Ao vento plumas
na relva escura
de minha sanidade

No tempo dunas
cobrirão meu corpo
Não espero santidade

A vida roubou-me
segundos perpétuos
nas escadas da ampulheta

Nos escombros de mim
fundei meu médico
na poesia da receita

Thursday, November 30, 2006

CONTAMINADO

Dizem que sou muito louco mesmo
Dizem e eu sou

Quando eu acordo e ligo o computador fico triste
Ela não se lembrou de mim

A minha loucura não se lembrou de mim quando mandei um e-mail para mim mesmo
Eu não recebi o e-mail que enderecei a mim

Neste mesmo dia coloquei uma mensagem dentro de uma garrafa e joguei no mar
Segundo os meus cálculos a mensagem vai demorara alguns meses para chegar

Na verdade
Verdade mesmo, eu queria que as mensagens que eu mandei voltassem para mim
Para que eu as refizesse, para que eu as reescrevesse
E assim fosse vivendo reescrevendo aquela mesma mensagem a mim mesmo
Mas nem isso é original na minha loucura porque o que faço mais é reescrevê-la
Como estou fazendo aqui neste espetáculo do óbvio
Neste poema que reluta a ficar circunscrito a minha obviedade

Sou tão óbvio quanto um cartão postal do Brasil cheio de bundas
Mas quem não ama bundas não é óbvio?
Adoro a bunda das mulheres e também as adoro por inteiro
Talvez o que faça de mais interessante na vida seja olhar para a bunda das mulheres

Mas porque comecei a falar das duas mensagens que mandei e cheguei nas bundas?
As bundas são tão óbvias? Tão iguais? As minhas mensagens dizem a mesma coisa sempre?

Estou sempre reescrevendo o poema passado neste aqui que estou escrevendo agora
Não sei porque gosto tanto de reescrever poemas
E o pior,
Pior mesmo, gosto que meus amigos Leonardo Gandolfi e Franklin Alves os reescrevam
Porque acho que nenhum poema meu é meu
Quando saiu de mim já tem sua vida. Já precisa de outra pessoa para ser escrito.
Já não gosta mais tanto de mim

Friday, November 24, 2006

Wednesday, November 22, 2006

PORTAS PANTOGRÁFICAS

Se eu soubesse quem sou já saberia alguma coisa. Ela me diz que sou lúcido demais. Talvez ela quisesse um cara mais louco do que eu. Se me conhecesse ia entender que a minha lucidez vem da loucura. São portas que se abrem e se fecham numa pantografia dos elevadores antigos que fazem aquele esporro colossal, mas são eficientes: ainda são perigosos como eu. Todos os elevadores antigos foram pro poço. Estou saindo de um agora e entrando noutro.

Monday, November 20, 2006

DELÍRIO

Ninguém despertou do ano novo
e todo mundo se divertiu
Hoje dou um de bico na minha cama
e vou voar em outro aroma
Há delírios vários
e um me persegue:
a de que o cheiro da pasta de laçar
me enlaça como um cheiro de bosta
Como eu posso ir à praia feliz
e surfar minhas ondas de Amplictil?
Meus tisunamis interiores são tão maiores
Mas só podem matar a mim
Menos mal

Thursday, November 16, 2006

Eu sou um museu
Tenho uma filha com nome de furacão
Uma mulher com nome de vulcão
Uma farmácia particular
Um corpo pra me distrair
E dois copos de vidro
Um eu quebro
E brindo com o outro
Dentro do meu museu há um zoológico
Há um parque de diversão
Um cidadão jogando paciência
E um cientista se fingindo de importante
Há vários covardes como eu
Alguém bebe leite quente
Palavras se devoram dentro da boca
Há um homem vestido de burro
Um burro vestido de homem
Mandei tudo a merda
Mas um pouco de mim foi junto

Tuesday, November 14, 2006

ZERO

helicópteros de cabeça pra baixo
contemplam
os sinos da catedral
alguns símios que ali flutuam
piscina de arvores invertidas
formam o trovão
estes são os mesmos que se acham humanos
e não respondem
a um e-mail educado
com um palavrão

mas ora
eu também não respondo
a solidão de nunca estar sozinho
é tão maior que tudo

Sunday, November 12, 2006

OLFATO

Os acidentes do espelho e seus cacos de vidro e seus cactos que ferem e seus desertos que unem pontes podem possibilitar a mim um corte ou tornar-me alguma mulher que se movimenta despetalada nas minhas entranhas. Essa mulher sou eu no outro dia em que fui homem mastigando o delírio olfativo que um cigarro provoca: cheiro de merda.

Wednesday, November 08, 2006

Tela minha. O burro.

Tuesday, November 07, 2006

O PUXA-SACO

Eles querem tirar o seu coro
Fazer você trabalhar de semana a semana
Quem sabe um dia você será o funcionário do mês
Ou poderá com toda a sua formalidade em janeiro
Soltar um peido
E ninguém na sala de reunião sentir o cheiro

Saturday, November 04, 2006

 
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