cid desenhava no vício dos outros
fazia retratos nos papéis de cigarros
tornava ouro embalagens fúteis
ele fazia da minha ressaca de sonhos
uma calmaria na minha cama rebelde
quando esticava os lençóis
cid não era tão louco assim
mas era muito mais louco que eu
diziam os doutores da lobotomia
cid não sabia escrever muito bem
e só desenhava com giz de cera
eram tão lindos retratos que sinto
saudades de mim e saudades de cid
cid.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:32 AM 4 comments
pergunta.
as respostas
não estão
nas hóstias
as respostas
não estão
na bula
simplesmente
não há
respostas
nenhum
deus
que se engula
Thursday, February 28, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 5:55 AM 1 comments
O pêssego
“e a puta engole ofensa todo o dia.”
Glauco Mattoso
nua como pêssego
disforme e inerme na compota
a puta aporta na foto
tudo sorri
algum sonho na calma-
ma-
ria
inflaciona a neurose
quão podre está a mente
que diz que a puta pode sorrir
quando goza a puta pode
amputar tudo
e cuspir a glande: grande e gigante
a puta pode ofender Gandhi
não a mim: a puta pode pagar pr,eu
um dia
a puta pode fugir da ventania
de perdigotos
sou só mais um esgoto
Tuesday, February 26, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:24 AM 2 comments
here.
here
partir do infinito
para além de ir
ficar
mico leão
comprei o mico
prendi o mico
paguei o mico
Monday, February 25, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:14 AM 1 comments
aceitando o sempre.
sinto
sempre
o
cerco
circundando
em
mim
metáfora
tênue
de mim
de mim
respostas
dúbias
ouvirão
todos
que
esticaram
os corpos
de meus
estilhaços
Saturday, February 23, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:31 AM 2 comments
síndrome de plumas.
ao vento plumas
na relva escura
de minha sanidade
no tempo dunas
cobrirão meu corpo
não espero santidade
a vida roubou-me
segundo perpétuos
nas escadas da ampulheta
nos escombros de mim
fundei meu médico
na poesia da receita
Wednesday, February 20, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:28 AM 1 comments
POEMA DO E-BOOK "SÍNDROME".
baudelaire e drummond
as flores da floresta
não são as flores do mal
nem as de baudelaire
são as flores de metal
que o albatroz gauche
carrega em seu bico
disfarçado de pomba
leva poemas de drummond
o louco albatroz
não pode ser a si
portanto é vários num
vírus letal
sendo assim se vê
nos microscópios
no dente dos espelhos
e se apaga nuvem
céu das cicatrizes
da gaiola empoeirada
Monday, February 18, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:48 AM 3 comments
POSTAGEM 202.
como ser poeta assim
se tudo que eu faço
é fumar até o talo
os dedos do marfim
mais uma dose doce
de carbonato de lítio
assim a velha foice
não ceifa minha dor
eu tenho apenas pó
de mico em minhas
veias de poeta ou
sou da mente atleta?
o que sou menos sei
a cada dia que passa
a alma se almassa
na redoma de prosac
Saturday, February 16, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:46 AM 1 comments
FOTO E POEMA.

“Direto do útero materno
para o inverno do inferno
Rodrigo de Souza Leão”
Fui aplaudido e assinei
a carteirinha de sócio-atleta
Friday, February 15, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:41 AM 1 comments
a ré (volta).
grades me saúdam
panteras negras
ou tigres prata
na lata dentadura
amigos sem amigos
beijos sem saliva
coito interrompido
lombriga nasais
tudo se deforma
exalando deformação
o caldo entorna
galinha e feijão
no almoço amassado
pitadas de quiabo
cascas de maçã
no prato da lucidez
enguias radiofônicas
ternos de xadrez
dante e seu inferno
rimbaud e a sua viuvez
Thursday, February 14, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 5:41 AM 3 comments
o segundo big bang.
