BRINCAR DE VIVER.
Por Rodrigo de Souza Leão
A minha sobrinha Marina
BRUXINHA.
A bruxa
Sem a sua
Vassoura
Não limpa
A poeira
E não voa
A BOLA.
A bola
Murcha
Não quica,
Não pula.
A bola
Redonda
É balão:
São João.
A esfera
Não bola,
É remédio:
Pílula.
Cuidado!
Nem tudo
Redondo
Engula!
Vide
Bula.
GUIAR.
O Sol
É amarelo.
O Sol
É sincero.
Amarelo
E sincero
Como o Sol
Só o brilho
Dos olhos
Do farol.
BEM-TE-VI.
Desenhar é existir.
Pôr no papel o colibri.
Este voando dentro de ti.
Ou seria um
Bem-te-vi.
REALIDADE.
Povo não é polvo.
Polvo tem tentáculos.
Povo, obstáculos.
PAZ.
A Terra
E a guerra:
Palavras
Tão iguais
São tão
Diferentes
Como
Os animais
Para que
Guerra
Se há
Terra demais?
Para que
Guerra.
Não somos
Animais.
OLHOS.
A folha reflete o céu.
Enfim,
Seus olhos
Desenhados
No papel.
BADULAQUE.
O brinquedo
Fica mudo
Embrulhado
Por papai Noel.
Quando chega
Faz barulho.
Brincadeiras
Traz do céu.
BRINCAR.
Eu brinco com o meu brinco.
Brincar é o que faço.
Só não brinco quando minto.
Assim me sinto: um palhaço.
TÍTULO.
Brincar é respirar o azul do céu e do mar.
Sonhar... E quem sabe navegar e ver cores surgindo no infinito.
Bonito!
Falta botar no poema um bom título.
INFINITO.
Na marina
Ficam
Alguns barcos
Descansando
Do horizonte.
Desiluminando...
Irão:
As nuvens
Ser dos mosquitos
E os navios
Do infinito.
REFLEXO.
No espelho
O meu olhar
É tão meu:
Bem
Maior
Seu.
GROENLÂNDIA.
A mentira cresceu tanto
Que as formigas viajaram,
Via espirro,
Até a Groenlândia.
COMER.
Comer é tudo que quero na vida.
Comer faz muito bem a barriga.
Criança alimentada como eu:
Forte e feliz cresceu.
O REMÉDIO E O POEMA.
Tomar os remédios é meu lema.
Comer feijão eu não esqueço.
A saúde é um poema.
Não tem preço.
O COMPUTADOR.
O computador faz o que a gente sabe fazer.
Não adianta pedir para ele escrever.
Nada tem a dizer. E você?
ELEFANTE.
O elefante
Adiante
É o infinito
Gigante.
ESTRELA.
A estrela do mar
E a estrela do céu...
Uma sorriu para a outra.
Há muito brilho no céu e no mar.
Quem sabe as estrelas não querem brincar.
AS VOGAIS.
AS CINCO VOGAIS:
A
E
I
O
U,
PINTARAM-SE DE CINZA.
NÃO VIRARAM CONSOANTES
E SIM: ELEFANTES.
BRANCO.
O cabelo branco do vovô
É nuvem:
Camuflagem de disco voador.
A LÂMPADA.
A eletrônica que o diga.
Se acender
É coisa antiga.
Hoje:
Tudo liga.
O NORMAL.
TODOS FICAMOS VELHOS CEMITÉRIOS.
AONDE VAMOS MISTÉRIOS.
HÁ VIDA NAS BEXIGAS DE HÉLIO?
ELAS SOBEM SEM CRITÈRIO
DIREITO.
Toda a criança tem direito à vida.
Tem direito a brincar.
Com o avião de voar,
O boneco, a boneca, o papagaio e a peteca.
Toda a criança sapeca deve ser
Um bom moleque
E uma boa moleca.
ARMAS.
Parece uma besteira
Brincar com armas de madeira.
A fraternidade é o que vale na brincadeira.
Mesmo de mentira
Não atire sua ira.
Há brinquedos mais bacanas.
Há bananas de pijamas.
VERGONHA.
O cabelo do toureiro é louro.
De príncipe.
Por que faz isso com o touro?
BRIGUINHA.
- Tira a mão da boca!
