal. E você não se portou bem. Estou tão distante agora que não quero mais falar com você nem mais um segundo. O telefone não toca e com o movimento da terra tão cansada sobre seu eixo e durante todo o tempo todas estas voltas sobre si que ela deu. Imagina nós rodando num espeto de churrasco. Quem ficará até o fim do campeonato. Por que estes caras darão as cartas e continuarão ganhando o jogo. Tudo não passa de uma ação entre amigos. Cinema é uma arte menor hoje em dia por que se prender ao realismo quando deveria ser mais do que um documentário. Alguma barreira astuta me impede de tocar em mim. Nasceu o oculto e frágil olhar. Nasceu. Nasceu. O ódio nasceu.

Thursday, November 27, 2008

Eu bem que queria
umaAmnésia
pra esquecer cada dia

Wednesday, November 26, 2008

FRIO.

Quando o quando voltar
Do último lugar conhecido por mim

Estaremos juntos no fim
E no início um todo acabado

Uma lápide com meu nome, minha idade
E telefone

Que é para contatar eu como ET
Em algum lugar menos escuro do que

Seu corpo às vezes me traz o que não quero
Berro

O vácuo é só uma questão de tempo

Tuesday, November 25, 2008

LOUCO COMO EU SÓ EU.

Comeu hipófises
eletroblastos e
osteócitos. Mal
me quer celular.

Bem me quer em
arterial compasso
de espera aspirai
cocaína e caos em

hidrólise de rum.
Campeniquanum
sendonum est pó
rus day in day o

R day in and out
]open in the samba[
Cocaína e caos em
tempo de têmporas.

Maça rubra rosto.
Folha morta de nervos
de fígado bife de
fígado do bife de

fígado no olho contra
a dor de cabeça contra
os do contra contra os
contrários do contra

Sunday, November 23, 2008

.

1.Uma barra de ferro num canto
Ele pega a barra de ferro
Ela recebe uma cabeçada
Depois leva com a barra
de ferro na cabeça
e vai para o CTI

2.Quem sabe o que ele queria
Ele diz que queria um beijo
que ela nunca quis lhe dar

A barra está suja de sangue
Os peritos estão na porta
Há pegadas e o que ele fez

Arrumou a cena do crime e
ela morreu dois dias depois
Hoje ele faz sexo com o xerife

Na cadeia todo mundo faz sexo
Todo mundo é mais normal

No hospício era bem diferente
Todo mundo era animal

Saturday, November 22, 2008

SE AFOGANDO NA PRAIA DA MACUMBA.

ar
com
flor

isopor
de
leite

ferrugem
nas
ondas

mar
de
pôr
do sol

surf
de
peito

areia
branca

ancas
de
fora

a flora
me olha
de lado

garrafas
sujas

mentes
limpas
de sal

binóculo
de
biquíni

anzóis
entre
nós

peixes
de chupeta
plástico

neura
nóia
pânico

água
agu...
ág...

Friday, November 21, 2008

A ESSÊNCIA DOS CASTRATI.

São sonhos
nada mais que sonhos
Medonhos por serem sonhos
Por serem do que somos
:
o humos

Wednesday, November 19, 2008

45.

Faltam 2 anos e 7 meses
para eu levar a dedada

Dizem que não dói nada
mas é q sou virgem

Dizem, todos dizem
que voltam vivos

Mas se eu gostar
e de lá não voltar?

Tuesday, November 18, 2008

BATMAN E ROBIN.

O Batman poeta
Tem um cinto de inutilidades

Por que nada o afeta
Desde a sua puberdade?

O Robim dito
Menino prodígio

Não era nem um papagaio
Estava mais para periquito

Jovem e esquisito
A quem fale que a relação

Tem que ser igual a um filme
Sem the end no final

Que nunca termine!

Só não sei quem comia quem
Ou se ambos se comiam

A verdade é que ser gay
Pouco importa

O que vale é que riam
Na cara do Coringa: uma torta

Eles comiam

Sunday, November 16, 2008

GOGH.

A aparição por si
nequan
on(m)
só fez desligar

O andador anda só

Volta no quarteirão

Algum(a) en-ig
nigção

outra

qualquer poema paira
sob
o sol a si desbota
tbm terra: cor do ofício:
amarelo

Saturday, November 15, 2008

NUM DIA DE CHUVA.

