Por isso sou só
Tenho uma camada de pó
Tomo remédios coloridos
Escuto com três ouvidos
E vejo com um olho só
Agora me olha e me diz
Se estou certo
Se sou mesmo este céu deserto
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:04 AM 6 comments
o eu suturando tudo: a mesura do silêncio
o escopo do clandestino
pra sempre ser sempre
só
*
olhar a si mesmo nem sempre como si
*
a culpa de ser quem sou não é a única
ser outros além de mim
também
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:44 AM 3 comments
Há um colibri naquela flor
Há algemas para prender os animais?
Há camisas de força pra enforcar
E um varal cheio delas no meu quintal
E há ainda uma quinta-feira por viver
E talvez nada mais importe tanto assim
Do que o colibri naquela flor
Porque ela sabe dar e ele sabe receber
Se alguém (inclusive eu) soubesse disso
Evitaria internar alguém em um hospício
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:45 PM 3 comments
Há vinte anos tomo Haldol e ainda não me curei porque não tem cura:
por que não tem cura?
Continuo vendo papagaios ao invés de ratos no meu quarto e
sei que não tem papagaio algum: são só ratos
O q um rato pode fazer de mal a alguém? Garanto que um outro
ser humano pode fazer mais mal do que os muitos ratos q não são papagaios
q vejo.
O fato de ver papagaios ao invés de ratos é uma dádiva. Imagine se eu visse ratos?
Imagine se eu visse seres humanos?
Os papagaios pelo menos falam com a gente.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 12:30 PM 1 comments
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:48 AM 1 comments
Havia um país que tinha um padeiro com o nome de Stalin. Um outro país em que o açougueiro se chamava Mussolini. Neste mesmo país havia o tal do Adolfo. E um outro cujo jogador de futebol se chamava Mao. E havia ainda um outro país em que todos os pais que deram estes nomes aos filhos diziam: este país não tinha nome
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:12 AM 0 comments
Dentro de mim há algo podre
algo
algas verdes que flutuam
na química cerebral
Alguma coisa estranha nisso tudo
como um dente com chip
que a CIA colocou
Aquela dentista era minha amiga
era
e hoje ela me telefonou
Disse coisas com sentido
q a vida era um perigo
era
e isso eu já sabia
O que ela não me disse foi o q me deixou triste
Não disse que eu estava podre
Mas sei tudo isso tão bem
q não acredito em mim
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:48 AM 0 comments
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:52 AM 2 comments
Ana era linda
Era bela e era maldita
Era uma quimera
Era o seu nome Ana Vera
Vera era tão Ana
Cinderela era o que era
Era uma banana
Era o seu nome Vera Ana
Ana se olhava no espelho
E via a Vera
Vera se olhava no espelho
E via Ana
Até o dia que surgiu Pedrinho
E comeu as duas
Vera virou Ana
Ana virou Vera
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:25 AM 2 comments
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:17 PM 1 comments
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:18 AM 4 comments
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 12:26 PM 1 comments
Tinha um louco no hospício q rasgava dinheiro. Dizem q só um louco rasga dinheiro e q tem q ser muito louco para fazê-lo, mas ele rasgava pra multiplicar. Ele achava q rasgando em quatro partes ficava mais rico. Até o dia em q ganhou na loteria e não ganhou nada. Havia rasgado o bilhete em quinze partes.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 3:45 PM 2 comments
Rugi leão fora da concha
aerando um Universo
de pólen e nuvem
Cobri meus dedos com neom
e com tinta meus cabelos
Logo era um gorila
Travestido de quase gente fui
vestir uma enseada
Nadei entre os despojos e enfrentei
a morte
Gorila e leão e homem enfim
Nadei e nadei e a praia secou no azul-
piscina que no varal escorre
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:02 AM 2 comments
1
a sinceridade das nuvens
que choram quando se encontram
comove meu olhar que transita hospedeiro
de algum azul que não tenho e quero
quando negra a manhã
açoita ainda a alvorada com espadas de sol
eu venho para brincar
