Rubra testa de floragem
Ramo de boceta em flor

Carda a sua maquiagem
Faz-me rubro e incolor

Ama-me a ponto d
Beliscar a sua realidade

Quando em cruz de fato
Não rimo com sacanagem

Thursday, March 29, 2007

CERTA VEZ

Comeu hipófises
eletroblastos e
osteócitos. Mal
me quer celular.

Bem me quer em
arterial compasso
de espera aspirai
cocaína e caos em

hidrólise de rum.
Campeniquanum
sendonum est pó
rus day in day o

R day in and out
]open in the samba[
Cocaína e caos em
tempo de têmporas.

Maça rubra rosto.
Folha morta de nervos
de fígado bife de
fígado do bife de

fígado no olho contra
a dor de cabeça contra
os do contra contra os
contrários do contra

Sunday, March 25, 2007

BOSTA

A cidade tem um cheiro de puteiro
O puteiro tem um cheiro de banheiro
O banheiro tem um cheiro de esgoto
O esgoto tem um cheiro de morto
O morto tem um cheiro de rato
O rato tem um cheiro de mato
O mato tem um cheiro bosta
E mesmo assim todo mundo gosta

O pão tem um cheiro de mofo
O mofo tem um cheiro de patrão
O patrão tem um cheiro de estado
O estado tem um cheiro de ladrão
O ladrão tem um cheiro de roubada
A roubada tem um cheiro de privada
A privada tem um cheiro de bosta
E mesmo assim todo mundo gosta

Todo mundo gosta da própria bosta

Tuesday, March 20, 2007

Estão tentando me matar: sempre
Sou o covarde de plantão

Estão sempre querendo me dizer o q é certo: sempre
E quase sempre é quase nunca

Assim é assim mesmo
Nem aceitam a minha misericórdia

O outro dia é sempre um outro: se houver outro
Se não houver termino assim

Wednesday, March 14, 2007

AUSÊN&CIA

Eu falto de mim alguns dias
Não vou a encontros marcados
Em certos horários
Estou tão ocupado comigo
Que sinto de mim uma falta
Sou eu mesmo quem me mata

Desato o nó da gravata
E deixo assim habitado
Meu mundo cheio de abismos
Flutuando no limbo saudável
De mais uma nova cura
Pois quando não estou em mim
É que sinto a sua falta
Sei que a miragem flutua
Na minha alma
Quando passa a ser tua

Sunday, March 04, 2007

Quero uma boceta
Uma boceta vermelha

Onde eu possa enfiar
Até a minha sobrancelha

Quero uma boceta
Uma boceta azul

Pra eu pedir pra vc
Tomar no seu cu

Quero uma boceta
Uma boceta amarela

Que de tão chupada
Fique com minhas remelas

Quero uma boceta
Somente uma

Onde lá dentro
Meu eu suma

Tuesday, February 27, 2007

ermo

a lápide de soslaio olha-me
o mundo de soslaio me peida
o que não pode ser mundo, muda

muda a moda que agora sobe
escondendo as barrigas do ontem

hoje sou o que nunca quis ser
e o habitual é habitar o nada quando

ermo penso

Wednesday, February 21, 2007

ÀS VEZES

Às vezes eu tenho vontade de fumar e fumo. Às vezes eu tenho vontade de comer e como.
Às vezes eu tenho vontade de você e nada.

Nenhuma mão vem me acudir no pesadelo.

Existe um desfiladeiro entre mim e você. Existe um foguete espacial. Sondas e satélites e bombas.

Às vezes tenho vontade de morrer e cuspo pro alto para não sujar ninguém, só a mim. É quase a mesma coisa.

Todo o dia os mesmos remédios e a melancolia melando a cueca do dia a dia. Um certo cheiro de merda que me vicia. Aqui então tudo é todo o dia. Assim sempre.

Wednesday, February 14, 2007

A LEI DA INÉRCIA ou OS OLHOS DO FELINO DIANTE DA PRESA

tudo
tende
ao nada

nada
é como
tudo

tudo
tende
a ficar

a estar
como
surdo
mudo

tudo
está

sem
se
moviment
ar

Wednesday, February 07, 2007

IGUAL

Hospícios são lugares tão bonitos
Lembram os cemitérios

Remédios azuis são tão ingênuos
Lembram alguns internos

Há ladeiras e um grande degrau
E flores e gente e muita gente

Muita gente gritando comigo
Como se só eu pudesse ouvir

Todo aquele pedido de vida

Thursday, February 01, 2007

FANTASMAS

Fotos desbotadas
Feridas na pele da alma

Tuesday, January 23, 2007

PRONTUÁRIO

Fico pensando nas pessoas que catalogam pessoas. Que dizem: este é isso e aquele é aquilo.

Fico pensando que sou um bicho-grilo na barriga de um jovem de quinze anos.

Eu engoli um grilo um dia desses, faz tempo. Foi a primeira vez que disseram: esse menino é doente e devia freqüentar uma escola especial para doentes como ele, que são um perigo para a ordem.

Fico pensando em quem disse que ele é esquizofrênico. Fico pensando se a doença está nele que viu ou nele que via.

Fico puto de a vida de duvidar de diagnósticos. Mas às vezes é melhor acreditar do que andar em círculos.