Dias Contados
Hoje é Dia do Trabalho. Por que ninguém trabalha neste dia? Escrevo só, como sempre. Sem ninguém por perto. Entro num túnel e me refugio numa pegada de mamute que são seus olhos que me querem eu já não quero mais você desisti de tudo. Estou nua com o meu crucifixo no colo e rezo todo o dia a essa hora enquanto escrevo. São alguns pais-nossos jogados no vento. Algumas ave-marias que escondo debaixo do teclado do micro. Perdida, perdida, perfídia. Por que Maria Madalena o traiu?
O que me atraía em você eram suas mãos no bolso. Seu jeito tímido. Sempre parecendo esconder uma rosa despetalada sem espinhos. Por que as rosas têm espinhos? Deve ser pra cortar a mão da gente. Assim me deito em você e mais um dia se vai. Dobro a esquina da esperança de um dia poder fazer aquilo que mais quero. Só assim tiraria as minhas verdades todas de mim. Conheceria-me.
Tenho inveja das pessoas que sabem sempre o que fazer na hora certa. Eu estou sempre atrasada pro mundo. Me visto mal. Me alimento mal. Não sei colorir minhas unhas como as outras mulheres. Mas ainda estou lhe amando e lembrando da primeira vez que engoli você e comi um pedaço do seu corpo.
Escrevo pra você que amo e quero. Rezo pra você que amo e quero. Eu amo e quero ter seu corpo ainda colado ao meu. Santo, santo, santo traz você pra mim.
Ah se eu tivesse um punhal bonitopra enfiar no meu infinito
Depois de depois do antesDia 20 de abril
Não havia saída. Nenhum abismo se abria. Nenhuma porta se fechava. Nenhum abracadabra. Não conseguia ficar sozinha. Então eu me joguei dentro de uma caixa de Amplictil. Vi que no centro só estava eu comigo. Dormi e acordei pra outra vida. Estava dentro de um vidro. Quem é você, Jesus Cristo? Você é tão parecido comigo e fez a mesma coisa que eu fiz. Eu sei do meu futuro e vou me entregar a ele. A vida me agarrou e ainda não me soltou. Quando ela não me quiser, já estou preparada. Basta um abismo crescer. Nem a eternidade é pra sempre.
Querido diário,
Hoje descobri que não sou deusa ou heroína. Quis ser aquela pomba que se espatifou na turbina de um avião. E agora? Por que sofro tanto? Por que é tão dilacerante respirar e fumar até a guimba? Perdi o sentido da vida, nada faz sentido. Estou encolhida feito um pássaro na muda. Deus é triste como eu? Cristo era um burocrata da dor? Sou uma lágrima que canta a última canção. Não sou uma deusa e nem uma heroína. Para quê vivi? De que adianta a cadeira 22 da Academia Brasileira de Letras?
Não tenha medo
Devo aceitar Jesus e segui-lo pra sempre? Quod facis, fac citius lat.
Tuesday, February 12, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:22 AM 4 comments
aquário.
no aquário os peixes brisam
levando flâmulas e bandeiras
essa bebedeira nunca passa
o porre parece ser eterno
dia após dia vomito ventres
já não tenho um corpo material
ser uma pétala ou página branca
bailando no vento do rabo do peixe
Monday, February 11, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:20 AM 1 comments
feridas.
cutuco ferida na pele
na mente cutucam por mim
remédios de toda a espécie
de bichos selvagens
a avestruz que me navega
nunca pôs a cabeça para fora
mas foi decapitado
num terremoto sem piportil
Saturday, February 09, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:40 AM 1 comments
TELAS E SAPOS.
na lagoa a neblina
esconde os sapos
quantos sapos
engole a neblina?
quanta neblina
engolem os sapos?
quantos sapos
engoli hoje?
quantos sapos
estão calados?
quantos sapos
sabem do fato?
que sou
também um sapo?
