FRAGMENTO.

meu eu
tão pequeno
que me algemo
para me aumentar

seu ego
tão grande
que sonego
o seu olhar

solitário andar
por entre a gente


trazer você pra dentro
da minha
música

de repente


deixar a noite ir
vazia e tísica

abrir espaços dentro
da minha física

Tuesday, December 30, 2008

MONÓLOGOMANIA.

Matei muita gente nessa vida. Nessa vida, que embaraçada sobre a minha mão, acolhe-me por um segundo: como se duas mãos se misturassem tanto que fossem caindo uma a uma de si. Matei. Roubei. Gaguei e peidei dinheiro porque o importante não era o dinheiro e sim o poder. O poder é uma bola de sabão e eu flutuo dentro dela. Sou um porco. Sujo. Imundo. Nojento. Abjeto. E qualificativos vários que aqui poderia enunciar, mas não o faço porque sou generoso comigo. Vomito um ventre novo por dia. Bebo. Esfolo bocetas selvagens e me dou um sonífero antes de dormir.

Sunday, December 28, 2008

Foge o silêncio pelo ralo
Nasce uma flor em meu falo

Às duas horas da manhã
Ele acorda pensando no satã

E a minha palavra sempre exígua
Está mais morta do que viva

Deus não é um diabo invertido
É só mais um ser oprimido

Pela beleza que o crânio carrega
Quando defeca tudo que nega

Enfim, ando meio puto com
Deus fazendo meu Satiricon

Thursday, December 25, 2008

NATAL.

É muito difícil escrever um poema
de natal.
Não é muito difícil. É dificílimo.
Por que quero escrever sobre uma metáfora: ela?
Por que? Um bilhão de porquês.
Por que todos não vão pro céu?
Eu acredito em papai
Noel.

Tuesday, December 23, 2008

CACHORROS AZUIS, POR MARCIA TIBURI.

Todos os cachorros são azuis de Rodrigo de Souza Leão (ed. 7 Letras, 78 páginas) é um grande conto, dividido em quatro partes cujos títulos merecem menção: Tudo ficou Van Gogh; Deus não: deuses; Humphrey Bogart contra Charles Laughton; [Do gr. epílogos]. Confesso que comecei a ler (desta vez não pela capa), mas pelo título e pelos subtítulos. Pensei: se for ruim (ou seja, cansativo, só uma historinha, metido à besta, etc.) desisto logo com aquele tantinho de dor que sobra quando se tem uma frustração literária. Continuei porque era o contrário. O assunto perfeito: um rapaz de 38 anos vivendo em um hospício, rodeado de pessoas que não aparecem senão como fantasmagorias que mostram o quanto a vida dita normal também não empolga pela ordem (o pai, pediatra que vira psiquiatra para entender os filhos, os enfermeiros meio policiais, a mãe açucarada fazedora de bolos, a turma da injeção benzetacil…) e fazem a vida alucinada muito mais interessante. O protagonista divide sua mente com as alucinações Rimbaud e Baudelaire. Diante deles a tal “realidade” é que merece um desconto. Diante deles é que o protagonista pode lançar que “quero ser promovido à alucinação de alguém”. O protagonista, a propósito, é um sujeito que engoliu um chip, quebrou tudo dentro de casa, foi internado pelos pais que dez anos antes souberam que ele tinha engolido um grilo. Depois disso o que ele engole é o Haldol.
O estilo de Rodrigo Leão é uma grande qualidade de seu escrito. Para quem gosta de tratos sérios com a linguagem, será leitura das melhores. Quem espera, no entanto, só uma historinha contada, ou tem pouco senso de humor, não leia o livro, nem a última parte, a do “epilogos” em que o protagonista resolve nos contar sua aventura com uma “liga que agregava todos os seres do universo”. A liga tinha também a sua língua: TODOG. Sua vantagem era que ninguém a entendia, e, por isso, unia a todos que estivessem dispostos.
O fim da história, se ele saiu ou não da clínica, se viveu, se morreu, eu não conto, mas garanto que é tudo bem parecido com o mundo que todo mundo conhece. E, por isso, mesmo, assustador.

Sunday, December 21, 2008

MY ONLY FRIEND: THE END.

