PUNK


Sexo

À Denise e à Valéria

Sexo nas pistolas
Que esporram
Gomalina na garotada

Moicanos negros
Desbotam a noite
Nos coturnos

Em algum telhado
Dentro do crepúsculo
Surge Cubatão

Onde cabelos
De várias cores
Coloriam as Dolores

Duran-durante
O pó saudável
Que em mim

Agüente

Saturday, September 29, 2007

UM POEMA OU UM CONTINHO? QUAL A MELHOR OPÇÃO?

Versão 1:

A gente jogava tênis. Algumas pessoas me disseram: como você conseguiu jogar tênis com ela? Ela não joga com ninguém, como foi jogar justamente com você?
Um fodido. Um mal jogador. Um quatro olhos. Ainda por cima tem um backhand ruim.
Deve ter sido por pena.
Eu disse que ela queria me ensinar uma jogada nova. Uns lances de efeito.
Ou seja: nenhum interesse. Só o de que eu aprendesse a ser um melhor jogador.
As bolas amarelas ficaram no chão. Elas não duram uma partida inteira.
Eu queria continuar jogando. Mas ela jogava muito mais que eu e marcamos um outro jogo que durasse menos.
Jogamos. Jogamos e jogamos. Eu melhorei tanto que deixava ela me ganhar.

Versão 2:

A gente jogava tênis. Algumas pessoas me disseram:
como você conseguiu jogar tênis com ela?
Ela não joga com ninguém, como foi jogar justamente com você?
Um fodido. Um mal jogador. Um quatro olhos.
Ainda por cima tem um backhand ruim.
Deve ter sido por pena.

Eu disse que ela queria me ensinar uma jogada nova. Uns lances de efeito.
Ou seja: nenhum interesse.
Só o de que eu aprendesse a ser um melhor jogador.
As bolas amarelas ficaram no chão. Elas não duram uma partida inteira.
Eu queria continuar jogando.
Mas ela jogava muito mais que eu
e marcamos um outro jogo que durasse menos.
Jogamos. Jogamos e jogamos.
Eu melhorei tanto que deixava ela me ganhar.

Thursday, September 27, 2007

CROSTA

planto
plantas
plânctons

plural de abismo:
céu

orquídeas brotando do lixo
coturnos andando solitários

armários que voam na noite
algum alguém ou algo

nata no leite quente
restos de rastros no espaço

almoço: papel almaço

Wednesday, September 26, 2007

Atomic

Monday, September 24, 2007

MUNDO PARALELO

Todos saíram quando entraram
Todos entraram quando saíram

Alguns foram enterrados vivos
Outros são vivos enterrados

Fico: em ambas as frases: sem saber
O por quê de os vivos serem tão vivos

E os mortos tão mortos

Sunday, September 23, 2007

Palhaço.



Me acho
um gênio
enquanto
faço
Depois
Palhaço

I am
a genius
while
I take now.
After
I am clown.

Friday, September 21, 2007

BICO DE LACRE

Ana era um tesão. Mulher gostosa para homem nenhum botar defeito. Todo mundo na faculdade queria come-la. Não havia homem vivo que não fizesse reverência à beleza de Ana. Eu sempre gostei de mulheres que falassem algo de inteligente, pelo menos de hora em hora. Não cobrava uma mente brilhante o tempo todo: o que eu queria era um corpo brilhante como o de Ana. Possui-la seria algo muito especial com certeza.

Passei a sentar perto dela na sala de aula. Mas eu corava um pouco diante daquela mulher. Era tesuda. Linda demais para mim. Era tudo que eu queria; tanto que babo enquanto escrevo estas linhas mal traçadas. Além do tesão, fui construindo dentro de mim uma mulher maravilhosa: capaz de recitar Rimbaud de cor. Capaz de soletrar em alemão. Capaz de traduzir para o francês parte da obra de Joyce.

Ela só crescia em mim enquanto pessoa e enquanto mulher. Como pessoa mostrava-se militante da causa do mais pobres e como mulher estava cada vez mais maravilhosa em sua minissaia babante ao chão. Eu não agüentava mais o meu pênis e a minha cabeça. Meu corpo e minha mente estavam fascinados pela mulher maravilhosa chamada Ana.

- Ana qual è o seu nome?
Perguntei pra ela o nome dela que eu sabia. Que gafe. Vai me reduzir a esterco.
- Como sabe o meu nome?
- Todos sabem o seu nome.
- Todos?

A filha da putinha estava me dando mole. Vaca profana: toda mulher gostosa gosta de saber que é gostosa.

