Nuvens de Gardelona
Algum sagüi joga purrinha
Na minha mão digo lona
Enquanto enquantos crio
Palavras surgem pelos olhos
Mastigo meus dentes
Alguns entes do meu lado
Insistem em brigar com o cuidado
E aparecem como lobótomos
As cores insistem em a si pintar
E o infinito aqui não é azul
Um dromedário corcunda defeca
As flores no vaso nascem crocantes
Mastigo junto com ossos
Petróleo no mar: não há fossos:
a fórceps fósseis
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:04 PM 1 comments
ORÁCULO.
De novo Proust vem me indagar:
o
q
é
pó-
ética?
Eu respondo a Proust:
pô-
Emma
Thompson dá um caldo
Descon-
verso/mudo/inconvexo
Afinal/ele é Proust e deveria
Saber tudo sobre tudo
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:41 AM 1 comments
O CAÇADOR.
Dê-me mais uma dose
Mais uma dose de fim
Para que tudo possa começar
É preciso que acabe
Para que outro em mim nasça
É preciso que eu desabe
E assim se faça
O dia natural da caça
Wednesday, May 28, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:44 AM 2 comments
alt-
a
r
algum Ogum e
proust e seu quarto:
cor
tição:
cura pode ser ler
cura pode ser tudo
inclusive você
só não pode o não
em uma fôrma redonda
assim dita fora da boca
como quem só pensa
in-
censo indo pelo a-
roma de vulcano
(vc e seus k-
belos curtos)
pode me beijar os tímpanos
com um
sin-
o
Monday, May 26, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:15 PM 1 comments
DE CIMA PRA BAIXO.
Sou o melhor que posso
Possuo o melhor que sou
De mim sei não restará nada
Nenhum caroço, nenhuma empada
Às vezes me jogo do sexto andar
Às vezes me jogo do quinto
Mas nunca passo do chão
Do chão onde um fogo extinto
De um mendigo que me acudiu
É aceso toda noite
Toda noite um anjo cai
E um outro abismo cospe labaredas
Talvez o dragão seja hoje
O melhor amigo do fogo
Talvez seja o deus pra quem rogo
O último ateu suicida
Sunday, May 25, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:11 AM 1 comments
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:57 AM 0 comments
de dia me lembro
o quanto setembro
freqüentou os dias
é que quando rosas
os dias choram
na iniqüidade da vida
a vida é um osso
ou um espinho na pata
de um cão albino
a vida é um eqüino
um cavalo alado
bunda chamada desejo
Friday, May 23, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:24 AM 2 comments
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:21 AM 0 comments
O CHÃO.
Soco naquela parede
Aquela parede branca que não me fez nada
Agora a parede está um pouco vermelha
E há sangue na minha mão
Então aquela parede que não me fez nada
Me fez sangrar a primeira vez
Me jogo no abismo entre os apartamentos
O chão nunca me fez nada
Wednesday, May 21, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:19 AM 1 comments
DO CAIS AO CAOS.
vitória régia flor
regendo a orquestra
maestro régio: o tempo
das flores é o da chuva
regendo o silêncio: os
filósofos: os filólogos
abrem os guarda-napos
os perdigotos são troca-
dos: algum beijo via ar
elevado à potência de
Won Kar Wai dirige
entes lentos de seres-
teiros: boleros e la
barca: todos partem
Monday, May 19, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:28 PM 1 comments
GOGH.
A aparição por si
nequan
on(m)
só fez desligar
O andador anda só
Volta no quarteirão
Algum(a) en-ig
nigção
outra
qualquer poema paira
sob
o sol a si desbota
tbm terra: cor do ofício:
amarelo
Sunday, May 18, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:16 PM 2 comments
THIS IS OUR SONG.
Ontem ela me disse que
me ama
mas eu não acredito mais
A chama de uma vela
só se inflama
com o amor que o fogo faz
O fogo baila bailarina
nos olhos
tão azuis desta menina
Quando me diz que ama
só reclamo
porque não a amo
Quando digo eu amo
minto
porque não é o que sinto
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:28 AM 1 comments
Krâneo e seu neurônio no programa roNca roNca.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:59 AM 0 comments
SE JOGAR.