A sombra vai
pra onde vou
Ela cai

A sombra não
me abandona assim
Só tem fim

quando a abandono
e a mim

A sombra é
um bocado de coisas

Nem quando morre
ela vai

Acordar o defunto
a sombra é

um péssimo assunto

obs.: Está chovendo. São nove horas e trinta e oito minutos. Acordei muito cedo e venho sentindo muitos cheiros. Eu não acredito em cheiros inofensivos. Mas estou aqui para dizer que este é um poema ruim, um péssimo poema. Um poema antigo. À moda modernista sem descontinuidade contemporânea.
Pode ser uma besteira. Mas fiz outro poema e não monstrei pra ninguém. Nem para o Franklin e nem para o Leonardo. Isto significa que sou um covarde que não aguentaria ouvir: "esse poema é ruim". Mas a vida é feita de poemas ruins. Poemas ruins que vão se somando. Dizem que sou melhor prosador do que poeta. Os prosadores dizem que sou poeta. Os poetas dizem que sou bom prosador. O que será que sou? A idiotice em mim cresce à medida que escrevo. Paro por aqui. Ser ou não poeta.
OUTRO POEMA RUIM.
Quem nunca escreveu um poema ruim como este que atire a primeira pedra.
Ai, ui!. Oh céus! Oh dor!
Como tem poeta bom!

Friday, November 14, 2008

ANTIPENSAMENTO.

Às vezes o que a pessoa pensa é só uma coisa que a pessoa pensa e só ela pensa. Outras vezes outras pessoas pensam outras coisas sobre o que existe. E ainda muitas vezes todos pensam a mesma coisa: o que de fato dá mais força para a coisa em si. Mas a coisa em si não fica mais forte quando há uma unanimidade. Somente quando um pensa e aquele que pensa sobre a coisa em si é uma pessoa especial para a flor da espécie, somente aí o que a pessoa pensa sobre o objeto em si valoriza o objeto em si. Mas não penso sobre o que pensam de mim. Não importo muito com o que pensam, mas o pensamento nulo é chato. Talvez seja fundamental não pensar. É o que busco mais no meu dia a dia. Viver não é pensar. Há um tempo para tudo. Tempo de viver. Tempo de pensar. Nem sempre estes tempos caminham juntos. Quase nunca há um caminho em comum. Por isso procuro não pensar: sou quase sempre antipensamento.

Thursday, November 13, 2008

O GLOBO. PROSA E VERSO. 8 DE NOVEMBRO DE 2008.

Leveza e lirismo para abordar o tema da loucura

Estréia de poeta na prosa teve apoio de programa da Petrobras

Elaine Pauvolid
O livro de estréia de Rodrigo de Souza Leão na prosa, a novela “Todos os cachorros são azuis”, tem como mote a vida de um interno num hospício. Foi escrito com patrocínio da primeira edição do Programa Petrobras de Cultura (2006/2007) na área de literatura e baseia-se em experiências do autor, carioca de 1965, conhecido no meio literário pelos poemas do seu blog e do livro “Há flores na pele” (Trema), assim como pela co-edição da Revista “Zunái” (http://www.revistazunai.com/).A história se divide em quatro capítulos e tem como cenários principais a casa em que o narrador-protagonista mora com os pais e um hospital psiquiátrico. Um assassinato no hospital, a fundação de uma religião e uma nova linguagem são as bases da narrativa. Há diálogos sem travessão e mudanças sem aviso prévio da primeira para a terceira pessoa: o contexto define quem está falando. O protagonista é descrito como “doente mental, esquizofrênico. Tem distúrbio delirante, tem delírios persecutórios” e conversa com Rimbaud e Baudelaire. Há ainda referências ao mundo pop, como propagandas de TV, músicas, personagens de desenhos animados e filmes.
Mergulhos delirantes e frases da mais pura poesia O tom coloquial e a ingenuidade do protagonista lembram a prosa de Salinger em “O apanhador no campo de centeio”. Rodrigo fala de redenção; Holden, o protagonista de Salinger, segue trajetória oposta, ao sofrer um esgotamento mental e ser confinado numa casa de repouso. “Todos os cachorros” tem mergulhos delirantes e frases da mais pura poesia. Como quando explica por que quebrou a casa onde morava com os pais, motivo de sua internação: “(...) porque sou feito de cacos e quando os cacos me convidam, desordeno tudo”.Ou quando critica a instituição asilar: “O hospício era um lugar cheio de flores lindas, mas podre por dentro. O modelo hospício tinha que ser mudado. Mas como a minha família me agüentaria quebrando tudo?” E há questionamentos existenciais: “No dia da crise não se pode fazer nada. E o que fazer para não entrar em crise?”. E apesar de tratar de tema tão doloroso quanto o da loucura, o livro é leve e cheio de humor. Interessante notar o surpreendente final. Lembra um fato real envolvendo um dos muitos leitores de “O apanhador no campo de centeio” e um ícone da música pop.

