CERTEZA SEM NUVENS E ESTRELAS


Nunca saio de mim
Por isso sou só

Tenho uma camada de pó
Tomo remédios coloridos

Escuto com três ouvidos
E vejo com um olho só

Agora me olha e me diz
Se estou certo

Se sou mesmo este céu deserto

Sunday, August 12, 2007

O SELO DA COERÊNCIA LOUCA

o eu suturando tudo: a mesura do silêncio

o escopo do clandestino
pra sempre ser sempre


*
olhar a si mesmo nem sempre como si

*
a culpa de ser quem sou não é a única

ser outros além de mim
também

Thursday, August 09, 2007

CONSTATAÇÃO PRIMEIRA

Há um colibri naquela flor
Há algemas para prender os animais?

Há camisas de força pra enforcar
E um varal cheio delas no meu quintal

E há ainda uma quinta-feira por viver
E talvez nada mais importe tanto assim

Do que o colibri naquela flor
Porque ela sabe dar e ele sabe receber

Se alguém (inclusive eu) soubesse disso
Evitaria internar alguém em um hospício

Monday, August 06, 2007

PAPAGAIOS

Há vinte anos tomo Haldol e ainda não me curei porque não tem cura:
por que não tem cura?
Continuo vendo papagaios ao invés de ratos no meu quarto e
sei que não tem papagaio algum: são só ratos
O q um rato pode fazer de mal a alguém? Garanto que um outro
ser humano pode fazer mais mal do que os muitos ratos q não são papagaios
q vejo.
O fato de ver papagaios ao invés de ratos é uma dádiva. Imagine se eu visse ratos?
Imagine se eu visse seres humanos?
Os papagaios pelo menos falam com a gente.

Friday, August 03, 2007

desenho meu e poema.
Entrou pelo meu ouvido uma mosca e uma tarântula e uma borboleta. Saiu um poema. Bem pequeno. Quase nada.
Comi um pastel de minhoca.
Peidei um certo aroma de jasmim.
Algumas coisas acontecem com o meu braço quando escreve sobre animais.
O braço abraça a barca da loucura onde um esqueleto é o capitão.
Enquanto ele comanda o leme eu vou remando contra o vento e a maré.
Alguma ilha quer encontrar.
Diz alguma coisa sobre mim e a maré e a mosca e a tarântula. A borboleta não precisa.
Silencio.
Ela voa.

Wednesday, August 01, 2007

PAÍS

Havia um país que tinha um padeiro com o nome de Stalin. Um outro país em que o açougueiro se chamava Mussolini. Neste mesmo país havia o tal do Adolfo. E um outro cujo jogador de futebol se chamava Mao. E havia ainda um outro país em que todos os pais que deram estes nomes aos filhos diziam: este país não tinha nome

Sunday, July 29, 2007

SÉRIE FACE DUPLA

Um desenho meu.

Thursday, July 26, 2007

PODRE

Dentro de mim há algo podre
algo
algas verdes que flutuam
na química cerebral

Alguma coisa estranha nisso tudo
como um dente com chip
que a CIA colocou

Aquela dentista era minha amiga
era
e hoje ela me telefonou

Disse coisas com sentido
q a vida era um perigo
era
e isso eu já sabia

O que ela não me disse foi o q me deixou triste
Não disse que eu estava podre
Mas sei tudo isso tão bem
q não acredito em mim

Tuesday, July 24, 2007


Pintei esta tela. Não sei q nome dar.

Sunday, July 22, 2007

GÊMEAS

Ana era linda
Era bela e era maldita
Era uma quimera
Era o seu nome Ana Vera

Vera era tão Ana
Cinderela era o que era
Era uma banana
Era o seu nome Vera Ana

Ana se olhava no espelho
E via a Vera
Vera se olhava no espelho
E via Ana

Até o dia que surgiu Pedrinho
E comeu as duas
Vera virou Ana
Ana virou Vera

Wednesday, July 18, 2007

por Paulo de Toledo e Rodrigo de Souza Leão

Saturday, July 14, 2007

AGORA DEPOIS QUE O TEMPO PASSOU E VOCÊ NÃO VEIO.