Matei um homem e
Uma mulher
Comi-os de colher
E vomitei um poema
Outro dia também me mataram
Mas me comeram de garfo e faca
Saí pelas fezes
Calmamente
Como quem nasce
Lentamente
Usando um disfarce
De gente
Vestia Negro como a noite era negra
Me confundia com ela
Até que viramos a cadela
Que defecava no tapete
Um bilhete
Ela me veria de estilete
Um outro Valete
A queria de sapatos altos
Alguns fatos são menos exatos
A poesia é um fetiche
Quando ela existe
E o poema é só o princípio
De um precipício
Wednesday, May 14, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:10 PM 1 comments
CANÇÃO PARA UM AMOR NAUSEABUNDO.
Inspira um segundo o ar da manhã
Sente o olfato dos carros passando
Daqui de cima não dá pra lhe ver direito
Você é tão minha que é quase a ponte inteira
Um abismo de leões e dragões rugindo
Um caminhão de suicidas pedindo auxílio
Um beijo que o chão me deu aos sete anos
Depois: algum flanelinha flanando o amarelo
Dizendo pr`eu botar meu carro aqui
Bato parado carreiras de insanidade
Me dizem para pular em mim mas é um lugar tão deserto
O escuro da noite sobe pelas escadas
As sirenes do bombeiro
O escudo da tropa de choque
O choque que já levei um dia
Tudo isso lhe circunda e você foge de mim como de uma locomotiva
Eu venho vindo em direção contrária
Ainda encontro tempo para sentir o seu perfume
Dedico um segundo a guardar o seu cheiro
Depois vomito tudo antes que me beije
Tão decentemente que me enjoe
Tuesday, May 13, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:31 AM 2 comments
BISCOITOS MIRABEL.
Lá depois das seis
Começa o meu tormento
Me sinto tão bem
Que nem em mim me agüento
Logo vem a memória
E a memória vem com o mamute
Atormentar-me com sua carícia
Que me açoita a cicatriz
Se o tempo parasse agora
Diria que está tudo bem
Dentro de sua pegada
Há uma banheira
Dentro da banheira
Na forma de um oito
Meu corpo morto
Comendo biscoito
Friday, May 09, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:06 PM 4 comments
TRECHO DE TODOS OS CACHORROS SÃO AZUIS.
Tudo ficou Van Gogh
Engoli um chip ontem. Danei-me a falar sobre o sistema que me cerca. Havia um eletrodo em minha testa, não sei se engoli o eletrodo também junto com o chip. Os cavalos estavam galopando. Menos o cavalo-marinho que nadava no aquário.
Ele tem um problema mental. Será que tem alguma seqüela? No fundo deste meu mundo, lá no quarto escurecido por doses de Litrisan, veio um psiquiatra e baionetou uma química na minha celha esquerda. Enquanto outro puxava a minha banha, esticando e esticando para que não sentisse a injeção de Benzetacil.
Benzeta.
Benzeta.
Uma dor imensa na bunda. Tudo girando ao meu redor e eu girando também. Tiro uma meleca e coloco na mesa do canto, bem longe da escuridão no quarto. A escuridão é asséptica. Só o pessoal de branco pode freqüentar aquela linha impura. Seguram-me de novo. Recebo o beijo de minha mãe. Deve ser dia de visita. Acordo e como uma lasca de goiabada com o sanduíche de atum que mamãe trouxe para mim. Escuto uma música tão alta que não entro nos meus pensamentos e estou fora, agora a cocaína não vai chegar. A conexão foi interrompida.
Mamãe mal chega, mal vai.
Ele continua achando que engoliu um chip.
Ela diz que tudo começou há uns dez anos, quando eu achei que havia engolido um grilo.
Quantos grilos você me fez engolir, filho.
Minha mãe disse isso afagando meus lábios e me dando um beijo na bochecha. Por alguns segundos lembrei-me de algo que havia acontecido no dia anterior. Eu havia quebrado toda a casa com uma fúria gigantesca. Nunca mais tomo Haldol na minha vida.
Foi por você não ter tomado o Haldol que você ficou assim, diz o chip. E eu começo a falar: Só no Anhembi é tupi. Só no Anhembi é tupi.
O engolidor de espadas engole uma nesga de fogo por vez. Tá todo mundo engolindo alguma coisa neste exato momento. É hora do jantar. Mamãe se foi. A música volta a me colocar fora de mim.
