Guelras e silêncio. As formigas passeiam pelos peixes. Jonas e sua baleia estão expostos. À mostra, toda a tradição. Estandartes nas mãos. Crianças começam a cantar o estribilho do hino nacional. As bandeiras se masturbam no vento. Poetas discutem a complexidade do mundo sem complexidade. O hino é belo e a flâmula é verde e amarela. Eu só queria romper a bolha que me prende a esta casa e a estes metros quadrados. Eu iria à feira ver os peixes mortos. Sentir o odor fétido das sardinhas expostas. E não ler em algum lugar que tudo está à venda. Inclusive as cabeças dos líderes da oposição poética. Um a um decapitados por serem apenas diferentes.
PRONTUÁRIO.
Fico pensando nas pessoas que catalogam pessoas. Que dizem: este é isso e aquele é aquilo.
Fico pensando que sou um bicho-grilo na barriga de um jovem de quinze anos.
Eu engoli um grilo um dia desses, faz tempo. Foi a primeira vez que disseram: esse menino é doente e devia freqüentar uma escola especial para doentes como ele, que são um perigo para a ordem.
Fico pensando em quem disse que ele é esquizofrênico. Fico pensando se a doença está nele que viu ou nele que via.
Fico puto de a vida de duvidar de diagnósticos. Mas às vezes é melhor acreditar do que andar em círculos.
Porque as pessoas que catalogam pessoas não existem para o mal. No fundo catalogam para o bem.
Você, meu filho, é que é incatalogável.
Todo mundo sabe o fardo que você é para a família.
Precisamos de um nome de doença para pôr no prontuário. Que tal dizer que é síndrome de alguma coisa paranóide?
Que tal não esconder que não é letal?
Morre-se com isso e talvez morrer não uma má idéia.
Tuesday, July 29, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:16 AM 1 comments
AINDA BEM.
A polícia vem e bate um papo com o cara. Se for preciso, colocam a camisa de força.
Eu não tinha como resistir: eram três tiras mais fortes do que eu.
Eles me levaram junto com o meu irmão. Acharam que eu não tinha nada, mas meu pai sentia um medo danado que eu fizesse alguma loucura.
Mas eu era um perigo só para mim mesmo.
Do meu começo podia sair o fim, mas eu não quero rimar pobre com nobre em versos de impacto, só quero um pacto entre mim e você.
Eu jamais poderia dizer que só faria mal a uma mosca. Eram centenas e centenas delas, e matei algumas por prazer.
Saturday, July 26, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:35 AM 1 comments
I JUST WAITING ON A FRIEND.
Minhas mãos são muitas mãos que vejo
Ali me jogo no próximo abismo
Enquanto você esmaga meus calcanhares
Tropeço em sua boca de miragem
Mas neste exato momento pinto um oceano
Com os restos da noite que virá
Tropeço em meus mindinhos de miniatura
E chupo o polegar como que ávido
Por pôr em você o meu sistema
Por colocar a seu serviço mecanismos que me aquecem
Nesta noite fria que virá
Com furacões nos lábios azulados de batom
Então me diga se é dessa vez pra eu me preparar
Com todos os infinitos ínfimos que tenho pra dizer
Porque de nada vale estar vazio e sem tempo
Com tanto tempo que o esperar me traz
Me traz algum doce em sua baioneta de saia
Digo que lamberei sua vulva acrílica
E que seu ventre cristalizado trará um filho
Feito de saliva e sêmen um pouquinho
Um pouquinho de adeus nisto tudo
É que não gostaria mais de falar com você sobre ele
Mas somos sem tão assunto que já falamos tudo
Sobre tudo que está a nossa volta
Se tudo gira e nós giramos na dança dos dias
Somos pegos por anzóis e vistos por submarinos nucleares
Há tanto botão para apertar em teu corpo
Que o amor de robô me atrai muitíssimo
Enquanto teclo me devoro: há um outro duplo para tudo
Me aguarda então farei as malas
E surfarei mais um trem para lhe ver chorar um pouco
Sentindo os espasmos e as contrações de todo o cosmos
Que iremos formar daqui pra frente
Que se foda a chuva muito forte
Que se foda o vento nos meus olhos claros
Estou vestido com a minha melhor roupa
A espera de uma amiga que nunca virá
A espera de um amor que nunca existiu
Thursday, July 24, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:13 AM 1 comments
CÓRTEX.
Certo dia bati numa quina de mesa e tudo foi-se quando não queria mais morrer. Eu não havia sido feliz, mas era um aquário com muitos peixes naquele momento. Foi como se uma baleia caísse dentro do aquário e se debatendo estourou meus tímpanos.
Não entendi.
Não levo nada.
Monday, July 21, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:37 PM 2 comments
A LOUCURA IMPACIENTE.
