.

Indo tudo indo como vindo
algum trem: pé na embreagem

Tudo indo como se nada fosse
todo o verso fez-se foice

O martelo e a bigorna
forjando uma estação

O trem novamente indo
Ele vai para o nunca mais

Vai de onde venho vindo
Há coisas que jamais

acontecem
A noite chega e a gente vai

se perseguindo
O pesadelo pelos poros vem surgindo

Brota numa folha de papel
Um anzol preso no lóbulo

e no final o prólogo

Saturday, February 28, 2009

CARTA DO CRÍTICO HILDEBERTO BARBOSA FILHO.

CARTA DE HILDEBERTO BARBOSA FILHO.

Comarca das Pedras, 17 de fevereiro de 2009.

Prezado Rodrigo:

Grato por todos os cachorros são azuis. A propósito, que belo título! Não o li assim que Sérgio Castro Pinto me entregou. Afazeres múltiplos me retardaram a leitura. Mas agora que devorei literalmente de uma pitada só, digo-lhe que fui quase a nocaute com sua prosa iluminada e estonteante. Eu, que sou obsessivamente louco por gêneros intimistas (Maura, Lúcio, Villaça, Amiel, Torga e tantos outros) me ative, com atenção, ao seu texto ousado, corajoso, sobretudo poético. Numa circunstância histórica como a nossa, onde se cristalizam o “império do efêmero” e a era do vazio”, textos desse tipo trazem uma aura de resistência contra a vulgaridade massiva dos bárbaros pós-modernos. É preciso, sim, “sair por aí com Rimbaud e Baudelaire”. Sair por aí tocado pelos sonhos proféticos e pelo êxtase dos devaneios. Seu romance me parece um convite direto a uma intensa experiência de iluminação. Sem mais, meu abraço.


HBF

Thursday, February 26, 2009

POP E ANTI-POP: DUAS COISAS AUDÍVEIS EM MEIO AO CAOS E AO BONDE DO TIGRÃO.

1.A MÚSICA DE WIN METTERS – O SOM DO DESESPERO.

Quando você estiver doendo não coloque Win Metters na vitrola ou no cd do computador ou ainda na aparelhagem que tiver em casa. É que o som deste belga pode causar ainda maior dano a sua saúde mental. Não se trata de barulheira. Não se trata de problema de surdez. Não é nada disso que está pensando agora. Trata-se de música triste. Uma música que beira a clássica e já serviu de trilha para alguns filmes fúnebres. Se você achava que Janis Joplin era triste, era. Nem nenhum punk rock pode deixar alguém num estado de depressão tão profunda quando Metters. Ele toca um piano muitas vezes acompanhado de um sintetizador e uma soprano que não chega a ser uma Yma Sumac, mas alcança notas altíssimas e belas. Sem dúvida que para dias de desespero não é muito aconselhável – também não é apropriado ao distúrbio bipolar de humor. É perigoso ouvir o som do desespero.

Por outro lado, em dias quentes de verão enquanto a turma se acotovela.- ouvindo O Bonde do Tigrão rumo ao Piscinão de Ramos-, existe o desprazer do prazer de saber, com perdão da grande cacofonia, que ainda há música boa na face do globo terrestre. Nem que seja vindo da Bélgica. Nem que seja vinda de apenas um instrumento como muitas vezes um piano. Um piano belo e triste que ecoa no vazio e no interior, retinindo no âmago como se fosse o antídoto a facilidade.

Claro que o contato com as verdades ou com uma música de qualidade potencializadora é uma experiência. Sendo assim: nunca se volta o mesmo depois de ter escutado algo que é arte em dias que enfadam de tristeza – só que uma tristeza infértil e que constata e pergunta, onde estão músicos como Metters? Onde mora a música contemporânea? O que estão fazendo com os nossos ouvidos?

2.CÁSSIA ELLER – GOLD.

Quando um escritor é editado pelas Edições de Ouro, em livros de formato de bolso, é o melhor sinal de que está alçada a categoria de eterno. Assim também o é – na música -, quando o cantor passa a figurar em antologias como a Gold,da gravadora Universal. Este é o caso de Cássia Eleer. Depois de uma morte estranha onde a família agiu de forma igualmente estranha, ocultando ou contradizendo os fatos, é a hora de dar à estrela Cássia a parte que lhe cabe dentro do latifúndio da MPB e do roque Brasil. E creiam, há que ser muito generosos com a cantora de “Malandragem” – sem dúvida o último grande artista que o século passado ouviu e o primeiro que o início do século viu acabar existencialmente.

Claro que a obra é eterna. Renato Russo é eterno. Cazuza é eterno e Cássia será eterna – uma destas grandes criaturas que vieram ao mundo para detonar tudo, para abalar alicerces, e ela cantou no CD GOLD tudo aquilo que viveu e os seres que povoaram a sua existência: Cazuza, Renato Russo, Jhon Lennon, Kurt Cobain.