Porque as pessoas que catalogam pessoas não existem para o mal. No fundo catalogam para o bem.

Você, meu filho, é que é incatalogável.

Todo mundo sabe o fardo que você é para a família.

Precisamos de um nome de doença para pôr no prontuário. Que tal dizer que é síndrome de alguma coisa paranóide?

Que tal não esconder que não é letal?

Morre-se com isso e talvez morrer não uma má idéia.

Sunday, January 14, 2007

AINDA BEM

Hoje em dia, quando alguém está doente, a família chama a polícia.

A polícia vem e bate um papo com o cara. Se for preciso, colocam a camisa de força.

Eu não tinha como resistir: eram três tiras mais fortes do que eu.

Eles me levaram junto com o meu irmão. Acharam que eu não tinha nada, mas meu pai sentia um medo danado que eu fizesse alguma loucura

Mas eu era um perigo só para mim mesmo.

Do meu começo podia sair o fim, mas eu não quero rimar pobre com nobre em versos de impacto, só quero um pacto entre mim e você.

Eu jamais poderia dizer que só faria mal a uma mosca. Eram centenas e centenas delas, e matei algumas por prazer.

Saturday, January 06, 2007

Nasci morto
e fui jogado no lixo

Comi os restos
de mim mesmo

Cresci fraco
e pouco sei da vida

Algum dia
ainda ressuscito

Algum dia
ainda digo a mim mesmo:

eu existo

Tuesday, December 26, 2006

O camaleão passa pela soleira
Não vê que é um elefante
com suas presas
O elefante é branco
tal um homem albino
Eles olham pra trás
O camaleão que é elefante que é um homem albino
E ele vê suas pegadas
Outro leão quer por esporte
Feito homens
A caça
O leão quer o homem albino somente
Os outros são animais
Como a gente

Monday, December 11, 2006

ANORMAL

Norma a ser seguida e perseguida
Deve ser seguir a norma
Normal para todos os seres
Que a norma seja culta e não oculta
Que possa afastar qualquer indício
De ruído no discurso ou discursiva
E de facto no acto bem cuidado
Deve-se em deferência a linguagem
Tratá-la de divina Norma
Ou apenas como a Norma
Uma mulher como todas
Que está soltando um peido agora
E defecado no poema o quão sincero
É o seu avesso
Ou a aversão ao belo de um contexto
Digo a Norma finalmente
Deixe-me ser só mais um doente
Que não a teme como mãe

Wednesday, December 06, 2006

Ao vento plumas
na relva escura
de minha sanidade

No tempo dunas
cobrirão meu corpo
Não espero santidade

A vida roubou-me
segundos perpétuos
nas escadas da ampulheta

Nos escombros de mim
fundei meu médico
na poesia da receita

Thursday, November 30, 2006

CONTAMINADO

Dizem que sou muito louco mesmo
Dizem e eu sou

Quando eu acordo e ligo o computador fico triste
Ela não se lembrou de mim

A minha loucura não se lembrou de mim quando mandei um e-mail para mim mesmo
Eu não recebi o e-mail que enderecei a mim

Neste mesmo dia coloquei uma mensagem dentro de uma garrafa e joguei no mar
Segundo os meus cálculos a mensagem vai demorara alguns meses para chegar

Na verdade
Verdade mesmo, eu queria que as mensagens que eu mandei voltassem para mim
Para que eu as refizesse, para que eu as reescrevesse
E assim fosse vivendo reescrevendo aquela mesma mensagem a mim mesmo
Mas nem isso é original na minha loucura porque o que faço mais é reescrevê-la
Como estou fazendo aqui neste espetáculo do óbvio
Neste poema que reluta a ficar circunscrito a minha obviedade

Sou tão óbvio quanto um cartão postal do Brasil cheio de bundas
Mas quem não ama bundas não é óbvio?
Adoro a bunda das mulheres e também as adoro por inteiro
Talvez o que faça de mais interessante na vida seja olhar para a bunda das mulheres

Mas porque comecei a falar das duas mensagens que mandei e cheguei nas bundas?
As bundas são tão óbvias? Tão iguais? As minhas mensagens dizem a mesma coisa sempre?

Estou sempre reescrevendo o poema passado neste aqui que estou escrevendo agora
Não sei porque gosto tanto de reescrever poemas
E o pior,
Pior mesmo, gosto que meus amigos Leonardo Gandolfi e Franklin Alves os reescrevam
Porque acho que nenhum poema meu é meu
Quando saiu de mim já tem sua vida. Já precisa de outra pessoa para ser escrito.
Já não gosta mais tanto de mim

Friday, November 24, 2006

Wednesday, November 22, 2006

PORTAS PANTOGRÁFICAS

Se eu soubesse quem sou já saberia alguma coisa. Ela me diz que sou lúcido demais. Talvez ela quisesse um cara mais louco do que eu. Se me conhecesse ia entender que a minha lucidez vem da loucura. São portas que se abrem e se fecham numa pantografia dos elevadores antigos que fazem aquele esporro colossal, mas são eficientes: ainda são perigosos como eu. Todos os elevadores antigos foram pro poço. Estou saindo de um agora e entrando noutro.

Monday, November 20, 2006

 
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