Monday, November 10, 2008

CRIANÇA.

abismo
sinto pela boca

a propensão
ao caos também

incerta
minha mente absorta

combina com os dentes
como encarnecer

tecer novos juízos
e absintos

correr um quarteirão inteiro
atrás do vento

que se quer na frente

TRECHOS DO LIVRO & ETC.

O Portal Literal disponibilizou trechos do meu livro em arquivo pdf. Para conferir vá em: http://www.portalliteral.com.br/banco/texto/todos-os-cachorros-sao-azuis

Ramon Mello fez uma entrevista comigo. Disponível em: http://www.portalliteral.com.br/artigos/fragmentos-humanos-entrevista-com-rodrigo-de-souza-leao ou
http://wwwb.click21.mypage.com.br/myblog/visualiza_blog.asp?site=clickinversos.myblog.com.br

Friday, November 07, 2008

SEI QUE VOCÊS NÃO AGUENTAM MAIS FOTOS, MESMO ASSIM INSISTO.

Telas de fundo.

Dulce, Babí e um chato.



Márcio-André e um certo ex-jogador de polo-aquático.





Eu e Franklin




AS FOTOS CONTINUAM.








Os três patetas: Bruno, Lugão e eu.

Thursday, November 06, 2008

ENTREVISTA.

Por Ramon Mello
Com um texto atraente e incômodo, Rodrigo de Souza Leão afirma sua condição: poeta. Sua prosa está contaminada de poesia.No livro Todos os cachorros são azuis, o autor narra, através de uma experiência autobiográfica, a trajetória de um homem internado no hospício. E destaca três momentos da vida do personagem – infância, adolescência e fase adulta – para costurar uma narrativa marcada pela fragmentação do ser humano, característica que dialoga com a produção de alguns autores contemporâneos. Não leia o livro à espera de linearidade, pois é justamente a ausência dela que prende o leitor. A escrita de Rodrigo torna-se mais valorosa quando lembramos que trata-se de uma autor esquizofrênico – como ele gosta de deixar claro. O escritor tem a generosidade de mergulhar no seu rico inconsciente e nos apresentar personagens que não conseguimos enxergar em nosso cotidiano.Personagens delirantes apresentam momentos de lucidez. Rodrigo durante a entrevista concedida em sua casa, na Lagoa, apresentou o avesso de sua criação: lúcido com emocionantes instantes de delírio.Ler esta entrevista e os livros do autor é abrir uma janela a inúmeros estados de consciência, mergulhar no desconhecido, enxergar através de uma lente azul – como propõe o narrador. Desejo que Rodrigo Souza Leão tenha sempre facilidade para publicar seus escritos; os leitores agradecem.
Por que o título do seu livro é Todos os cachorros são azuis?
Rodrigo Souza Leão – Na minha primeira infância eu tive um cachorro de pelúcia azul. Depois esse cachorro sumiu e nunca mais eu vi. É forte lembrança desse tempo. Como o livro fala de três fases da minha vida, resolvi fazer o link com minha infância. Mas nenhum cachorro é azul, é bom deixar claro. Só os cachorros de pelúcia são azuis.
Você tem alguma cor predileta?
Rodrigo – Eu gosto de azul e preto.Você escreve prosa e poesia.
Como surgiu seu interesse pela Literatura?
Rodrigo – É uma história longa. Você tem tempo?
Sim, pode falar.
Rodrigo – Eu comecei escrevendo poesia. A Suzana Vargas foi minha professora na Estação das Letras. No meu primeiro dia de aula, ela pediu que os alunos escrevessem um texto para ser comentado. Mas meu texto não foi escolhido para ser lido. Fiquei muito triste. O texto era assim:
a bomba é a solução / pra essa situação / pra crise geral / pro imposto territorial
Fala dos problemas políticos do país. Depois virou um hino punk através do grupo Eutanásia, onde meu irmão tocava bateria. Meu irmão me roubou essa parte da letra e colocou na música dele. Eu nunca quis ser escritor, meu plano era ser vocalista. Na década de 80, tive uma banda chamada Pátria Armada. Fizemos show no Circo Voador, na Metrópolis, no Made in Brazil – casas de shows da época. Minha meta de vida era ser músico.Você toca algum instrumento?Rodrigo – Eu toco um pouco de violão, mas só para compor. Minha voz fica boa impostada, perdi muito poder vocal por causa dos remédios que eu tomo.
