Eu acho que nós somos muito mau
Nós quer ver guerra pela televisão
Nós quer ver atentado em todo o 11 de setembro
Nós torce pelo mais fraco
Nós quer torcer por um
Nós quer ver programas de polícia na tv
Nós não quer aprender a falar
Não fale por mim idiota
ACHISMO
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:38 AM 3 comments
- Você não é podre. Por que procura este mundo?
- Só tem gente podre neste mundo?
- No da prostituição só. O senhor é casado. Tem filhos. Só porque é broxa ou broxou resolveu dar o cu. Tem remédio. Tem implante. O senhor num gosta nem de beijar na boca.
- Beijo na boca é para quem a gente ama.
- O Senhor ama a sua mulher?
- Amo.
- Quando o senhor vai amar a outro homem?
Amar outro homem. Eu não percebia que o que o rapaz estava querendo me dizer era que eu não pertencia aquele mundo dos gays. Eu era um falso gay.
- O que fazer então para ser um gay verdadeiro?
- Tem que começar freqüentando. O peso da noite não é para qualquer um. O senhor já é um homem idoso. Volte para sua mulher. Diga pra ela te comer de consolo. Tudo se resolve. E você não vai precisar fazer nada.
Eu entendia que era necessário que eu mudasse para que a minha nova vida viesse à tona. Fiz o cabelo e fiz a mão. Fiz tudo. Rompi com família e virei mulher. Só não podia trabalhar como garoto de programa porque não tinha mais pau duro. Era uma flacidez. Comecei a soltar a franga. Sai do armário A freqüentar os becos. Tudo em busca de um amor. Mas as pessoas só queriam sacanagem comigo. Eram homens com suas mulheres. Vários homens. Não encontrei na vida homossexual o meu verdadeiro amor.
Até que num dia vestido de homenzinho - em plena luz do dia – meus olhos se abriram para uma mulher. Afinal eu era homem no meu desejo e só podia me apaixonar por mulheres: assim entendi.
- Mas a Lúcia é um puta de um sapatão.
- Gamei nela.
- Me apresenta ela. O mínimo que pode acontecer era o nada.
Mas eu acreditava no tudo. Fora paixão a primeira vista. Fui apresentado a Lúcia e senti que ela ficou balançada comigo. Passamos a sair juntas. Tornamos amigas e confidentes. O importante era que não competíamos. Ela era o tipo macho e eu fazia o travesti bem afeminado. Duas amigas velhas de guerra. Lucia tornou-se muito grata a mim porque a aliviei de certos perrenhos monetários. Eu tinha uma aposentadoria farta de funcionário de estatal.
- Se você fosse mulher eu tirava uma com você.
- Eu sou mulher.
- Mas tem um quinze centímetros entre as coxas.
Aquilo foi me incomodando, pois cada vez mais eu me sentia apaixonada ou apaixonado: eu já não sabia mais o que era.
O certo é que nós saíamos para balada juntas e nunca terminávamos no zero a zero. Ela com a sapatinha dela. E eu com o meu homem. Num dia onde ambas ficamos no zero a zero ela me deu um selinho e disse um poema:
A
Boca
Que
Ousa
Na
Boca
Que
Usa
Eu a segurei forte nos meus braços e tasquei-lhe um beijo de língua. Foi à boca mais perfeita que a minha já beijou. Eu havia encontrado o meu amor.
No dia seguinte abandonei minha esposa e embarquei para a Dinamarca para fazer a minha operação de troca de sexo. Hoje sou uma mulher feliz casada com uma mulher feliz. E é isso que importa. Estou beijando muuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiito.
Wednesday, August 29, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:36 AM 4 comments
BOMBADO

Mergulhei de cara no ar
Quando eu respirei
Meu coração ia a duzentos por hora
Capotar na primeira endorfina
E ir adrenalizado bater e bater
Até uma morte circunscrita
A alguns idiotas que me matavam
Mas eu voltei vivo
Da camisa de força que apertava
Ainda sem conseguir separar
A realidade da realidade
Por que tudo era realidade
Aquelas vozes que me esmagavam
Aquelas mãos que eram pinças
Aquelas pinças que pareciam caranguejos
E arrancavam meus pedaços
Mas não comiam
Porque era só por prazer
Que faziam aquilo
Monday, August 27, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:12 AM 0 comments
fantasmas
sobrevoam a borboleta
ela quem pousa e é pousada
pela sua silhueta
o que será de uma sombra sem ninguém
ou nenhum objeto?
