Nasci morto
e fui jogado no lixo

Comi os restos
de mim mesmo

Cresci fraco
e pouco sei da vida

Algum dia
ainda ressuscito

Algum dia
ainda digo a mim mesmo:

eu existo

Tuesday, December 26, 2006

O camaleão passa pela soleira
Não vê que é um elefante
com suas presas
O elefante é branco
tal um homem albino
Eles olham pra trás
O camaleão que é elefante que é um homem albino
E ele vê suas pegadas
Outro leão quer por esporte
Feito homens
A caça
O leão quer o homem albino somente
Os outros são animais
Como a gente

Monday, December 11, 2006

ANORMAL

Norma a ser seguida e perseguida
Deve ser seguir a norma
Normal para todos os seres
Que a norma seja culta e não oculta
Que possa afastar qualquer indício
De ruído no discurso ou discursiva
E de facto no acto bem cuidado
Deve-se em deferência a linguagem
Tratá-la de divina Norma
Ou apenas como a Norma
Uma mulher como todas
Que está soltando um peido agora
E defecado no poema o quão sincero
É o seu avesso
Ou a aversão ao belo de um contexto
Digo a Norma finalmente
Deixe-me ser só mais um doente
Que não a teme como mãe

Wednesday, December 06, 2006

Ao vento plumas
na relva escura
de minha sanidade

No tempo dunas
cobrirão meu corpo
Não espero santidade

A vida roubou-me
segundos perpétuos
nas escadas da ampulheta

Nos escombros de mim
fundei meu médico
na poesia da receita

Thursday, November 30, 2006

CONTAMINADO

Dizem que sou muito louco mesmo
Dizem e eu sou

Quando eu acordo e ligo o computador fico triste
Ela não se lembrou de mim

A minha loucura não se lembrou de mim quando mandei um e-mail para mim mesmo
Eu não recebi o e-mail que enderecei a mim

Neste mesmo dia coloquei uma mensagem dentro de uma garrafa e joguei no mar
Segundo os meus cálculos a mensagem vai demorara alguns meses para chegar

Na verdade
Verdade mesmo, eu queria que as mensagens que eu mandei voltassem para mim
Para que eu as refizesse, para que eu as reescrevesse
E assim fosse vivendo reescrevendo aquela mesma mensagem a mim mesmo
Mas nem isso é original na minha loucura porque o que faço mais é reescrevê-la
Como estou fazendo aqui neste espetáculo do óbvio
Neste poema que reluta a ficar circunscrito a minha obviedade

Sou tão óbvio quanto um cartão postal do Brasil cheio de bundas
Mas quem não ama bundas não é óbvio?
Adoro a bunda das mulheres e também as adoro por inteiro
Talvez o que faça de mais interessante na vida seja olhar para a bunda das mulheres

Mas porque comecei a falar das duas mensagens que mandei e cheguei nas bundas?
As bundas são tão óbvias? Tão iguais? As minhas mensagens dizem a mesma coisa sempre?

Estou sempre reescrevendo o poema passado neste aqui que estou escrevendo agora
Não sei porque gosto tanto de reescrever poemas
E o pior,
Pior mesmo, gosto que meus amigos Leonardo Gandolfi e Franklin Alves os reescrevam
Porque acho que nenhum poema meu é meu
Quando saiu de mim já tem sua vida. Já precisa de outra pessoa para ser escrito.
Já não gosta mais tanto de mim

Friday, November 24, 2006

Wednesday, November 22, 2006

PORTAS PANTOGRÁFICAS

Se eu soubesse quem sou já saberia alguma coisa. Ela me diz que sou lúcido demais. Talvez ela quisesse um cara mais louco do que eu. Se me conhecesse ia entender que a minha lucidez vem da loucura. São portas que se abrem e se fecham numa pantografia dos elevadores antigos que fazem aquele esporro colossal, mas são eficientes: ainda são perigosos como eu. Todos os elevadores antigos foram pro poço. Estou saindo de um agora e entrando noutro.