- Todos somos seu fã.
- E você vê: eu estou sem namorado há mais de um mês.

Não sei o que eu tenho, mas ela estava me dando mole. Enquanto falava gesticulava. Adoro mulheres que gesticulam. Elas passam uma verdade para a gente. Passa uma sensualidade toda própria. Adoro mulheres que sabem falar. Falar é primordial e Ana falava bem:

- Sabe, você fala tão bem!
- Quero ser professora de Português e escritora. Meu sonho sempre foi escrever um livro do tipo do Patavina Angústia.
- Patavina Angustia! – eu não conhecia porra nenhuma do Patavina – eu adoro Patavina – falei mentindo, óbvio.

E Ela ficou ali meia hora falando do Patavina Angústia e de como a linearidade discursiva poderia ser substituída pela tensão estrutural no texto do tal escritor. Fiquei gamado e nos dias que se seguiriam leria toda a obra do Patavina Angústia.

Era amigo de Ana. Um amigo distante e – com medo de ver o meu planejamento de aproximação – cair por terra, não fazia nada fora das dadas planejadas para que eu traçasse Ana ou não. Ana era tão gostosa que dei um prazo a mim de um ano para que comesse a mulher mais gostosa da faculdade, que eu saiba virgem indevassada ainda nas bocas das matildes da facu.

Fomos estudar junto o tal do Patavina na biblioteca quando ela pegou na minha mão. Havia uma barata andando perto da mesa e de sua bolsa. Eu tremi de medo. Se há uma coisa que detesto é barata, mas se eu mostrasse toda aquela minha porção viado a ela, meu deus! correria o risco de perder meu bem para sempre. Fui macho e matei a kafquiana. Ela, Ana me elevou momentaneamente a condição de herói grego e ainda bem que eu percebia que aquela mulher estava se afeiçoando a mim: porque estava chegando no final do meu prazo de varredura e eu não havia liquidado a promissória, sequer me aproximara dela. E o pior: estava apaixonado. Vivia o dia todo escrevendo Ana no caderno. Fazia balõezinhos com a palavra AMOR. Estava caído de amor. Quedado.

Passava horas a fio em busca de uma idéia salutar que me fizesse chegar a aproximação de minha deusa. Cantava aquela música; “Eu pensei em tanto pra dizer enquanto esperei pela chegada triunfal desta deusa”. Enquanto não a possuía maritalmente e enquanto ela não era a minha mulher e a mulher de meus filhos e a mulher mais perfeita quase a virgem Maria, eu me masturbava libidinosamente pensando em seu corpo. No que me falava. Na sua voz. Nas suas coxas. Na sua zona do agrião. Cheguei – de tanto descabelar o palhaço – a conviver com uma dor de cabeça tão forte que só vinha na hora em que o meu sexo tremia de amor mais sincero: a hora do gozo eufônico. Eu gozava recitando o soneto da fidelidade e minha vida era feliz.

Suficientemente perto do natal fui acometido de uma dor que me ofuscava a entranha, uma dor rimbauldiana mesmo: nós iríamos entrar de férias e resolvi partir com tudo antes que mais um fim de ano chegasse e eu ficasse a ver navios, ou melhor, a ler revistinhas do Hary Jone, a ver os filmes da coleção Sex Hot ou a fazer o plano total de aquisição da tv a cabo, só por causa dos quatro canais de sexo. Estava doido. Quicava dentro de mim. Era a última prova do ano. O tema da prova era Patavina Angústia. Pronto!

- Ana quer estudar o Patavina Angústia lá em casa?
- Tudo bem. Eu vou. Que horas?

Eu não acreditei. Ela iria. Ó Ana Júlia aahaahh ahhahhahahahha/Ó Ana Júlia ahahahahahahah”.

Preparei todo o ambiente da minha casa. Cheguei a chamar uma amiga decoradora – que tive de traçar por conta dos palpites que me deu – e decorei a casa com flores e fragrâncias florais. Botei um espelho no teto para dimensionar todos os ângulos do sexo selvagem que iria rolar. As tamancas vão quebrar, eu dizia a mim mesmo. Era que o meu pai dizia quando me levou pela primeira vez nas termas Santo Amaro.

Ting dong, tocou a campainha. Eu já estava puto de tanto esperar. Ela estava numa calça tão grudada que chegava a ver o âmago da sua xaninha. Meu pau logo endureceu. Eu era um garoto e tinha só vinte e poucos anos: o que potencializava a minha força sexual.