Porque você toma os remédios?
Rodrigo – Para controlar o meu distúrbio delirante, minha esquizofrenia. Aos 23 anos tive um sério problema, identificaram a esquizofrenia. Hoje em dia usam muitos eufemismos para essa doença.
A Dra. Nise da Silveira batizou a esquizofrenia de ‘inúmeros estados do ser’...
Rodrigo – Nise da Silveira é maravilhosa, uma mãe. Mas voltando aos 23 anos: Tive um problema sério quando trabalhava na assessoria de imprensa da seguradora da Caixa Econômica. Foi uma crise de estresse muito elevado. Eu já era esquizofrênico, mas nunca havia manifestado a doença. Aos 15 anos, eu achei que tinha engolido um grilo – esse episódio está no meu livro. Aos 23 anos, no dia 03 de setembro de 1989, eu fui internado pela primeira vez, se não me falha a memória. Fui internado numa clínica, que não vou dizer o nome para não ser processado. Me colocaram camisa de força, me jogaram num cubículo e me deram um ‘sossega leão’. Mas o hospício em si não é a pior coisa do mundo. Porque, geralmente, não se sabe lidar com a loucura. Para família é muito complicado, ela se ver impelida a internar. O louco quebra a casa toda, faz um monte de merda, como aconteceu comigo na segunda internação. E pra onde você vai mandar esse cara? Eu sou a favor da luta antimanicomial. Acho que manicômio não resolve o problema de ninguém, só piora. Aqui está meu irmão, que é bipolar de humor, para comprovar. Na minha casa há histórico familiar de problemas mentais. Ele teve duas internações, na segunda vez ele ficou totalmente fora de si.
Se pudesse caracterizar o estado mental em que se encontra, o que diria?
Rodrigo – Eu falaria que eu sou esquizofrênico. Isso quer dizer que sou uma pessoa que necessita de certos cuidados: preciso tomar remédios específicos, viver uma vida diferente das outras pessoas e conseguir viver dentro das minhas ‘nóias’. Tenho que saber que a minha paranóia é paranóia e aprender a conviver com ela. A palavra-chave é convivência. É a convivência com a diferença. O meu ser é diferente dos outros. O esquizofrênico tem que ter uma sensibilidade para entender que é diferente. E sobre os eufemismos, isso é besteira. Falam “clínica” ao invés de “hospício”.
Não é difícil falar e escrever sobre doença?
Rodrigo – Hoje em dia é tranqüilo. Mas teve um tempo em que eu nem tocava no assunto. Até começar a minha relação com a internet eu não falava da doença. Escrevo mais poesia do que prosa. O meu primeiro livro chama-se Há Flores na Pele, só há um poema que fala de loucura. Eu falo da doença porque nunca gostei de psicólogos. Psicologia não resolve nada. Você fica batendo papo, conversando e nada. Fiz análise dos 12 aos 18 anos e não resolveu nada. Eu já tomei eletrochoque, mas com sedação. E esse eletrochoque é muito bom porque melhora muito o doente. Sério! Não é aquele eletrochoque tenebroso que era aplicado no tempo da Dra. Nise. Aquilo era um absurdo. Quem tirou o meu irmão da fase ‘abobalhado’, durante a crise psicótica, foi esse eletrochoque.
A arte tem um papel importante na sua vida. Certo?
Rodrigo – Justamente. Eu comecei a pintar há pouco. Mas escrever é uma coisa que vem. Eu só comecei a falar após a minha segunda internação. Fui internado duas vezes em 1989 e 2001, acho. Sou péssimo com datas e números, não sei nem meu telefone decorado. Essa segunda internação foi difícil, traumática, mas foi muito boa pra mim. Eu conheci lá dentro um cara chamado Gilberto Sabá, que foi guitarrista do Serguei, e gente tocava o terror. Ele que fez aquela música: ‘Toca um, toca dois, toca três. Toca, toca, toca rock and roll...’ A gente arrumava um violão e tocava para maluco dançar. (RISOS) Eu e ele éramos as pessoas mais lúcidas. Essa clínica onde fiquei era muito bonita, cheia de flores e árvores. Costumo dizer que hospícios são lugares tão bonitos que lembram cemitério. Eu ficava muito tempo fora do quarto vendo a paisagem, vendo a copa das árvores e escrevendo algumas coisas.
