ACHISMO

Eu acho que nós somos muito mau
Nós quer ver guerra pela televisão
Nós quer ver atentado em todo o 11 de setembro
Nós torce pelo mais fraco
Nós quer torcer por um
Nós quer ver programas de polícia na tv
Nós não quer aprender a falar
Não fale por mim idiota

Friday, August 31, 2007

Virei homossexual aos 65 anos de idade. Depois de uma selvagem vida heterossexual, onde posso ter feito muita coisa, mas não tudo. Abandonei-a para tornar-me o tudo que me faltava. Parafraseando a canção de Gilberto Gil, eu percebi que a porção mulher que até hoje em mim se resguardara era a minha melhor porção. Sai dando por aí. E olha teve gente que comeu e se lambuzou. Horácio, o bom de cama, me comeu já três vezes e garantiu que com o meu corpinho vou continuar nesta vida até meu cu criar bico. Certo dia desses, me envolvi com um aluno da Faculdade em que eu dou aula. Maior de idade. Coisa fina. Garoto requintado. Eu só ainda não consigo beijar na boca de homens. Eu tenho náuseas. Só beijo na boca de minha mulher. Sou um homem casado e tenho filhos e netos. Mas desde que virei a folha, o mundo parece mais iluminado. O mundo tem a cor do amor livre. Ainda bem que pude viver em minha vida o amor livre. Ainda bem que pude sentir que tudo era muito mais do que um homem e uma mulher e uma noite. Podia ser um homem e outro homem e noites. Foi assim com o Guilherme. Passamos noites e noites tirando suor de nossos corpos. Ele tinha um membro muito avantajado que começou a me doer o ânus. Tive que romper com Guilherme porque eu ia acabar mal na história. Já estava ficando com feridas em volta do cu. Tenho que confidenciar uma coisa a vocês: desde que fiz 65 anos, sempre fui o passivo e perdi o gosto e a felicidade de uma ejaculação. Minha mulher não reparava em nada, apesar de eu vir fazendo a coisa com cada vez maior freqüência. Procurava garotos de programa e gastava uma fortuna. Foi quando um desses rapazes me falou:
- Você não é podre. Por que procura este mundo?
- Só tem gente podre neste mundo?
- No da prostituição só. O senhor é casado. Tem filhos. Só porque é broxa ou broxou resolveu dar o cu. Tem remédio. Tem implante. O senhor num gosta nem de beijar na boca.
- Beijo na boca é para quem a gente ama.
- O Senhor ama a sua mulher?
- Amo.
- Quando o senhor vai amar a outro homem?
Amar outro homem. Eu não percebia que o que o rapaz estava querendo me dizer era que eu não pertencia aquele mundo dos gays. Eu era um falso gay.
- O que fazer então para ser um gay verdadeiro?
- Tem que começar freqüentando. O peso da noite não é para qualquer um. O senhor já é um homem idoso. Volte para sua mulher. Diga pra ela te comer de consolo. Tudo se resolve. E você não vai precisar fazer nada.
Eu entendia que era necessário que eu mudasse para que a minha nova vida viesse à tona. Fiz o cabelo e fiz a mão. Fiz tudo. Rompi com família e virei mulher. Só não podia trabalhar como garoto de programa porque não tinha mais pau duro. Era uma flacidez. Comecei a soltar a franga. Sai do armário A freqüentar os becos. Tudo em busca de um amor. Mas as pessoas só queriam sacanagem comigo. Eram homens com suas mulheres. Vários homens. Não encontrei na vida homossexual o meu verdadeiro amor.
Até que num dia vestido de homenzinho - em plena luz do dia – meus olhos se abriram para uma mulher. Afinal eu era homem no meu desejo e só podia me apaixonar por mulheres: assim entendi.
- Mas a Lúcia é um puta de um sapatão.
- Gamei nela.
- Me apresenta ela. O mínimo que pode acontecer era o nada.
Mas eu acreditava no tudo. Fora paixão a primeira vista. Fui apresentado a Lúcia e senti que ela ficou balançada comigo. Passamos a sair juntas. Tornamos amigas e confidentes. O importante era que não competíamos. Ela era o tipo macho e eu fazia o travesti bem afeminado. Duas amigas velhas de guerra. Lucia tornou-se muito grata a mim porque a aliviei de certos perrenhos monetários. Eu tinha uma aposentadoria farta de funcionário de estatal.
- Se você fosse mulher eu tirava uma com você.
- Eu sou mulher.
- Mas tem um quinze centímetros entre as coxas.
Aquilo foi me incomodando, pois cada vez mais eu me sentia apaixonada ou apaixonado: eu já não sabia mais o que era.
O certo é que nós saíamos para balada juntas e nunca terminávamos no zero a zero. Ela com a sapatinha dela. E eu com o meu homem. Num dia onde ambas ficamos no zero a zero ela me deu um selinho e disse um poema:

A
Boca
Que
Ousa
Na
Boca
Que
Usa

Eu a segurei forte nos meus braços e tasquei-lhe um beijo de língua. Foi à boca mais perfeita que a minha já beijou. Eu havia encontrado o meu amor.
No dia seguinte abandonei minha esposa e embarquei para a Dinamarca para fazer a minha operação de troca de sexo. Hoje sou uma mulher feliz casada com uma mulher feliz. E é isso que importa. Estou beijando muuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiito.

