Traduzir poemas é uma arte difícil. Existem vários caminhos engenhosos a percorrer, para que uma tradução seja bem sucedida. Em geral ou se traduz literalmente ou se recria a obra a ser traduzida. Ambas as vertentes funcionam de acordo com o projeto e com cada peculiaridade que este sistema exige.
A invenção é sempre necessária para a escolha correta do vocábulo, ritmo, signo, significado, etc., o que exige uma técnica refinada do tradutor. No caso da poesia, muitas vezes quem faz este trabalho é poeta também: se não a domina — ainda mesmo que poetastro, o que nem sempre é o caso —, pelo menos, tem uma noção básica de como funciona a estrutura de um verso. Tanto é mais valorizado o trabalho conforme a dedicação em manter o texto estruturado e de acordo com a sua origem. Nem com tanta inventividade que deturpe o original, nem tão fixo que não acrescente nada na sua metamorfose para o idioma de Drummond, Bandeira, Cabral e Machado de Assis. Um trabalho que pode ser bem complicado, cujo resultado é importante para quem lê (e, especialmente, não domina a língua em questão).
Foi encarando todos estes dilemas que os tradutores conseguiram êxito quando resolveram transpor Popol Vuh para o Português.
Cabe aqui ressaltar a importância deste texto para a literatura mundial, considerado a “bíblia” do continente americano: o quarto mundo na história planetária. Escrito na Guatemala, no século XVI, já foi traduzido para diversas línguas, inclusive o japonês. Faltava uma tradução para a língua portuguesa e apesar de ser a versão da versão, o trabalho é coeso e comprova todo o vigor da poesia ameríndia.
Podemos chamar de “guia” a tradução feita por Munro Edmonson, para o inglês. Foi nela que Sérgio de Medeiros (poeta e professor brasileiro) e Gordon Brotherston (estudioso inglês) se debruçaram, para a feitura da obra em nossa língua. Ambos trabalharam de forma associada para a elaboração deste que é, sem dúvida, um trabalho de grande fôlego. Operários do ofício, os tradutores não pouparam tempo de suas vidas para organizar a edição. Sérgio esteve várias vezes nos Estados Unidos, nestes quatros anos, dedicados quase que integralmente ao Popol Vuh, que influenciou, como cosmogonia singular que é, grandes escritores como Jorge Luis Borges e Miguel Angel Asturias. Também trabalhos de artistas plásticos e músicos receberam o vento inspirador do livro guatemalteco. Podemos citar Edgar Varèse e Diego Rivera. Na área sociopolítica, a obra serviu de base para a líder indígena Rigoberta Menchú – ganhadora do Nobel da Paz – delimitar as linhas de força de sua atuação de resistência indígena na América Latina.
A cosmogonia trata da origem de um povo. Assim como o mundo cristão tem a Bíblia, os índios guatemaltecos fizeram seu relato de como vêem a origem do mundo no planeta Terra em particular, de seu povo e do universo. Antes de ser quase que completamente dizimados, resolveram escrever a sua história em versos, e registrar todos os seus relatos cosmogônicos mais populares.
A poesia é a escritura primal do ser humano e apesar de estar, na atualidade, meio relegada a uma posição secundária, era a forma com que os povos antigos comunicavam seus valores, suas crenças e toda a sua visão de mundo. Neste aspecto e num universo pós-moderno, onde o poema foi relegado à posição de "inutencílio", traduções como esta promovem o religare com o que a tradição tem de melhor. Nela é possível perceber o verdadeiro valor e papel da peça poética e, ainda, a sua influência no transcorrer da história universal, trazendo para perto do leitor toda a força que só a linguagem poética tem.
Popol Vuh é um texto clássico e foi traduzido por — como diria Erza Pound — um poeta de invenção, chamado Sérgio Medeiros. Ele tem no imagético sua principal característica. Esta aparente ambigüidade serve para carregar de força lírica guatemalteca a sua coleção de seres inusitados, que foram mantidos com os nomes em maia-quiché, como aparecem num glossário, apêndice do livro. Também há ensaios sobre as questões e temáticas que a publicação aborda.
Resta-nos desejar que este projeto se consolide com novas incursões sobre as cosmogonias ameríndias, o que já é projeto de Medeiros. Talvez não seja um caminho medíocre, pelo contrário, traduzir estas peças de relevante importância para o entendimento da América Latina pode nos levar ao encontro do Brasil (como nação também) e ainda descobrir o que nos faz iguais ou diferentes de nossos hermanos que foram os verdadeiros donos da terra.
Os leitores brasileiros têm grandes motivos para penetrar neste novo mundo, ao mesmo tempo tão próximo e tão distante. O mundo dos verdadeiros donos dos primitivos relatos de tempos ancestrais, que ainda insistem em demonstrar que existem, apesar de tudo o que existe contra eles hoje em dia. Popol Vuh é pop, em português, agora disponível a todos e não somente restrito a um pequeno grupo de eruditos e estudiosos do assunto.
