CANÇÃO E APOTEOSE.

Coisas distantes
como os planetas
me deixam ofegante
só penso na sua boceta

Coisas bem perto
como a alquimia
me deixam esperto
como toda vilania

Coisas só coisas
que me tiram do sério
entre elas as mariposas
subindo feito hélio

Coisas não sei mais
acabou todo assunto
ninguém nada faz
e eu quase um defunto

Sunday, March 30, 2008

Você é só um satélite
Uma nuvem na internet
Um carnaval sem confete

Saturday, March 29, 2008

a bela da tarde, do dia e da noite.

enfermeira gritava um interno
gritava dia inteiro
enquanto os outros choravam

dinheiros gritavam os médicos
gritavam dia inteiro
enquanto se masturbavam

enfermeira gritava a noite toda
e ela bolinava os dias

bolinava todas as velhas tias
castigava os tios
com as flores e o coquetel

Friday, March 28, 2008

TELA & CIA.



prozac lexotam tomava
isac piportil no haldol
risperdal para riquinho
gardenal para doido total
assim amplictil polenta
assim foi o meu carnaval

novalgina no pintinho
mertiolate corpo inteiro
pijama sem bolinhas
e um céu que poderia
esconder qualquer estrela

a bula dos alquimistas
os enfermeiros comemoram
injetando morfina em ratos
ratos que são sem ser cobaias
loucos sem camisa ao sol

sob o sol muito haldol
pipas no vento de haldoperidona
galáxias cheias de endorfina
dentro de mim toda a química
se vicia sem a si viciar

Thursday, March 27, 2008

psiquiatria.

ampulhetas douradas
na cauda da sereia

seriam os brincos
nos lóbulos de vênus

ou uma alucinação
ou coisas de santo

depois do haldol
ninguém viu deus

Wednesday, March 26, 2008

a mente só.

subo
escadas
sem
degraus


desço
ruas
sem
ladeiras


a
mente

navega


quando

de
nada

Tuesday, March 25, 2008

Atomic.


Monday, March 24, 2008

lápides.

amplidão
ter
asa
imenso
imerso
mar
e pouso
avião
anfíbio
pássaro
planando
rente
ao mar
navegando
star(lactites)
livres
caindo
ficando
lápides
sem bula
no solo

Saturday, March 22, 2008

SINUCA.

Rosane Vilella, eu e Suzana Vargas.


Os cheiros que eu escuto são cheiros de oito ventos.
O nada também tem seu cheiro. Todos têm o cheiro
da morte. Ontem vieram duas amigas aqui em casa.
Ontem mesmo me aceitei como eu sou. Estar numa
sinuca não é para qualquer um: ainda mais para um mau
jogador como eu. Não é que seja mau, pelo contrário,
é que não entendo nada de sinuca e só sei que devo
tocar uma outra bola de cheiro que não está na minha
frente. Alguma angústia pode virar paranóia e algum
dia destes não estarei por aqui. Outro cobertor de cheiros
pode me cobrir até a morte. Pouco importa se tem cheiro
porque já disse aqui (neste poema ridículo) que o nada
tem seu cheiro e em mim tudo cheira e pra mim tudo
também cheira. Só não sei como acertar essa bola que
esta diante de mim (tão redonda) (tão bonita) e (tão azul).
É o planeta Terra que me abandona todo o dia cada vez mais.

Thursday, March 20, 2008

no fundo
do ser
em fosso

estampas
ornadas
em osso

fogo.

contemplo
a lua

e o templo
todo

se perpetua
no tempo

flutuante
em que flutua

a mente
arfa

ardentemente

Tuesday, March 18, 2008

CONCERTO PARA GUERRILHA NOTURNA E DESPEDIDA.

Primeiro o tato
Depois a tatuagem

Tudo agride e oprime
Um camburão de nuvem

Alguma gota de um remédio
Principalmente os que eu tomo

Me dizem algo quando nada me dizem

A tensão então de roldão assume
O lugar de um marca-passo

Trituro meus dentes relembrando antes meus entes
Queridos

É como se todo o meu passado estivesse ali
Célula após célula

Me dizendo que cada fantasma que vejo faz parte de um só

Monday, March 17, 2008

TELA.