- É meleca?
- Não se mete. É chiclete.
AUTORAMA.
Os sete anões eram oito?
Os dez trabalhos dezoito?
Mentira!
Só os mosqueteiros não eram três.
Existem quatro no retrato.
LER É LEGAL.
Ler é preciso
Para saber o valor de um sorriso.
Para ficar mais inteligente
E preciso.
Ter a cabeça calma e clara como a garça na Lagoa.
Ler é diversão e viajar dentro de si.
Ser para sempre uma garça, um bem-te-vi.
CHULÉ.
Por que não lavar o pé?
A sujeira traz doenças e chulé.
Olha o sapo e suas rugas.
Não fosse quem é
Seriam absurdas?
FIM.
O FIM É UM CÍRCULO ONDE TUDO COMEÇA
SEM PRESSA.
BRINCAR DE VIVER.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 12:20 PM 0 comments
TODOS oS CACHORROS SÃO AZUIS 2.
Já estive no Japão. Era um lugar diferente. Bem parecido com um hospício. Cheio de gente. Às vezes, quando me lembro do Japão, me vem a recordação de Temível Louco. Era um cara legal. Havia matado seis pessoas. Estrangulado. Estuprado. Era um cara estranho, mas delicado comigo. Como já disse, ele tinha medo da minha voz quando eu falava num tom mais grave e forte. Temível gostava de jogar xadrez consigo mesmo. Quem tinha matado Temível Louco? Era um mistério que ecoava no pouco silêncio que existia num lugar como aquele. Quero botar no silêncio minha voz.
Na minha voz, um grito.
Mas o Haldol me segura. Segura meus gritos, sussurros. Eu, que já escondi muito remédio debaixo da língua, hoje tomo todos sem problemas. Sei lá se adianta. Sei apenas que sinto falta dos meus dois amigos. Rimbaud aparece e me diz que está com aids. Quer fazer um pacto de sangue comigo. Aceito o que ele pede e corto meu dedão. Baudelaire aparece e diz que quer fazer parte do pacto. Só o fato de morrer de outra coisa que não seja o chip (ou o grilo), já me deixa alegre. Morrer com Rimbaud e Baudelaire. Melhor, impossível. Acugêlê banzai!
Já estive na China. Contando assim, parece que viajei muito. Era um lugar muito bonito, cheio de gente, bicicletas e muitas nuvens. As nuvens, nuvens. Ali tive fome, tive sede, era estrangeiro e loucamente amei as nuvens longe, lá muito longe, as maravilhosas nuvens! Desenhos no céu. Quando o dia está assim, um dia de sol, um dia como este, não quero mais sair daqui. Vou dormir no verde calmo de um Lexotan seis miligramas. Me agarrar ao meu cachorro azul e fazer pactos com a felicidade. Lembrar-me da China, das suas bicicletas, da sua bandeira vermelha cor-de-sangue e finalmente, das incríveis nuvens do céu chinês. Acho que depois do pacato pacto de sangue, serei mais feliz. Quero morrer de tudo, menos por causa de um chip que engoli. Engulo os remédios. Um dia, engoli três. Outro, engoli quatro. Não sei ao certo o que devo fazer para melhorar. Simplesmente, porque sou um pterodátilo numa gaiola. Um corvo bicando o ventre de um espantalho. Um homem sem medo do terror que é viver sem medo. Never more, todos aqui não têm medo. Inclusive o Procurador Geral da República. Ele me lembra um personagem de faroeste e de filmes de gangster. Mesmo com sua senilidade, ele utiliza uma colher ao invés da faca. Aqui só tem colher. Procurador faz aquela brincadeira perigosa de percorrer todo o caminho entre os dedos com uma faca, no caso, uma colher. O velho faz isso com habilidade, como se treinasse isso há muito tempo. Pra se divertir. Deixar os ventos de adrenalina brisar.