Saudações a todos os “Ahav Ah Tzik Vinaq” que trabalharam neste grande projeto. O projeto de uma vida.
A invenção é sempre necessária para a escolha correta do vocábulo, ritmo, signo, significado, etc., o que exige uma técnica refinada do tradutor. No caso da poesia, muitas vezes quem faz este trabalho é poeta também: se não a domina — ainda mesmo que poetastro, o que nem sempre é o caso —, pelo menos, tem uma noção básica de como funciona a estrutura de um verso. Tanto é mais valorizado o trabalho conforme a dedicação em manter o texto estruturado e de acordo com a sua origem. Nem com tanta inventividade que deturpe o original, nem tão fixo que não acrescente nada na sua metamorfose para o idioma de Drummond, Bandeira, Cabral e Machado de Assis. Um trabalho que pode ser bem complicado, cujo resultado é importante para quem lê (e, especialmente, não domina a língua em questão).
Foi encarando todos estes dilemas que os tradutores conseguiram êxito quando resolveram transpor Popol Vuh para o Português.
Cabe aqui ressaltar a importância deste texto para a literatura mundial, considerado a “bíblia” do continente americano: o quarto mundo na história planetária. Escrito na Guatemala, no século XVI, já foi traduzido para diversas línguas, inclusive o japonês. Faltava uma tradução para a língua portuguesa e apesar de ser a versão da versão, o trabalho é coeso e comprova todo o vigor da poesia ameríndia.
Podemos chamar de “guia” a tradução feita por Munro Edmonson, para o inglês. Foi nela que Sérgio de Medeiros (poeta e professor brasileiro) e Gordon Brotherston (estudioso inglês) se debruçaram, para a feitura da obra em nossa língua. Ambos trabalharam de forma associada para a elaboração deste que é, sem dúvida, um trabalho de grande fôlego. Operários do ofício, os tradutores não pouparam tempo de suas vidas para organizar a edição. Sérgio esteve várias vezes nos Estados Unidos, nestes quatros anos, dedicados quase que integralmente ao Popol Vuh, que influenciou, como cosmogonia singular que é, grandes escritores como Jorge Luis Borges e Miguel Angel Asturias. Também trabalhos de artistas plásticos e músicos receberam o vento inspirador do livro guatemalteco. Podemos citar Edgar Varèse e Diego Rivera. Na área sociopolítica, a obra serviu de base para a líder indígena Rigoberta Menchú – ganhadora do Nobel da Paz – delimitar as linhas de força de sua atuação de resistência indígena na América Latina.
A cosmogonia trata da origem de um povo. Assim como o mundo cristão tem a Bíblia, os índios guatemaltecos fizeram seu relato de como vêem a origem do mundo no planeta Terra em particular, de seu povo e do universo. Antes de ser quase que completamente dizimados, resolveram escrever a sua história em versos, e registrar todos os seus relatos cosmogônicos mais populares.
A poesia é a escritura primal do ser humano e apesar de estar, na atualidade, meio relegada a uma posição secundária, era a forma com que os povos antigos comunicavam seus valores, suas crenças e toda a sua visão de mundo. Neste aspecto e num universo pós-moderno, onde o poema foi relegado à posição de "inutencílio", traduções como esta promovem o religare com o que a tradição tem de melhor. Nela é possível perceber o verdadeiro valor e papel da peça poética e, ainda, a sua influência no transcorrer da história universal, trazendo para perto do leitor toda a força que só a linguagem poética tem.
Popol Vuh é um texto clássico e foi traduzido por — como diria Erza Pound — um poeta de invenção, chamado Sérgio Medeiros. Ele tem no imagético sua principal característica. Esta aparente ambigüidade serve para carregar de força lírica guatemalteca a sua coleção de seres inusitados, que foram mantidos com os nomes em maia-quiché, como aparecem num glossário, apêndice do livro. Também há ensaios sobre as questões e temáticas que a publicação aborda.
Resta-nos desejar que este projeto se consolide com novas incursões sobre as cosmogonias ameríndias, o que já é projeto de Medeiros. Talvez não seja um caminho medíocre, pelo contrário, traduzir estas peças de relevante importância para o entendimento da América Latina pode nos levar ao encontro do Brasil (como nação também) e ainda descobrir o que nos faz iguais ou diferentes de nossos hermanos que foram os verdadeiros donos da terra.
Os leitores brasileiros têm grandes motivos para penetrar neste novo mundo, ao mesmo tempo tão próximo e tão distante. O mundo dos verdadeiros donos dos primitivos relatos de tempos ancestrais, que ainda insistem em demonstrar que existem, apesar de tudo o que existe contra eles hoje em dia. Popol Vuh é pop, em português, agora disponível a todos e não somente restrito a um pequeno grupo de eruditos e estudiosos do assunto.
Saudações a todos os “Ahav Ah Tzik Vinaq” que trabalharam neste grande projeto. O projeto de uma vida.
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