Entro no quarto. Tiro o pau pra fora e começo a bater uma punheta. Dança da motinha. Dança da motinha. Eu engoli um grilo quando tinha meus 15 anos de idade. Foi a primeira vez que consegui conviver comigo mais intensamente. Salvei uma casa do cupim maldito que queria destrui-la. Eram cupins gigantes. Tenho certeza de que salvei aquela casa. Tenho certeza de que por alguns segundos fui Jesus Cristo.
Ainda continuo na jaula. A minha boca está fechada com uma mordaça. Meus pés estão presos.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:22 AM 0 comments
CONSIDERAÇÕES ALEATÓRIAS SOBRE ANIMAIS E HOMENS.
azul veludo sobre azul piscina
olhos que piscam o caribe inteiro
outro meteoro
outra crina de cavalo que voa sozinha
ele segura a cabeça de alguém
olhando mais de perto podemos ver o vírus
matamos seres vivos quando tomamos banho
ah, as bactérias e os mínimos seres que habitam a nossa pele
rubro olhar que exorciza o ritual
maconha e veias dilatadas do olho esquerdo
a tecla delete do computador
tem certeza que deseja deletar tudo ou
salvar como
ou cuspir na tela
ou ouvir Mozart
mais uma vez antes das cinco
que é a hora que você desmaia todo o dia
e não sabe se volta
com costeletas estranhas
estas de porco
o porco berra tanto quando é castrado
o porco berra e berra o porco que berra
e o homem ri e enquanto sorri se ferra
quem é a fera?
Thursday, May 08, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:07 AM 1 comments
soul.
“Listem to Marvin all night long”
True, Spandau Ballet
trôpego
te dou
um abraço
amaço
a fumaça
fumo
um maço
fumava
o que faço
cantava
bebia
o espaço
em mim
existia
o palhaço
hoje
traço
traças
transas
tranças
ondas
mansas
mudei
mudou
o que
sou
soul
fui
Wednesday, May 07, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:31 AM 2 comments
ELA.
ela fez lipo na vaidade
era um hipopótamo
ela tirou as rugas
era um maracujá
ela fez ginástica
era uma cardíaca
ela ficou bela
pegou febre
a amarela
e desbotou
até morrer
Monday, May 05, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:40 PM 2 comments
Rir.
Dente tende
A virar músculo
Antes varo
Vara e másculo
Depois frouxo
Roxo e carne
Antes branco
Total Mármore
Sunday, May 04, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:32 PM 3 comments
ERAM SÓ COTOVELOS.
Silêncio. Ela está falando pelos cotovelos.
Cada cotovelo diz uma coisa. O esquerdo
diz que não. O direito diz que sim. Apesar
de ser um segredo o que os cotovelos pensam.
Existe um segredo ainda maior dentro dela.
Ela diz que me ama e isso seria o suficiente.
Mas como preciso de enquantos vários. Vou
enquanto fogo me queimando de silêncio.
Enquanto água vai deixando que o contorno
de meu corpo vá se aproximando e tocando
aos poucos as bocas dos cotovelos e vendo
que assim evito um pouco que ela fale que
ela diga o que quer porque sai do cotovelo
para fora. Para dentro há o fogo que consome.
Há os filhos de um outro homem que também
lhe fala melhor. Os cotovelos têm ouvidos
também. E os tambéns não têm sentidos iguais.
Os cotovelos, os tambéns são as bocas dos
enquantos. Enquanto isso nasce um ventre do
chão. E o chão é onde começa a filiação.
Enquanto caibo em mim vou bem e o problema
é quando deixo meu cotovelo perto do dela e
ele menstrua um silêncio eterno contido num
dó de peito. Aí o cotovelo canta. É o fim.
Saturday, May 03, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:15 AM 1 comments
CHEIRO.
A arte do enfarte
Faz da morte um desastre
Um desastre de cigarros
E pressão alta
Algo escuro me ataca
A dor do peido
Que dilata
É só uma cola na lata
Friday, May 02, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:39 AM 0 comments
HOSPÍCIO.
Eu não vou tomar o remédio
Pra que me chamem de louco
Só louco toma estes remédios
Eu prefiro os meus infernos
Quando um louco é um fardo
Eles querem internar
Que me internem quando há mar
E uma maré com ondas altas pra surfar
Eu que odeio este lugar
É o lugar preu piorar
Preu melhorar chama o abismo
E não me chama de louco
Quando eu me jogar
Thursday, May 01, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:32 AM 2 comments