O Segundo Sol é o primeiro som que brilha na alvorada do CD Gold de Cássia Eller. A música foi composta pelo titã Nando Reis e anuncia o brilho efusivo que virá e já começa nesta iluminação de abertura. É um arranjo simples onde os violões estão em primeiro plano e a voz de Cássia soa tranqüila e sem a agressividade que virá posteriormente. Trata-se de uma balada suave à moda de Cássia. Na Cadência do Samba seguimos ouvindo o clássico de Ataulfo Alves, revisitado e mostrando o balacobaco e o caterefofo de nossa musa gay. Cazuza surge e brilha na voz da diva quando ela canta Todo Amor que Houver Nesta Vida. Ser o pão e ser a ferida. Todo o amor que houver nesta vida não e suficiente para amar Cássia. Malandragem vem com muita sacanagem e é o maior sucesso da cantora. Aqui ouvimos a versão antiga e não a que fez mais sucesso: a do acústico MTV. Mesmo assim Ela é Ela ou Ela é Ele. Pouco importa. Eu só peço a Deus um pouco de malandragem, pois eu sou criança e não conheço a Verdade. Segue uma versão ao vivo de Eu sou Neguinha, de Cae Veloso Chegamos ao ápice com Try a litle tenderness. Um puta soul maravilhoso, obra prima. Na voz de Cássia a canção ainda cresceu mais e é um momento inigualável na carreira da cantora. Preciso dizer que te amo, de Cazuza, vem a seguir deixando a interprete passear por ritmos mais calmos como a bossa nova. A Legião está presente em Música Urbana, uma canção muito chata, mas que na voz de Cássia fica estranha e dissonante. Ganha o ouvinte. Outra chatice de letra é Pro dia nascer feliz, que fica audível devido ao arranjo e a voz da cantora mais importante surgida no Brasil desde a morte de Elis Regina. Creio que o maior paralelo entre as duas está no fato de que ambas não sabiam da dimensão que tinham. Cássia ainda irá crescer muito. A versão para Smells like teen spirit é fraca e nada acrescenta a original: mesmo a gana da interprete não é suficiente para levantar uma música como esta. Mas logo depois é a vez de outro momento sublime: a cantora interpreta Woman is the nigger of the world. O faz de forma magistral. Ela não desafina e não derrapa. Tudo ao vivo. Todo o poderio da melhor voz feminina da atualidade disposta a jogar no vento tudo que o vento pode trazer de volta. Tudo que uma mulher sente por ser descriminada. Meu mundo ficaria completo não compromete e Geração Coca-cola incendeia a festa. Sem dúvida é um disco primoroso onde há muitos altos. Tantos altos que os baixos não são audíveis de tão baixos.

.

O tempo nunca na nuca escuta. O tempo nunca.
Ele se repete enquanto vivemos no passado.
Alguma depressão de signos. Alguma conciliação
de plumas faz do carnaval algo da carne. Alguma
coisa que se apresenta como nova e não tem novidade
alguma. É só parar e olhar os ponteiros do relógio.
Eles sempre se encontram de hora em hora. Urge
saber apenas se as minhas repetições são esquivas ou
eqüinos de Lexotan seis miligramas que me deixam
calmo: eu preciso disso para viver porque sem os
remédios estou só. Vendo um temporal cair de uma
vez por todas: de uma forma devastadora: de uma forma
opressora: de uma forma em que os trovões atiçam o
louco em mim. Meu monstro cativo que trago decalcado
em um corpo antes gordo e hoje com as marcas do que
foi: foi bonito: foi singelo: foi um corpo: hoje é monstro.
Como se Charles tivesse perdido quarenta quilos. Mas
eu só perdi vinte e perdi ela numa novela: num novelo:
numa aquarela meio alegre e meio triste. Quase ninguém
sabe que sou esquizofrênico. Quase ninguém sabe que
sou pobre. Quase ninguém sabe nada de mim e sobre o
tempo tão absorto: tão sem graça que me acompanha:
tão tamanho que quase um elefante de Rivotril me engorda.
Sei que não existem novidades a dizer sobre o tempo, mas
de uma hora para outra vou perdendo o meu tempo aqui
neste poema e tenho que fazer o que eu não gosto: uma
amiga me ligou e ela tem um filho com a mesma doença
que eu: e não pude falar com ela porque estava com o tempo
preenchido por este poema que sequer diz nada sobre
o meu tempo e o verdadeiro Tempo gasto com coisas inúteis.
Quase agora estou perdido como sempre. Sentindo cheiros
que não quero. Vendo no Leponex um Haldol sincero.
Como se a minha egotrip fosse importante para alguém:
além de mim ninguém mais perde tempo com isso e agora
não chove: não nuvem: só sol: só lua: só Piportil: só quatro
vezes ao dia. Por que de noite tudo piora tanto que quase
esqueço desse Tempo que perdi: o redescubro (nos galhos)
(nas montanhas perto de minha casa) (nas alturas que onde
anda quem tem Tempo). Não tenho tempo e sim tardes como
esta em que escrevo sem parar porque preciso e só por isso.

Wednesday, February 25, 2009

DEUS.

Às vezes eu penso que não existe Deus. Outras vezes tenho certeza que existe. Minha vontade de acreditar é tão grande quanto o amor que tenho pela vida. Jesus Cristo disse que era filho de Deus. Filho do pai. Não disse que era o Homem. Deus, para ele, é a verdade, o caminho e a vida. A verdade está lá fora, mas muito aqui dentro também. A verdade é discursiva. De acordo com a verdade existe um discurso para defendê-la. Mas existe verdade. Tomara que Deus seja a verdade. Torço por isso. Torço por Deus. Um Deus que não está em lugar nenhum e em todos os lugares ao mesmo tempo agora.

