BRINCAR

1
a sinceridade das nuvens
que choram quando se encontram
comove meu olhar que transita hospedeiro
de algum azul que não tenho e quero

quando negra a manhã
açoita ainda a alvorada com espadas de sol

eu venho para brincar
com as nuvens que vejo nascer no dia
arrepiado de sombras
e sobras de cadáveres que guerrearam ontem

dizem que foram
para onde ninguém sabe onde vai quem não tem fim
aqui
ou quem tem um fim que não quis ter
pois ambos morreram na folia
e era carnaval
e se devoravam feito dois antropófagos
letrados
letárgicos
litúrgicos
se ofertando ao prazer demiurgo
de um beijo de florete ardendo entre o colo
e o reto

diziam que os índios americanos achavam que a maior humilhaçào
e pior que morrer
era verem seu cu tocado pela lança alheia
o que por muitas vezes acontecia
e fez com que milhares de índios morressem até entender
que uma bala perdida é igual a uma direcionada
e mata do mesmo jeito

2
jasmins descendo pela guela
via sangue arterial O positivo
e glóbulos
e hemácias e
leocemia a beira dos dias de fim de ano
índio de si
indiana jones e james bond e zumbi
fundando palmares nos tumores
covardes cavando covas no queixo de um morto
ou aquele afegão chutando um afegão
em rede
via televisão
ah, quanta cooperação
e eu só queria morrer na arena entre os leões
feito um gladiador suicida
pruridando sua última volúpia
arrancando os contornos das unhas
da primavera
incêndio em meu corpo e fogo no louco asilo
que velho escolho
como escopo
me esculpir do nada
as veias poluídas onde algas e fetos boiam
amalgamados pela vitrea chama
de meu cordão umbilical
vida, vida, vida, vida!
vomito tudo pra dentro de mim

Monday, June 25, 2007

NOITE BRANCA

O vinho congelou meu sangue. O inverno congelou quem eu era. As cicatrizes hibernam.

Aquelas marcas de pico viraram verrugas. Minhas sardas ainda tomam conta de mim. Estou tão velho que começo a me lembrar de tudo.

Sou um derrotado crônico. Pronto pra mais uma ilusão.

A alquimia do fogo que a si devora. A chatice do lodo que sobe pelas pernas e eu não tento mais me limpar. O que restou das cinzas já não sou eu.

Engulo alguma química nova. Quem sabe dê certo com um coitado. Não tenho pena de ninguém. Alguém tem pena de mim? Não mereço compaixão alguma. Eu sonho toda noite e não é um pesadelo azul. Negro. Negro. Negro. Negro como todos os dias negros.

Wednesday, June 20, 2007

PLÁSTICA

O poeta e amigo Leonardo Gandolfi fez uma plástica no poema q fiz. Opine e diga se ficou melhor.

FOI A PRIMEIRA VEZ

Estava chovendo quando nasci,
hoje estava chovendo:

estava chovendo quando te conheci,
tinha tomado remédios e tinha lido um pouco.

Eu tremia no frio do Haldol,
algumas gotas de chuva pareciam furar.

Com frio: estava com frio quando veio o sol,
não acabou o frio quando te conheci.

Estava chovendo quando nascie estava chovendo quando morri em Paris,
com muita chuva,era quinta-feira, provavelmente.

Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.

Estava chovendo: como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia de chuva, se possível, quinta-feira.

Meus ossos quebrados, sobretudo, os húmeros.
Eu estava tão feliz por isso:por estar chovendo quando eu nasci.

Feliz como se soubesse mesmo
que estava chovendo quando eu morri.

São testemunhas disso Vallejo, a chuva,
as quintas-feiras, o sol e as demandas.

Friday, June 15, 2007

PELA PRIMEIRA VEZ

Estava chovendo quando eu nasci.
Hoje estava chovendo:

estava chovendo quando eu te conheci
e havia tomado os remédios.

Eu tremia no frio do Haldol
e algumas gotas de chuva pareciam me furar.

Com frio: estava com frio quando veio o sol
e não acabou o frio quando te conheci.

Estava chovendo quando eu nasci.
Estava chovendo quando morri.

Todo o dia é dia de chuva.
Estava chovendo quando nasci.

Estava chovendo como sempre eu estava
tão feliz. Eu sabia que ia morrer num dia

de chuva. Eu estava feliz por isso.
Feliz como se soubesse mesmo

que estava chovendo quando eu nasci
e estava chovendo quando eu morri.

Friday, June 08, 2007

DA MINHA RELAÇÃO COM O COMPUTADOR

Preciso
salvar este poema
de qualquer jeito
senão ele morre
no lixo
Que vá então
para o único lugar que eu existo
Eu insisto

Friday, June 01, 2007

 
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