Rimbaud aparece na hora dos vendavais. São ventos que o trazem e me fazem viver enrolado em seu cachecol. Fuma maconha. Desmancham perto de mim as baforadas que Baudelaire dá no seu cachimbo. Ele me diz que é um pai de santo. Ele me diz que tem poderes. Renova minha linguagem. Eu acredito piamente nele. Rimbaud é a tempestade. Baudelaire é o vento. Um toma éter. O outro, cocaína. Triste, sou apenas aquele que descobre que os remédios coloridos engordam e fazem, cada vez mais, eu não conviver com estes meus amigos de longa data. O que é a vida sem amigos? Sou como Emmanuel Bove que secretamente amava os amigos que não tinha. Sou amigo dos meus olhos. Eles só vêem o que quero. Olho pelos meus óculos coloridos e vejo tudo em preto-e-branco. Tudo parece um filme de Bergman.
A propósito, me pareço um pouco com Charles Laughton.
Por pouco tempo, espero. Por que estar gordo e beber café com açúcar? Tudo com muito açúcar. Vejo relógios e as xícaras de café. Cuspo bolas de sabão. Viro um trem que vai indo sem saber onde parar. Me transformo numa máquina que escreve e ela escreve o que quer que eu escreva. Ataco uma formiga vorazmente e vou arrancando pêlos do meu sovaco. Faço uma depilação. Tiro de mim pegadas. Calafrios. Certezas. Coisas que deveria fazer. Tiro de mim enguias ferozes e cubro meu abdômen com algodão doce.
É junho.
Tem festa junina no hospício.
A quadrilha de loucos está em fila. Os que tomam Gardenal não falam. Outros tomam Haldol. Outros são dependentes químicos. Outros estão doidos por uma cachaça e jogam sinuca de bico. Ninguém quer entrar na fila pra dançar. Nenhum psicótico quer dançar. Nenhum oligofrênico quer deixar de dar cabeçadas na parede. Mas Rimbaud está contente e dança sem tristeza. Está, com o perdão da palavra, com a faca entre os dentes. É um espírito cigano, espírito de índio. Espírito de porco. Espinho. Lepra. Aids. Silêncio de cal e mirto, malvas nas ervas finas. Rimbaud borda alelis sobre um pano palhiço. Voam na aranha gris sete pássaros do prisma. Pelos olhos de Rimbaud galopam dois cavaleiros: Baudelaire e eu. Todas as coisas que matam passam por mim. O que é isso? Cocaína ou éter? Que novo som é este? Tambores. Não sei dançar, não sei dançar. Ele é meu amigo, um amigo, enfim. Acugêlê banzai! Cuspo pro alto e abro um guarda-chuva. Baudelaire fala cuspindo. Uso o guarda-chuva pra me proteger. Perdigotos.
Fui obrigado a estar aqui. Não queria vir. Não quero ficar, porra! Avisem pra eles que eu sou o Charles Laughton, porra! Será que nunca viram um filme? Aqueles que estão abandonados teriam uma vida melhor lá fora, inclusive eu. Digamos que estou passando uma temporada no inferno, uma temporada nas têmporas com meus amigos poetas e atores. Amanhã me esqueço deles, mas voltam depois de amanhã. Sei que nunca vão me abandonar, amigos são para isso, não? Gari da Comlurb me convida para comer uma caixa de biscoitos Segredo. A vida é um segredo para mim. Não sei exatamente o que ela significa. No mundo de fora, procuro no obituário todo dia meu nome. Já decidi: não quero ir ao meu enterro. Como será o céu dos objetos? O céu dos relógios, das tevês, do computador, do estilingue, do garfo, da faca, das colheres? Aqui só tem colher: ninguém come com garfo e faca. Comem de boca aberta, menos a Lembra-vovó. Lembra-vovó come um pouco igual a minha avó, é magra, mansa, meiga. E ainda tem um detalhe muito importante: me dá um beijo toda a vez que passa por mim. Não sou muito chegado a beijos.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:02 AM 0 comments
SYLVIA.
Um poema de amor
Que não fala disso
Um amor diferente
Que entristece de felicidade
Por que tantos poemas
Se todos já disseram
Que só o amor
Conhece o que é verdade
Saturday, May 30, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:14 AM 1 comments
POEMA PARA MEU IRMÃO BRUNO DEPOIS DO ELETROCHOQUE.
deixar ir
cacto adentro
espinho
nó embutido
pela pele
algum aroma
de sangue
relatos de magnésio
restos mortais
de um ex-poeta
embrulho
enguia
Bruno
café com leite
depois de tudo
o amanhecer
Friday, May 29, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:30 AM 1 comments
MAIS CACHORROS.
