MAIS E MAIS TRECHOS DE TODOS OS CACHORROS SÃO AZUIS.

Tudo começou quando engoli um grilo em São João da Barra. Eu tinha 15 anos de idade. Estava indo ou voltando. Sempre estava indo ou voltando. Só parava pra voar. Assim eram meus 15 anos, e foi como tudo começou. Nenhuma mulher saiu de mim. Nunca. Fui eu quem sempre entrou em minha mãe. Lá estava ela bela e bonita, transando com papai. E eu vi, e era apenas mil novecentos e setenta. Não foi um trauma. Eu costumava andar com um cachorro azul de pelúcia. Meu cachorro não era gay por ser azul. Só era azul. Também não tinha as noções de feminino e masculino naquela idade, ou tinha. Na verdade, eu já me masturbava e papai, com muito jeito, pedia para que eu tirasse a mão do meu pinto. Lembro-me de uma psiquiatra nos meus verdes 15 anos, que me dizia que eu era homem porque me masturbava, não tinha por quê ter crise de identidade. Eu não tinha crise de identidade, porque vivia correndo atrás daquela mulher no horário da sessão. Ela chegou a me ameaçar, dizendo para o meu pai que se eu continuasse a querer agarrá-la eu teria que sair da análise. Ela falou que não agüentava dar conta de mim e reclamou porque eu não fazia um desenho e não brincava com a massinha. Eu imitava um golfinho deitado no divã. Meu pau ficava duro e eu o friccionava o tempo todo, enquanto o golfinho nadava dentro de mim.
Uma vez, virei uma planta por uma hora de sessão. A mulher pensou que eu estava em estado catatônico. Ela ficou nervosa. Foi a mesma coisa que fiz com uma namorada, e ela teve a mesma reação. Fiquei sem falar e parado. Como se tivesse engolido uma baleia. Durante uma hora, a baleia que estava dentro, estava fora, e eu vivi preso dentro de um manicômio. Os manicômios são lugares muito bonitos. São lugares com muitas flores e árvores. Não fiquei num lugar cinco estrelas, também não fiquei no pior lugar, mas vi muita coisa quando Alfonso me dizia que ia para Paracambi. Paracambi é aqui.
Tudo era um pouco ficar calado o tempo todo como se ninguém merecesse que você falasse algo nobre e importante.
O que todas aquelas pessoas de branco tinham a ver com o fato de eu estar vomitando sangue? Levaram-me para o Miguel Couto. Pensaram que eu estava com tuberculose. O Miguel Couto era o hospital referência para casos de dengue. Havia uma epidemia de dengue na cidade. Havia muitos hipopótamos deitados. Algumas tartarugas andando de quatro rodas. Passei pela porta do hospício. Quis me levantar e fugir. O pior: fugir pra onde? Quem iria acreditar na idéia de que eu estava com um chip implantado dentro de mim? Havia tanta gente, que se eu dissesse que o Maracanã em dia de jogo do Flamengo estava ali não seria nenhum eufemismo.
Botaram tubos em mim e começaram a fazer sucção. Fui abduzido por extraterrestres.
Eu via uma luz passando pelo meu corpo de menino de cinco anos e segurei meu cachorro azul. Desmaiei por alguns segundos. Depois Fronsky estava lá.
Voltaremos para te buscar quando você tiver 18 anos.
Macas por todo o campo. Gente andando com soro dependurado. Tubos saindo da boca de extropiados. Tudo ali era Acneton. Da minha veia, tiraram o meu sangue. Eu agora estava indo tirar uma chapa torácica. Como é que um cara gordo como eu pode sofrer com algum problema que não seja obesidade? Eu deveria estar num spa, e não no Miguel Couto com aquela crise de dengue. Uma samambaia começou a crescer do meu lado, feito um pé de feijão. Eu fui subindo as escadas, ancorado por dois médicos fortes e gordos como eu. Havia toda aquela gente pobre, superpobre: aquilo era o Brasil. Uma zona total. Gente caída no chão. Gente chegando morta. Gente morrendo. Uma fileira de corpos deitados com etiquetas nos pés. Todos munidos de seus prontuários. E aqueles médicos tão jovens, que não sabem muito mais do que eu sei de biologia, fazendo gozação com a sua cara.
Olha que cara gordo!
Que homem gordo!
Que baleia!
onde encontrar: (21) 2540-0076 editora@7letras.com.br

Tuesday, February 03, 2009

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