Tuesday, February 24, 2009

Para Rodrigo de Souza Leão, POR LEONARDO GANDOLFI.

A viagem por ora termina aqui, como diz Montale.
Foram anos e anos, dormindo e acordando, não
dormindo e não acordando. Cansaço, aborrecimentos,
alegrias, tudo para acabar aqui. Inocentes traidores,
nós, da nossa causa, qualquer que tenha sido ela.
Nem é preciso pensar duas vezes, tudo o que você
tiver você está usando agora – o que trouxe e o que
deixou. Trata-se de um tipo de divisor de águas,
não porque estejamos – eu e você – no lugar e hora
certos, mas porque todas essas horas – para trás
e para frente – são ao seu jeito divisoras de águas
e se não dispomos do que temos e do que não temos
– o que mais ou menos sempre acontece –, acabamos
por deixá-las passar, como afinal elas de fato passam
e precisam de fato passar, sem alarde e com razão.
Da estrada de terra cortada pela bicicleta não se vêem
os sulcos, a não ser em intervalos generosos de muitos
anos. Tudo conta, os pais que já morreram e também
os que ainda vão morrer – o mesmo para as mães.
Horas cortando unha, escovando dentes, esperando
os filhos, deixando debalde a barba crescer. E de alguma
forma tudo isso termina nesta praia, diria Montale.
Il cammino finisce a queste prode. Que se somem
acertos e erros – e pronto: o resultado é estarmos aqui
onde exata e justamente estamos. Essa a matemática
possível, você diria. E quem sou eu para discordar?
Quem somos nós, eu perguntaria, perguntaríamos.
Cinco minutos a mais na hora de se levantar num dia
qualquer – por exemplo no ano de 1996 – e com certeza
não estaríamos aqui. Um filme do John Wayne a mais,
um que você ainda não tivesse visto, e com certeza
não estaríamos aqui. Uma música do Elton John a mais
que seja, e nada feito. As coisas na sua vida foram feitas
para culminarem por ora nesta praia que poderia muito
bem ser uma página num livrinho ruim, qualquer um
assinado por Leonardo Gandolfi. Mas não. É uma praia.
E é linda. E toda sua vida vem junto. Com o vento,
a areia e o aceno feliz das mulheres sob o guarda-sol.

.

O rei tá nu. O príncipe tb.
O partido comunista nu.
O princípio imediato nu.
O primeiro nu. O magro nu.
O alquimista nu. O povo nu.
O submarino nu. O elefante nu.
Aquele cara que olha lunetas lunáticas
tá nu. O conteúdo nu. O contexto nu.
O termo nu.O enfado nu.
O objeto nu. Fica melhor nu.
O som nu. O mar nu.
O cheiro nu. O cosmos tá nu.
O universo nu. O sol nu.
O masculino nu. O livro nu.
O feminino nu. O poema nu.
O verso tb. O que não está nu
Nuvem

Monday, February 23, 2009

TODOS.

O rei tá nu.
O príncipe nu.
O partido comunista nu.
O princípio imediato nu.
O primeiro nu.
O magro nu.
O alquimista nu.
O povo nu.
O submarino nu.
O elefante nu.
Aquele cara que olha lunetas lunáticas tá nu.
O conteúdo nu.
O contexto nu.
O termo nu.
O enfado nu.
O objeto nu.
Fica melhor nu.
O som nu.
O mar nu.
O cheiro nu.
O cosmos tá nu.
O universo nu.
O sol nu.
O masculino nu.
O feminino nu.
O livro nu.
O poema nu.
O verso nu.

O que não está nu:
nuvem.

.

Eu vi como você olhava para as meninas
Você se chamava Adrenalina
E tinha as unhas pintadas de sangue

Depois do seu suicídio
Naquele dia em que lhe possui
Entendi que você gostava das meninas

E não de mim
E não de mim do jeito que eu queria
Por que pelo fato de você ser menina impede

Que você ame outra menina
As flores estão sempre juntas num buquê
E a merda sempre espalhada no vaso

Tudo estará no seu lugar
Por mais que eu queira pétala
Onde só há hipófise e neurose

Vem me beija no segundo
Que tua morte vem
Para pelo menos morrermos bem

Ou então vá com as suas meninas
Jantar em outro abismo
Estarei vendo de luneta

E sentindo o quanto aperta a farda
De homem que ama você
Do homem na mulher que lhe quer bem

Sunday, February 22, 2009

245.

1
tão nada
o mínimo

2
puxa osaco
saca-rolha
antolhando
a metavida
nametaviva
futurantes
sempreatos
panelóides
panelinhas
literatice
importante
pósburrice

3
saindo da cabeça do críticomor
oparadigma sintéticoe eufônico
do bumbumpraticumdumnucurumdum
e a mimesefrancados linguistas
falsoinglêsrelapsodossurfistas
não me faz pedirpraque sejamos
aquilo que detestamos:explorar
o homem pêlos homem pelos homi
e repetir a vigência de tudo o
queémaiscrueleimpuroeinfecundo
ser uma nota repetindo o qtoca
no rádio, no livro, na netnatv
ser ou não ser aindaserásempre
mas existe tanta gente bacanal
e comogostodosmeus245 leitores

4
flui
indo

5
eu não quero só elogio
queroé aprender de fio
a pavio:da morteao cio

Saturday, February 21, 2009

o velho.

eu só quero escrever no escuro
de minha infância infecunda
não me lembro se fui ou não currado

e o pior que existe gente como eu
que tem orgulho de um passado
e fala do menino que nunca foi

e do caralho e da bunda que nunca deu

Friday, February 20, 2009

GORDURA.