Tudo começou quando engoli um grilo em São João da Barra. Eu tinha 15 anos de idade. Estava indo ou voltando. Sempre estava indo ou voltando. Só parava pra voar. Assim eram meus 15 anos, e foi como tudo começou. Nenhuma mulher saiu de mim. Nunca. Fui eu quem sempre entrou em minha mãe. Lá estava ela bela e bonita, transando com papai. E eu vi, e era apenas mil novecentos e setenta. Não foi um trauma. Eu costumava andar com um cachorro azul de pelúcia. Meu cachorro não era gay por ser azul. Só era azul. Também não tinha as noções de feminino e masculino naquela idade, ou tinha. Na verdade, eu já me masturbava e papai, com muito jeito, pedia para que eu tirasse a mão do meu pinto. Lembro-me de uma psiquiatra nos meus verdes 15 anos, que me dizia que eu era homem porque me masturbava, não tinha por quê ter crise de identidade. Eu não tinha crise de identidade, porque vivia correndo atrás daquela mulher no horário da sessão. Ela chegou a me ameaçar, dizendo para o meu pai que se eu continuasse a querer agarrá-la eu teria que sair da análise. Ela falou que não agüentava dar conta de mim e reclamou porque eu não fazia um desenho e não brincava com a massinha. Eu imitava um golfinho deitado no divã. Meu pau ficava duro e eu o friccionava o tempo todo, enquanto o golfinho nadava dentro de mim.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:43 AM 0 comments
TRECHO E MAIS E MAIS DE TODOS OS CACHORROS SÃO AZUIS.
Meu pai aparece num dos dias de visita. Foi ele quem me internou, mas eu não tenho ódio no coração. Gosto deste homem. Ele me dá um beijo.
Como você tá, filho?
Quero sair da gaiola.
Ele diz que sairei quando estiver melhor. Movimento-me em sua direção e dou um beijo em sua face. Será o beijo de Judas? Será que trairei meu pai em minha loucura? E se agora viessem dois homens e me crucificassem e me colocassem de cabeça pra baixo? Será que a cruz ia agüentar toda a banha?
Antes da minha internação maior, já havia sido internado outra vez, e outra vez tinha ficado na gaiolinha. Minha mãe mentiu-me, dizendo que eu havia ficado na ala melhor daquela clínica. Não, havia estado no Carandiru. No pior lugar da clínica. Lá onde ficavam os casos sem solução. Mas eu achava que tinha solução. Apenas algumas pessoas estavam me perseguindo, e se essas pessoas resolvessem dar uma festa para mim naquele dia? Naquele dia em que a chuva abundava, foi internado o Temível Louco. Temível Louco, quando pequeno tinha atitudes psicopáticas. Já havia matado muita gente, segundo rezava a lenda. Temível Louco me deu um beijo na face direita e deu duas voltas em volta de mim, disse que seria meu amigo. Isso foi na minha última internação. Não sei se lembra de mim.
Era hora do almoço e estavam todos os loucos na fila quando chegou o Temível Louco, que cuspia onde queria, urinava onde queria, defecava onde queria, peitava os enfermeiros, e só não era líder, porque louco tá cada um na sua paranóia. Louco não pensa na coletividade.
Eu tinha uma paranóia muito louca. Uma espécie de compulsão. Toda vez que me davam três remédios, eu tinha de tomar o quarto. Eu enchia tanto o saco que me davam quatro logo. Se tomasse três, coisas horríveis podiam acontecer.
O Temível Louco começou a comer tudo o que via. Mordeu a falangeta de um outro louco. Foi repreendido por enfermeiros. Todos os enfermeiros eram gordos. Os que não eram gordos eram fortes.
Eu sempre dava um cigarro para um louco que, na hora do almoço, dava cabeçada nas paredes. Imagina se esse doido fosse jogador de futebol. A cabeçada dele ia ser poderosa. Acostumado a cabecear paredes, ele ia estourar todas as bolas que cabeceasse. Quem sabe a seleção brasileira não o convocaria?
Toma um cigarro. Fuma o cigarro todo. Vê se não dá mais cabeçada na parede.
Eu já estava tomando tanto remédio, que estava com aquela baba elástica bovina e viscosa, como dizia o escritor.
