PUNK 2


Camisa de força

Tira esta camisa de louco de mim
Assim não posso mentir e dizer que sou louco

Está muito apertado aqui por perto
Mal posso falar como falo com as mãos

Não posso fazer nenhuma mágica
Me diga se sou um perigo pra mim

Aceita que eu sou um doente
Já me aceitei desde a minha última morte

Tuesday, October 30, 2007

COMPULSÃO

Eu lavo a mão toda a vez que toco alguém
Eu não me toco depois de ter tocado em alguém
Quando o lixeiro vem eu faço o máximo
Para que não exista nenhum toque entre nós

Quando o carteiro vem com vírus dele
Eu tomo cuidado para não haver qualquer contato
Detesto que me toquem e que falem tocando
Detesto cumprimento de mão com mão

Quando eu cumprimento alguém logo lavo a mão
Vejo sujeira em todo o lugar
Menos dentro da minha mente
Que deve ser o lugar mais sujo do mundo

Friday, October 26, 2007

DUPLO





Freud dizia que defecar é um prazer
e que todo mundo ama sua mãe

Eis que defequei um filho com barba
Onde foram parar minhas hemorróidas,
eu pergunto

Só uma puta poderia te parir, respondo
E vou pondo naftalina na latrina
do dia-a-dia

Para não apodrecer de mim mesmo

Tuesday, October 23, 2007

A IMOBILIDADE DIANTE DOS FOGOS

parado, o silêncio me confunde
imóvel, teu laço de amizade
toda a mobilidade parada ainda

só pra te ouvir soltar cachorros
e engolir toda a pólvora de luz
cuspir nosso amor em fogos

Saturday, October 20, 2007

DELÍRIO

Ninguém despertou do ano novo
e todo mundo se divertiu
Hoje dou um de bico na minha cama
e vou voar em outro aroma
Há delírios vários
e um me persegue:
a de que o cheiro da pasta de laçar
me enlaça como um cheiro de bosta
Como eu posso ir à praia feliz
e surfar minhas ondas de Amplictil?
Meus tisunamis interiores são tão maiores
Mas só podem matar a mim
Menos mal

Monday, October 15, 2007

DOIS POEMAS SEM TÍTULO

não carece sol
alguma elisão

carece só compor
algum vento

e assim apagar
o que a chuva

dentro de mim
mar

fora de mim
pano com ponta

varal:
nuvens e nuvens

seda de botuca
queimando humos

*

o nada nada no nada
enquanto o nada nada
no nada estamos todos

todos esperamos a chegada
do nada no nada

se chegará nadando
ou pulando a enseada

o fato é que falta pouco
pro nada ser o todo

Wednesday, October 10, 2007

ESGRIMANDO COMIGO

1
O sol-reflexo sobe pela latrina

Qualquer vulcão sabe
Do perigo que é o fogo

O fogo é o sol
Que gira em torno de si
E a si consome

2
Quando eu sento e paro para olhar
O que vejo é o amarelo em minhas mãos de cigarro
O que não vejo não me importa
Só uma vez ou outra
Quando
Aciono minhas espadas

Por isso queimo por dentro
Todos os carvões de minha locomotiva
E chego tão próximo do toque
Que me afasto

São mais de quarenta anos perseguindo quem sou

Sunday, October 07, 2007

Pai Nosso

Um homem alto e forte apontava uma arma sofisticada para a cabeça de um senhor os seus oitenta anos. O homem alto e forte tremia. Suas veias pareciam pular da face como que armadas também. Ele vociferava e pedia ao velho que passasse tudo que desse tudo que fosse o mais rápido possível que tudo estava por um triz. O velho pedia calmo e com atitudes lentas de velho: pedia que o homem alto tivesse calma que o homem alto não atirasse que ele iria passar tudo o que tinha para ele, pois a sua vida era importante. O homem alto e forte tirou o relógio do velho e a camisa e o suspensório e a calça e a carteira. O velho ficou só de cueca enquanto o homem forte contava o dinheiro e queimava as roupas do velho. O homem alto e forte que havia roubado tudo do velho deixou o velho caído depois de um soco e sumiu nas esquinas seguintes. Quando eu encontrei o velho queria saber o por quê que o velho estava rezando naquele momento se ele velho havia sido roubado e todos os seus pertences foram levados pelo homem alto e forte. O velho me respondeu que rezava por si mesmo, pois era ele velho que poderia estar no lugar daquele homem alto e forte.

Wednesday, October 03, 2007

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Muitas pernas pernas esquisitas pernas de elefantes pernas de lince. Dores na perna na perna de elefante na tromba de um cordeiro. Muitas faces na face dela. Muitos beijos no beijo que dei e tropecei nas próprias pernas. Mal caí e me quebrei. Mal parti e me alonguei como o vento que sacode a enseada e os galhos verdes das árvores que vejo do meu quarto parecem tremer de frio. Eu não sei mais muita coisa e sobre o que falar: perdi as pernas e ouço versos deste lugar sem pernas. Onde está o meu corpo morto? Eu diria que este silêncio me confunde nesta tarde sem binóculos. Não posso ouvir o que digo. Não consigo mais levar minhas pernas pra onde quer que eu vá só levo tentáculos enfurecidos e as cascavéis com seus chocalhos perguntam-me onde estamos indo com tanta velocidade. Pernas pra que te quero. Não consigo entrar. Não consigo sair. Me deixe ficar. Parado. Imóvel. Morrível. Aqui onde ninguém possa tropeçar nas minhas pernas.

Tuesday, October 02, 2007

 
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