Friday, February 08, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:57 AM 1 comments
fátima (enfermeira)
o mar
navega
em fá
fã
de falésias
meu infinito
ruge
o tempo
enjaulado
transmuta
ejacula
mutações
adrenalina
falta
ao cérebro
que
navega
em ré
médio
Thursday, February 07, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:32 AM 3 comments
POEMA DO E-BOOK "SÍNDROME".
o primeiro dia
vendavais de amolictil
acalmam o silêncio
etílicos deitados
bebendo seu gardenal
o cérebro sufocado
a química cerebral
antenas recebendo
doses de fenergam
masturbam-se velas
pílulas bailarinas
a noite flutua
horrenda tarde
aqui a dentadura
me fala sombras
Wednesday, February 06, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 5:26 AM 2 comments
LAGOA BRANCA.
A flecha oculta um vôo: uma seta oculta uma flor: uma dicotomia:
algum paradigma. Quando olhar a garça (na lagoa) retira dos olhos
a graça. Quando o silêncio da garça sobrevoa (na lagoa): aquela lagartixa
: tão presa ao chão. Horas dali (na lagoa): numa outra vida fui você e
acabei batendo de frente com um trem. O trem que vem é o mesmo trem
que vai. Assim há dias dali (na lagoa): algum turista anda de pedalinho
e antes que a garça voe: um índio: há séculos atrás (na lagoa) mira o seu
arco na direção da garça. Atira-lhe a flecha. Não sou este índio. Não o
conheço. Matar a garça é tão normal para ele que ele pode ser ele enquanto
mata para comer o sagrado. (na lagoa): hoje em dia: peixes mortos sufocados
pelo lixo tóxico e alguma manhã impregna o meio-dia e é a noite que se
sente a falta da garça. Pois é noturno o seu vôo: como diurno. Mais muito
perto daqui (na lagoa) o índio matou uma garça, mas não matou a graça
simplesmente porque comeu a caça: matou para ficar mais selvagem do que
é. Matou porque só havia (na lagoa) aquela garça pra comer. Quando nós
que já comemos (na lagoa) a lagoa inteira e deixamos hoje em dia a garça
(na lagoa) espernear sufocada por um saco plástico. Ali (na lagoa) é onde
eu ando todos os dias falando comigo e respondendo as minhas perguntas:
como se pudesse voar como a garça morta que interpreta em silêncio sua
vocação para o branco. Hoje (na lagoa): há dias (na lagoa): há séculos.
Tuesday, February 05, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 5:12 AM 2 comments
HENDRIX.
Uma guitarra
Uma guitarra eu
Não posso quebrar
Eu não tenho dinheiro
Eu não sou popstar
Eu não posso quebrar
Uma cabeça
Uma cabeça eu
Não posso quebrar
Eu não sou médico
Eu não sei consertar
Não sou enfermeiro
Não sou guitarrista
Não sou escoteiro
Não sou escafandrista
Monday, February 04, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:46 AM 1 comments
DEPOIS DO MOTEL.
Novamente ainda de tarde (depois do motel) penso em você.
Estive este tempo todo pensando em como seria se a tempestade
de Piportil caísse sobre mim e você. Ela não conta. É só uma miragem
que não tem papel nesta história. É se um corpo que pego emprestado
para fingir de seu perfume: seu estado alfa: sua consciência: sua
desordeira forma de amar. Ouço jazz no fim de tarde e eu não estou
morto ainda. Alô. Quem fala? Agora ela me diz que me achou
diferente: como se eu quisesse o tempo todo provar de algo que
eu mesmo não sabia se ela tinha. Alô, como estão todos aí e aqui
está calor? Cheio de coisas como Anatensol ou outro fototerápico
qualquer. Uma pica roçando em sua bocetinha. Era o que eu queria:
sentir que um scan passa pelo seu corpo enquanto a penetro e vou
vasculhando buraco por buraco: seu. Enquanto isso onde estará ela.
Eu babo um pouco no violão. Vou cantar uma canção para ela: que
fiz para ela: num desses momentos em que engulo um gravador e
não paro de falar. (depois do motel) escrevi para ela um e-mail dizendo
que (depois do motel) amava mais ainda ela porque na verdade (depois
do motel) é que descobri que estava transando com ela e não com você.
