O tempo nunca na nuca escuta. O tempo nunca.
Ele se repete enquanto vivemos no passado.
Alguma depressão de signos. Alguma conciliação
de plumas faz do carnaval algo da carne. Alguma
coisa que se apresenta como nova e não tem novidade
alguma. É só parar e olhar os ponteiros do relógio.
Eles sempre se encontram de hora em hora. Urge
saber apenas se as minhas repetições são esquivas ou
eqüinos de Lexotan seis miligramas que me deixam
calmo: eu preciso disso para viver porque sem os
remédios estou só. Vendo um temporal cair de uma
vez por todas: de uma forma devastadora: de uma forma
opressora: de uma forma em que os trovões atiçam o
louco em mim. Meu monstro cativo que trago decalcado
em um corpo antes gordo e hoje com as marcas do que
foi: foi bonito: foi singelo: foi um corpo: hoje é monstro.
Como se Charles tivesse perdido quarenta quilos. Mas
eu só perdi vinte e perdi ela numa novela: num novelo:
numa aquarela meio alegre e meio triste. Quase ninguém
sabe que sou esquizofrênico. Quase ninguém sabe que
sou pobre. Quase ninguém sabe nada de mim e sobre o
tempo tão absorto: tão sem graça que me acompanha:
tão tamanho que quase um elefante de Rivotril me engorda.
Sei que não existem novidades a dizer sobre o tempo, mas
de uma hora para outra vou perdendo o meu tempo aqui
neste poema e tenho que fazer o que eu não gosto: uma
amiga me ligou e ela tem um filho com a mesma doença
que eu: e não pude falar com ela porque estava com o tempo
preenchido por este poema que sequer diz nada sobre
o meu tempo e o verdadeiro Tempo gasto com coisas inúteis.
Quase agora estou perdido como sempre. Sentindo cheiros
que não quero. Vendo no Leponex um Haldol sincero.
Como se a minha egotrip fosse importante para alguém:
além de mim ninguém mais perde tempo com isso e agora
não chove: não nuvem: só sol: só lua: só Piportil: só quatro
vezes ao dia. Por que de noite tudo piora tanto que quase
esqueço desse Tempo que perdi: o redescubro (nos galhos)
(nas montanhas perto de minha casa) (nas alturas que onde
anda quem tem Tempo). Não tenho tempo e sim tardes como
esta em que escrevo sem parar porque preciso e só por isso.
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Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:03 AM
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