Monday, November 20, 2006

DELÍRIO

Ninguém despertou do ano novo
e todo mundo se divertiu
Hoje dou um de bico na minha cama
e vou voar em outro aroma
Há delírios vários
e um me persegue:
a de que o cheiro da pasta de laçar
me enlaça como um cheiro de bosta
Como eu posso ir à praia feliz
e surfar minhas ondas de Amplictil?
Meus tisunamis interiores são tão maiores
Mas só podem matar a mim
Menos mal

Thursday, November 16, 2006

Eu sou um museu
Tenho uma filha com nome de furacão
Uma mulher com nome de vulcão
Uma farmácia particular
Um corpo pra me distrair
E dois copos de vidro
Um eu quebro
E brindo com o outro
Dentro do meu museu há um zoológico
Há um parque de diversão
Um cidadão jogando paciência
E um cientista se fingindo de importante
Há vários covardes como eu
Alguém bebe leite quente
Palavras se devoram dentro da boca
Há um homem vestido de burro
Um burro vestido de homem
Mandei tudo a merda
Mas um pouco de mim foi junto

Tuesday, November 14, 2006

ZERO

helicópteros de cabeça pra baixo
contemplam
os sinos da catedral
alguns símios que ali flutuam
piscina de arvores invertidas
formam o trovão
estes são os mesmos que se acham humanos
e não respondem
a um e-mail educado
com um palavrão

mas ora
eu também não respondo
a solidão de nunca estar sozinho
é tão maior que tudo

Sunday, November 12, 2006

OLFATO

Os acidentes do espelho e seus cacos de vidro e seus cactos que ferem e seus desertos que unem pontes podem possibilitar a mim um corte ou tornar-me alguma mulher que se movimenta despetalada nas minhas entranhas. Essa mulher sou eu no outro dia em que fui homem mastigando o delírio olfativo que um cigarro provoca: cheiro de merda.

Wednesday, November 08, 2006

Tela minha. O burro.

Tuesday, November 07, 2006

O PUXA-SACO

Eles querem tirar o seu coro
Fazer você trabalhar de semana a semana
Quem sabe um dia você será o funcionário do mês
Ou poderá com toda a sua formalidade em janeiro
Soltar um peido
E ninguém na sala de reunião sentir o cheiro

Saturday, November 04, 2006

NOITE BRANCA

O vinho congelou meu sangue. O inverno congelou quem eu era. As cicatrizes hibernam.

Aquelas marcas de pico viraram verrugas. Minhas sardas ainda tomam conta de mim. Estou tão velho que começo a me lembrar de tudo.

Sou um derrotado crônico. Pronto pra mais uma ilusão.

A alquimia do fogo que a si devora. A chatice do lodo que sobe pelas pernas e eu não tento mais me limpar. O que restou das cinzas já não sou eu.

Engulo alguma química nova. Quem sabe dê certo com um coitado. Não tenho pena de ninguém. Alguém tem pena de mim? Não mereço compaixão alguma. Eu sonho toda noite e não é um pesadelo azul.

Monday, October 30, 2006

LANÇAMENTO


A rigor há somente dois lugares
onde acontecimentos distintos ocorrem
A vítima e suas palavras estão no chão
se não me engano a meio metro da cama
O lençol que por razões óbvias também jaz ali
toca o pé direito e descalço dela
Três ou dois cômodos a separam de imagens
como as do carneiro ou da pia que estão na cozinha
onde há também uma mesa em cuja toalha
estão bordadas as mesmas figuras do texto
Ainda que o tempo de exposição seja parecido
em algumas delas noto maior descompressão
É o caso aqui do prego que oscila entre os cômodos
devido sobretudo ao desprendimento
com que conduz seus propósitos
O mesmo é dizer da mão sobre um dos teus ombros
e do que nela ou na leitura se coagula
– até porque se diz por esta voz
diferente daquela que falava
e ainda fala alguns versos acima –
Assim também com ombro faca estrofe
e outros tantos efeitos de superfície
Em tudo o mesmo gosto de arrependimento


Leonardo Gandolfi : No entanto d'água

Friday, October 27, 2006

Gozo com a terapeuta


Durante o eletro-choque
Dizem que mordi minha mão,
Dizem que mordi a aurora.
Quando o crepúsculo nasceu.

