Em cima do homem há outro homem
Em cima do cadáver dela
Há uma cadela
Em cima da luz existe o teto
Que vem vindo
Em cima da cama estou eu que vejo tudo
E nada sei
Em cima de mim está ela
Que berra
Grita pro silêncio que a escute
Grita para mim que a respeite
Simples mente grita porque para ela falar é gritar
Em cima do criado mudo há um livro aberto
Em cima da escrivaninha o diário
Do lado da porta uma janela
E alguém caindo
E gritando
Enquanto isso duas joaninhas comem açúcar
Três mulheres conversam sobre a menopausa
Toca o telefone
Em cima da cabine de telefone
Há nuvens que se ausentaram a tarde toda
Há um céu inteiro espatifando-se sobre nossas cabeças
E ninguém percebeu que é feriado
Que há crianças recebendo o corpo de Cristo
Enquanto esquizofrênicos só fazem repetir a mesma frase
A mesma dor
A mesma aurora
A mesma deformação dos sentidos
Porque tudo é assim mesmo
E só estará em baixo
Quando nos abaixarmos
Para olhar as formigas que carregam o esqueleto de um anjo
Uma asa tatuada no peito
Uma aurora inteira pra voar
Outro dia foi que se jogou
E só hoje descobriu que não sabia voar em dias como este
Onde tudo desaba escada a baixo
Como se pudéssemos saber tudo sobre qualquer coisa
Tão burocrática
Quanto lhe beijar agora
Neste silêncio que a tudo escuta
Quem foi o filho da puta que disse que tudo ia acabar depois
Depois veio o depois e pior que depois veio o pior
Que é cercar o nosso infinito com cacos de vidro
Para contarmos nossos pedaços que ficaram na tradição
Acima de tudo
Morto mar morto: mortinho da silva
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:48 AM
1 Comment:
um poema longo seu,
perfeito pra dedeu,
pesado quem nem o breu,
verdadeiro como o céu.
duro de roer
dificil de ler
pra quem pouco viveu,
você que o escreveu
sabe tudo que aconteceu
e acontecerá,
você e eu
na mesma nave espacial
e o quadro é muito bom
rostos e outros rostos
como o seu e o mei
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