1
a sinceridade das nuvens
que choram quando se encontram
comove meu olhar que transita hospedeiro
de algum azul que não tenho e quero
quando negra a manhã
açoita ainda a alvorada com espadas de sol
eu venho para brincar
com as nuvens que vejo nascer no dia
arrepiado de sombras
e sobras de cadáveres que guerrearam ontem
dizem que foram
para onde ninguém sabe onde vai quem não tem fim
aqui
ou quem tem um fim que não quis ter
pois ambos morreram na folia
e era carnaval
e se devoravam feito dois antropófagos
letrados
letárgicos
litúrgicos
se ofertando ao prazer demiurgo
de um beijo de florete ardendo entre o colo
e o reto
diziam que os índios americanos achavam que a maior humilhaçào
e pior que morrer
era verem seu cu tocado pela lança alheia
o que por muitas vezes acontecia
e fez com que milhares de índios morressem até entender
que uma bala perdida é igual a uma direcionada
e mata do mesmo jeito
2
jasmins descendo pela guela
via sangue arterial O positivo
e glóbulos
e hemácias e
leocemia a beira dos dias de fim de ano
índio de si
indiana jones e james bond e zumbi
fundando palmares nos tumores
covardes cavando covas no queixo de um morto
ou aquele afegão chutando um afegão
em rede
via televisão
ah, quanta cooperação
e eu só queria morrer na arena entre os leões
feito um gladiador suicida
pruridando sua última volúpia
arrancando os contornos das unhas
da primavera
incêndio em meu corpo e fogo no louco asilo
que velho escolho
como escopo
me esculpir do nada
as veias poluídas onde algas e fetos boiam
amalgamados pela vitrea chama
de meu cordão umbilical
vida, vida, vida, vida!
vomito tudo pra dentro de mim
brincar.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 11:04 AM
1 Comment:
a sinceridade das nuvens
é saber dizer: nõ estou!
morrer na folia do carnaval
é pra lá de bom
e o que dizem dos indios americanos
pouco importam, foram machos
e os jasmins são feitos pra cheirar
e deixa o james e o jones longe do zumbi
que não da samba
Post a Comment