Aquele número telefônico. De vinte anos atrás. Aquela série de seis números. Aquela esperança de te encontrar um dia. Voltou tudo. Mexia nas gavetas e encontrei aquele guardanapo. Pedaço. Ponte entre mim e você. História que não aconteceu. Um beijo apenas que nos separou. Tudo voltou. Por um segundo. Por um minuto. Tudo apareceu de novo. Como se existisse algo ainda entre nós. Algo como aquele beijo. Aquela noite de beijos. O número estava lá para ser digitado e liguei e você não estava lá. E o telefone não era mais seu e por que eu havia encontrado aquela memória naquele dia? Aquela circunstância. Eu liguei de novo. Percebi que não sabia seu nome. Você podia ter filhos. Família. Marido. Namorado. Percebi que tudo só podia ser lembrança. E fogo ardendo agora para que o nunca mais esteja entre nós. Eu queimei o guardanapo e enquanto via o azul do fogo e o amarelo Gogh consumindo o meu passado com você, percebi que você era minha musa. A mulher que sempre quis. A mulher que não falou comigo. Só me beijou ardentemente enquanto uma banda de roque tocava. Uma banda que eu gostava e você também. Será que você ainda gosta? Eu não gosto mais. Tudo mudou e nada mudou. Os cabelos brancos no peito que estão subindo pela barba e descendo pelo púbis. Tudo é o nosso desencontro. Como se nunca existisse um nós. Não. Existiu. Por uma noite. Algumas horas. Éramos tão jovens que nem percebemos que aquela seria a nossa primeira e última vez. Finito como um eletro-choque. Puro. Fim. In.

Saturday, December 20, 2008

TRAVECO.

Átimo de pedra sobre nuvem
Átomo de plástico

Corredeiras de enguias-crustáceas
Outro sonho pesado pesadelo

Tamanho do ósculo de sangue
Coagulado em algum ponto do sofá

Pende um minúsculo objeto do ventre
Dela pode-se esperar qualquer coisa

Friday, December 19, 2008

CARTA DO LEITOR E POETA PEDRO RODRIGUES.

OLÁ, RODRIGO! TUDO BEM?
RECEBI SEU LIVRO PELO CORREIO HÁ QUASE DOIS MESES, UM AMIGO CARIOCA O PEGOU PARA LER, MAS NÃO DEVE TER GOSTADO, PORQUE NÃO FALOU NADA. NÃO SABE O QUE PERDEU!
SOFRI UM PEQUENO ACIDENTE DE BICICLETA, EM QUE PODERIA TER IDO DESTA PARA, NÃO SEI QUE ADJETIVO SUPERLATIVO USAR, O FUTURO LOCAL QUE NINGUÉM SABE ONDE É QUE VAI DAR. MAS ESTOU AQUI, JÁ LI O LIVRO, AS PASSAGENS DA INTERNAÇÃO SÃO FANTÁSTICAS, PORQUE POR MENOS TEMPO QUE EU TENHA FICADO NA SANTA CASA, MUITA COISA DO QUE VOCÊE SCREVEU ERA O QUE TINHA ACABADO DE VIVER COM A CARA TODA ARREBENTADA NAQUELE LUGAR ESCROTO.
A CONTEMPORANEIDADE É FATOR MUITO RELEVANTE, POIS DIZ REPEITO A UMA GERAÇÃO, A NOSSA, COM DIREITO A VERSOS MUSICAIS DE RENATO RUSSO E TODOS OS ÓTIMOS AFORISMOS ETC. ISSO É MUITO BOM, É IDENTITÁRIO, É MUITO PRÓXIMO.
O TEMPO ESTÁ PASSANDO, ESTAMOS NOS AFIRMANDO COMO"ADULTOS", COMO ESCRITORES, POETAS, ENFIM... EENCONTRAR ALGO QUE É DO SEU TEMPO RELATIVOEINSTEINIANO NUM LIVRO É UM PRIVILÉGIO. PRECISAMOS DE MAIS LIVROS ASSIM. E A FICÇÃO, CARA!... O QUE EU POSSO DIZER?
PROCURE
TAMBÉM SOU MÚSICO EM FASE DE REGRAVAÇÃO. NO MESMO SITE, NO LINK "SOPA/POETAS", PROCURE POR "NUNNO DORA". TUDO INDICA QUE SEREI HOMENAGEADO AGORA DIA 29/12/2008.
LÁ NO CLUBE. O CONVITE JÁ ESTÁ FEITO. ENTRE NO SITE, OUÇA AS MÚSICAS, TEM UMA GALERA SUPERLEGAL PRA CONHECER E ÓTIMOS COMPOSTORES E COMPOSIÇÕES. OS POETAS PRIMEIROS SÃO DE PRIMEIRA LINHA, O QUE PRIMEIRAMENTE E ULTIMAMENTE ME APETECEU MUITO NOS ULTERIORES QUATRO MESES À INAUGURAÇÃO DO LINK.
UM GRANDE ABRAÇO!
PARABÉNS!
OBRIGADO!
TODOG!!!
PEDRO!!!