Depois do almoço eu contava as estrelas do céu e não via nenhuma. Depois do almoço eu defecava no banheiro aquela comida ruim. Não havia nenhum interno que agradecia por aquela comida com uma boa oração. Só porque o cara é louco, tem que comer o pior. Lasca de goiabada. A única coisa boa era a lasca de goiabada. Era o tipo de goiabada cascão que grudava no dente. Os loucos comiam. Minha mãe, toda vez que vinha me visitar, me mandava tomar um banho. Eu tomava um banho onde os outros tomavam. Era um lugar limpo, que tinha de ser limpo toda hora. A cada minuto vinha um louco e cagava no chão e deixava a merda toda lá. Imagina se houvesse um louco que fosse uma pomba. Ia sair voando e defecando por aí. Não ia ter mais careca de vovô, vidro de carro, chapéu ou boné sem merda incrustada. Mas loucos não voam, fazem sua merda parados. Às vezes se lambuzam todos.
Minha mãe me trazia o sanduíche de atum que eu devorava como se fosse filé mignon. Eu tinha saudade de casa.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:35 AM 0 comments
poemas.
primeira masturbação
esquinas de horizonte deflagravam
os olhos biônicos da aurora
- sedutora mendiga andrajada de estrelas
e foi passando pelas ruas de aurora
que contornei todo violão de sua forma
toda a guitarra de sua voz
então busquei o amor de olhos faroleiros
e ao invés de me iluminar, se iluminaram
e eu me perdi enquanto apagava o mar
eu ia naufragando em sua saliva salgada
foi quando respirei as vogais de sexo
e ereto olhei pro teto que gozava em mim
a parteira
em seu oculto olhar
atrás dos óculos rayban
estará o lúgubre de orelhas
a fauna habitual de um olho
e a natureza de um ser humano
em seu oculto olhar
há uma mulher que ama
há um homem que desaba
e um triste sonho de viver
com alguém que não te ama
em seu oculto olhar
há um oculto arco-iris
e um velho aeroilis de vovô
e a remington de everaldo
e muitos sonhos de que serei
em seu oculto olhar
há uma louca conjutivite
e uma barriga de filho vindo
e uma bacia de água
e muitos sonhos em que sou
TANTO
LENTO
MINTO
PONDO
FUNDO
Descobrir liberta
1
Raios perpassam a clarabóia inundando
de luzes difusas os bancos
onde sentadas senhoras oscilam
entre cruzar e descruzar as pernas magras
revestidas de laicra cinza
Seus lascivos gestos excitam os hormônios
desavisados e menos perscrutadores
Senhores reparam nas senhoras de mãos rudes
e pintadas nas extremidades híbridas
2
Descoberta, a pólvora se espalha
E os sobressaltados inalam o cheiro forte
do perfume das drags
em discussão assexuada
O fedor só finda quando a brisa infinda
(e fresca) liberta o ambiente em espanadas
apalpando bundas e pernas
agora argoladas e pós-cedidas
de bolas cinzentas nuvens
Como prender as nuvens?
Ressaca
Ao olhar a bússola, o Horizonte se perde
deixando rastros de dia naquelas nuvens
O silêncio acaba com a chuva de
pedras azuis, amarelas, grenás, turquesas
As vagas deformam o manso pélago
Os aqueus entoam velhas canções
e Poseidon acalma as vagas
que agora marolam no olhar de Capitu
Saturday, May 23, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 2:59 PM 0 comments
PORTUGAL TELECOM.
