cabra macho pra chuchu

O homem era só mais um homem qualquer até o dia em que quis virar mulher. Sua mãe chegou perto dele e cortou seu pinto. Seu pai passou mertiolate e ele era alérgico a mertiolate. Ficou com assaduras pelo corpo todo. Foi neste dia que ele virou mulher que eu o conheci como mulher. Era uma mulher bonita e um homem feio. Porque mesmo sem o pinto ele era homem. Um homem comum. Uma mulher bonita porque quando usava maquiagem, ela escondia as imperfeições de seu rosto redondo como uma lua ou um prato ou uma bola de futebol ou um ovo ou um disco voador. Sua mãe cortou seu pinto porque ele pediu. Sangrou tanto, mas cicatrizou. Ele já vinha com aquela idéia há muito tempo. Era um homem que queria ser mulher. Não encontrava utilidade para seu pênis. A utilidade que os homens dão. Era uma poesia aquele pênis. Uma inutilidade. Assim como o poeta abandona a poesia, ele abandonou seu pênis. Sem tristeza e com muita animação, pensando que ia ter vida nova. Passou a ouvir das pessoas coisas horríveis: que era chato, insuportável, imaturo, burro, ignorante. Tesouras rasgavam sua auto-estima. Tudo porque sua mãe cortou sua inutilidade. Se todos cortássemos as coisas inúteis da vida, íamos acabar nos matando. E foi assim que ele acabou... Enforcado... O outro homem dessa história, o outro ser humano que sou eu, gostava do cara que se suicidou. Tínhamos muita afinidade e cumplicidade na nossa amizade. Foi impossível não ficar triste com o fato de ele ter tirado a sua vida porque perdeu o pênis. Foi a mesma coisa que aconteceu comigo quando perdi a poesia. Fiquei triste e meu tempo ocioso era dedicado a procurar uma forma de me matar sem dor. E consegui num dia desses. Num dia em que o sol foi enorme e que o céu ilustrado de estrelas anunciava mais sol para o dia seguinte. Vi um cometa passar. Fiz um pedido e me joguei num vidro de Amplictil. Deixei uma carta para que me entendessem nesta hora. Não fui uma pessoa triste e sim despreocupada e sem pretensões na vida. Tudo me iludia e a poesia me filtrava. Deixei um último poema que dizia

Papai do céu foi um homem
um homem como outro qualquer
por que será que um homem não pode virar mulher?

O infinito está sempre num outro dia
e assim a flor nasce depois de uma morte
dentro do peito onde o poeta é mais forte

Sei que não vou entrar apra a história com um poema como este, mas quero dizer que o poema quando deixa de nascer no poeta é como um abismo que cai. E a última coisa que cai. É o inferno que não quer mais seu fogo. Mesmo sendo eu um poetastro. É diferente de abandonar a poesia e o poema e partir para ser feirante ou motorista de táxi ou médico ou engenheiro ou advogado ou michê. Quando a poesia abandona o poeta resta a morte. Foi o que restou a mim que sou só uma mulher comum. Que amava uma mulher e um homem: o poema e a poesia. Que era uma mulher dentro de um homem e um homem dentro de uma mulher.

Friday, June 27, 2008

1 Comment:

Anonymous said...

espero que toda essa tua quimera não passe de uma brincadeira, e todos os sexos são iguais, tomada ou pino, pino ou tomada, pino macho, tomada fêmea, é só mudar o fio, a faisca será a mesma,e você com pintou ou sem pinto pinta grandes poemas, e é meu grande amigo que dos seu pinto não quero nada prefiro a brocha que pinta seus quadros

 
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