Tuesday, December 16, 2008

Camboja.

O copo A noite A morte
Enfim o grito de socorro

A britadeira ou o som
Do motor no dentista

Faz desaguar o mar que há
Numa criança

Mija

Monday, December 15, 2008

uma mãe como eu fui quer.

no diagrama da manhã
cutuquei minhas folhagens
e erigi meu diadema
entre os olhares das tatoo

quantas tristezas me fiz hoje
se o dedal me fere mais
do que a angústia de agulha
em meu ventre que ubíquo é

o filho que me olha parado
dedilha o meu sentimento
e refuga o meu corpo

diante de mim quero-o filho
amamentando o sutiã do dia
com cada vento que nos poluir

Friday, December 12, 2008

DIREITOS HUMANOS.

Deveres humanos são direitos quando um míssil percorre o azul do olho de uma criança que suspira um horizonte de chamas. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. A humanidade cinza de quem desfigura um índio na calçada e joga as tranças de Rapunzel pela janela da própria boca. Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua,de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. A quem reclama da fraterna esfera celeste aquela abelha redonda de bola de fogo e aquele cão de sutiã. A quem pede ao fogo que decalque mais rapidamente os galhos em que os sagüis se acostumaram a tomar Fanta uva. Nega a si mesmo o dever de seguir no caminho traçado pelo esboço do que foi o seu almoço e ilha seu eu no paradoxo mais perto porque tudo parece muito bem empregado neste cemitério. Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. De que adianta sobreviver na estrita terra que leva tuas mãos ao marasmo do armário cheio de roupas cuidadosamente arrumadas por um personal arrumador de roupas. Há personal para tudo. Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Há um nascer e um morrer todo dia há o existir e há um elixir para o existir que é o bocejar. Paz cão. Peace Dog. Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis,desumanos ou degradantes. Entre os dois irmãos que lutam pelo poder foi o que cuspiu no outro que morreu primeiro. Foi o primeiro que morreu primeiro. Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.
Advogo em situações difíceis como a sua. Mas não dá para trazer o horizonte para o mar e nem levar o vice para o versa. Versa versejar o pouco de vento ainda e respirar ouvindo um átomo de colibri girinascendo. Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Nelson ficou preso uma porrada de tempo levando cordas para o seu suicidador suicida-lo na dor mais torturante. Toda a pessoa direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. No olhar de mamãe há um saco de boxe e dizem que sou eu que dou o soco nela todo o dia. Ninguém pode ser arbitrariamente preso,detido ou exilado. Os padres rezam com a fé de que o céu nunca pode cair sobre suas cabeças. Tudo é possível até na impossibilidade há a segurança de que tudo é impossível. Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Num sei quem julga é Deus e virá para os vivos e os mortos. Os mortos coitados dos direitos dos mortos. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. Até os mísseis que olhavam Cuba com bons olhos beberam naquele dia em que Fidel engoliu-se de falar. Fidel estava Castro ainda. Castrando. Mas será que saber que está sendo Castrado é melhor do que acordar castrado? A ditadura do invisível é invencível. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Cláudio Manuel da Costa era maior do que o espaço que foi enforcado. Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Há programas do Gugu que salvam uma pessoa por semana enquanto o resto come a mão ou a colher com sal. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. O mundo em Ibiza. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Londres e seu fog nunca voltaram a quem foi e alguns ficaram em Londres e pior os que Brasil na testa escrito tiveram que ser brasileiros. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. Baby eu dormi na praça pensando nela. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Nobel foi o inventor da dinamite. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. A nação Rubro negra é católica e canta hinos bonitos. Eu sou mengão com muito orgulho com muito amor. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Nunca quis ser americano. Nem torcer pelo Botafogo. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família,sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.Um amigo que nunca foi amigo me mostra a foto da mulher nua e pergunta se ela é gostosa. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado. A Fat Family vai tocar no Canecão. Toda a pessoa, individual ou colectiva, tem direito à propriedade. A Igreja é a maior detentora de terras e os cemitérios deveriam ser no Egito vivo. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Quem é o proprietário dos meus sentidos? Quantos sentidos têm a vida? Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção,assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção,sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Eu comunguei quando pequei e depois disso só pequei! Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Viva a lista sem discussão. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. Ninguém pode bater num homem de saias. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. A carteira de sócio atleta federado está sendo vendida por quinze mangos. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, público do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Se o porteiro pode votar pode ser poeta. Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Eu não sou profissional da escrita e nem quero ser. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Os meus interesses são o de ficar mais rico do que o mais rico dos riquinhos e peidar dólar. Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Das sete até ás dezenove horas papai trabalhava no Hospital X e depois ia dar plantão no Hospital e um dia perguntei quem era aquele homem que dormia com mamãe e era pouco visto e era ele mesmo. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Engraxa o sapato da cola. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Pode escolher entre educar em Esparta ou Atenas? Eu estudei tanto que hoje sou burro. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Principalmente os chatos como eu. Os chatos como eu são chatos. Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. O espaço, a fronteira final estas são as viagens da Enterprise em busca de novos mundos audaciosamente indo onde quem sabe o mal que existe por detrás dos corações humanos. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente e aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Carcará pega mata e come. Nenhuma disposição da
presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados. Acabaram com o World Trade Center e deixaram a estátua da liberdade intacta. Os loucos têm seu céu particular. O meu dever é sempre fazer a lição de casa e um bom menino não faz pipi na cama.