Um poema tíbio. Um lixo prolixo. Isso o que tinha de dizer pra você. Uma vacuidade era melhor: o nada. Performance de abismo no trampolim do medo. Era melhor se jogar sem medo do que vem. Mas você é tão forte que não sei por onde penetrá-la. Mal tem buracos. Todos os canais estão fechados. Não dá pra ouvir nenhuma canção. Nenhuma música. Nenhum assobio. Só vejo um transeunte passando pela sua rua. E escrevendo seu nome com um giz no chão. Sem deixar pegadas nas areias afofadas de algodão doce. Que as crianças deixaram cair quando voltavam do parque.
Eu estive tão só estes dias que quase me sufoquei bebendo um copo d´água. Engasguei com um milhão de pterodátilos que falavam pai pai painho meu. E eu não tenho filhos de olhos azuis. Para que possam olhar meu horizonte castanho. O que vêem seus olhos verdes? Você fica bonita vestida de preto e seus cabelos castanhos esvoaçantes me fazem lembrar as cobras na cabeça da Medusa.
Papai Noel deixou um presente gordo na meia. Eu fui o inquilino de seu corpo por alguns dias. Só quero ser seu amigo e nada mais que amante. Diamante e rubi e esferas em toda a parte rodolitas e aquele programa às dez horas da noite onde mulheres vendem jóias. Vendo tudo hoje. Vendo minha fé. Meu codinome. Quero um color bar pra me meter entre suas cores. Sua cara tem muitas cores. Quero beber o azul do color bar no bar da minha Tv. Quero me afogar numa piscina vazia. Quero coisas impossíveis como lhe ver de novo aqui e ali mesmo onde esteve vinte quatro horas antes de um trem ter despencado sobre nossas cabeças vindo de não sei onde e indo pra algum lugar que detesto, pois pra ir teve que passar por aqui e nos destru-ir. Ir fundo. Mergulhar da ponta daquele iceberg e dar duas piruetas no ar e cair. O sangue escorrendo. A vida indo. O que não pode voltar não volta. O que não vem não vem. Deus deu também vinte quatro horas para que eu fizesse tudo que eu queria fazer olhar seus olhos de chocolate verde de preto verde de azul verde, portanto era algo verde que eu tinha medo de olhar para.


Thursday, July 12, 2007

de Paulo de Toledo e Rodrigo de Souza Leão

Sunday, July 08, 2007

NÃO DEU PRA COLAR

Tinha um louco no hospício q rasgava dinheiro. Dizem q só um louco rasga dinheiro e q tem q ser muito louco para fazê-lo, mas ele rasgava pra multiplicar. Ele achava q rasgando em quatro partes ficava mais rico. Até o dia em q ganhou na loteria e não ganhou nada. Havia rasgado o bilhete em quinze partes.

Thursday, July 05, 2007

Rugi leão fora da concha
aerando um Universo
de pólen e nuvem

Cobri meus dedos com neom
e com tinta meus cabelos
Logo era um gorila

Travestido de quase gente fui
vestir uma enseada
Nadei entre os despojos e enfrentei
a morte

Gorila e leão e homem enfim
Nadei e nadei e a praia secou no azul-
piscina que no varal escorre

Sunday, July 01, 2007

BRINCAR

1
a sinceridade das nuvens
que choram quando se encontram
comove meu olhar que transita hospedeiro
de algum azul que não tenho e quero

quando negra a manhã
açoita ainda a alvorada com espadas de sol

eu venho para brincar
com as nuvens que vejo nascer no dia
arrepiado de sombras
e sobras de cadáveres que guerrearam ontem

dizem que foram
para onde ninguém sabe onde vai quem não tem fim
aqui
ou quem tem um fim que não quis ter
pois ambos morreram na folia
e era carnaval
e se devoravam feito dois antropófagos
letrados
letárgicos
litúrgicos
se ofertando ao prazer demiurgo
de um beijo de florete ardendo entre o colo
e o reto

diziam que os índios americanos achavam que a maior humilhaçào
e pior que morrer
era verem seu cu tocado pela lança alheia
o que por muitas vezes acontecia
e fez com que milhares de índios morressem até entender
que uma bala perdida é igual a uma direcionada
e mata do mesmo jeito

