por Paulo de Toledo e Rodrigo de Souza Leão

Saturday, July 14, 2007

AGORA DEPOIS QUE O TEMPO PASSOU E VOCÊ NÃO VEIO.

Um poema tíbio. Um lixo prolixo. Isso o que tinha de dizer pra você. Uma vacuidade era melhor: o nada. Performance de abismo no trampolim do medo. Era melhor se jogar sem medo do que vem. Mas você é tão forte que não sei por onde penetrá-la. Mal tem buracos. Todos os canais estão fechados. Não dá pra ouvir nenhuma canção. Nenhuma música. Nenhum assobio. Só vejo um transeunte passando pela sua rua. E escrevendo seu nome com um giz no chão. Sem deixar pegadas nas areias afofadas de algodão doce. Que as crianças deixaram cair quando voltavam do parque.
Eu estive tão só estes dias que quase me sufoquei bebendo um copo d´água. Engasguei com um milhão de pterodátilos que falavam pai pai painho meu. E eu não tenho filhos de olhos azuis. Para que possam olhar meu horizonte castanho. O que vêem seus olhos verdes? Você fica bonita vestida de preto e seus cabelos castanhos esvoaçantes me fazem lembrar as cobras na cabeça da Medusa.
Papai Noel deixou um presente gordo na meia. Eu fui o inquilino de seu corpo por alguns dias. Só quero ser seu amigo e nada mais que amante. Diamante e rubi e esferas em toda a parte rodolitas e aquele programa às dez horas da noite onde mulheres vendem jóias. Vendo tudo hoje. Vendo minha fé. Meu codinome. Quero um color bar pra me meter entre suas cores. Sua cara tem muitas cores. Quero beber o azul do color bar no bar da minha Tv. Quero me afogar numa piscina vazia. Quero coisas impossíveis como lhe ver de novo aqui e ali mesmo onde esteve vinte quatro horas antes de um trem ter despencado sobre nossas cabeças vindo de não sei onde e indo pra algum lugar que detesto, pois pra ir teve que passar por aqui e nos destru-ir. Ir fundo. Mergulhar da ponta daquele iceberg e dar duas piruetas no ar e cair. O sangue escorrendo. A vida indo. O que não pode voltar não volta. O que não vem não vem. Deus deu também vinte quatro horas para que eu fizesse tudo que eu queria fazer olhar seus olhos de chocolate verde de preto verde de azul verde, portanto era algo verde que eu tinha medo de olhar para.


Thursday, July 12, 2007

de Paulo de Toledo e Rodrigo de Souza Leão

Sunday, July 08, 2007

NÃO DEU PRA COLAR

Tinha um louco no hospício q rasgava dinheiro. Dizem q só um louco rasga dinheiro e q tem q ser muito louco para fazê-lo, mas ele rasgava pra multiplicar. Ele achava q rasgando em quatro partes ficava mais rico. Até o dia em q ganhou na loteria e não ganhou nada. Havia rasgado o bilhete em quinze partes.

Thursday, July 05, 2007

Rugi leão fora da concha
aerando um Universo
de pólen e nuvem

Cobri meus dedos com neom
e com tinta meus cabelos
Logo era um gorila

Travestido de quase gente fui
vestir uma enseada
Nadei entre os despojos e enfrentei
a morte

Gorila e leão e homem enfim
Nadei e nadei e a praia secou no azul-
piscina que no varal escorre

Sunday, July 01, 2007

BRINCAR

1
a sinceridade das nuvens
que choram quando se encontram
comove meu olhar que transita hospedeiro
de algum azul que não tenho e quero

quando negra a manhã
açoita ainda a alvorada com espadas de sol

eu venho para brincar
com as nuvens que vejo nascer no dia
arrepiado de sombras
e sobras de cadáveres que guerrearam ontem

dizem que foram
para onde ninguém sabe onde vai quem não tem fim
aqui
ou quem tem um fim que não quis ter
pois ambos morreram na folia
e era carnaval
e se devoravam feito dois antropófagos
letrados
letárgicos
litúrgicos
se ofertando ao prazer demiurgo
de um beijo de florete ardendo entre o colo
e o reto

diziam que os índios americanos achavam que a maior humilhaçào
e pior que morrer
era verem seu cu tocado pela lança alheia
o que por muitas vezes acontecia
e fez com que milhares de índios morressem até entender
que uma bala perdida é igual a uma direcionada
e mata do mesmo jeito