Já tive 120 quilos e agora tô com 80. Fiz esses versinhos super-bobos ativar quando estava com dois eus em mim, gordo: muito gordo.
ALEGRIA, ALEGRIA

Eu sou o poeta gordo.
Eu comeria a mim
e a senhora sua mãe.
Eu comeria tudo.
Eu sou o poeta gordo.

Escuto o silêncio dos
carros que parecem ecoar
dentro de meu eu.
Os carros são coloridos
feito confetes.

Eu sou o poeta gordo.
É hora do café da manhã.
Aquele pão doce
lambuzado de manteiga.
Quase é um tesão só de olhar.

Será que alguém se masturbou
olhando uma lata de leite moça?
Eu sou o gordo que se
enfurnou em si para devorar
o que não é comida também.

E a geladeira tem cadeado
pra que eu não coma a papinha
da nenê. Para que o feijão
sobreviva ao silêncio externo
e ouça o estomago em grito eterno.

Eu sou o poeta gordo.
Hoje estou sem muitas metáforas.
Apesar de saber que todo
gordo é uma metáfora
daquela alegria sem freio.

SONETO AO LULA VIEIRA

O meu ídolo é o Lula Vieira.
Ele ta cada vez mais magro.
É um publicitário de primeira.
Com estas palavras eu afago
o ego do nosso grande mártir.
Viva o Lula em abundância!
É a prova de que persistir
sendo gordo desde a infância
não é um atestado eterno.
Que saiam gordos do inferno!
Que o Lula seja o presidente.
Nunca volte a engordar
E assim se mantenha contente
e crie o slogan para governar.

Espantalho

Ser gordo é ver um anúncio
e querer comer a televisão.
Quando o tal do anúncio
for o de uma refeição.
Ser gordo é querer dobrar a perna.
Querer se abaixar.
Querer parar de engordar.
Ser gordo é olhar para a barriga
procurando o Camilo.
É não encontrar o refrão
no estribilho.
Ser gordo é não poder jogar bola
com filho.
E diante de um horizonte de gente
parecer um espantalho
comendo com os corvos o milho.

SONETO AO JÔ SOARES


Eu gosto do Jô Soares.
Ele é um gordo bonito.
Gosto do gordo Derico.
Não é igual seus pares.

Derico dedilha o sax.
O Jô dedilha o pistom.
Eu dedilho o longo fax
Comendo caixa de bombom.

No fax afirmo que o Jô
diz ser gordo porque quer.
É o Derico uma mulher?

Seja lá o que ele for
algo tem de interessante
na sua gordura de elefante.
(ou: bufante)

Thursday, February 19, 2009

.

Às vezes eu penso, mas só às vezes. Numa coisa venho pensando muito. Aquele rapaz q vem pegar o lixo todo o dia ganha pouco pra caralho. Eu também ganho pouco e fico a me perguntar constantemente: por que não sou eu no lugar dele?
Restos de comida. Garrafas pet. Latas. Tudo que corta a alma.
Já que ganhamos pouco, poderia estar carregando o lixo e não estou.
Não acredito em força divina que me protege e não a ele. Em que acreditar então?
Sei lá.
Perguntas nunca cansam de me perguntar. Gostaria de ter respostas para todas, mas seria como ter todas as chaves pra tudo. Eu não tenho resposta. E acho que, pelo menos, ele é mais feliz que eu porque não deve se fazer tanto essa pergunta. Ou.

*
Às vezes eu penso, mas só às vezes.
Quando alguém morre, eu fico triste porque não sei pra onde esta pessoa, objeto ou coisa vai.
O fato de não ter certeza é que me incomoda.
Quando eu morrer, não fique triste só porque não sabe para onde eu vou.
Fique triste porque gosta de mim e sentirá minha falta. Mesmo sendo você alta voltagem. Sentirei sua falta também.
Estarei no cemitério do Caju e lá sediado esperarei as flores que sempre quis lhe dar.

Tuesday, February 17, 2009

A OUTRA E A OUTRA DA OUTRA.

Assim foi feito de um dia pro outro: meu mundo não durou sete dias exatos. A outra que sempre me procura só me procura em dias pares. Nos ímpares fico com os olhares cacofônicos da estrábica. Não é aquela vesga escrota. É aquela gostosa de dois metros de clitóris. Que quase parece um homem, mas não é. E tem uma caverna entre as coxas duras de cimento lácteo. O leite jorra toda a vez que ela goza e goza em gastância cacofônica.. Como se eu pudesse ter tudo, não tenho a outra da outra. Sim porque a outra é bi-flex. Altamente sex e a outra da outra é melhor que a outra. Quem curtir na cama? Se a outra é que quer me dar e já deu duas vezes e a outra da outra morre de ciúme de mim mesmo. Não sei exato o que falo porque me perco e só me encontro quando vejo a outra ao meu lado dormindo sonhos de carneirinhos azuis. A outra da outra me olha e se afoga em cápsulas de Diazepam e em supositórios vários que nem me iludo. Gostaria de correr a cidade com as duas e comendo-as no banco detrás do carro da outra da outra com a outra dirigindo. São tantos sonhos que me pego masturbando uma teta da vaca na fazenda. Assim pelo menos bebo e babo leite sem precisar de mulher alguma.