Sua prosa me lembra a poesia da Stella do Patrocínio. Conhece?
Rodrigo – Sim. Uma louca, lançaram um livro pela editora Azougue. Isso acontece porque a loucura é igual para todos. O bipolar de humor tem momentos de euforia e depressão, com momentos tristes e maravilhosos. Se o bipolar tomar remedinhos, como Lithium e Haldol, ele consegue se curar em longo prazo. A cura não é imediata porque precisa da conscientização da doença. A pessoa que tem distúrbio delirante acha que está sendo perseguida por agentes e policiais. Você acha mesmo que está sendo perseguido! Eu nunca tive visões. Ou melhor, tive visões quando fiquei uns cinco meses sem comer em casa porque achava que estava sendo envenenado pela minha família. Eu só comprava comida fora, fiquei muito tempo sem dormir.
(BRUNO, IRMÃO DE RODRIGO, SE APROXIMA E COMEÇA A PARTICIPAR DA ENTREVISTA)
Você tem uma lucidez muito forte em relação a isso.
Rodrigo – Não sei se é lucidez ou excesso de sofrimento. Eu sofri muito com minha doença, só eu sei o quanto eu sofri. Meu irmão também sabe.
Bruno – Sou assessor dele.
Rodrigo – Ele é meu assessor para assuntos estratégicos. (PAUSA) O sofrimento fez com que eu tivesse um insight. Mas minha vida tem muitas limitações, por exemplo, não saio de casa, sou recluso. Tenho medo de ser perseguido por agentes. É uma coisa absurda. Você está vendo um cara lúcido dizer que tem medo de ser perseguido por agentes. Mas essa é a minha doença. O que eu posso fazer?
Bruno – Quando arranja uma namorada ele sai. Pra ir ao motel...
Rodrigo – Só saio um pouco quando arranjo uma namorada.
Você namora muito?
Rodrigo – Namorei muito até os 23 anos. Eu era muito bonito, mas não sou mais por causa dos remédios. E não vejo no relacionamento a solução para os meus problemas. Se eu quiser ficar com uma garota, ela vai ter de se adequar muito a mim. Porque o problemático da relação sou eu. É difícil conciliar uma relação com alguém que não pode sair. Gosto de ficar na minha casa vendo filme e jogos de futebol. Sou 'flamenguista doente'. Hoje em dia as pessoas só querem ir para festas e barzinhos. Eu não posso beber porque tomo remédio tarja-preta, tomo Haldol.
Bruno – Mas faz sexo...
Rodrigo – Mas isso não tem contra-indicação. Eu já tomei muitos remédios. Mas me dei bem com esse remédio, embora dê tremor, mão fria e salivação. Você é formado em Jornalismo.Rodrigo – Sim. Me formei em Jornalismo pela Faculdade da Cidade (atual UniverCidade). Eu não consegui me formar por uma faculdade federal, mas tive bons professores: Fernando Muniz, Lúcia Padilha, Ítalo Moriconi... Tive uma formação muito interessante. Meu lance nunca foi jornalismo, eu queria ser locutor de rádio. Ouvi muito a Rádio Cidade e a Rádio Fluminense com Maurício Valladares. Mas o que restou na minha vida foi escrever. O que sobrou? Escrever. Eu já fazia letra de música, depois passei a escrever poemas. Acredito que algumas letras de música são poemas.
Há letristas que são poetas.
Rodrigo – Sim. Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Gilberto Gil e Chico Buarque são maravilhosos.
Você sempre gostou de ler?
Rodrigo – Não. A leitura foi um hábito que adquiri após minha primeira internação. Eu fiquei muito tempo em casa e devorei Proust e James Joyce. Li muito o Rubem Fonseca, gosto muito dele.
Você tem um livro de poesia chamado Carbono Pautado – memórias de uma auxiliar de escritório.
