Um dia completei um triatlo e terminei entre os primeiros da minha categoria. Estou gordo agora e dormindo como no dia do triatlo. Vivo sedado e cheio de doses altas de remédio na veia. Tudo para ser invadido por uma música, tudo pra manter a boa ordem do estado. Somos a minoria, mas pelo menos eu falo o que quero.
O bom do cachorro azul era que ele não crescia e não morria. O negócio era eu cuidar para que ele não envelhecesse. No ano 2000, vou ter 35 anos. Estarei tão velho que mal saberia disso. Eu escovava a pelúcia do bicho. O cachorro azul era a minha melhor companhia. E se existisse mesmo um cachorro azul? Seria do grande caralho ter um. Será que se ele tivesse um filho, nasceria azul também? Se ele pudesse latir e pudesse comer, o que comeria um cachorro azul? Alimentos de sua cor? E quando adoecesse, tomaria remédio azul? Muitos remédios são azuis, dentre eles o Haldol. Eu tomo Haldol para não ter nenhuma ilusão de que morrerei louco, um dia, num lugar sujo e sem comida. É o fim de qualquer louco. Uma oligofrênica, dos seus setenta anos, uniformizada, surge diante dos meus olhos e me dá um beijo na boca. Vejo estrelas cor-de-rosa. Elefantes carregando Rimbaud na África. Verlaine comendo sua mulher, mas pensando em Rimbaud. Eu estou pensando em Nastassja Kinski e seus seios pequeninos em flor. Eu estou no lado escuro e mal posso me mover, mas dá para eu me masturbar muito devagarinho. Eu gozo e minha mão fica toda branca, tomada de sêmen. Minha mão vira uma luva branca. Eu acordo às cinco horas da manhã com o esporro colossal de um enfermeiro. Durmo mal. Acordo mal. Não sei qual dos dois pesadelos é o pior: acordado ou dormindo. Saio da jaula. Já estou na jaula há um bom tempo. Quando me tirarão de lá e me deixarão ficar com os outros? Entro na fila para tomar um café da manhã. É um café com leite que tem mais água do que leite e um pão com uma passada de manteiga na ida. Eu pago para estar neste lugar, mas só a ida da faca com manteiga no pão está nos custos. Hoje eu acordei querendo dizer coisas bonitas. Aproveitei um pouco de tempo que me deixaram livre do lado de fora e apanhei uma flor no jardim. Levei a flor para o quartinho. O enfermeiro encrencou com a flor. Deu-me outro esporro.
O bom do cachorro azul era que ele não crescia e não morria. O negócio era eu cuidar para que ele não envelhecesse. No ano 2000, vou ter 35 anos. Estarei tão velho que mal saberia disso. Eu escovava a pelúcia do bicho. O cachorro azul era a minha melhor companhia. E se existisse mesmo um cachorro azul? Seria do grande caralho ter um. Será que se ele tivesse um filho, nasceria azul também? Se ele pudesse latir e pudesse comer, o que comeria um cachorro azul? Alimentos de sua cor? E quando adoecesse, tomaria remédio azul? Muitos remédios são azuis, dentre eles o Haldol. Eu tomo Haldol para não ter nenhuma ilusão de que morrerei louco, um dia, num lugar sujo e sem comida. É o fim de qualquer louco. Uma oligofrênica, dos seus setenta anos, uniformizada, surge diante dos meus olhos e me dá um beijo na boca. Vejo estrelas cor-de-rosa. Elefantes carregando Rimbaud na África. Verlaine comendo sua mulher, mas pensando em Rimbaud. Eu estou pensando em Nastassja Kinski e seus seios pequeninos em flor. Eu estou no lado escuro e mal posso me mover, mas dá para eu me masturbar muito devagarinho. Eu gozo e minha mão fica toda branca, tomada de sêmen. Minha mão vira uma luva branca. Eu acordo às cinco horas da manhã com o esporro colossal de um enfermeiro. Durmo mal. Acordo mal. Não sei qual dos dois pesadelos é o pior: acordado ou dormindo. Saio da jaula. Já estou na jaula há um bom tempo. Quando me tirarão de lá e me deixarão ficar com os outros? Entro na fila para tomar um café da manhã. É um café com leite que tem mais água do que leite e um pão com uma passada de manteiga na ida. Eu pago para estar neste lugar, mas só a ida da faca com manteiga no pão está nos custos. Hoje eu acordei querendo dizer coisas bonitas. Aproveitei um pouco de tempo que me deixaram livre do lado de fora e apanhei uma flor no jardim. Levei a flor para o quartinho. O enfermeiro encrencou com a flor. Deu-me outro esporro.
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1 Comment:
também sou um cachorro azul porque minha alma é um blues.
bacana o trecho amigo.
grande abraço.
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