com as nuvens que vejo nascer no dia
arrepiado de sombras
e sobras de cadáveres que guerrearam ontem
dizem que foram
para onde ninguém sabe onde vai quem não tem fim
aqui
ou quem tem um fim que não quis ter
pois ambos morreram na folia
e era carnaval
e se devoravam feito dois antropófagos
letrados
letárgicos
litúrgicos
se ofertando ao prazer demiurgo
de um beijo de florete ardendo entre o colo
e o reto
diziam que os índios americanos achavam que a maior humilhaçào
e pior que morrer
era verem seu cu tocado pela lança alheia
o que por muitas vezes acontecia
e fez com que milhares de índios morressem até entender
que uma bala perdida é igual a uma direcionada
e mata do mesmo jeito
2
jasmins descendo pela guela
via sangue arterial O positivo
e glóbulos
e hemácias e
leocemia a beira dos dias de fim de ano
índio de si
indiana jones e james bond e zumbi
fundando palmares nos tumores
covardes cavando covas no queixo de um morto
ou aquele afegão chutando um afegão
em rede
via televisão
ah, quanta cooperação
e eu só queria morrer na arena entre os leões
feito um gladiador suicida
pruridando sua última volúpia
arrancando os contornos das unhas
da primavera
incêndio em meu corpo e fogo no louco asilo
que velho escolho
como escopo
me esculpir do nada
as veias poluídas onde algas e fetos boiam
amalgamados pela vitrea chama
de meu cordão umbilical
vida, vida, vida, vida!
vomito tudo pra dentro de mim
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 12:10 PM 1 comments
O vinho congelou meu sangue. O inverno congelou quem eu era. As cicatrizes hibernam.
Aquelas marcas de pico viraram verrugas. Minhas sardas ainda tomam conta de mim. Estou tão velho que começo a me lembrar de tudo.
Sou um derrotado crônico. Pronto pra mais uma ilusão.
A alquimia do fogo que a si devora. A chatice do lodo que sobe pelas pernas e eu não tento mais me limpar. O que restou das cinzas já não sou eu.
Engulo alguma química nova. Quem sabe dê certo com um coitado. Não tenho pena de ninguém. Alguém tem pena de mim? Não mereço compaixão alguma. Eu sonho toda noite e não é um pesadelo azul. Negro. Negro. Negro. Negro como todos os dias negros.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 11:34 AM 1 comments
O poeta e amigo Leonardo Gandolfi fez uma plástica no poema q fiz. Opine e diga se ficou melhor.
FOI A PRIMEIRA VEZ
Estava chovendo quando nasci,
hoje estava chovendo:
estava chovendo quando te conheci,
tinha tomado remédios e tinha lido um pouco.
Eu tremia no frio do Haldol,
algumas gotas de chuva pareciam furar.
Com frio: estava com frio quando veio o sol,
não acabou o frio quando te conheci.
Estava chovendo quando nascie estava chovendo quando morri em Paris,
com muita chuva,era quinta-feira, provavelmente.
Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.
Estava chovendo: como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia de chuva, se possível, quinta-feira.
Meus ossos quebrados, sobretudo, os húmeros.
Eu estava tão feliz por isso:por estar chovendo quando eu nasci.
Feliz como se soubesse mesmo
que estava chovendo quando eu morri.
São testemunhas disso Vallejo, a chuva,
as quintas-feiras, o sol e as demandas.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:01 AM 1 comments
Estava chovendo quando eu nasci.
Hoje estava chovendo:
estava chovendo quando eu te conheci
e havia tomado os remédios.
Eu tremia no frio do Haldol
e algumas gotas de chuva pareciam me furar.
Com frio: estava com frio quando veio o sol
e não acabou o frio quando te conheci.
Estava chovendo quando eu nasci.
Estava chovendo quando morri.
Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.
Estava chovendo como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia
de chuva. Eu estava feliz por isso.
Feliz como se soubesse mesmo
que estava chovendo quando eu nasci
e estava chovendo quando eu morri.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:39 AM 1 comments
Preciso
salvar este poema
de qualquer jeito
senão ele morre
no lixo
Que vá então
para o único lugar que eu existo
Eu insisto
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 11:24 AM 1 comments