Monday, February 16, 2009

A OUTRA E A OUTRA DA OUTRA.

Assim foi feito de um dia pro outro: meu mundo não durou sete dias exatos. A outra que sempre me procura só me procura em dias pares. Nos ímpares fico com os olhares cacofônicos da estrábica. Não é aquela vesga escrota. É aquela gostosa de dois metros de clitóris. Que quase parece um homem, mas não é. E tem uma caverna entre as coxas duras de cimento lácteo. O leite jorra toda a vez que ela goza e goza em gastância cacofônica.. Como se eu pudesse ter tudo, não tenho a outra da outra. Sim porque a outra é bi-flex. Altamente sex e a outra da outra é melhor que a outra. Quem curtir na cama? Se a outra é que quer me dar e já deu duas vezes e a outra da outra morre de ciúme de mim mesmo. Não sei exato o que falo porque me perco e só me encontro quando vejo a outra ao meu lado dormindo sonhos de carneirinhos azuis. A outra da outra me olha e se afoga em cápsulas de Diazepam e em supositórios vários que nem me iludo. Gostaria de correr a cidade com as duas e comendo-as no banco detrás do carro da outra da outra com a outra dirigindo. São tantos sonhos que me pego masturbando uma teta da vaca na fazenda. Assim pelo menos bebo e babo leite sem precisar de mulher alguma.

A OUTRA E A OUTRA DA OUTRA.

Assim foi feito de um dia pro outro: meu mundo não durou sete dias exatos. A outra que sempre me procura só me procura em dias pares. Nos ímpares fico com os olhares cacofônicos da estrábica. Não é aquela vesga escrota. É aquela gostosa de dois metros de clitóris. Que quase parece um homem, mas não é. E tem uma caverna entre as coxas duras de cimento lácteo. O leite jorra toda a vez que ela goza e goza em gastância cacofônica.. Como se eu pudesse ter tudo, não tenho a outra da outra. Sim porque a outra é bi-flex. Altamente sex e a outra da outra é melhor que a outra. Quem curtir na cama? Se a outra é que quer me dar e já deu duas vezes e a outra da outra morre de ciúme de mim mesmo. Não sei exato o que falo porque me perco e só me encontro quando vejo a outra ao meu lado dormindo sonhos de carneirinhos azuis. A outra da outra me olha e se afoga em cápsulas de Diazepam e em supositórios vários que nem me iludo. Gostaria de correr a cidade com as duas e comendo-as no banco detrás do carro da outra da outra com a outra dirigindo. São tantos sonhos que me pego masturbando uma teta da vaca na fazenda. Assim pelo menos bebo e babo leite sem precisar de mulher alguma.

MORTE.

Meu coração bate lento
Feito pó de pensamento

PARTE.

O homem veio do macaco ou o macaco do homem. Isso pouco importa. Existe motel. Homens vão para fazer sexo. Mulheres vão pra viver. Há diferenças entre nós que são iguais. Por isso somos quase um. Quase deuses. Tudo quase e quasificando tudo nós vamos nos levando e a bola de neve vai crescendo e nós se embolando feito de pernas e braço e baço e intestino delgado e sendo como sempre fomos. Macacos voam no cio enquanto Tarzã dá um sonoro grito uterino. Quem berra. Todo mundo berra. Ou seria o berro alguma vaia contida. Quem escuta o silêncio. Por que somos tão calados. Às vezes eu acho que o Sol vai se apagar. Que é um fósforo. Que acende o cigarro que fumo agora. Hoje acordei cedo e de acordo com alguma lei estou preso neste presídio chamado eu. Eu sabe bem eu quero bem eu sou eu e mais nada. Por que é tão fácil ser eu. Tão difícil ser você. Como consigo me suportar. Às vozes que escuto se fundem em uma voz. É como se cada voz que me dissesse algo dissesse algo novo. Para que cada dia seja diferente. Mas no fundo e bem lá no fundo tudo é igual menos os iguais como nós.

Sunday, February 15, 2009

.

Você fala comigo.
Você fala com você.
Como?
Eu sempre fui você.
Você sou eu.
O que seria de eu sem eu?
O que seria de você sem você?
Você ignora você.
Eu ignoro eu.
Como você é simplório eu!
Será que eu sou você mesmo?
Devo eu ser eu?
Eu sou você.
Você é você também?
Talvez eu seja você e você seja eu.
Eu sou quem falo de você.
Eu sou quem falo de mim.
Você sou eu?
Sou!
Quem sou eu?
Você.
Você ligou pra você.
O telefone tá ocupado?
Claro.
Eu Tô falando com eu.
Você com você.

Saturday, February 14, 2009

TELA.


Friday, February 13, 2009

LEMINSKAIS.


um but por dia
é o mínimo
em micro companhia

*

enamoradas
as nuvens cinzentas
apagam o sol

*

Poeira na soleira
Ratos em briga
Por alçapões

*

cuspo
pro alto
guarda-chuva
é pra isso
*

narciso era
no fundo
do lago
uma mariposa


*


arde

oceano selvagem
flama onde plana
a nau da palma
de minha mão


*


urubus sobrevoam
restos deteriorados
de amores eternos


*


decorrerá uma vaga
até que o a noite volte
a afogar o sol
*

a chuva nua
sempre transparente
nunca reticências

*

a vela se apagando
as sombras crescendo
quantas auroras em mim?