todo o fantasma começa assim
Friday, August 24, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:33 AM 3 comments
a voracidade do sexo
meus dedos dos pés nos calcanhares
de todas as luas cheias
e se abrindo um crepúsculo
o músculo do infinito
entre algumas pedras que se abrem
abismos ou grutas onde só me perco
quando encontro
a calmaria total de quem silencia
e feito uma onda plácida
deixa que surfe
no caos enquanto me engole
Wednesday, August 22, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:38 AM 0 comments
instinto
o plástico que lhe protege
na pele que me arrepia
a aurora no banho de espasmo
que nossas bocas copulam
diversos ventres entre os afagos
e guilhotinas de plumas
cortando cardando o plástico
chegando ao teu átomo
o indivisível dizível
entre paredes de quatro
Monday, August 20, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:21 AM 3 comments
ÓCULOS
A cicatriz de urtigas
sob a pele de nesga
sob o contorno dos lábios
algum batom que esconde o branco
O escarro do sol nas costeletas
O prisma aberto de suas pernas
Tornar-se claro sem ser verídico
O pó de arroz doce sem canela
Alguns pingos de chuva
Tempestades de orquídeas brancas
Formas paradoxais de ser estátua
Um bronze sardento e sua lágrima
Ela queria nascer ele e nasceu ela
Ele queria nascer ela e nasceu ele
Todos estão mortos por enquanto
Ninguém sabe quem é o pai
E este poema confuso é pra aumentar
a confusão. Jogo xadrez comigo
e sempre um de mim acaba perdendo
Friday, August 17, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:24 AM 2 comments
DOENÇA DE TREVAS
Assim
Quando não se quer dizer nada
Quando quero dizer tudo faço um furo
No meu plexo
E digo para que olhem através de mim
Se houver horizonte há poema
Há poente
Tuesday, August 14, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 11:57 AM 2 comments
CERTEZA SEM NUVENS E ESTRELAS
Por isso sou só
Tenho uma camada de pó
Tomo remédios coloridos
Escuto com três ouvidos
E vejo com um olho só
Agora me olha e me diz
Se estou certo
Se sou mesmo este céu deserto
Sunday, August 12, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:04 AM 6 comments
O SELO DA COERÊNCIA LOUCA
o eu suturando tudo: a mesura do silêncio
o escopo do clandestino
pra sempre ser sempre
só
*
olhar a si mesmo nem sempre como si
*
a culpa de ser quem sou não é a única
ser outros além de mim
também
Thursday, August 09, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:44 AM 3 comments
CONSTATAÇÃO PRIMEIRA
Há um colibri naquela flor
Há algemas para prender os animais?
Há camisas de força pra enforcar
E um varal cheio delas no meu quintal
E há ainda uma quinta-feira por viver
E talvez nada mais importe tanto assim
Do que o colibri naquela flor
Porque ela sabe dar e ele sabe receber
Se alguém (inclusive eu) soubesse disso
Evitaria internar alguém em um hospício
Monday, August 06, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:45 PM 3 comments
PAPAGAIOS
Há vinte anos tomo Haldol e ainda não me curei porque não tem cura:
por que não tem cura?
Continuo vendo papagaios ao invés de ratos no meu quarto e
sei que não tem papagaio algum: são só ratos
O q um rato pode fazer de mal a alguém? Garanto que um outro
ser humano pode fazer mais mal do que os muitos ratos q não são papagaios
q vejo.
O fato de ver papagaios ao invés de ratos é uma dádiva. Imagine se eu visse ratos?
Imagine se eu visse seres humanos?
Os papagaios pelo menos falam com a gente.
Friday, August 03, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 12:30 PM 1 comments
Comi um pastel de minhoca.
Peidei um certo aroma de jasmim.
Algumas coisas acontecem com o meu braço quando escreve sobre animais.
O braço abraça a barca da loucura onde um esqueleto é o capitão.
Enquanto ele comanda o leme eu vou remando contra o vento e a maré.
Alguma ilha quer encontrar.
Diz alguma coisa sobre mim e a maré e a mosca e a tarântula. A borboleta não precisa.
Silencio.
Ela voa.
Wednesday, August 01, 2007
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:48 AM 1 comments