A flecha oculta um vôo: uma seta oculta uma flor: uma dicotomia:
algum paradigma. Quando olhar a garça (na lagoa) retira dos olhos
a graça. Quando o silêncio da garça sobrevoa (na lagoa): aquela lagartixa
: tão presa ao chão. Horas dali (na lagoa): numa outra vida fui você e
acabei batendo de frente com um trem. O trem que vem é o mesmo trem
que vai. Assim há dias dali (na lagoa): algum turista anda de pedalinho
e antes que a garça voe: um índio: há séculos atrás (na lagoa) mira o seu
arco na direção da garça. Atira-lhe a flecha. Não sou este índio. Não o
conheço. Matar a garça é tão normal para ele que ele pode ser ele enquanto
mata para comer o sagrado. (na lagoa): hoje em dia: peixes mortos sufocados
pelo lixo tóxico e alguma manhã impregna o meio-dia e é a noite que se
sente a falta da garça. Pois é noturno o seu vôo: como diurno. Mais muito
perto daqui (na lagoa) o índio matou uma garça, mas não matou a graça
simplesmente porque comeu a caça: matou para ficar mais selvagem do que
é. Matou porque só havia (na lagoa) aquela garça pra comer. Quando nós
que já comemos (na lagoa) a lagoa inteira e deixamos hoje em dia a garça
(na lagoa) espernear sufocada por um saco plástico. Ali (na lagoa) é onde
eu ando todos os dias falando comigo e respondendo as minhas perguntas:
como se pudesse voar como a garça morta que interpreta em silêncio sua
vocação para o branco. Hoje (na lagoa): há dias (na lagoa): há séculos.
LAGOA BRANCA.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 5:12 AM
2 Comments:
a garça é o simboço da graça,
elegante e alva,
as vejo todas as manhãs
em repouso imóvel
silenciosa e elegante,
tem mulher garça,
pescoço longo, corpo delgado,
perns esguias,nobres,
entre as duas meu coração balança,
pende mais pro lado da ave,
a natureza é mais sincera
lindo poema
mas ainda prefiro os urubus que nadam nús na baía de Guanabara...
beijo
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