*


a tatuagem do sono
na nuca da noite
pesadelos coloridos

*



no polígono das reticências
a seca é o ponto final



morder o silêncio
é como afagar a mentira
cada lóbulo se vicia


*


o violão ancorado na parede
produz sombra, não som
na partitura do trem das 11
só amanhã de manhã


*



tudo como estábulo
tudo como estabelecido
tudo quando estátua


*


a poesia da montanha
na lentidão de sua passada
de tão pesada é uma mortalha

*

a fumaça do cigarro
no copo de uisque
algum sol que me engula

nevoa, nuvem ou bruma


*

quanta luz se perde
no buraco negro
alçapão de estrelas


*


o ipê dourado
ao pé do beija-flor
mestre-sala dos ares


*


jim light my fire
lança suas chamas
esculpindo rum
nos cubos de gelo


*

zen não

na inflação de tempo
a overdose de nada


*


beijo seu beijo
um só batom


*


proteção de tela
sempre o mesmo céu
ruwindows


*

pop
pula
acho


sou
soul
fui


*


abro a janela
só o verde sabe
como me invade


*


zípei o antivírus
e me gripei

*



zíper se abrindo
fisgando o ereto

terSol
nublado


*


também o asco
homens quando queimam
têm cheiro de churrasco


*


de tanto ler
explodo em reticências
eternamente burras


*


o fogo baila
bailarina brisa


tortura olfativa
banheiro de rodoviária


*


o anjo negro esbarra
no anjo branco
falta, apita deus


*

sal
e o sono é uma morte
que a vida desperta
pitadas de rascunho
preparam arte final


*
o suicídio do sol

o sol desaba
nunca mais aurora

*

vã pira
em vão
piro


*
as veias da manga
nos dentes da frente
amarelo-vampiro

LETRA DE MÚSICA.

Flutua uma anêmona no espaço
Eu não sei o que é uma anêmona
Os nossos sonhos chegam no mormaço
As sombras estão tremulas

Vestígios são silêncios imediatos
A guitarra escolhe seu acorde maior
Não sei se são meus os seus atos
O que é bom só pode ficar melhor

São sonhos o que agente pede a Deus
São teus esses olhos que brilham
Biônicos feito aquela aurora e adeus
Meus sentimentos são coisas que me ilham

Faço o download da sua foto
Você está ao lado da moto
E quem corre nesta história
Sou eu em sua trajetória

Thursday, February 12, 2009

TRECHO DE ROMANCE A SER LANÇADO NÂO SEI QUANDO.

Olhos azuis são mais valorizados que os verdes que são mais valorizados que os castanhos. Mas depois da lente de contato tudo mudou. Um olho de pombo ficou valorizado, mas os olhos de lince são mais naturais. Assim o mundo é colorido, ao mesmo tempo Buñuel e sua lamina cortam a vertigem com uma navalha. É quando jorra um coisa branca do olho. Todo olho olha, todo olho goza. Mas nem tudo é pra ver.

Wednesday, February 11, 2009

FOLHA DE LONDRINA, HOJE.


LEITURA

Título: Os jardins do cemitério
Retranca: “Todos os Cachorros São Azuis”, novela de Rodrigo de Souza Leão, aproxima a literatura da esquizofrenia

Marcos Losnak
Especial para a Folha2


Todo mundo possui a possibilidade e um dia espanar os parafusos. Alguns, parafusos pequenos. Outros, parafusos bem maiores. O narrador da novela “Todos os Cachorros São Azuis”, obra do carioca Rodrigo de Souza Leão, espanou um dos grandes. Passou um tempo na rede hoteleira do inferno, experimentando quartos e serviços, conversando com outros hóspedes e tentando encontrar alguma luz através das janelas. E retornou para contar sua melancólica aventura.
O narrador de “Todos os Cachorros São Azuis”, lançado pela editora 7 Letras, está internado num hospício após ter quebrado toda a casa na ausência dos familiares. Além do confinamento, seu tratamento consiste em dúzias de comprimidos das mais variadas cores, todos embalados em faixas e mais faixas pretas.
Considera que suas alterações começaram quando engoliu um grilo na juventude. Ou quando teve um chip implantado em sua cabeça num momento de distração. Sua única lembrança afetiva está na figura de um cachorrinho de pelúcia azul que teve na infância e que, misteriosamente, foi perdido. Além de conviver com os loucos do local, em suas visões regulares conversa com os poetas franceses Arthur Rimbaud (1854 – 1891) e Charles Baudelaire (1821 – 1867) que também passam uma temporada no inferno. Após conseguir sair do hospício, o narrador cria uma nova religião (a “Todog”) que arrebanha multidões de fiéis.
Todo o enredo de “Todos os Cachorros São Azuis” se resume basicamente a isso. Um sujeito lutando contra a própria loucura dentro de uma clínica psiquiátrica. A grande surpresa da obra está na linguagem que Souza Leão desenvolve como instrumento narrativo. O autor aproxima a escrita da esquizofrenia. Coloca as duas tão próximas que os limites são quase eliminados e nesse processo cria um tom particular de escritura.
Se uma das características básicas da esquizofrenia está na fragmentação, no estabelecimento de cisões da estrutura mental, a narrativa presente na novela reproduz justamente essa fragmentação, essas cisões. A alucinação é colocada como um componente do real dentro do discurso do narrador. E onde poderia se encontrar apenas lágrimas e tormento, pode-se encontrar boas doses de humor e ironia que invariavelmente olham além das janelas.
Rodrigo de Souza Leão tem conhecimento de causa. Assumidamente esquizofrênico, passou duas temporadas em hospitais e clínicas psiquiátricas. A primeira em 1989, quando tinha 23 anos, e a segunda em 2001. Comeu o pão que psiquiatras e enfermeiros amassaram até encontrar na literatura um porto seguro. Com vários e-books disponibilizados na internet, “Todos os Cachorros São Azuis” é seu segundo livro publicado em formato convencional. O primeiro, “Há Flores na Pele”, que reúne poemas, foi publicado em 2001 pela editora Trema. Atualmente atua como editor (ao lado de Claudio Daniel) da revista virtual de literatura “Zunái” e colaborador site literário “Germina”, além de manter o blog pessoal “Lowcura” (lowcura.blogspot.com).
Enquanto novela, “Todos os Cachorros São Azuis” realiza uma coisa pouco usual. Ao mesmo tempo em que coloca a literatura dentro do hospício, coloca o hospício dentro da literatura. Faz um caminho de mão dupla onde a poesia possui as chaves mais absurdas para escancarar as portas e arrebentar as janelas.
Existe, no interior das páginas do livro de Souza Leão, uma imagem exemplar. O narrador descreve os hospitais psiquiátricos como um lugar de simbolismo exemplar: “Os hospícios são lugares tão bonitos que lembram os cemitérios”.

