O GLOBO. PROSA E VERSO. 8 DE NOVEMBRO DE 2008.

Leveza e lirismo para abordar o tema da loucura

Estréia de poeta na prosa teve apoio de programa da Petrobras

Elaine Pauvolid
O livro de estréia de Rodrigo de Souza Leão na prosa, a novela “Todos os cachorros são azuis”, tem como mote a vida de um interno num hospício. Foi escrito com patrocínio da primeira edição do Programa Petrobras de Cultura (2006/2007) na área de literatura e baseia-se em experiências do autor, carioca de 1965, conhecido no meio literário pelos poemas do seu blog e do livro “Há flores na pele” (Trema), assim como pela co-edição da Revista “Zunái” (http://www.revistazunai.com/).A história se divide em quatro capítulos e tem como cenários principais a casa em que o narrador-protagonista mora com os pais e um hospital psiquiátrico. Um assassinato no hospital, a fundação de uma religião e uma nova linguagem são as bases da narrativa. Há diálogos sem travessão e mudanças sem aviso prévio da primeira para a terceira pessoa: o contexto define quem está falando. O protagonista é descrito como “doente mental, esquizofrênico. Tem distúrbio delirante, tem delírios persecutórios” e conversa com Rimbaud e Baudelaire. Há ainda referências ao mundo pop, como propagandas de TV, músicas, personagens de desenhos animados e filmes.
Mergulhos delirantes e frases da mais pura poesia O tom coloquial e a ingenuidade do protagonista lembram a prosa de Salinger em “O apanhador no campo de centeio”. Rodrigo fala de redenção; Holden, o protagonista de Salinger, segue trajetória oposta, ao sofrer um esgotamento mental e ser confinado numa casa de repouso. “Todos os cachorros” tem mergulhos delirantes e frases da mais pura poesia. Como quando explica por que quebrou a casa onde morava com os pais, motivo de sua internação: “(...) porque sou feito de cacos e quando os cacos me convidam, desordeno tudo”.Ou quando critica a instituição asilar: “O hospício era um lugar cheio de flores lindas, mas podre por dentro. O modelo hospício tinha que ser mudado. Mas como a minha família me agüentaria quebrando tudo?” E há questionamentos existenciais: “No dia da crise não se pode fazer nada. E o que fazer para não entrar em crise?”. E apesar de tratar de tema tão doloroso quanto o da loucura, o livro é leve e cheio de humor. Interessante notar o surpreendente final. Lembra um fato real envolvendo um dos muitos leitores de “O apanhador no campo de centeio” e um ícone da música pop.

Monday, November 10, 2008

5 Comments:

Fabio Rocha said...

Ficou ótimo! Abraços

Anonymous said...

Diga lá Rodrigo. Sempre que leio algo sobre teu livro, encho-me de curiosidade para lê-lo, tamanho o entusiasmo das resenhas. Aqui na Paraíba o Linaldo falou muito bem dele e o indicou a todos. Quero lê-lo o mais rápido o possível, mas não encontro por estas paragens. Vou procurar pela net... um forte abraço.

Linda Graal said...

bem bacana, hein, moço!? ;)

sucesso!

Fred Matos said...

Linkando o seu blog ao meu, Rodrigo, e deixando um abraço forte.
Parabéns pelo livro, pelo sucesso que você merece.
Como faço para adquiri-lo?
Abração

Cássio Amaral said...

Parabéns meu amigo, porque você merece. Li o livro e achei do caralho.

 
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