O CÉU.

A Lua também tem um céu. Eu e você também. Dizem que existe Deus, mas eu só acredito no céu. Que nem sempre é azul. Vamos, não se prenda ao detalhe e olhe nos meus olhos. Não há um céu azul neles. Há uma eterna conjuntivite. Feita de baseado e licor. Meu céu é como o azul de seus olhos e têm cílios grandes como as caudas de um pavão. O pavão é um bicho feito de arco-íris. Qual será a cor do céu do planeta dos pavões? Sim, pois quando estou doidão acho que cada bicho tem seu planeta natal. Deve ser colorido demais. Existe um céu em Van Gogh, um céu em Bacon, um céu em Kandinsky. Mas nem em todos tudo é tão azul assim. Por que o azul é a cor do céu da Terra?

Sunday, December 30, 2007

DELIRIUM



Ninguém despertou do ano novo
e todo mundo se divertiu
Hoje dou um de bico na minha cama
e vou voar em outro aroma
Há delírios vários
e um me persegue:
a de que o cheiro da pasta de laçar
me enlaça como um cheiro de bosta
Como eu posso ir à praia feliz
e surfar minhas ondas de Amplictil?
Meus tisunamis interiores são tão maiores
Mas só podem matar a mim
Menos mal

Friday, December 28, 2007

QUINZE.

A fúria silenciosa do vento que bate na janela e prossegue o seu caminho de errância até levantar as pontas da minha camisola. O obstinado silêncio que eletrocuta o dia-a-dia. Eu vou quebrar ele. Eu vou quebrar ela. E nos encontramos nas curvas da estação do metrô. Todos quebrados e nos quebrando mais ainda. Eu não sei mais andar. Você quer fazer sexo com uma paralítica. Eu vou te quebrar inteirinha. Vou arrancar seus testículos. Soprarei seu horizonte para longe de mim. Empurrarei você abismo acima. Puxarei pelos pêlos do púbis. Pelos seus cabelos. Quebrarei uma a uma as suas falangetas. Depois te darei um beijo. Depois vamos para as férias. Eu não entendo você. Que não é meu. Bebo, babo, bebo. Sou uma mulher que bebe em casa, mais que socialmente e menos que uma alcoólatra. Sou uma prostituta de luxo. Ganho porrada de graça. E não sou masoquista. Quero te ferir um pouco. Tirar seus contornos de mim. Fazer um outro princípio final. Por que sou assim? Por que aceito levar estas chicotadas com palavras de choque? Caio dentro de mim tão em mim que de mim não saio. Estou paralisada agora, olhando a tevê. Nada me diz nada. A não ser aquela propaganda que vendia uma família cheia de filhos e todos saudáveis. Nós temos um e sou eu quem sustenta tudo. Eu que dou duro na rua. Eu que trago o leite das crianças. Com quantos abismos se faz uma canoa pra navegar o nosso caos? Eu não entendo você. Você me entende com esse punhal na mão e com esse soco inglês e com essa bandeira do Atlético e com este puçá e espinhos e baiacus boiando feito eu, toda inchada. Cheia de hematomas pelo corpo onde corre uma voltagem que te repele. Mas eu não sei mais viver. Não sei o que é viver. Parece que todo o meu prazer foi apagado feito HD de computador. Há muito tempo não tenho o antivírus contra você. Me dá um tempo antes que eu te mate agora mesmo e venha tirar de mim um pouco da minha dignidade. Vergonha na cara é o que eu não tenho. Sempre volto pra você. Sempre me pede mais uma chance. Sempre digo que sim. Sempre bebo mais um pouco e mais e mais. Depois vem isso. Fazemos sexo e tudo volta a ser como era nos nossos melhores dias. Fica assim uma semana e você pega o soco inglês e me ameaça com uma pistola taurus. E ninguém sabe que você me bate que você arranca o meu couro que você me trata assim. Você é cordial com todo mundo. Comigo, áspero, cheio de cacetetes nas mãos e aquela população inteira de seres violentos que você carrega. Não adianta eu tentar. Já tentei de tudo. Já procurei pai de santo, já fiz mandinga, já tirei você de outras e tem isso. Você tem outras e as outras têm você. Mas você só bate em mim. Por que sou eu quem te sustenta? Por que você é incapaz de realizar uma boa ação pra mim? No final disso tudo nunca tem final e a gente vai levando feito uma bola de neve. Crescendo e levando tudo. Eu preciso de um tempo que seja suficientemente grande pra eu me esquecer que você existe, pois você se esqueceu da sua antiga elegância e de como era amável e bacana. Você só joga o corpo em mim pra me dar porrada ou socar seu sexo dentro de mim. Depois me fura com o furador de gelo. Eu passei a máquina zero no cabelo. Eu vou mudar. A beleza é o que a mulher tem de mais importante pra você. E eu já estou velha e cansada e perdendo tudo, as esperanças indo bueiro abaixo. Qual arco-íris é o verdadeiro? O do chão posso tocar: estou na sarjeta. Você é sujo e cheira a perfume barato. Hoje estou com pena de você. Não sei como pude agüentar tanto tempo. Você me deu tapas na cara. Me quicou na parede e foi tomar uísque barato, fumando seu cigarro barato. Botou suas botinas e me deu um pontapé. E aquele filho que perdi por você ter me jogado de brincadeira, depois de um porre, numa piscina sem água? Flores e mais flores. Quero pétalas de rosa. Quero orquídeas e tudo isso pode ser ao mesmo tempo o que quero e o que não quero, porque não adianta vir mais com meu amor e com meu benzinho e com minha querida.
Eu vou te foder, menina. Vou tirar o seu filho de você. Num tenho nada em meu nome. Você num vai ficar com nada. Só vai ficar com as marcas no corpo dessa última surra que vou te dar. Você acha que é poderosa, mas num tem poder nenhum. Você é melancólica triste chata burra. Nem sabe quanto é três vezes cinco.
Quinze vezes ela atirou nele com duas pistolas diferentes. Quinze chutes deu no saco dele. Quinze estocadas com o quebra-gelo. Quinze marteladas na cabeça. Depois rezou quinze ave-marias, quinze pai-nossos e dormiu ao lado do corpo, esperando a polícia chegar.