Serviço:
“Todos os Cachorros São Azuis”
Autor – Rodrigo de Souza Leão
Editora – 7 Letras
Páginas – 80
Quanto – R$ 25


Fragmento:

O que é a solidão? É viver sem obsessões. Mas na vida às vezes a gente tem que escolher entre esmurrar a ponta de uma faca ou se deixa queimar no fogo.
Qual o pior?
Um homem vestido de gelatina deu um beijo dentro da garrafa de Coca-Cola.
Você não deve escrever sobre hospícios.
Não. Todo mundo tem um hospícios perto. Ou é a sua bolsa que é um hospício. Ou sua casa. Ou ainda a carteira de dinheiro. Muita coisa pode ser um hospício. Não falo da desorganização, falo de hospícios mesmo.
Rimbaud apareceu vestido de índio apache. Disse que eu estava virando general Custer.
Havia muitas flores em toda a clínica. Era um lugar bonito. Por isso digo que hospícios são lugares tão bonitos que lembram os cemitérios. Aqueles cemitérios onde há enormes jardins.

(Fragmento de “Todos os Cachorros São Azuis” de Rodrigo de Souza Leão)

Sunday, February 08, 2009

OS CEGOS..

Olhos azuis são mais valorizados que os verdes que são mais valorizados que os castanhos. Mas depois de a lente de contato
tudo mudou.
Um olho de pombo ficou valorizado, mas os olhos de lince são mais naturais.
Assim: o mundo: é colorido
enquanto
Brunhel e sua lamina cortam uma vertigem
com uma navalha
e jorra um sêmen branco do olho.
Todo olho olha.
Todo olho goza.
Os cegos gozam com o pênis mesmo.

Saturday, February 07, 2009

APARELHOS DOMÉSTICOS

nada mais se conserta
nem o concerto e nem o poeta

Friday, February 06, 2009

NENHUM.

Escalafobético hermético chato:
tudo que um poema tem de ser
de fato. Lobótomo átomo orgia.
Quero lhe comer no mato. Estranho.
Ser estranho é preciso arrancar:
o siso de cada olhar. De facto citar
deuses não é o meu caviar. Mas cito
às vezes Ogum. Faço o poema nenhum.
Sei lá o que quero disso aqui. É muito
menos que se divertir. Muito mais q me
diluir. Defeco um pensamento e isso não
é poema. É muito mais uma algema.

Thursday, February 05, 2009

ERAM SÓ COTOVELOS.

Silêncio. Ela está falando pelos cotovelos.
Cada cotovelo diz uma coisa. O esquerdo
diz que não. O direito diz que sim. Apesar
de ser um segredo o que os cotovelos pensam.
Existe um segredo ainda maior dentro dela.
Ela diz que me ama e isso seria o suficiente.
Mas como preciso de enquantos vários. Vou
enquanto fogo me queimando de silêncio.
Enquanto água vai deixando que o contorno
de meu corpo vá se aproximando e tocando
aos poucos as bocas dos cotovelos e vendo
que assim evito um pouco que ela fale que
ela diga o que quer porque sai do cotovelo
para fora. Para dentro há o fogo que consome.
Há os filhos de um outro homem que também
lhe fala melhor. Os cotovelos têm ouvidos
também. E os tambéns não têm sentidos iguais.
Os cotovelos, os tambéns são as bocas dos
enquantos. Enquanto isso nasce um ventre do
chão. E o chão é onde começa a filiação.
Enquanto caibo em mim vou bem e o problema
é quando deixo meu cotovelo perto do dela e
ele menstrua um silêncio eterno contido num
dó de peito. Aí o cotovelo canta. É o fim.

Wednesday, February 04, 2009

MAIS E MAIS TRECHOS DE TODOS OS CACHORROS SÃO AZUIS.

