EM LUGAR ERRADO.
No fundo (bem no fundo) não existe nada.
Só uma empregada varre a casa e
Ela sabe que o ato de varrer é de uma empregada
(SERÁ QUE ELA SABE ISSO: que o ato de varrer
é o de uma simples empregada). Ou Ela não se acha nada.
Sei que lá no fundo dela está de mãos dadas com um amor.
Todo mundo quer um amor mesmo com raiva. Todo mundo
quer numa rave um amor. Ela não diz para ele o que Ela é.
Talvez porque saiba que é muito mais do que ele e
ainda (bem no fundo) que ele também não é nada.
Então mais uma noite passa de mão dada. Mãos aneladas
no silêncio de beijos. Ela pede um sanduíche de ricota.
É o que de mais sofisticado conhece para não transparecer
que ele está de mão dada (numa rave) com uma empregada.
UM COQUETEL DE FRUTAS. UM COQUETEL DE DROGAS.
Um coque na cabeça dela. Tudo ali a faz feliz. Mesmo estando
por um triz. Ela pensa em ser atriz e parar de varrer chão.
Ele coça o seu culhão enquanto Ela toma todo o cuidado
para não lhe mostrar sua verdadeira identidade. A vida é
uma falsidade. Mesmo. Eles se beijam com raiva na rave.
O som eletrônico e o êxtase estão próximos. Quem sabe
a felicidade é aquilo mesmo: um homem, uma mulher e
uma noite apenas. Porque no fundo (bem no fundo) Ela sabe
que eles nunca mais se verão. Que pertencem (bem no fundo)
a um mundo fora desse mundo. Um lugar qualquer onde
um homem e uma mulher podem ser menos que uma lata de lixo e
mais do que um discurso prolixo de um homem bom.
1 Comment:
mulher e homem,
encontro casual
de rei e serviçal
ou também sem exagerar
de princesa e lacaio,
mãos dadas,
labios selados,
meu amigo Rodrigo
poeta sensível
captou a beleza indescritível
crivel pra ele
do amor belo
enquanto dura
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