2
jasmins descendo pela guela
via sangue arterial O positivo
e glóbulos
e hemácias e
leocemia a beira dos dias de fim de ano
índio de si
indiana jones e james bond e zumbi
fundando palmares nos tumores
covardes cavando covas no queixo de um morto
ou aquele afegão chutando um afegão
em rede
via televisão
ah, quanta cooperação
e eu só queria morrer na arena entre os leões
feito um gladiador suicida
pruridando sua última volúpia
arrancando os contornos das unhas
da primavera
incêndio em meu corpo e fogo no louco asilo
que velho escolho
como escopo
me esculpir do nada
as veias poluídas onde algas e fetos boiam
amalgamados pela vitrea chama
de meu cordão umbilical
vida, vida, vida, vida!
vomito tudo pra dentro de mim

Monday, June 25, 2007

NOITE BRANCA

O vinho congelou meu sangue. O inverno congelou quem eu era. As cicatrizes hibernam.

Aquelas marcas de pico viraram verrugas. Minhas sardas ainda tomam conta de mim. Estou tão velho que começo a me lembrar de tudo.

Sou um derrotado crônico. Pronto pra mais uma ilusão.

A alquimia do fogo que a si devora. A chatice do lodo que sobe pelas pernas e eu não tento mais me limpar. O que restou das cinzas já não sou eu.

Engulo alguma química nova. Quem sabe dê certo com um coitado. Não tenho pena de ninguém. Alguém tem pena de mim? Não mereço compaixão alguma. Eu sonho toda noite e não é um pesadelo azul. Negro. Negro. Negro. Negro como todos os dias negros.

Wednesday, June 20, 2007

PLÁSTICA

O poeta e amigo Leonardo Gandolfi fez uma plástica no poema q fiz. Opine e diga se ficou melhor.

FOI A PRIMEIRA VEZ

Estava chovendo quando nasci,
hoje estava chovendo:

estava chovendo quando te conheci,
tinha tomado remédios e tinha lido um pouco.

Eu tremia no frio do Haldol,
algumas gotas de chuva pareciam furar.

Com frio: estava com frio quando veio o sol,
não acabou o frio quando te conheci.

Estava chovendo quando nascie estava chovendo quando morri em Paris,
com muita chuva,era quinta-feira, provavelmente.

Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.

Estava chovendo: como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia de chuva, se possível, quinta-feira.

Meus ossos quebrados, sobretudo, os húmeros.
Eu estava tão feliz por isso:por estar chovendo quando eu nasci.

Feliz como se soubesse mesmo
que estava chovendo quando eu morri.

São testemunhas disso Vallejo, a chuva,
as quintas-feiras, o sol e as demandas.

Friday, June 15, 2007

PELA PRIMEIRA VEZ

Estava chovendo quando eu nasci.
Hoje estava chovendo:

estava chovendo quando eu te conheci
e havia tomado os remédios.

Eu tremia no frio do Haldol
e algumas gotas de chuva pareciam me furar.

Com frio: estava com frio quando veio o sol
e não acabou o frio quando te conheci.

Estava chovendo quando eu nasci.
Estava chovendo quando morri.

Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.

Estava chovendo como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia

de chuva. Eu estava feliz por isso.
Feliz como se soubesse mesmo

que estava chovendo quando eu nasci
e estava chovendo quando eu morri.

Friday, June 08, 2007

DA MINHA RELAÇÃO COM O COMPUTADOR

Preciso
salvar este poema
de qualquer jeito
senão ele morre
no lixo
Que vá então
para o único lugar que eu existo
Eu insisto