Wednesday, August 29, 2007

BOMBADO



Mergulhei de cara no ar
Quando eu respirei
Meu coração ia a duzentos por hora
Capotar na primeira endorfina
E ir adrenalizado bater e bater
Até uma morte circunscrita
A alguns idiotas que me matavam
Mas eu voltei vivo
Da camisa de força que apertava
Ainda sem conseguir separar
A realidade da realidade
Por que tudo era realidade
Aquelas vozes que me esmagavam
Aquelas mãos que eram pinças
Aquelas pinças que pareciam caranguejos
E arrancavam meus pedaços
Mas não comiam
Porque era só por prazer
Que faziam aquilo


Monday, August 27, 2007

fantasmas


em especial as sombras
sobrevoam a borboleta

ela quem pousa e é pousada
pela sua silhueta

o que será de uma sombra sem ninguém
ou nenhum objeto?

todo o fantasma começa assim
sobrevivendo a tudo

Friday, August 24, 2007

a voracidade do sexo
meus dedos dos pés nos calcanhares
de todas as luas cheias

e se abrindo um crepúsculo
o músculo do infinito
entre algumas pedras que se abrem

abismos ou grutas onde só me perco
quando encontro
a calmaria total de quem silencia

e feito uma onda plácida
deixa que surfe
no caos enquanto me engole

Wednesday, August 22, 2007

instinto

o plástico que lhe protege
na pele que me arrepia

a aurora no banho de espasmo
que nossas bocas copulam

diversos ventres entre os afagos
e guilhotinas de plumas

cortando cardando o plástico
chegando ao teu átomo

o indivisível dizível
entre paredes de quatro

Monday, August 20, 2007

ÓCULOS


MAQUIAR CADÁVERES

A cicatriz de urtigas
sob a pele de nesga

sob o contorno dos lábios
algum batom que esconde o branco

O escarro do sol nas costeletas
O prisma aberto de suas pernas

Tornar-se claro sem ser verídico
O pó de arroz doce sem canela

Alguns pingos de chuva
Tempestades de orquídeas brancas

Formas paradoxais de ser estátua
Um bronze sardento e sua lágrima

Ela queria nascer ele e nasceu ela
Ele queria nascer ela e nasceu ele

Todos estão mortos por enquanto
Ninguém sabe quem é o pai

E este poema confuso é pra aumentar
a confusão. Jogo xadrez comigo

e sempre um de mim acaba perdendo

Friday, August 17, 2007

DOENÇA DE TREVAS

Um poema é uma coisa tão simples
Assim
Quando não se quer dizer nada

Quando quero dizer tudo faço um furo
No meu plexo
E digo para que olhem através de mim

Se houver horizonte há poema
Há poente

Tuesday, August 14, 2007

CERTEZA SEM NUVENS E ESTRELAS


Nunca saio de mim
Por isso sou só

Tenho uma camada de pó
Tomo remédios coloridos

Escuto com três ouvidos
E vejo com um olho só

Agora me olha e me diz
Se estou certo

Se sou mesmo este céu deserto

Sunday, August 12, 2007

O SELO DA COERÊNCIA LOUCA

o eu suturando tudo: a mesura do silêncio

o escopo do clandestino
pra sempre ser sempre


*
olhar a si mesmo nem sempre como si

*
a culpa de ser quem sou não é a única

ser outros além de mim
também

Thursday, August 09, 2007

CONSTATAÇÃO PRIMEIRA

Há um colibri naquela flor
Há algemas para prender os animais?

Há camisas de força pra enforcar
E um varal cheio delas no meu quintal

E há ainda uma quinta-feira por viver
E talvez nada mais importe tanto assim

Do que o colibri naquela flor
Porque ela sabe dar e ele sabe receber

Se alguém (inclusive eu) soubesse disso
Evitaria internar alguém em um hospício

Monday, August 06, 2007

PAPAGAIOS

Há vinte anos tomo Haldol e ainda não me curei porque não tem cura:
por que não tem cura?
Continuo vendo papagaios ao invés de ratos no meu quarto e
sei que não tem papagaio algum: são só ratos
O q um rato pode fazer de mal a alguém? Garanto que um outro
ser humano pode fazer mais mal do que os muitos ratos q não são papagaios
q vejo.
O fato de ver papagaios ao invés de ratos é uma dádiva. Imagine se eu visse ratos?
Imagine se eu visse seres humanos?
Os papagaios pelo menos falam com a gente.

Friday, August 03, 2007

desenho meu e poema.
Entrou pelo meu ouvido uma mosca e uma tarântula e uma borboleta. Saiu um poema. Bem pequeno. Quase nada.
Comi um pastel de minhoca.
Peidei um certo aroma de jasmim.
Algumas coisas acontecem com o meu braço quando escreve sobre animais.
O braço abraça a barca da loucura onde um esqueleto é o capitão.
Enquanto ele comanda o leme eu vou remando contra o vento e a maré.
Alguma ilha quer encontrar.
Diz alguma coisa sobre mim e a maré e a mosca e a tarântula. A borboleta não precisa.
Silencio.
Ela voa.

Wednesday, August 01, 2007

 
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