Rodrigo – Sim. Mas esse livro só foi importante para que eu pudesse ver como foi a minha vida.Sua escrita é muito fragmentada, uma característica muito presente no texto dos autores contemporâneos...Rodrigo – Nós vivemos em tempos esquizofrênicos. Muita gente tem depressão ou síndrome do pânico. É uma sociedade que está doente porque dá valor ao que não se deve: o dinheiro. O ser humano viveria muito mais se parasse com essa babaquice de querer dominar o outro.
No seu livro, Rimbaud e Baudelaire são influências?
Rodrigo – Mais Rimbaud do que o Baudelaire. Li a obra completa do Rimbaud, que é bem curta. Gosto muito da "Canção da Torre Mais Alta":
Juventude preza / A tudo oprimida / Por delicadeza /Perdi minha vida.
Acho essa poesia sensacional! O Rimbaud é muito presente na minha vida. Eu tive muitos livros. Mas teve uma época em que eu achei que ia morrer, então fiz uma grande liquidação de livros. Peguei todos os meus livros, separei, dei os que eu queria dar e vendi todo o resto. Dei um disco incrível do Roberto Carlos, Nas Curvas da Estrada de Santos, para um cara que estava num sebo.
Bruno – Meus discos do Iron Maiden foram juntos...
Rodrigo – É, os discos do meu irmão, que gosta de heavy metal. Eu só fiz essa grande liquidação porque eu achava que fosse morrer. Mas eu sobrevivi. A minha condição de vida é a seguinte: vivo o presente. Como estou vivo, faço um melhor dia pra mim. Eu não faço projeto a longo prazo. No edital da Petrobras eu deixei claro que o meu livro estava quase todo pronto e eles aceitaram assim mesmo. Mas o meu livro foi rejeitado pela Casa do Psicólogo. Eu pensei: Nem os psicólogos estão do meu lado? Logo na Casa do Psicólogo? Num lugar em que eu deveria ser tratado a pão de ló.
Mas você conseguiu aprovação na Petrobras.
Rodrigo – Esse projeto foi muito importante. Eu não tinha dinheiro para bancar meu livro. Apesar de viver nesse apartamento na Lagoa e parecer rico, não tenho muita grana. O dinheiro vai para serviços, remédios e outras despesas. Fui aposentado por invalidez aos 23 anos, não recebo muito. Eu consegui publicar graças à Petrobras e à 7 Letras. Mas no início a Petrobras não acreditou muito, mandaram duas psicólogas para me avaliarem. Elas diziam: ‘Ele tem problemas cognitivos, problemas X, problemas Y’. Foi ótimo porque depois dessa avaliação “não preciso” ter mais problemas.
Você é otimista em relação a sua carreira de escritor?
Rodrigo – Não. Mas acho que fiz um livro bom, intenso e mágico. Estou escrevendo outro livro: Tripolar, um livro de mais confronto com a linguagem. São três novelas que não se comunicam. Tenho uma postura positiva, mas não sou ufanista em relação a vida. Não acho que vou viver de literatura. Mas acredito no que eu faço. Vou ganhar prêmio? Isso é imponderável.
Bruno – Vai ganhar o Jabuti.
Rodrigo – Não vou ganhar.
O que é mais importante na sua vida?
Rodrigo – O mais importante, no momento, é eu não saber o que é a coisa mais importante na minha vida. É saber colocar importâncias variadas. É importante que eu continue estável e consiga viver o máximo de tempo possível.
Você quer viver muito?
Rodrigo – Não. Eu espero viver pouco. Se eu conseguir viver até 50 anos ficarei contente. Porque viver muito é para quem não tem problemas. Quando a pessoa tem muito problema é até melhor morrer cedo porque se livra um pouco dos traumas e angústias. Sou uma pessoa muito traumatizada. Mas feliz! Eu sou feliz. Posso dizer que sou muito feliz, mais feliz que a grande maioria das pessoas. Eu sou feliz. Eu não estou realizado porque ainda estou no meu primeiro livro. Estou na batalha para publicar um livro há muito tempo, desde os 27 anos.
Você acredita em Deus?
Rodrigo – Por muito tempo eu li Nietzsche: Assim falou Zaratustra. Li todos os livros de Nietzsche quando eu tinha vinte e poucos anos, eu adorava filosofia. Então a minha relação com a religião é mais calma. Eu rezo três orações antes de dormir, minha avó que ensinou: Oração a São Miguel de Arcanjo, Pai Nosso e Oração a Nossa Senhora da Cabeça.