Não consigo mais me concentrar em nada. Passo horas pensando que
se ela estivesse aqui e você fosse ela estaria com o meu amor. (depois
do motel) as luzes da lagoa vão se desiluminando e você não está aqui e
nem ela. Mas foi bom (depois do motel) descobri que foi bom e quem
não pode caçar com cão, não deveria caçar. Por que na verdade (depois
do motel) estou fazendo a mesma coisa que aquele cara do filme fez hoje
quando vimos (depois do motel) o filme. Alô. É Ela. Ela me diz coisas
desencontradas como o seu Gardenal acabou? E como anda a Califórnia:
enfermeira: mulher adulta: professora de primário. Ouço Just the way you
are. A nossa canção que só eu sei que é nossa (depois do motel) um cara
me pára e me pergunta se quero cambiar dólar. Tudo isso acontece porque
não conheço ela e não quero conhecer porque você me basta (depois do
motel) e é claro que foi bom para você para mim e para ela. Sou complicado.
Sunday, February 03, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:53 AM 2 comments
DOIS POEMAS CURTINHOS.
ENTERRANDO
Minha culpa
Minha tão grande cool pá
ENTRE
O poema não me diz nada
Quando diz tudo
O poema não me diz tudo
Quando não diz nada
Saturday, February 02, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:38 AM 1 comments
O TEMPO.
O tempo nunca na nuca escuta. O tempo nunca.
Ele se repete enquanto vivemos no passado.
Alguma depressão de signos. Alguma conciliação
de plumas faz do carnaval algo da carne. Alguma
coisa que se apresenta como nova e não tem novidade
alguma. É só parar e olhar os ponteiros do relógio.
Eles sempre se encontram de hora em hora. Urge
saber apenas se as minhas repetições são esquivas ou
eqüinos de Lexotan seis miligramas que me deixam
calmo: eu preciso disso para viver porque sem os
remédios estou só. Vendo um temporal cair de uma
vez por todas: de uma forma devastadora: de uma forma
opressora: de uma forma em que os trovões atiçam o
louco em mim. Meu monstro cativo que trago decalcado
em um corpo antes gordo e hoje com as marcas do que
foi: foi bonito: foi singelo: foi um corpo: hoje é monstro.
Como se Charles tivesse perdido quarenta quilos. Mas
eu só perdi vinte e perdi ela numa novela: num novelo:
numa aquarela meio alegre e meio triste. Quase ninguém
sabe que sou esquizofrênico. Quase ninguém sabe que
sou pobre. Quase ninguém sabe nada de mim e sobre o
tempo tão absorto: tão sem graça que me acompanha:
tão tamanho que quase um elefante de Rivotril me engorda.
Sei que não existem novidades a dizer sobre o tempo, mas
de uma hora para outra vou perdendo o meu tempo aqui
neste poema e tenho que fazer o que eu não gosto: uma
amiga me ligou e ela tem um filho com a mesma doença
que eu: e não pude falar com ela porque estava com o tempo
preenchido por este poema que sequer diz nada sobre
o meu tempo e o verdadeiro Tempo gasto com coisas inúteis.
Quase agora estou perdido como sempre. Sentindo cheiros
que não quero. Vendo no Leponex um Haldol sincero.
Como se a minha egotrip fosse importante para alguém:
além de mim ninguém mais perde tempo com isso e agora
não chove: não nuvem: só sol: só lua: só Piportil: só quatro
vezes ao dia. Por que de noite tudo piora tanto que quase
esqueço desse Tempo que perdi: o redescubro (nos galhos)
(nas montanhas perto de minha casa) (nas alturas que onde
anda quem tem Tempo). Não tenho tempo e sim tardes como
esta em que escrevo sem parar porque preciso e só por isso.
Friday, February 01, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:28 AM 3 comments