Wednesday, December 10, 2008

ENTREVISTA PARA JULIANA KRAPP. JB.

RIO - O narrador de Todos os cachorros são azuis (7Letras, 80 páginas, R$ 25) é um esquizofrênico. Por isso, a trama do segundo livro de Rodrigo de Souza Leão – o primeiro em prosa - se passa, em sua maior parte, num hospício. Ou dentro das alucinações do protagonista-narrador, que tem amigos imaginários como Rimbaud e Baudelaire. Que acredita que engoliu um chip, ou um grilo. E que, fazendo jus ao estilo do jovem autor, encadeia uma narrativa exuberante, repleta de um lirismo – por que não dizer? – alucinado.
É, o próprio Souza Leão, um esquizofrênico, que se baseou em sua experiência pessoal para compor o livro. Não por coincidência, ele começou a escrevê-lo depois de sua segunda internação, em 2001 (a primeira fora em 1989), com o “quarto escurecido por doses de Litrisam”. Ao aproximar sua prosa da esquizofrenia, o autor também a aproxima da poesia, como conta na entrevista abaixo.

1 - Como e quando começou a escrever o "Todos os cachorros são azuis"?

Prefiro responder primeiro quando começou e depois responder como.

Comecei a escrever “Todos os cachorros são azuis” depois da minha segunda internação, que foi em 2001. Não me lembro exatamente o mês. Eu estava com 120 quilos de peso e muito gordo para o meu metro e setenta e um. Faço questão desse um, rs. Suava muito porque fazia um calor infernal. Agora me lembro. Era verão. Voltava de mais uma estadia no inferno. Internações são muito traumáticas. Às vezes não é necessário internar, ainda mais como eu fui, da maneira como foi. Estava em casa e minha família muito atormentada com as coisas que estava fazendo e acontecendo na minha vida, resolveu sair de casa e me deixar só com minha avó que era viva e estava com noventa anos e numa cama. Eu avisei a eles que se saíssem não iam mais entrar. Duas horas depois eles tocaram na campainha. Eu havia passado o trinco na porta. Falei que ninguém iria entrar. Mas era uma mistura de brincadeira com uma tentativa de dar um susto neles. De eles não me abandonarem. Mas eles chamaram a polícia. A polícia arrombou a minha casa. Eu havia acabado de passar um interurbano para Minas e estava ao telefone com a Silvana Guimarães. Não ouvi o barulho. Pelo menos a PM teve o cuidado de tirar as armas antes de invadir meu lar. Eram três policiais militares e eles tentaram durante uma hora me convencer a ir para o Pinel. Não tocavam em mim. Mas deixavam claro que se fosse necessário, usariam de força. Vendo que demoravam muito, oficial mais graduado resolveu subir. Ele estava em baixo, na viatura. A princípio expus meus argumentos. Falei que se tratava de uma brincadeira. Mas não deu e resolvi ir sem necessidade de ser usada a conhecida força policial. Sai do edifício escoltado por quatro policiais. Me botaram numa viatura e me levaram para o Pinel. Meu irmão foi junto comigo e meus pais foram no carro da família. Cheguei ao Pinel e minha família optou por me internar numa clínica particular. O hospício que havia ficado internado pela primeira vez em 1989.
Fiquei internado por vinte dias. Quando voltei a minha casa, dois dias depois, no meu quarto escurecido por doses de Litrisam, comecei a escrever “Todos os cachorros...”.

Agora o como? Eu já havia escrito “Carbono pautado – as memórias de um auxiliar de escritório”. Uma prosa mais convencional. (Século XIX). O “Carbono...” (ainda bem) não teve boa acolhida em nenhuma editora. Era um texto de duzentas páginas.
Quando começo a escrever uma narrativa não sei quantas páginas vai ter. Mas queria escrever uma coisa diferente e com menos quantidade de páginas. Escrevi uma página por dia e ao final de quarenta dias tinha uma novela em estágio embrionário. Necessitava de revisão e de uma burilagem. Teria que mexer mais no texto final. Mandei para Leonardo Gandolfi e Franklin Alves Dassie, meus amigos. Eles acharam o livro ótimo. O Leonardo deu uns pitacos que me ajudaram muito. Fiquei com aquilo guardado. Depois de um tempo mandei fazer uma revisão e enviei para algumas editoras. Fui rejeitado por todas, menos a 7Letras. O Jorge Viveiros de Castro gostou e queria publicar, mas eu não tinha grana alguma para ajudar. Veio o prêmio da Petrobras e ganhei a bolsa. Reescrevi o texto todo e acrescentei mais um capítulo. Aleluia!
2 - Apesar de ser um livro autobiográfico, não é narrado de forma linear. Como foi o seu processo de escritura?

O meu processo foi o de tentar aproximar a prosa à esquizofrenia. Para isto, resolvi achegar a prosa à poesia. A linguagem natural de um louco é, digamos, um pouco poética. Quando um poeta diz, por exemplo, “Guardei o Sol em sete partes”, usa uma linguagem específica. O Sol não tem partes e nem pode ser guardado. Só num poema isto é possível. Por isso, o livro pode ser poético. Foi isso que busquei. Fiquei possuído por esse espírito e acho que não errei de todo.
Queria também ser ágil e um pouco diferente sem ser chato. Já existem muitos escritores herméticos e chatos, não queria ser mais um em que o hermetismo fosse o principal da narrativa. Mas nunca facilitei o texto. Usei também muito a repetição. Repetia que tinha engolido um chip, que engolira um grilo e outras coisas mais. Só não havia engolido espadas. Aliás, nem gosto muito de ver mágica e magia.
3 - Você já disse algumas vezes que tem esquizofrenia. Gostaria que você falasse um pouco sobre como isso influencia a sua escrita.

Sou esquizofrênico. Tomo remédios coloridos para poder me controlar e viver da melhor forma possível. Se devo algo – e devo muito –, devo a escritores como Ruben Fonseca, João Gilberto Noll, Wilson Bueno, entre outros; eles é que fizeram eu escrever. Acho que estou indo, mas muito longe deles. Aliás, não dá nem para chegar perto de gente tão boa como esse pessoal aí de cima. De modo que a esquizofrenia em si não me ajuda; muito pelo contrário, me atrapalha. Ser esquizofrênico é muito difícil. Depois que li num compêndio psiquiátrico que a esquizofrenia é uma doença “altamente incapacitante” fiquei preocupado. E se eu piorar? Como manter um controle para escrever? Existe o mito esquizofrenia/inteligência. É um problema. Imagina o que o matemático Nash teria feito se não tivesse alucinações persecutória e ouvisse vozes e visto alucinações. Sua contribuição teria sido bem maior.
Van Gogh. não teria arrancado a orelha e talvez não tivesse feito sua obra com tamanha criatividade. Mas teria vivido melhor. Ser esquizofrênico é muito ruim e não faz de ninguém um ser melhor.