Salve Imaculada, Rainha da Glória, Virgem Santíssima da Cabeça, em cujo admirável título fundam-se nossas esperanças, por sedes...
Agora está me faltando, não estou conseguindo lembrar.
Sem problemas.
Bruno – E ele vê a Igreja Universal do Reino de Deus, todos os dias comigo no quarto.
Rodrigo – Só vejo porque ele vê. Isso não tem nada a ver. Não vejo Igreja Universal.
O que é a morte?
Rodrigo – Eu torço para que exista algo além. Gostaria de ver o que as pessoas acham de mim quando eu estivesse morto. Sabe? A reação das pessoas. Para saber se meu melhor amigo iria chorar, se alguma namorada ia lembrar de mim, se meu livro ia vender depois de morto... Por que depois que morre todo escritor vende.
O que é loucura?
Rodrigo – Isso é engraçado. Porque quando se é um louco folclórico, cheio de indumentária e adereços – tipo Bispo do Rosário, Plínio Marcos, Gentileza –, aí ele é bem-vindo. Eu quero acabar com esse folclore porque eu me visto como uma pessoa normal. Não tem como definir loucura. Loucura é uma coisa perigosa de ser definida, por isso as pessoas falam tão pouco. As pessoas têm uma idéia mitificada da loucura, o Michel Foucault falava disso. Definir loucura é não saber como se está no mundo. Não posso crer que só existam loucos como eu, que têm noção do que é a doença. Têm loucos como o Bruno, que são menos capacitados a isso. E também têm os agressivos. Acho que os hospícios não deveriam misturar os loucos. Assim as clínicas se tornam um depósito de gente. Os oligofrênicos deveriam estar separados dos outros loucos. Eu não vou ser mais internado, eu acho. Vou ser internado só no cemitério do Caju. (RISOS).
O que é a vida?
Rodrigo – A vida é excepcional. É o lugar onde tentamos construir sonhos. Vida é algo que foi dado e só você pode tirar, se você se suicidar. Ou Deus, que também pode tirar. Mas nem sei se Deus existe. Eu sou meio revoltado com Deus. Por que eu fui nascer esquizofrênico? Por que eu não nasci mais alto como o fotógrafo (Tomás Rangel). Eu nasci com 1,70. Eu queria 1.85. (RISOS) Ramon também faz parte da família dos ‘gnomídios’. Você deve se achar um anão. (RISOS).
Por que escrever?
Rodrigo – Escrever foi o que me sobrou. De tudo que tive, foi o que me restou a fazer.
A escrita trouxe vida?
Rodrigo – A leitura me trouxe vida. Eu lia o Proust, anotava umas palavras num papelzinho e no final do dia fazia um poema. Saía uma coisa sem pé nem cabeça. Na prosa eu trabalho o psicológico dos personagens.
Sabe alguma poesia de cor?
Rodrigo – Sim. Vou falar:
“Mulheres”Canetas compro e somem / Não são mulheres num só homem.
E tem outra que eu gosto:
“Surto”
Pânico no circoaladodas têmporas
Endorfinas macaqueando
a goiabada pineal
Volts em volta
Eletrodos todos
De branco culpados
culpas pecados
Haldol no leite
Ralo do tempo
Clitóris de plástico
na sopa de adrenalina
Nódoas nuas cristalizadas na nuca
Nunca injete tudo
Camisa sem mão sem mangas
Nos olhos apenas antolhos
Na janela áurea de peristilos
punção de morte fode
Peixes fisgando anzóis comicham no corpo
Baleias de chupeta
Na veia sossegada o leão caminha
inválido de juba cortada, cuspindo
vida curta
Em curto circuito fechado
faixas vendas ferem as paredes
Sem degraus as pilastras
Sem grade degrade
Degradado de sol
de lua
Chuva desbotada
Eletrochoque natural
Enguias guiam os volts
na cabeça dos cegos de si
Que escritores você admira?
Rodrigo – Gosto do João Gilberto Noll.
Há quem pense que ele é esquizofrênico.
Rodrigo – Sério? Então ele não se assume? (RISOS). Sai do armário, Noll! Gosto do Wilson Bueno e do Ademir Assunção – adoro o livro Adoráveis Criaturas Frankstein.
O que você diria para um jovem que deseja ser escritor?
Rodrigo – Primeiro: Viva ao máximo! O que importa são os momentos. Se o livro for rejeitado, não desista! Se você gosta de escrever, então escreva para você mesmo. Eu só fui publicado quando escrevi para mim mesmo.