()
Ali
Onde há paciência
Mora o monge
Aqui
Onde moro eu
Mora a ciência
Que não mora em si
Voa pra longe
Bem-te-vi
()()
Voa pra perto morcegui-
nho
Voa pra dentro do sininho
q minha biza vai badalar
chamando pra tomar o remédio
antes de ir rezar
Sunday, July 20, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:53 AM 0 comments
abscesso.
não tenho
ou tenho
que dizer algo
diante de
alguma de
formação
na gengiva
alguma vulva
cresce em
minha boca
eu cresço
sempre ao
lambê-la
tanto
que explosão
Friday, July 18, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:10 PM 1 comments
MULHER BARBADA.
Teu corpo
É a escada por onde subo
São as digitais que deixo
Seu queixo
De gueixa
Tem alguma barba
Isso não lhe estraga
Thursday, July 17, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 5:27 PM 0 comments
VERDADE.
Tenho pena das mulheres feias
Delas é o reino de Deus
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:31 AM 4 comments
depois do depois
200 vidas depois
depor o rei depois
fazer sua cabeça feito flâmula
brisar
o sangue inócuo de depois
de todo o gole de vida que perdemos
pais e mães correndo
com a alma de filhos mortos depois
o rei vem a público e diz
que depois de decapitado
não adiantará nada ser emasculado
e correr um quarteirão de fúria depois
que estiver morto
pelo menos depois do rei
não adianta depor depois o rei
depois sempre é tarde
Wednesday, July 16, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:50 AM 2 comments
INEVITÁVEL.
Pra que fumar?
Pra que beber?
Pra que parar?
Tuesday, July 15, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 11:59 AM 0 comments
BALACOBACO.
O site do Balacobaco, graças a Andréa Augusto, está de volta no endereço http://balacobaco08.vilabol.uol.com.br/
Lá vocês encontrarão resenhas, entrevistas e poemas.
Monday, July 14, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:49 AM 0 comments
O SER E O NÃO.
acho
certeza não
sei
totalmente sim
talvez
sim e não
quando
tiver certeza
que quem pensa
sou eu
serei então
o ser e o não
Saturday, July 12, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:35 AM 2 comments
O GOZO ETERNO É O NADA.
Thursday, July 10, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:36 PM 3 comments
EU, HOJE.
Alguma palavra
Nenhuma poesia
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:58 AM 1 comments
MACACOS.
Às vezes ele tapa o ouvido
Tapa o olho
Tapa a boca
E leva um tapa
Não quis ouvir
Não quis ver
Não quis falar
Às vezes é melhor às vezes
Tuesday, July 08, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:32 PM 2 comments
Ler um poema difícil
É como apontar para própria cabeça
Um míssil
Monday, July 07, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:24 PM 4 comments
O JOGO DA AMARELINHA.
Remédios são azuis
Brancos
Ou amarelos
Os doentes são brancos
Negros
Ou amarelos
O Sol é amarelo
A gravata de Maiakovski
Era amarela
Em Van Gogh
Quase tudo era
De modo que o amarelo
É quase a cura
Um passo para o amarelo
É a serpente que se alça
Na conquista
De um terreno onde
Síndromes de
Todas as cores
Habitam
Um único amarelo
Sunday, July 06, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:38 PM 1 comments
http://virtualbooks.terra.com.br/osmelhoresautores/index04.htm
Saturday, July 05, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:40 AM 1 comments
Vou tirar você pra dançar
Vou tirar você
Pra você me tirar
Vou mandar você se foder
Sabendo que isso
É impossível de acontecer
Por isso vou fazer de você
O que você é
Um homem dentro de uma mulher
Friday, July 04, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:37 AM 1 comments
O PIOLHO.
O piolho numa folha de papel é um ponto (ponto).
Na cabeça é uma serra-elétrica.
A esteira é ergométrica e o piolho anda quando eu ando.
Sinto falta dos piolhos da infância e corto o cabelo curto.
Estou sempre em curto. Curto isso.
Estes seres abjetos (objetos abjetos) têm que viver (interrogação)?
Talvez seja um deles ou venha a ser já que não faço nada.
Como uma empada e arroto Coca. Deus é um piolho na toca.
Thursday, July 03, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:30 AM 2 comments
A língua se espalha
Feito uma navalha
O corte da palha
No rosto entalha
Tudo que falha
Está na mortalha
Agora me malha
Morto na calha
Wednesday, July 02, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:31 AM 1 comments
QUÍMICA CEREBRAL.
Bom dia Lexotan
Bom dia Prozac
Bom dia Diazepan
Bom dia coquetel
Bom dia amplictil
Bom dia fenergan
Bom dia sossega-leão
Bom dia eletrochoque
Bom dia Piportil
Bom dia Lorax
Bom dia Litium
Bom dia Haldol
Boa noite Rodrigo
Tuesday, July 01, 2008
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:00 AM 4 comments