Wednesday, December 26, 2007

O SACI E OS PRESENTES.

Papai Noel está pobre.
Às vezes menos nobre do que Deus.
Às vezes mais chegado aos filisteus
do que aos filhos teus.
Por isso tu sabes que este ano que passou
voou rápida águia
sobre os escombros do que fomos.
Isso se nós somos mais do que somados:
um só e mais eles.
Os filhos que não tivemos pedem presentes
e nunca deixaram de morrer.
As meias dependuradas na lareira têm chulé.
O Saci é um papai Noel sem pé.

Tuesday, December 25, 2007


Friday, December 21, 2007

ESCRAVIDÃO OU ESCROTIDÃO????????

Porrada no peito do pé de Pedro
O peito do pé de Pedro era preto
Porrada no peito do Pedro preto

Porrada no Pedro
Porrada no preto

Uma porrada de Pedro dando porrada no preto
Preto dando porrada em preto

E agora Pedro?

Thursday, December 20, 2007

HUMANIDADE.

Como pode um louco débil mental
Com a idade de quatro anos
Viver num mundo tão vasto

Tão vasto é o mundo
Quão vasto será o mundo do louco
Com a idade mental de quatro anos

Se uma criança de quatro anos vive
Por que não pode viver o louco
Com a idade mental de quatro anos

Tuesday, December 18, 2007

LINGUAGEM.

O louco baba um licor de excrescências
O louco faz excrescências
entre o que baba e o que faz

Esta é a linguagem do louco
Ele está no que baba
Na excrescência que ali jaz

O louco não rasga dinheiro
Compra cigarros bem fortes
para que possam matá-los

Antes que a morte lhe mate

Sunday, December 16, 2007

CONTRATO COM DEUS.

[Eu e meu ex-computador. Ganhei um novo de um puta amigo. O nome do amigo é Iosif Landau. Fiz este poeminho pra nós todos os fodidos. Resolvi botar a minha foto porq tá choveu mulher no site do Iosif, quando ele botou sua foto lá kkkkkkkkkkkkkk Sou mais feio do que ele em tudo. O que não nos impede de sermos muito amigos].