Dizem, pois nada lembro:
- Quem foi? Qual trem?
Qual lua se afogou
Entre as escarpas da testa?

E eletrocutada desabou
Seu leite de gozo eufônico
Na solução de abismo e orquestra,
Que inundou seu ventre vale.


Gozo con la terapeuta


Durante el electrochoque
Dicen que mordí mi mano,
Dicen que mordí la aurora.
Cuando el crepúsculo nació.

Dicen, pues nada recuerdo:
– ¿Quién fue? ¿Cuál tren?
¿Cuál luna se ahogó
entre las escarpas de la testa?

Y electrocutada derramó
Su leche de gozo eufónico
En la solución de abismo y orquesta
Que inundó su vientre valle.


Traducción: Pedro González

Wednesday, October 25, 2006

SUICÍDIO

Não havia saída. Nenhum abismo se abria. Nenhuma porta fechava. Nenhum abracadabra. Não conseguia ficar sozinho. Então eu me joguei dentro de uma caixa de Amplictil.

Vi que no centro só estava eu comigo

Eu dormi no meu suicídio.Acordei para outra vida. Estava dentro de um vidro. Cristo era um suicida?

A vida me agarrou e ainda não me soltou. Quando ela me quiser já estou preparado. Basta um abismo crescer. Nem a eternidade é pra sempre.



Suicidio

No había salida. Ningún abismo se abría. Ninguna puerta cerraba. Ningún abracadabra. No conseguía quedarme solo. Entonces me metí dentro de una caja de Amplictil.

Vi que en el centro estaba solo conmigo.

Me dormí en mi suicidio. Desperté en otra vida. Estaba dentro de un frasco. ¿Cristo era un suicida?

La vida me agarró y todavía no me soltó. Cuando me quiera estoy preparado. Basta con crecer un abismo. Ni la eternidad es para siempre.

Tradução Frederico Nogara

Monday, October 23, 2006

Não adianta fazer força você está numa camisa.
Ela não é bonita e você não acreditou em mim.
De que adianta ter braços agora?
Saber que tudo está no início e não no final.
Você vai passar um tempo com a gente moldando massinha.
Será bem tratado e acorrentado todo o dia antes de dormir.
Viverá com insônia, mas dormirá de olhos abertos.
E as melecas serão grudadas no teto porque ele ficará bem perto.
E o seu silêncio [quando vier] passará a eternidade para existir.

Você ouvirá vozes redentoras que lhe falarão da felicidade.
Agora é só algum segundo depois do enigma ser desvendado.
Jogarão golfe com o seu crânio pré-moldado.
Costuraremos todas as grandes cicatrizes. Mas deixaremos
as menores pra você acreditar que ainda existem.

Monday, October 16, 2006

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Muitas pernas pernas esquisitas pernas de elefantes pernas de lince. Dores na perna na perna de elefante na tromba de um cordeiro. Muitas faces na face dela. Muitos beijos no beijo que dei e tropecei nas próprias pernas. Mal caí e me quebrei. Mal parti e me alonguei como o vento que sacode a enseada e os galhos verdes das árvores que vejo do meu quarto parecem tremer de frio. Eu não sei mais muita coisa e sobre o que falar: perdi as pernas e ouço versos deste lugar sem pernas. Onde está o meu corpo morto? Eu diria que este silêncio me confunde nesta tarde sem binóculos. Não posso ouvir o que digo. Não consigo mais levar minhas pernas pra onde quer que eu vá só levo tentáculos enfurecidos e as cascavéis com seus chocalhos perguntam-me onde estamos indo com tanta velocidade. Pernas pra que te quero. Não consigo entrar. Não consigo sair. Me deixe ficar. Parado. Imóvel. Morrível. Aqui onde ninguém possa tropeçar nas minhas pernas.