Sunday, March 16, 2008

ELES TE PÕEM UM ANTOLHO
Uma camisa de força
Açoitam volts na alma

Eles te tiram a fauna
Deixam-te vivo
Que é pra lembrar deles

Eles vão voltar
E repetir tudo de novo
Cada vez ainda pior

Saturday, March 15, 2008

O FILHO DE MEU INIMIGO.

O som da vertigem é um arrepio
Que desce na alma sinuosa
Verde que nem uma escarpa
Neva nesta fratura exposta

Um índio é escalpelado
General Custer está com frio
O que eu faço com o seu filho?
A mesma coisa que fez comigo

É muita covardia minha

Sou apenas seu maior inimigo

Friday, March 14, 2008

A LUA TATUADA NO LAGO
depois o sol depois
seus olhos depois
você mergulha
e asendorfinas todas
se banham de sangue

depois
ainda sob o efeito da água
você se esconde na lua
seus olhos assim flutunuam

como este seu corpo
que bóia devorando o hábito
de soltar esguichos pela boca depois

ficar feito um animal aquático
(diria um golfinho ou quem sabeum polvo)

mas você está mesmo é na banheira de casa
na piscina do bebê

feito Godzila
destruindo as maquetes de papel

ou na verdadeTóquio

Thursday, March 13, 2008

CREMAÇÃO LÍQUIDA.


Tensão nas trevas do meio dia. Algum trocado balança no bolso. Alguma esmola que foi dada. Alguém de mãos arregaladas. Uma crosta de sujeira nas extremidades dos dedos. Cata o feijão. Depila a bunda de uma cenoura. A costureira costura um bolso dos fundos. Algum sonho me acorda e ainda tão cedo estou caindo de mim mesmo. O barulho da cama acorda seus gemidos. Nunca fui mais ao barbeiro. Minha juba está cada vez mais os cabelos da medusa. Quanto mais corto mais nasce cabelo. A baba do quiabo é nojenta e viscosa. O arroz virou uma papa. E continuo a cair de mim. Só posso cair de mim. E me escorrer pelos degraus feito líquido. Me dissolvo num bueiro nas portas do edifício. Alguém está varrendo a calçada. Levando – com uma ducha de água – uma poeira para o ralo. Quanto gasto com o que sobrou de meu corpo.



Wednesday, March 12, 2008

AUSÊN&CIA.

Eu falto de mim alguns dias
Não vou a encontros marcados
Em certos horários
Estou tão ocupado comigo
Que sinto de mim uma falta
Sou eu mesmo quem me mata

Desato o nó da gravata
E deixo assim habitado
Meu mundo cheio de abismos
Flutuando no limbo saudável
De mais uma nova cura
Pois quando não estou em mim
É que sinto a sua falta
Sei que a miragem flutua
Na minha alma
Quando passa a ser tua

Tuesday, March 11, 2008



Flores do Mal

A florista convenceu Waltinho de que a margarida era a flor exata para dar de presente de noivado a sua futura esposa. Afinal Ana era uma garota moderna que morava no décimo andar de um apartamento cheio de vasos e plantas. Por isso quando ela recebeu aquela flor magistral que emanava uma luz própria e solar não encontrou local melhor do que a sua sacada para colocar aquela preciosidade. O que brilha para mim brilha para o mundo. Passou uma noite de amor maravilhosa onde fez sexo em duzentas e cinqüenta e quatro posições diferentes chegando a gozar vinte vezes enquanto seu parceiro adepto de práticas orientais alcançou o ápice cinco ponto dois na escala de prazer sexual do livro de Raduv Galanoide. No café da manhã comeram o que mais gostavam, pão de queijo. Café com leite. Geléia. Mel. Depois assistiram a um filme tão lindo que, quando ouviram o vizinho cantar Perdão Emília, perderam a compostura e rolaram dezenas de vezes por sobre o tapete persa cheio de nuvens branquinhas. Foi o que precedeu o céu. O telefone tocou chamando Waltinho para que ele fosse ao hospital, pois um caso muito urgente requeria a sua presença no local. Ele foi rápido. Sapecou um beijo que durou exatamente um minuto e quarenta segundos dizendo que havia uma vida em jogo e pedindo para Ana que parasse com aquilo que quando voltasse o amor iria fluir pelas artérias e eles iriam se irmanar como um só corpo fazendo daquele ato animal algo transcendente como a pintura de Michelangelo na Capela Cistina ou a poesia de Baudelaire. Ele desceu pelas escadas e cumprimentou o porteiro que lhe disse para olhar para o alto, pois a Ana queria lhe dar um tchau. Waltinho olhou para cima e lá estava a sua mulher, a Senhora com quem havia escolhido se casar tropeçando num passo e deslocando o vaso de flores o suficiente, para que depois de uma queda livre, criar um enorme galo na cabeça de Waltinho. Ou galho? Porteiro fdp!

