Fico pensando nas pessoas que catalogam pessoas. Que dizem: este é isso e aquele é aquilo.
Fico pensando que sou um bicho-grilo na barriga de um jovem de quinze anos.
Eu engoli um grilo um dia desses, faz tempo. Foi a primeira vez que disseram: esse menino é doente e devia freqüentar uma escola especial para doentes como ele, que são um perigo para a ordem.
Fico pensando em quem disse que ele é esquizofrênico. Fico pensando se a doença está nele que viu ou nele que via.
Fico puto de a vida de duvidar de diagnósticos. Mas às vezes é melhor acreditar do que andar em círculos.
Porque as pessoas que catalogam pessoas não existem para o mal. No fundo catalogam para o bem.
Você, meu filho, é que é incatalogável.
Todo mundo sabe o fardo que você é para a família.
Precisamos de um nome de doença para pôr no prontuário. Que tal dizer que é síndrome de alguma coisa paranóide?
Que tal não esconder que não é letal?
Morre-se com isso e talvez morrer não uma má idéia.
PRONTUÁRIO
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 2:10 PM
4 Comments:
Rodrigo, meu camarada, interessante a observação sobre esses encarregados em catalogar gente - muitas vezes, eles não catalogam: decidem; escolhem. Deve ser reflexo duma sociedade que não consegue conviver com a idéia da desordem, onde tudo tem que ter nome e ser explicado - por alguém que observa e olha. Como sempre, muito bom!
Rodrigo,
Seu poema é realmente pertinente.
O mundo virou nome e esquecemos da essência de nós mesmos.
Vc é pessoa do meu coração de cão e seus versos sempre me batem.
Abração.
Bom texto , somos todos gauches mesmo
se catalogado nunca mais o mesmo? portas uma vez abertas, sempre abertas...e a espera, e a espreita....
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