4 - Imagino que algumas das alucinações que aparecem em "Todos os cachorros" você tenha experimentado, de fato. Mas nem tudo é memória. Como surgem essas idéias alucinatórias, esse jeito no qual a própria linguagem puxa o insólito?

A esquizofrenia tem diversos níveis. Cada louco é um louco. Na minha experiência não tive muitas alucinações auditivas e visuais. Mas vivo com sensações persecutórias. Acho que estão me perseguindo e que vou ser assassinado. Convenhamos que isto não trás tranqüilidade. O que tenho é atualmente chamado pelos psiquiatras de distúrbio delirante. Para o livro coloquei um protagonista que via e ouvia alucinações. Aproveitei experiências do meu irmão Bruno. Ele é bipolar e já teve uma psicose séria. Só voltou a si graças ao eletro-choque. Ficou abobado, mas agora está normal. Misturei também as duas internações que existiram na minha vida. A primeira foi muito traumática. Fui internado com camisa-de-força. Me botaram num cubículo. Me deram um sossega-leão. Fiquei na ala destinada ao Suis. Foi horrível. Um verdadeiro pesadelo. O lugar da clínica onde fiquei era tão ruim que o chamavam de Carandiru. Mas não culpo ninguém da minha família por isso. Não havia outra opção. Amo muito minha família.