Monday, March 10, 2008

PAPEL DE PAREDE.

Um poema pra você
é muito menos do que você.

Dois poemas depois,
ainda escuto sua voz.

Atraso o segundo e
capturo sua imagem:

só pra lhe fazer de minha
única paisagem.

Saturday, March 08, 2008

ANJO.

Distante agora e sempre
Na voz que atropela o fogo

Você soletra um nome raro
E engole as gotas que sangram

Dias escuros e novelos de lã
E gatos passando na sutileza

E alguém me prepara um jantar
Antes que eu acorde a luz

Antes que o remédio me acuda
E fique distante de tudo

Antes que eu fique mudo
E comece a babar e a tremer

Friday, March 07, 2008

a humanidade diante do computador

existe sempre um programa novo
e de programa novo em programa novo
a humanidade penetra no computador do outro
e descobre um mundo novo surgindo do ovo
e se for possível fritar um ovo no hd alheio
e descobrir na sua privacidade algo que possa
deixa-lo cômodo como um são bernardo que só surge
quando neva tanto
que o frio que iria congelá-lo, congela o micro e
é dado mais um but e o uísque quente cai sobre o teclado

ou depois de um papo chato no icq alguém disse que quer
ver você
e você é a quem deseja menos ser naquele momento
pois faz parte de uma estranha humanidade que quer só ser só

ps.:Esse poema é tão antigo q é da época do icq. Ainda existe isso?

Thursday, March 06, 2008

SÉRIE HUMANIDADE.

a humanidade diante de um caixão

uns riram
outros choraram
mas nem todos serão suficientemente grandes
para entender que aquele lugar
será de quem olha um dia
(o arsenal de pesadelos que carrega um morto
só é comparável ao oceano
e a imensidão de sonhos que não foram possíveis
de se tornarem concretos)
alguns ainda carregaram ainda âncoras de mortos em si
ainda aqueles que se acham eternos morrerão
não conheço ninguém vivo que nasceu em 1820
e queria tanto conhecer van gogh
quão íngreme e insano é o céu

Wednesday, March 05, 2008

TELA.


Tuesday, March 04, 2008

no lado de flores havia flora,havia flora em
elevado grau.dentro gente dependurada em si
feito uma gota de gardenal na ponta da agulha
de uma seringa. fora a flora amazônica. dentro
a zona sinfônica. dentro a esquizofrenia em tom
menor cinza de cigarro.


será que a vida flora é a de dentro ou a vida
dentro é a de flora.

defloro
a virgem
pétala
de
meu
eu
com
o sêmen
de
minha
loucura

Monday, March 03, 2008

DOMINGO.

Tudo é cheiro nesta esquizofrenia inoculada.
De viver cansado (e com alguém para amar)
também me canso. Este céu que eu respiro,
a quase um pulo, é todo decadência. Os deuses
todos provaram todos que não estão nem aí
para nós. Peido na farofa e sei que vou morrer
asfixiado. Tipo um suicídio quase tão presente
quanto este domingo. Quando algum efeito
colateral provocar em você (não me provoque).
Quando o quase toque vai se aproximando
sei que me afasto. Talvez não queira só um
simples contato imediato. E sim colocar na
boca coisas várias como Eros e Tanatos,
Ogum e Cristo rei: ou algum deus Inca
que não sei o nome. O que será que Platão
queria dizer ao certo não sei nada. Alguma
espada vem se esforçando para degolar-me
e a primeira coisa que quero quando chegar
é uma vitamina de banana: banana engorda e
faz crescer. Tostines só é bom fresquinho
e ele está sempre bem fresquinho e pronto como eu.

Sunday, March 02, 2008

HOJE, NO JB, UMA RESENHA DE MINHA AUTORIA.

Hoje, no JB, uma resenha de minha autoria. http://jbonline.terra.com.br/editorias/ideias/papel/2008/03/01/ideias20080301007.html

Saturday, March 01, 2008

 
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