tremula o sol

a humanidade é tão velha que quase
escondo a minha face
ao olhar no espelho de minha consciência
os meus atos falhos

a humanidade em mim é menos velha
quando percebo agindo de novo
dentro do corvo que devora espantalhos vários
e estou aqui formatando mais um hd mental

e limpando de minha mente uma quantidade
enorme de vírus
que eu poderia até ser mais uma estátua
de braços abertos para o mundo
ou de tocha petrificada e acessa na eternidade
de um país que dominará eternamente
o que nunca foi dominado

no parque bancos voam em círculos
e minha avó compra um picolé de sangue
abortam formigas suas carapaças protetoras
as crianças estão deitadas
e é tudo mais uma simulação do exército para caso guerra
nasça dali
entre os coqueiros
os únicos que restaram em ipanema
onde foi arpoador
onde as pedras retiniam as ondas que eu furava feito baioneta
e surfava no caos do meio-dia
era tudo brincadeira

sapatos na parede de meu quarto
grudados para que eu possa andar pelas paredes
silêncio na silueta dos retratos
retardados em fila os soldados
recalcitarando sua vontade de dopaminas
cada vez mais induzidas
e menos fabricadas pelos orgãos vitais

pão vick bold mofado e verde musgo na geladeira
será que existe vida naquela cápsula de complexo b?
garrafas de mineirinho espalhadas entre os baseados
e uniformes esportivos
uma meia fedorenta exalando necrotérios vários

e eu deitado lendo gibi
e eu ligado na cnn
e globo e você
e de repente um silêncio misterioso relembra o meteoro
que eu não vi
a bomba que eu não vi
as estrelas que eu não vi
e só ouvi pela boca dos velhos que me disseram
pela boca dos livros que escarraram no meu ouvido aquela anti-paz

tudo que eu não vi serve para eu não ver mais?
ou eu ainda quero aprender mais com os meus erros?
ora quem sou eu neste planeta tão belo e com poetas tão velhos e ilustres
capazes de falar várias línguas e inclusive latir?
ou ainda é necessário que eu me chame ramister
e espere num laboratório
a hora do ofertório
em minha missa de sétimo dia

todo mundo que foi para a cama comigo
reclamou que demorei a gozar
e eu não posso reclamar
da velha bandeira branca amor que está sempre esfacelada
dilacerada
e fora de lugar

enquanto o silencio era feito de uma certa neblina
de uma costura de porta aberta
de olhos que abanavam o ocaso
piscando seus cílios como leques estroboscópicos
epileticamente amorzinho
ardendo até o princípio da ignição de um gozo
de uma anti-míssil direcionado a tremular
as entranhas de alguns móbiles
que guardavam minha infância de criança

e eu fui justamente neste dia
me entregar a nilza
para que naquele jardim de casa
em meio aos playmobils e seus mamilos
arrancar alguns discos voadores
de suas ancas
e decalcar a manchete da primeira lua
que o homem nunca foi
(é o que acreditam aqui)
quando as escamas do peixe brigam com o lago
para ver quem brilha mais
no trêmulo e eterno sol do dia eterno
balanços da memória

Wednesday, April 23, 2008

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