5 - Você está investindo mais pesado na prosa?
A poesia secou em mim. Eu já escrevi muitos poemas. A maioria da minha produção é disso. Mas a prosa vem me dando mais frutos. Também não consigo escrever algo um pouco melhor no formato poema faz muito tempo. Sinto que não tenho nada mais a dizer. Apesar de a poesia me tocar, eu sinto que ela está me abandonando. Fugindo. Escondendo-se de mim. Mas confesso que tenho mais facilidade de escrever poemas, um tanto ruins, é verdade. A prosa é uma coisa difícil e não me faz mais feliz. Tenho dificuldade realmente. A prosa requer uma paciência que tenho aprendido.
Tenho uma teoria boba na poesia: a de que a forma tem que ser apolínea e o conteúdo dionisíaco. Mas isso só vale para um estudo superficial, porque forma é conteúdo. Digamos que o apolíneo e o dionisíaco me abandonaram. Fiquei muito só na poesia. Percebo também que meus poemas estão meio que datados (alguns). Procuro sempre novas formas de escrever algo. Sou impaciente. Mas percebo que era melhor poeta quando tinha mais caoticidade nas minhas coisas. Hoje escrevo de forma mais simples. Nunca perfumei a flor, contudo fui simplificando demais meu texto. Também tem algo que ainda não disse. Minha prosa é meio poema. Uma elipse aqui, uma metáfora ali, e assim seguimos.
6 - E a poesia, como anda?
A poesia é uma coisa muito difícil. É complicado publicar um livro. Custa um dinheiro que não tenho. Gostaria que ao lerem minha prosa fossem procurar meus poemas. Existem três e-books sobre loucura e internação. O primeiro é “Síndrome”. Graças a este livro fui incluído na antologia feita por Claudio Daniel e Frederico Barbosa. Ela se chama “Na virada do século – Poesia de invenção no Brasil”. Foi uma vitória, porque lá estou junto com nomes bacanas. “Síndrome” é sobre a minha primeira internação. Tem uma linguagem muito particular. Pode ser encontrado na editora Virtual Books. Também por esta casa editorial publiquei “Suorpicios Mind”. Trata-se da minha segunda internação. Falei muito dela na primeira pergunta. É um texto em que há muito o hermetismo e um pouco da coisa surrealizante. O outro e-book está no site da Germina. Denominei-o de “Cataclismo”. Tem o prefácio de Sebastião Nunes que captou bem o que eu queria abordar; ele foi muito simpático. A temática é também a mesma, mas os poemas formam um conjunto, digamos, mais harmonioso e a escrita não é fechada. Gosto disso. De mudar de estilo. Sou qualquerista. Um movimento que inventei. O qualquerismo tem um integrante só. Um movimento do eu sozinho.
Mas uma coisa que queria deixar claro. Não sou médico, psiquiatra ou psicólogo. Me formei em jornalismo. Não quero ser conhecido como um chato que só fala de loucura. Nem como portador de uma boa nova. Tenho outros e-books e o meu primeiro livro impresso chama-se “Há flores na pele”. Um livro sobre amor. Afinal, o amor.
7 - Na verdade, será que é possível, ainda mais no seu caso, separar poesia de prosa?
É possível, mas não no caso de “Todos os cachorros...”. O bom deste livro é ser uma prosa sem muito limite, mais parecido com determinado tipo de poesia.
Como comecei escrevendo poemas e me dediquei a isto desde os dezoito anos, penso que é uma coisa que acontece naturalmente. Pelo menos foi assim com “Todos os cachorros...”. Mas tenho livros menos próximos da poesia. Inclusive o que estou escrevendo.
Creio que – como trabalho nesta nova narrativa com outros temas que me pedem outra escrita – este texto novo vai seguindo na direção que acho mais correta. Uma coisa mais contida. Por enquanto estou com um material de um romance de 300 páginas. Chama-se Tripolar. Serão novelas que, entrelaçadas, podem dar em um romance. Preciso trabalhar ainda muito neste novance. É como chamo este misto de novela com romance. Mas o importante é que é uma narrativa que não entra em uma categoria específica. É um híbrido, melhor, uma mixagem como se eu fosse um dj.