Ela era doce, meiga, bonita, gentil, delicada, bondosa e usava um Pierre Merdon: o melhor perfume do mundo. Sentamos e ela fez questão de ficar bem distante de mim. Li vinte e cinco páginas de um texto que havia feito sobre Patavina. Falei e falei. Dei aula do assunto. Dentro dela eu sentia que ela pensava: “COMO ESTE CARA SABE DE PATAVINA”.

Eu sabia de Patavina para caralho. Não gostava tanto do Patavina quanto da Rosecler Lisboa Prado de Almeida e Fragon, mas tudo pelo sexual.

Conversa vai e vem. A cada meia hora me aproximava vinte centímetros: o que deu no final de duas horas, uma quase coxa a coxa com Ana.

O tempo estava passando e o assunto se assuntando e se espargindo, indo pelo ar. Resolvi partir para o ataque. Botei minha mão sobre as coxas dela. Ana tirou as mãos. Toda a mulher recatada é mais gostosa. Depois de meia hora de tira e bota a mão pra lá e pra cá, eu resolvi parar tudo:

- Pára tudo!
- Por que?

Resolvi me declarar.

- O amor é o fogo que arde sem se ver.
- É ferida que dói e não sente.

Falei por meia hora e olhei por meia hora no azul piscina daqueles olhos e mergulhei na sua boca. Bingo. Vitória. Gol do Mengão no Maracanã.

Ficamos quinze dias saindo e levei dois meses para que fizéssemos amor. Eu não faço sexo. Eu só faço amor. Fizemos de tudo menos o tal do boquete: sexo oral. Ela alegou que exigia uma melhor “enturmação” com o meu ser e que um dia chegaria e nós faríamos o tal do boquete.

Eu estava amando e havia achado a deusa da minha vida e a mulher que iria guiar o meu carmanguia vermelho. A senhora do meu sono. A perfeita. A deusa. A formosa e a imaculada: Ana.

Passeávamos de mãos dadas na praia. Íamos ao cinema. Fizemos todo o roteiro de amor do Rio de Janeiro. Tudo vale a pena quando a pica não é pequena, dizia ela em seus momentos de maior aproximação... Só havia um problema: ela não fazia o boquete. Não chegava perto do Godofredo. Não beijava o bichinho.

- Um dia será o dia em que tudo se revelará e nós faremos sexo oral.


Aguardava este dia tanto que resolvi, pelo fato de ter encontrado a mulher de minha vida, a deusa de meus caminhos, resolver aquele problema com uma profissional. Aquilo não era traição. Era só uma fissura minha que estava aumentando e podia terminar prejudicando o amor da minha vida. Para o meu relacionamento não sucumbir em discussões de relação, procurei uma mulher no jornal. Eu era contra. Juro que sou um homem que preza o amor como algo superior. Não sou do tipo que só pensa em carne. A única carne que como é boi ralado. Com mulher eu faço amor. Desculpe meu bem, mas lá fui eu para a RAINHA DO BOQUETE, um antro de perdição mais conhecido como termas Copacabana.

- Quero conhecer a rainha do boquete. Falei a recepcionista que me olhava.

Pedi desculpas a Ana. O fiz internamente. O fiz por nós dois. Eu não iria beijar. Não iria fazer sexo. Eu não iria me prostituir às avessas e me entregar a luxuria. Era só uma chupadinha. Fui ao reservado e tirei a roupa enquanto pensava numa boca mecânica, numa dessas ordenhadoras de tetas de vaca automática. Eu estava fazendo aquilo pelo meu amor.

A barraca estava armada. O sangue pulsava. Só de pensar que o meu fetiche, algo que não fazia há muito tempo ia ser concretizado, me fazia babar.

Virei-me e fiquei de bunda para a porta e me olhando no espelho. A recepcionista chegou trazendo uma mulher à tira colo. Ela disse que a garota com o véu era a Rainha do Boquete.

Me aproximei. Olhei nos olhos dela e uma lágrima caiu. Tirei o véu e ela era Ana. Ana Júlia era a rainha do boquete. Meu pênis broxou na hora. Cai fulminado com um ataque cardíaco. Hoje me encontro no CTI sexual do céu. Fui condenado a viver de pau duro esperando Ana para consolidar meu desejo mais ulterior.

Thursday, September 20, 2007




Ouça a música Nada, de Rodrigo de Souza Leão.

Este é o Conservatório Erik Satie.
É um rústico Tascam (ou seria Toscam) onde cantei e toquei esta canção.
Não tem uma qualidade boa de gravação.
Mas dá pra ter uma idéia do que faço.
Espero que gostem.

Ab

Rodrigo

Monday, September 17, 2007

LOWCURA NO BLOOKS.