Tudo começou quando engoli um grilo em São João da Barra. Eu tinha 15 anos de idade. Estava indo ou voltando. Sempre estava indo ou voltando. Só parava pra voar. Assim eram meus 15 anos, e foi como tudo começou. Nenhuma mulher saiu de mim. Nunca. Fui eu quem sempre entrou em minha mãe. Lá estava ela bela e bonita, transando com papai. E eu vi, e era apenas mil novecentos e setenta. Não foi um trauma. Eu costumava andar com um cachorro azul de pelúcia. Meu cachorro não era gay por ser azul. Só era azul. Também não tinha as noções de feminino e masculino naquela idade, ou tinha. Na verdade, eu já me masturbava e papai, com muito jeito, pedia para que eu tirasse a mão do meu pinto. Lembro-me de uma psiquiatra nos meus verdes 15 anos, que me dizia que eu era homem porque me masturbava, não tinha por quê ter crise de identidade. Eu não tinha crise de identidade, porque vivia correndo atrás daquela mulher no horário da sessão. Ela chegou a me ameaçar, dizendo para o meu pai que se eu continuasse a querer agarrá-la eu teria que sair da análise. Ela falou que não agüentava dar conta de mim e reclamou porque eu não fazia um desenho e não brincava com a massinha. Eu imitava um golfinho deitado no divã. Meu pau ficava duro e eu o friccionava o tempo todo, enquanto o golfinho nadava dentro de mim.
Uma vez, virei uma planta por uma hora de sessão. A mulher pensou que eu estava em estado catatônico. Ela ficou nervosa. Foi a mesma coisa que fiz com uma namorada, e ela teve a mesma reação. Fiquei sem falar e parado. Como se tivesse engolido uma baleia. Durante uma hora, a baleia que estava dentro, estava fora, e eu vivi preso dentro de um manicômio. Os manicômios são lugares muito bonitos. São lugares com muitas flores e árvores. Não fiquei num lugar cinco estrelas, também não fiquei no pior lugar, mas vi muita coisa quando Alfonso me dizia que ia para Paracambi. Paracambi é aqui.
Tudo era um pouco ficar calado o tempo todo como se ninguém merecesse que você falasse algo nobre e importante.
O que todas aquelas pessoas de branco tinham a ver com o fato de eu estar vomitando sangue? Levaram-me para o Miguel Couto. Pensaram que eu estava com tuberculose. O Miguel Couto era o hospital referência para casos de dengue. Havia uma epidemia de dengue na cidade. Havia muitos hipopótamos deitados. Algumas tartarugas andando de quatro rodas. Passei pela porta do hospício. Quis me levantar e fugir. O pior: fugir pra onde? Quem iria acreditar na idéia de que eu estava com um chip implantado dentro de mim? Havia tanta gente, que se eu dissesse que o Maracanã em dia de jogo do Flamengo estava ali não seria nenhum eufemismo.
Botaram tubos em mim e começaram a fazer sucção. Fui abduzido por extraterrestres.
Eu via uma luz passando pelo meu corpo de menino de cinco anos e segurei meu cachorro azul. Desmaiei por alguns segundos. Depois Fronsky estava lá.
Voltaremos para te buscar quando você tiver 18 anos.
Macas por todo o campo. Gente andando com soro dependurado. Tubos saindo da boca de extropiados. Tudo ali era Acneton. Da minha veia, tiraram o meu sangue. Eu agora estava indo tirar uma chapa torácica. Como é que um cara gordo como eu pode sofrer com algum problema que não seja obesidade? Eu deveria estar num spa, e não no Miguel Couto com aquela crise de dengue. Uma samambaia começou a crescer do meu lado, feito um pé de feijão. Eu fui subindo as escadas, ancorado por dois médicos fortes e gordos como eu. Havia toda aquela gente pobre, superpobre: aquilo era o Brasil. Uma zona total. Gente caída no chão. Gente chegando morta. Gente morrendo. Uma fileira de corpos deitados com etiquetas nos pés. Todos munidos de seus prontuários. E aqueles médicos tão jovens, que não sabem muito mais do que eu sei de biologia, fazendo gozação com a sua cara.
Olha que cara gordo!
Que homem gordo!
Que baleia!
onde encontrar: (21) 2540-0076 editora@7letras.com.br

Tuesday, February 03, 2009

.

Escrever um poema hermético
É quase virar um réptil

Monday, February 02, 2009

NO FIM DO TUNEL.

Ali reunida sobre o corpo: as cinzas
escutam

Aqui perto de casa tem um botequim
onde

Bêbados falam com os cotovelos
presos

Todos estão rindo menos o revólver
cospe

Balas de cuspe esperma pus sombra
Lama

E todo mundo olha fixo o mendigo
bate

Uma punheta no meio da rua pensando
numa

mente que flutua feito um astronauta
cego

que não pode ver a terra azul lá de
cima

Mas pode sentir no braile das estrelas
a luz

A luz dura um segundo para iluminá-lo
Escreve

Sunday, February 01, 2009

PÁSSARO DE ASA QUEBRADA OU OS ANJINHOS DO HOSPÍCIO.

TADINHO DELE
ELE NÃO CONSEGUE SAIR DE CASA
ELE SÒ PENSA NAS SUAS PRÓPRIAS ASAS

 
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