8 - Você já lançou e-books, tem um blog, colabora para sites, tem uma vasta produção online. Como a internet incide na sua criação?
A internet foi mais importante na minha formação do que na minha criação. Comecei publicando um e-zine. Era um fanzine distribuído por e-mail. Publicava poemas, textos e entrevistas. O nome deste veículo que escoava a minha produção era Balacobaco. Circulou por quase seis anos. Pude entrevistar diversos escritores. De alguns virei amigo. Eles me mandavam seus livros. Assim entrei em contato com boa parte da produção de literatura da nova geração. Depois veio o site Caox. Eu fazia o design do sítio cibernético. Fui um dos fundadores da revista Agulha. Colaborava como webmaster e como repórter. Mas só fiquei um número. Não gostava muito da função de web designer. Hoje em dia atuo em três frentes. Atualizo o meu blog http://lowcura.blogspot.com e faço entrevistas e resenhas para a Germina http://www.germinaliteratura.com.br e ainda edito junto com o poeta Claudio Daniel a revista Zunái http://www.revistazunai.com
Não considero que exista uma escrita específica na internet. Fica claro que o que há é um vocabulário diferente, mas ainda não chegou a influenciar tanto assim os escritores. Muita abreviação e adaptação. Creio que caberá à moçada da novíssima geração escrever o internetês em livro. Como tenho 43 anos, não fui educado com essa linguagem. O fato: existe uma nova forma de escrever no mundo, mas desconheço ainda algum escritor que trabalhe ostensivamente neste sentido.
9 - E o pesa-nervos acabou?
O pesa-nervos foi um blog criado por mim, pelo Franklin Alves Dassie e pelo Leonardo Gandolfi. Eles não estavam ainda nesta onda da rede que passou a ser surfada por muitos. Franklin e Leonardo são professores universitários, outro clima. Têm uma bagagem cultural muito enriquecedora para mim. Tornamo-nos grandes amigos.
A princípio eu atualizava o blog, já que tanto um quanto o outro não estavam enturmados com o formato. Publicávamos textos pequenos, poemas, fotos de telas, cultura em geral e poesia no particular. Aos poucos Franklin e Leonardo aprenderam como fazer um blog e então o primeiro ficou com o Pesa em http://pesa-nervos.blogspot.com e o segundo criou um chamado Robert Míssil. Todos moramos no Rio de Janeiro e mantemos um profícuo relacionamento cultural e de amizade.
10 - "O louco é muito sedutor", diz um trecho do livro. É verdade?
É uma verdade relativa. Temos que relativizar e ver que tipo de louco é sedutor. O louco que seduz é aquele que não tem conexão muito forte com a realidade e vive dentro de um estereótipo: o de usar roupas folclóricas e ter todo um aparato que o faz ser reconhecido como doente em qualquer lugar.
11 - E para a literatura? A loucura é sedutora?
Esta pergunta está ligada à de cima. A loucura que interessa é a esteorotipada. Existe muito esquizofrênico e muito bipolar que tenta e às vezes consegue levar uma vida normal e até ter uma visão crítica da própria da doença. É o meu caso. Mas o doente mental que interessa mesmo é o folclórico. Como me visto como uma pessoa normal e tenho uma articulação discursiva boa, não devo ser muito interessante para isso.
12 - Falemos sobre a produção dos loucos. No campo cultural, quais os loucos que mais lhe instigaram?
Van Gogh foi quem mais me instigou. A relação que tinha com o irmão é muito parecida com a que tenho com meu irmão Bruno. Ele é um puta companheiro. Nós nos ajudamos mutuamente. Outro que era diferente é Marcel Proust. Talvez não tivesse uma patologia forte, mas não tinha um grau de sanidade muito alto. Sua contribuição à literatura foi fundamental. Outro borderline era o Kafka. Chegou a ponto de pedir ao seu melhor amigo que queimasse quase tudo que havia escrito. Ainda bem que isso não aconteceu. Artaud vivia uma dupla dificuldade: homossexual e louco. Há muito o que falar nessa seara, mas, sinceramente, não me sinto muito capaz de falar bem disso, acho.