20/05/2009 - 23h44
Prêmio Portugal Telecom divulga os 50 livros selecionados
da Folha de S.Paulo
O prêmio Portugal Telecom divulgou nesta quarta-feira os 50 livros selecionados para a próxima fase da premiação. Veja a lista completa:
· "Pássaros de Voo Curto", Alcione Araújo
· "Circenses", Alkmar Santos
· "Como se Caísse Devagar", Annita Costa Malufe
· "Ontem Não Te Vi em Babilônia", António Lobo Antunes
· "Noite Nula", Carlos Felipe Moisés
· "Flores Azuis", Carola Saavedra
· "Poemas da Recordação e Outros Movimentos", Conceição Evaristo
· "O Conto do Amor", Contardo Calligaris
· "O Maníaco do Olho Verde", Dalton Trevisan
· "Cordilheira", Daniel Galera
· "Cinemateca Eucanaã", Ferraz
· "Retrato Desnatural", Evando Nascimento
· "Canalha!", Fabrício Carpinejar
· "Marcelino", Godofredo de Oliveira Neto
· "Aprender a Rezar na Era da Técnica", Gonçalo Tavares
· "A Filha do Escritor", Gustavo Bernardo
· "Ravenalas", Horácio Costa
· "A Eternidade e o Desejo", Inês Pedrosa
· "O Livro das Emoções", João Almino
· "Acenos e Afagos", João Gilberto Noll
· "Cemitério de Pianos", José Luís Peixoto
· "Lisbon Blues", José Luiz Tavares
· "A Viagem do Elefante", José Saramago
· "Memórias de um Intelectual Comunista", Leandro Konder
· "A Arte de Produzir Efeito Sem Causa", Lourenço Mutarelli
· "O Osso Côncavo e Outros Poemas", Luís Carlos Patraquim
· "A Casa da Minha Infância", Luis Nassif
· "O Livro das Impossibilidades", Luiz Ruffato
· "Contos Eróticos", Luiz Vilela
· "Memórias Inventadas - A Terceira Infância", Manoel de Barros
· "Rasif", Marcelino Freire
· "Animais em Extinção", Marcelo Mirisola
· "O Livro dos Nomes", Maria Esther Maciel
· "Venenos de Deus, Remédios do Diabo", Mia Couto
· "A Primeira Mulher", Miguel Sanches Neto
· "Rio das Flores", Miguel Sousa Tavares
· "Órfãos do Eldorado", Milton Hatoum
· "Manual da Paixão Solitária", Moacyr Scliar
· "Ó", Nuno Ramos
· "Cinco Lugares da Fúria", Pádua Fernandes
· "A Fábrica do Feminino", Paula Glenadel
· "Predadores", Pepetela
· "Chocolate Amargo", Renata Pallottini
· "Todos os Cachorros são Azuis", Rodrigo de Souza Leão
· "Galiléia", Ronaldo Correia de Brito
· "De Paixões e de Vampiros", Ruy Espinheira Filho
· "Jornada com Rupert", Salim Miguel
· "Heranças", Silviano Santiago
· "O Livro Amarelo do Terminal", Vanessa Barbara
· "Satolep", Vitor Ramil
Thursday, May 21, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:47 AM 3 comments
AS SETE VIDAS DE QUEM NÃO TEVE UMA.
Enfim caminha a rua
Em direção a outra rua
Como se fosse uma mulher nua
Caminha sem caminhar
Levada por rodinhas
Que é o melhor jeito de estar parado
Caminha em si para lugar nenhum
Onde todos nos encontramos
Com a certeza de que um dia voltaremos
Para contar a história de um deserto de concreto
Que virou fezes de rato
Para contar a vida como se ela fosse um retrato
Tuesday, May 19, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 5:46 PM 1 comments
FAZER SOCIAL.
Vou fazer uma social
no seu quintal
Vou comer o caviar
e o angu deixar
Vou comer sua bunda
Me chamo Sunda
Vou estar em eventos
levado pelos ventos
Vou lá freqüentar
qualquer lugar
E
Vou me embora
p´ra passar a agradar
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 5:57 AM 1 comments
IN.
O que se sabe e o que não se sabe sobre uma mudança
É o que se deixa de herança
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 9:48 AM 0 comments
.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:13 AM 0 comments
.
Thursday, May 14, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:36 AM 0 comments
De pérolas.
Os porcos fartos ainda mastigam
e trituram ao vento
expandindo a distância
entre os beijantes casais corpulentos
Perplexos
ficam os versos que o vento esculpe
nas encostas recalcitradas de macacos
e lesmas
caminham rapidamente
As tartarugas
tardam a morrer
Quantos porcos matar
até encontrarmos as pérolas?
Wednesday, May 13, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:02 AM 0 comments
lagoa.
a garça
disfarça-se de branco
para nuvem
ser
também silenciar
Tuesday, May 12, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:10 AM 1 comments
os sapos.
na lagoa a neblina
esconde os sapos
quantos sapos
engole a neblina ?
quanta neblina
engolem os sapos ?
quantos sapos
engoli hoje ?
quantos sapos
estão calados?
quantos sapos
sabem do fato ?
que sou
também um sapo?