Monday, October 09, 2006

PROTEÇÃO ÀS PUTAS

o filho da puta
é o meu filho
porque ela é puta
ser filho da puta
não o incomoda
não a incomoda
não me incomoda
afinal
todo mundo é filho de
uma foda

Thursday, October 05, 2006


a mosca

a mosca é foda
antípoda: poda

voa na neurose
no soslaio de tempo

a mosca oblíqua pousa
numa banana

a mosca é fétida
como o sentimento da asa

que centímetro se fecha
milimetro se abre

no ziper do poema

britadeira no ouvido
arrepio

a mosca é um rio
que cospe glandes

e girassóis
a mosca está em nós

ou estará no rosto absorto
do morto

contrito, duro
naquele escuro que só vôo

Tuesday, October 03, 2006


Bombado

Mergulhei de cara no ar
Quando eu respirei
Meu coração ia a duzentos por hora
Capotar na primeira endorfina
E ir adrenalizado bater e bater
Até uma morte circunscrita
A alguns idiotas que me matavam
Mas eu voltei vivo
Da camisa de força que apertava
Ainda sem conseguir separar
A realidade da realidade
Por que tudo era realidade
Aquelas vozes que me esmagavam
Aquelas mãos que eram pinças
Aquelas pinças que pareciam caranguejos
E arrancavam meus pedaços
Mas não comiam
Porque era só por prazer
Que faziam aquilo



Friday, September 29, 2006

DE CIMA PRA BAIXO


Sou o melhor que posso
Possuo o melhor que sou

De mim sei não restará nada
Nenhum caroço, nenhuma empada

Às vezes me jogo do sexto andar
Às vezes me jogo do quinto

Mas nunca passo do chão
Do chão onde um fogo extinto

De um mendigo que me acudiu
É aceso toda noite

Toda noite um anjo cai
E um outro abismo cospe labaredas

Talvez o dragão seja hoje
O melhor amigo do fogo

Talvez seja o deus pra quem rogo
O último ateu suicida

Monday, September 25, 2006

Tenho fobia de gente
Mais de cinco
me deixam tonto

Um sexto
logo eu pensaria:
o que está fazendo aqui?

Ela não fala nada
Não ri
Nem nada

Não serve nem
pra dar um
clique

Num retrato chique
de nós todos
sorrindo

Ela veio
pra me irritar
sinto-me perseguido

Por sua bizarria:
será que está armada
ou é agente da CIA?

Monday, September 18, 2006

sistema*

a noite exala cemitérios
escovo as lápides como dentes
o hacker cheira cocaína nos meus alvéolos

15 engraxastes brasileiros e 200 bombeiros
morreram em Nova York
hoje quem sabe algum culpado será crucificado
hoje quem sabe algum deus surgirá

debaixo do entulho será
que a caixa preta dirá mais do que o povo negro sem fome
diz ao dizer que adora outro deus

debaixo do entulho será
que o sangue vermelho é igualmente vermelho em todo o lugar do mundo
desde que vivo ainda agora sobrevivente do que persigo

debaixo do entulho será
que um outro futuro existe ou será sempre em nome do pai
que matarás

debaixo do entulho será
que existem bíblias e alcorões queimando em igualdade de condição
ou será que só existirá

o corpo de um jovem mais jovem do que eu
suicidado por a si suicidar

* poema escrito na noite do 11 de setembro. Eu me achava jovem!

Monday, September 11, 2006


Um locutor me anunciava:
“Direto do útero materno
para o inverno do inferno

Rodrigo de Souza Leão”
Fui aplaudido e assinei
a carteirinha de sócio-atleta

Monday, September 04, 2006

Tantos baiacus
voando cócegas

Tantos meninos
engordando

Quantos ventos
lutando na biruta

Voando cócegas
quantos céus em mim

Baiacu engordando
explode infinitos

Sunday, August 27, 2006


por Paulo de Toledo e Rodrigo de Souza Leão

Tuesday, August 22, 2006



1. Abrolham vulcões pela pele

Erupções compõem
o amarelo

Elos de luz
Pus em pus

2. Cavalo sem crina
branco

Cuspindo falésias de
seda turquesa

Todavia o mar bordejando
aspergindo

gotas

Água de calor
vulcânica quase ar

Quasar

Pulso móbiles redoma
Aquário de fumaça

Cospe sombras
cadências cardantes

Cabelos crinas d’éguas
Bolas de sabão

explosão

3. Fios de ouro
preto

virando olhos
claros

Fumaça, fuligem
cinzas

apenas tragadas
d’eu(s)