Saturday, December 06, 2008

DOMINGO.

Tudo é cheiro nesta esquizofrenia inoculada.
De viver cansado (e com alguém para amar)
também me canso. Este céu que eu respiro,
a quase um pulo, é todo decadência. Os deuses
todos provaram todos que não estão nem aí
para nós. Peido na farofa e sei que vou morrer
asfixiado. Tipo um suicídio quase tão presente
quanto este domingo. Quando algum efeito
colateral provocar em você (não me provoque).
Quando o quase toque vai se aproximando
sei que me afasto. Talvez não queira só um
simples contato imediato. E sim colocar na
boca coisas várias como Eros e Tanatos,
Ogum e Cristo rei: ou algum deus Inca
que não sei o nome. O que será que Platão
queria dizer ao certo não sei nada. Alguma
espada vem se esforçando para degolar-me
e a primeira coisa que quero quando chegar
é uma vitamina de banana: banana engorda e
faz crescer. Tostines só é bom fresquinho
e ele está sempre bem fresquinho e pronto como eu.

Thursday, December 04, 2008

JB ON-LINE.

Salve pessoal

Juliana Krapp, do Jornal do Brasil, fez uma entrevista legal comigo. Convido-os a darem uma olhada em http://jbonline.terra.com.br/editorias/ideiaselivros/

Wednesday, December 03, 2008

FOLHA DE SÃO PAULO, SEXTA-FEIRA PASSADA.

Todos os Cachorros são Azuis – Rodrigo de Souza Leão

Houve um tempo em que nem todos os escritores desejavam ser Charles Dickens ou se identificavam dizendo “sou apenas um contador de histórias”. Esse tempo acabou, mas volta e meia surge alguém para lembrar que a literatura nem sempre se compõe só de historinhas contadas tim-tim por tim-tim. Não me refiro ao experimentalismo inócuo (se chamam o romance de experimental, é porque a experiência não funcionou, dizia William Burroughs), mas à porra-louquice literária e muito bem-vinda.

É onde se encaixa “Todos os Cachorros são Azuis”, novela de estréia de Rodrigo de Souza Leão. Misto de diário hospitalar com delírio quimioterápico, é um livro que tem antepassados em Lima Barreto, Maura Lopes Cançado, Campos de Carvalho e Waly Salomão. Doidão, o narrador vai parar no hospício, aonde encontra seus melhores amigos, Rimbaud e Baudelaire. Curado, funda uma religião, o Todog, e uma nova língua. “O que é a morte, mãe?”, ele pergunta. Ela responde: “A morte é uma novela da Globo, filho”. É de morrer de chorar. Ou de rir?

Joca Reiners Terron

Tuesday, December 02, 2008

 
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