2
jasmins descendo pela guela
via sangue arterial O positivo
e glóbulos
e hemácias e
leocemia a beira dos dias de fim de ano
índio de si
indiana jones e james bond e zumbi
fundando palmares nos tumores
covardes cavando covas no queixo de um morto
ou aquele afegão chutando um afegão
em rede
via televisão
ah, quanta cooperação
e eu só queria morrer na arena entre os leões
feito um gladiador suicida
pruridando sua última volúpia
arrancando os contornos das unhas
da primavera
incêndio em meu corpo e fogo no louco asilo
que velho escolho
como escopo
me esculpir do nada
as veias poluídas onde algas e fetos boiam
amalgamados pela vitrea chama
de meu cordão umbilical
vida, vida, vida, vida!
vomito tudo pra dentro de mim

Monday, June 25, 2007

NOITE BRANCA

O vinho congelou meu sangue. O inverno congelou quem eu era. As cicatrizes hibernam.

Aquelas marcas de pico viraram verrugas. Minhas sardas ainda tomam conta de mim. Estou tão velho que começo a me lembrar de tudo.

Sou um derrotado crônico. Pronto pra mais uma ilusão.

A alquimia do fogo que a si devora. A chatice do lodo que sobe pelas pernas e eu não tento mais me limpar. O que restou das cinzas já não sou eu.

Engulo alguma química nova. Quem sabe dê certo com um coitado. Não tenho pena de ninguém. Alguém tem pena de mim? Não mereço compaixão alguma. Eu sonho toda noite e não é um pesadelo azul. Negro. Negro. Negro. Negro como todos os dias negros.

Wednesday, June 20, 2007

PLÁSTICA

O poeta e amigo Leonardo Gandolfi fez uma plástica no poema q fiz. Opine e diga se ficou melhor.

FOI A PRIMEIRA VEZ

Estava chovendo quando nasci,
hoje estava chovendo:

estava chovendo quando te conheci,
tinha tomado remédios e tinha lido um pouco.

Eu tremia no frio do Haldol,
algumas gotas de chuva pareciam furar.

Com frio: estava com frio quando veio o sol,
não acabou o frio quando te conheci.

Estava chovendo quando nascie estava chovendo quando morri em Paris,
com muita chuva,era quinta-feira, provavelmente.

Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.

Estava chovendo: como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia de chuva, se possível, quinta-feira.

Meus ossos quebrados, sobretudo, os húmeros.
Eu estava tão feliz por isso:por estar chovendo quando eu nasci.

Feliz como se soubesse mesmo
que estava chovendo quando eu morri.

São testemunhas disso Vallejo, a chuva,
as quintas-feiras, o sol e as demandas.

Friday, June 15, 2007

PELA PRIMEIRA VEZ

Estava chovendo quando eu nasci.
Hoje estava chovendo:

estava chovendo quando eu te conheci
e havia tomado os remédios.

Eu tremia no frio do Haldol
e algumas gotas de chuva pareciam me furar.

Com frio: estava com frio quando veio o sol
e não acabou o frio quando te conheci.

Estava chovendo quando eu nasci.
Estava chovendo quando morri.

Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.

Estava chovendo como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia

de chuva. Eu estava feliz por isso.
Feliz como se soubesse mesmo

que estava chovendo quando eu nasci
e estava chovendo quando eu morri.

Friday, June 08, 2007

DA MINHA RELAÇÃO COM O COMPUTADOR

Preciso
salvar este poema
de qualquer jeito
senão ele morre
no lixo
Que vá então
para o único lugar que eu existo
Eu insisto

Friday, June 01, 2007

 
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