Monday, May 11, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:08 AM 0 comments
crepúsculo.
e o sol morre
de infarto
e a lua derrame
Sunday, May 10, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:06 AM 1 comments
.
Gente você gosta
Tenha fratura exposta
Ou cheire feito bosta
Passando alguma pasta
Nos cabelos que ele gosta
Nem sempre toda a gosma
Nem sempre tudo tosta
Ao sol que tudo mostra
Dinheiro você gasta
Gente você gosta
Se fosse uma aposta
As minhas quentes costas
Pela costa coisa nostra
Aquela voz que imposta
No grito de esta joça
Em mim não vem se roça
Enfim tudo que imposta
Imposto vira fossa
Rock vira bossa
Saturday, May 09, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 5:26 AM 1 comments
Rir.
Dente tende
A virar músculo
Antes varo
Vara e másculo
Depois frouxo
Roxo e carne
Antes branco
Total Mármore
Friday, May 08, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 11:38 AM 0 comments
CANÇÃO PARA UM AMOR NAUSEABUNDO.
Inspira um segundo o ar da manhã
Sente o olfato dos carros passando
Daqui de cima não dá pra lhe ver direito
Você é tão minha que é quase a ponte inteira
Um abismo de leões e dragões rugindo
Um caminhão de suicidas pedindo auxílio
Um beijo que o chão me deu aos sete anos
Depois: algum flanelinha flanando o amarelo
Dizendo pr`eu botar meu carro aqui
Bato parado carreiras de insanidade
Me dizem para pular em mim mas é um lugar tão deserto
O escuro da noite sobe pelas escadas
As sirenes do bombeiro
O escudo da tropa de choque
O choque que já levei um dia
Tudo isso lhe circunda e você foge de mim como de uma locomotiva
Eu venho vindo em direção contrária
Ainda encontro tempo para sentir o seu perfume
Dedico um segundo a guardar o seu cheiro
Depois vomito tudo antes que me beije
Tão decentemente que me enjoe
Thursday, May 07, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 4:10 PM 0 comments
O DADO DE SETE LADOS.
Psiquiatras vêem doença em tudo.
No azul do veludo
de uma neurose:
numa operação de fimose.
Por osmose
(numa réplica de crocodilo)
vêem o Murilo.
Mendes é o nome dele.
Vêem a Paranóia (de Piva)
e os sete cantos de um dado imaginário.
Podem me chamar de otário:
no sentido horário
e no anti-horário.
Wednesday, May 06, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 11:39 AM 3 comments
.
Ele matou Freud tomando uma pílula
azul
E nunca mais discutiu os seus problemas
mentais
Sexo
era algo doentio e continuava sendo o mesmo
que
surgir do nada com uma flor de pláastico
Monday, May 04, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 7:21 PM 0 comments
EU.
Morri sem conhecer Rodrigo
Há quem diga que ele
Olhava muito o próprio umbigo
Mas não é isso não
Tinha fome de Leão
Queria tudo agora
Foi
Chegada a hora
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 10:39 AM 2 comments
BRILHO.
Tudo é Cia
Interpol
KGB
Enquanto eu
Amo você
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:07 AM 1 comments
LIGHT MY FIRE.
Sunday, May 03, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:14 AM 1 comments
.
Todos que me cercam
Talvez Deus seja um agente
Gente é que ele não é
Saturday, May 02, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 11:46 AM 1 comments
.
Aranhas e cavalos são sombras perpétuas. A minha sombra não fala de mim. Sequer posso vê-la. Na escuridão/com uma vela acesa/acendo minha mão.
Na imensidão do olho dela posso vê-la. Quem é? Quantos anos?
Tudo me devora até meu ápice e volta devagar como se o dragão que eu cavalgo cuspisse em mim cem mil bocetas azuis.
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 8:42 AM 1 comments
.
a polícia procurou e o internou
o que não se sabe é quem o matou
Há palavras que não podem ser ditas
Há até as mais e mais bonitas
quando alguma coisa acontece depois
e só o depois importa além do que foi
é o que fica rodando na minha frente
esquecer das vozes que ecoam na mente
salpicar alguma tristeza aqui e ali e pronto
é complexo terminar tudo num ponto
Friday, May 01, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 6:13 AM 1 comments