Friday, June 01, 2007

JACARÉ

Tem festa no prédio do lado
Tem preso no meu presídio
Alguns amores no calabouço

Tem festa e está animada
e eu no meu pântano
apenas com os olhos de fora

Alguns abutres por perto
q por dentro bicam os corvos
e cospem na minha cabeça

Tem festa no prédio ao lado
Todo o dia tem festa lá
E eu aqui no meu velório

tentando agüentar mais um dia
Vencer a minha loucura
Bebendo Morte in natura

Monday, May 28, 2007

AINDA

Ainda
Não circundei
A tarde toda

Vazio sou
Agora sei
Que ainda

Continuo
Desabando
Em você

Meu terremoto
De edifícios
E desabafos

Monday, May 21, 2007

CHECK MAIL

Nenhum spam. Nenhum e-mail. Nenhum vírus. Nada. Somente a certeza que eu não existo. O céu deve ser chato. O inferno deve ser quente. Pra onde vou se ainda sou gente? Pra onde ir nesta cidade de remédios? O que preciso para ser feliz? Se já nasci morto: pra onde ir? Resta-me o rastafari nos cabelos: os obscuros fantasmas como eu. Resta rezar a um Deus ateu e pedir a ele o nada: que me deixe numa estrada: que só tenha fim no dia exato. Bem que o mundo inteiro podia acabar quando eu morresse ou agora que estou morrendo. Eu não tenho filhos. Não tenho ninguém. Não deixo semente. Será que ainda sou gente ou sou só mais um egoísta inofensivo que ofende a todo mundo? Quero rezar, mas não sei a oração. Quero a extrema unção, mas só conheço um padre pagão. E não acredito em mais nada. Só em você que é só pecado. Não sou de Deus e nem do diabo.

Monday, May 14, 2007

mallarmé

segura
prende e bate
e arrebenta
os testículos
o ventre
não aumenta
derrama
a discórdia
do silêncio
arranca
estripa e amputa
freme
bisturis
em punho
na medula
lobo
toma os uivos
selvagens

Sunday, May 06, 2007

poema

prenhe de poesia
cataplasma

catapulta o poeta
sampleador

da rima

nasce o poema
e a armadilha

e dentro do alçapão
a poesia

busca o poeta
e é só sutura

aquilo q está
de armadura

pronto pra lutar
e lapidar

o verso e o vaso
e a veia

até escultura

Monday, April 30, 2007

sonoro fim das estalactites
que em brisa brigam de ceifar
que ejaculando para dentro
explodem-se de uma antiluz

ó antiluz que navega o fim
de alguma bruma divisora
divisória do que taquigrafia
alguém algum dia orquideou

de dia na visão simplória
do afago da lua para besta
delineou seus olhos sol
e algum batuque sincopado

da água com a plêiade vária
é vero que produza vagas

Tuesday, April 24, 2007

GOSMA

gosma de silêncio: nóia
ficar mastigando um palito de fósforo
procurando em si uma respiração

encontrando o próprio bafo
na ponta do nariz alheio

ser a melhor parte do bolo
o recheio

Thursday, April 19, 2007

TANTO BATE ATÉ QUE ÁGUA

A gota
Guarda
Um guarda

Dentro dela
Cacetetes
E porrada

Quando ela
Explode na testa
O corpo
Todo
Sente
Que seria melhor que ele
Fosse feito de água
Também
(o que às vezes acaba
acontecendo)

Thursday, April 12, 2007

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Friday, April 06, 2007

ECLIPSE - PARTE DO HOMOCHIP

1
engoli um chip
um eletrodo
engoli-o todo

hoje não cuspo
bolas de sabão

hoje só cuspo
o que tem no chão

no chão do chip
no chão do eclipse

tal língua de iguana
ou de camaleão

(que é como se chama
o novo vírus que com o chip
eu engoli)

engoli o sistema
cuspo algemas

sem reticências
pra não prolongar

a eternidade
que é estar num chip



2
pra sempre é só
até a morte

pra sempre só
além do depois

algum sentido
procuro na avaria

haveria algum
dilema maior?


3
cintilam cintilantes tropas de sargaços
creme com amêndoas no pudim
as amêndoas me lembram o chip
aquele que eu um dia engoli

como viver sabendo que alguém
é quem manda em mim?
e que só sou eu por alguns instantes
quando não penso que engoli o chip

por isso o fato de ter engolido um chip
pouco importa se é verdade ou não
o que importa é que sou uma rosa
e tenho no talo um chip em botão

e o que faz vou sabendo na medida
em que vai fazendo suas monstruosidades
são sempre coisas que eu quis mas nunca
tive coragem de fazer por dor ou dó


4
por dor ou dó
ou por pudor

pouco se faz
muito se rói

quanto osso
quanto ofício

quanto buraco
sem precipício


5
em mim cio
do contrabando de mim

ao caos

da canção caliente goma
se enrasca no aroma

e conta e assoma que ser
é muito mais não ser

por isso se morto agora
ou se na hora do desuso

pouco importa de estou
vivo ou se uso os dez

por certo uso de minha
neuronicidade vã

Tuesday, April 03, 2007

 
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