Quando ele acordou para aquele dia ele acordou
para Aquele dia. Acordou sabendo que iria morrer e sabia
que seria naquele dia. Os dias eram tão iguais menos este
que estava vivendo. Caminhou contra o vento e partiu.
Bem longe dali, ela deu um beijo em si mesma beijando
o espelho e caiu do parapeito. Não deu tempo para o
pára-quedas abrir. Eles morreram no mesmo instante e
hoje têm um contrato com deus: até que a vida os separe
serão ateus.

Saturday, December 15, 2007

VARIAÇÃO DE ATOMIC E UM POEMA.


QUÍMICA CEREBRAL

Bom dia Lexotan
Bom dia Prozac
Bom dia Diazepan
Bom dia coquetel
Bom dia amplictil
Bom dia fenergan
Bom dia sossega-leão
Bom dia eletrochoque
Bom dia Piportil
Bom dia Lorax
Bom dia Litium
Bom dia Haldol

Boa noite Rodrigo

Friday, December 14, 2007

INFÂNCIA NO LEBLON ENQUANTO ELA.

A tela em branco é o inferno que me arrepia
O céu sou eu dentro dela
Vestido formalmente com uma nova fantasia

A canção que eu escuto assim mesmo
É a mesma lua que vejo nua segurando o umbral
É a sua voz que flutua nas águas do canal

O Leblon me assusta na entrada do Miguel Couto
Enquanto eu vejo o meu papai e mamãe
Sumariamente interrompendo o coito

Wednesday, December 12, 2007

REGURGITANDO.

A gente prende e arrebenta
Depois de novo faz isso

Com loucos não se mexe
É o que querem no circo

No circo do hospício mais perto
Da sua casa bonita

Vá visitar algum louco
E entenda que o que ele vomita

É o mundo que o regurgita

Monday, December 10, 2007

UMA VARIAÇÃO DE UMA TELA E UM CONTINHO.


CÓRTEX

Comprei uma arma prateada para me matar. Era a mais bonita e a mais linda pistola e também a mais cara. Gastei todo o meu dinheiro na compra. Mas você não quis atirar em mim e como sou um covarde não puxei o gatilho. Preferi me jogar. Mas não sabia que eu tinha asas e naturalmente elas voavam ou me faziam voar. Tentei tantas vezes me matar que desisti por incompetência.

Certo dia bati numa quina de mesa e tudo foi-se quando não queria mais morrer. Eu não havia sido feliz, mas era um aquário com muitos peixes naquele momento. Foi como se uma baleia caísse dentro do aquário e se debatendo estourou meus tímpanos.

Não entendi.

Não levo nada.

Sunday, December 09, 2007

AUTO-AJUDA.

O poeta é um ladrão
Rouba tão descaradamente
Que chega a dizer que é seu
O poema de outro indigente

E aquele leitor de sempre
Não chega a reparar
Que o poeta é um louco
Luz querendo brilhar

Por isso estou em pessoas
Em pessoas quero estar
Roubando a eternidade
De outro que me roubará

Thursday, December 06, 2007

A FORÇA INCRÍVEL.

Fisicamente
a noite
é só um segundo

Dormir
é entrar
no mundo

Alice se olha
no espelho

Estão brancos
os seus pentelhos

Os clássicos em mp3
O e-book

Quem sabe
eu não viro o verde

Hulk?

Wednesday, December 05, 2007

TÚNEL.


Indo tudo indo como vindo
algum trem: pé na embreagem

Tudo indo como se nada fosse
todo o verso fez-se foice

O martelo e a bigorna
forjando uma estação

O trem novamente indo
Ele vai para o nunca mais

Vai de onde venho vindo
Há coisas que jamais

acontecem
A noite chega e a gente vai

se perseguindo
O pesadelo pelos poros vem surgindo

Brota numa folha de papel
Um anzol preso no lóbulo

e no final o prólogo

Monday, December 03, 2007

RESENHA NO JB.

na
partitura
da loucura
vou
tocando
meus instrumentos.

[ Saiu uma resenha hoje no Jornal do Brasil (de minha autoria) sobre o CD Sonorizador, de Ricardo Corona. Confira em http://jbonline.terra.com.br/editorias/ideias/papel/index.html ].

Saturday, December 01, 2007

 
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