Wednesday, November 05, 2008

MAIS FOTOS - A MISSÃO 2


Eu e Marcos Lugão

Sob a proteção do Core.

ENTREVISTA NO PORTAL LITERAL. CONFIRA.

Fragmentos humanos - Entrevista com Rodrigo Souza Leão

Por Ramon Mello

Com um texto atraente e incômodo, Rodrigo Souza Leão afirma sua condição: poeta. Sua prosa está contaminada de poesia.No livro Todos os cachorros são azuis, o autor narra, através de uma experiência autobiográfica, a trajetória de um homem internado no hospício. E destaca três momentos da vida do personagem – infância, adolescência e fase adulta – para costurar...

Tuesday, November 04, 2008

FOTOS DO LANÇAMENTO I - A MISSÃO.

cascata de cachorros com telas ao fundo

Eu e Serjão

Elaine Pauvolid, Dulce e eu

sócio-atleta do Pinel

O CÉU ESTÁ MORTO.

Por Victor da Rosa

O olho que narra é azul e vê tudo a seu modo – na falta de nome, quase nada, água: todas as coisas azuis. Desaparece a distância que antes separava o olho e as coisas: azul. A voz assim desaparece nas coisas. O céu está morto.

Certa distorção cromática nomeia de início a primeira novela do escritor Rodrigo de Souza Leão: Todos os cachorros são azuis (7Letras, RJ, 78 páginas)– e talvez reflita de início a imagem que atravessa toda a narrativa: um cachorro azul, de pelúcia, objeto afetivo de infância, que retorna em vários momentos do livro, quase sempre como uma falta, mas se derrama também para a imaginação de um cenário deformado e delirante. “Eu não tinha culpa de ver a luz das coisas”, diz o narrador. Em linhas gerais: trata-se de um sujeito que narra sua experiência em um hospício – e, segundo as palavras de Sérgio Medeiros, que assina a orelha do livro, estamos diante de uma experiência autobiográfica.

Parece haver durante todo o livro uma variação narrativa entre o delírio mesmo e instantes de lucidez, se aceitamos esta dicotomia – e o comovente (ainda devemos pensar esta palavra em sua literalidade: como aquilo que move junto, arranca o leitor de seu lugar) é que isto não nos é representado, mimetizado por uma voz que acompanha todo o acontecimento em sua distância, e sim narrado pelo corpo mesmo no interior da experiência. Há um sujeito implicado em tudo. Desta maneira, a escrita abandona sua função de entendimento e passa a se constituir enquanto marca na página: cisão. Em outras palavras: a prosa de Rodrigo talvez não aconteça na continuidade, ou no retorno – características fundamentais da prosa - mas principalmente no corte.

continua em http://www.cronopios.com.br

Sunday, November 02, 2008

UMA PAUSA NOS CACHORROS PARA CORTAR O CABELO POR CRISTINA CARRICONDE.















Dizem que com este cabelo fico com cara de louco, mas eu sou louco!!!!!!!!! A Cristiana Carriconde {fotógrafa} acha o clima das fotos meio o do filme "O iluminado". Caos. Crise.

Saturday, November 01, 2008

LOCAIS ONDE O LIVRO PODE SER ENCONTRADO.






http://www.paubrasil.com.br/descricao.asp?cod_livro=L10793

http://www.livrariacultura.com.br/


Arlequim
Praça XV de Novembro, 48 Parte 01
Centro (21) 2220-8471

Bolívar Cultural
R. Bolívar, 42 Loja A
Copacabana (21) 3208-3600

Dona Laura
Av. Vieira Souto, 176
Ipanema (21) 2522-8362


Entretexto Livraria
R. das Laranjeiras, 363 Lj. B
Laranjeiras (21) 3502-9440


Livraria do Museu
R. do Catete, 153
Glória (21) 2556-5828

Moviola
R. das Laranjeiras, 280 Loja C
Laranjeiras (21) 2285-8339


Ponte de Tábuas
Rua Jardim Botanico 585 A e B (21) 2259-8686

Prefácio
Rua Voluntários da Patria 39
Botafogo (21) 2527-5699

Timbre Livraria
Rua Marquês de São Vicente 52 loja 221
Gávea (21) 2274-1146

Wednesday, October 29, 2008

 
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