Caga-regras
Rodrigo de Souza Leão
Todo mundo caga
regras também
Hoje em dia, quando alguém está doente, a família chama a polícia.
A polícia vem e bate um papo com o cara. Se for preciso, colocam a camisa de força.
Não tinha como resistir: eram três caras mais fortes do que eu.
Eles me levaram junto com o meu irmão. Acharam que eu não tinha nada, mas meu pai sentia um medo danado que eu fizesse alguma loucura.
Mas eu era um perigo só para mim mesmo.
Do meu começo podia sair o fim, mas não quero rimar pobre com nobre em versos de impacto, só quero um pacto entre mim e você.
Jamais poderia dizer que só faria mal a uma mosca.
Eram centenas e centenas delas, matei algumas por prazer.
Pulei
de uma janela
deitada
Andei
na nata iceberg
do leite
Caí
de pára-quedas
no nada
Subi
cavando
com enxada
Não sei: não sei
O por quê: o por quê
Me repito: me repito
Se o que sou: se o que sou
É esquisito: é esquisito
Por que me tratam mal?
Por que me tratam bem:
O bem: o mal
Freud dizia que defecar é um prazer
e que todo mundo ama sua mãe
Eis que defequei um filho com barba
Onde foram parar minhas hemorróidas,
eu pergunto
Só uma puta poderia te parir, respondo
E vou pondo naftalina na latrina
do dia-a-dia
Para não apodrecer de mim mesmo
CAGA-REGRAS.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:32 AM
1 Comment:
Rodrigo, gosto sobretudo da parte que se convencionou chamar prosa, da mistura de cotidiano com cinismo e desespero, desesperado e louco ootidiano. Gostaria de acrescentar seu link ao meu enredosetramas. Posso fazê-lo?
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