O blogue Lowcura está participando da exposição BLOOKS. É no espaço Oi Futuro. Ainda não fui lá. Dizem que está bem legal. Se você estiver pelo Rio, dê um pulinho lá e confira. Eu participo com o poema Gosma:

Gosma

gosma de silêncio: nóia
ficar mastigando um palito de fósforo
procurando em si uma respiração

encontrando o próprio bafo
na ponta do nariz alheio

ser a melhor parte do bolo
o recheio


BLOOKS

“– letras na rede é um olhar lançado sobre a produção literária na internet, um novo espaço que está sendo conquistado de forma acelerada pelas práticas literárias: prosa, poesia, quadrinhos, grafismos, conexões letra e som. Mostra o universo da palavra vista com todas as implicações de se escrever em um mundo conectado e veloz no qual se produz diariamente uma quantidade surpreendente de literatura. Além da velocidade, o ambiente www, traz consigo uma inédita facilidade de produção, publicação e divulgação para a criação literária. Incluindo-se neste quadro a natureza de excesso que essas facilidades permitem. A literatura na web define uma nova forma de criação na qual o conteúdo da escrita se adapta à sua ferramenta de produção. A data torna-se importante, as horas, os minutos. É a nova experiência de criar e produzir em um meio onde tudo se perde e se encontra com assombrosa simplicidade. O hoje é arquivado semanalmente e se perde entre outros milhares de hojes. O importante é ir além do factual, ficcionalizar. Em Blooks tentamos capturar não só o conteúdo das práticas literárias produzidas na ou partir da internet, mas criar uma experiência sensorial, transportando o espectador através de ambientes distintos, propondo que mergulhe conosco no nesse mar revolto de invenção e criação. Seja bem-vindo à Blooks. O acesso a tudo. O excesso de tudo.”

Curadoria:
Heloisa Buarque de Holanda
Bruna Beber
Omar Salomão

Visitação:
08 a 30 de setembro de 2007
terça a domingo, das 11h às 20h

Oi Futuro
Rua Dois de Dezembro, 63
Flamengo - Rio de Janeiro
[21] 3131-3060


Mais informações aqui.

Thursday, September 13, 2007

CORTINAS


olho interno
saúda a cócega
algum comichão
nasce pra morte
algum espantalho
explode um corvo
meu aneurisma
algum sangue pisado
ou a menstruação
do espaço sideral
em mim, mímica
algum esqueleto
inválido de plêiade
defeca um arbítrio

Wednesday, September 12, 2007

SÉRIE FACE DUPLA














Tuesday, September 11, 2007

dois poemas curtinhos

mente

prisão maior que eu
do tamanho do mundo

prisão maior do mundo
do tamanho de mim



enquanto

todo mundo é eterno
enquanto dorme
depois que acorda:
morre

MULHER BARBADA

A mulher barbada pediu ao guarda que guardasse o silêncio. O silêncio olhou pra ela e sorriu e lhe deu um beijo. Foi o único beijo que deu em vida.

A mulher sem dente era gostosa por isso a comiam. O fato de estar sem dente não a diminuiu até o dia em que a barba apareceu e ela virou uma mulher barbada que usava Prestobarba. A barba cresceu até a Groenlândia e um esquimó (ou sei lá quem mora na Groenlândia) se apaixonou por ela.

Ele gostava dela assim como era e ficou velho igual a Papai Noel que entrou aqui porque todos morremos e a mulher barbada foi feliz para o céu.
Curtiu a vida como pode deixando pros urubus sua barba podre.

Monday, September 10, 2007

crio mundos inocentes
parâmetros para pensar a doença
(não é todo mundo que
tem uma bomba que
pode explodir)
(que pode imprimir um texto em sua mente que
pode numa fração de segundo
não distinguir mais entre qual realidade
mais se adapta a cada loucura /que
também ao se olhar no espelho depois de tudo
deixe de se angustiar tanto que possa
pôr um ponto final. que
só se reconheça em reticências que
só se diga aquela palavra
na hora exata
em que se plugue na mente
uma conexão qualquer que
navegue como um som)
às vezes ouço um piano
às vezes ouço uma voz
pior quando não ouço nada e estou sozinho
e o pior acontece
aço na testa e o início de um calafrio que não termina
nem com uma gota anatensora
((só a realidade é calma
enquanto coço o infinito com o meu maior dedo do pé pois
não estou mais
aqui))

Wednesday, September 05, 2007

A MAIOR PRISÃO


Não é a prisão de ventre
É a prisão de mente

Monday, September 03, 2007

 
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