4. Deitado olho céu
Magma jorra

da jarra – corpo
copo de cinza

5.Gatos lambendo
a pele de filhotes

Morreram na guerra

Dromedram desertos

Gatos miragens
Nesgas de aurora

Intermináveis dores
erupções e mordiscos

Vulcões bons apenas
quando mortos

Estou comendo crepúsculos

6. Brisa maquinal
Matina eterna

Vento de bolso

Barcos velejando

Miragens aquosas –

Sopro endêmico
mixando suores

Odores espinhas
Rugas melecas

Despojos restos
Andrajos orgânicos

Verdadeiros oceanos
de frios sonhos

Pesadelos e infernos

7. Rastafári safári
em mim

Elefantes trombetas
esporrando

Sangue saliva
seiva e pus

8. Via Delfos delfins
e hienas

E sua cria de corvos
amestrados bicavam meu ventre

arrancavam palha pulhas palha
palhaços

Thursday, August 17, 2006

ESTRELAS

Os anjos estão dispostos a nos ajudar
É meia–noite e eu me divido em três
Sou o cavalo branco diante do abismo
E o morcego que vê na escuridão
E a esfinge que baba sêmen

Alguns corvos estão a nos olhar
O nosso longo beijo de compreensão
E a morte tão próxima quanto o medo
De que um anjo vire uma verdade suspensa
E assim se enforque com a própria luz

E um anjo enforcado é mais um aviso
De que a voz que escuto em mim
Continuará a pedir ajuda a todos
Haverá então o encontro das trevas com a noite
E eu ouvirei outras vozes além daquela

Que dirão que tudo está no início
E o universo ainda não copulou com a terra
E o dia que isto acontecer
Será o início de uma nova era
Será noite de dia e de noite

E os zumbis jogarão xadrez com o resto
De corpos mutilados
E o fogo inundará as pradarias
Aí os loucos estarão todos livres
Por que todos estarão loucos

Friday, August 11, 2006

Este poema foi feito após minha segunda internação. Dormia no mesmo quarto que um outro louco que só fazia repetir: eu vou pra Paracambí se vc num comer vai pro Caju. Paracambí era onde ficava um hospício e creio que o Caju era o cemitério. Deve ter sido alguma coisa que repetiam muito pra ele. Não sei.

diário 002.01 [E alguma luta haveria de persistir naqueles olhos que duvidavam de tudo. O policial César Amparo foi internado no hospício.]

extremo



amparo ampara e dorme de vaga aberta
a onda que opera nele diazepan ou lexotan

satã ao seu lado e do meu deus dormindo
a mímica do algoz em seu sorriso limpo

quanto de mim fica claro como o mijo
que bebo na falta d,água e de miragens

algum azul claro no céu pede que nuvens
venham salvar as fezes que ocasionalmente

rolam como pedras que não criam limo
ao som de Sabath cantando Born to be wilde

trepidam os loucos e no gardenal flutuam
bolas três vezes ao dia todo dormindo

césar amparo beija na boca de Sabath
que homem não pula mais que ele agora

Sabath comeu uma juba e cospe vírgulas
na orelha de amparo alguns sutiãs se aquecem

são os bicos dos seios de Karina e suas coxas
anelando minhas mãos que cofiam o ralo

barbeado mal feito pelo que restou de presto-
barba azul e barba vermelha e barba papa e

sorria que estou te filmando e vai Serginho e
vai Serginho e puta que o pariu cotia não

na noite a escuridão acende a Rocinha
as orquídeas brotam na beleza dos olhos

da Lua cheia que explode na água ao som
do testículo de mármore moído por Alfonso

eu vou pra Paracambí e tem que comer senão
vai pro Caju e metrô Estácio e Tijuca e Paracambí

Vanessa olha os olhos em sangue do sargento
no pico hiper-tensivo de um assobio doido

ele lê cantando um texto que fez ontem
para hoje ser lido na dinâmica de grupo da Dra.

pouco mais velha ou muito mais nova eu não
quero nada que não seja o desenho de prata

no arco do sorriso de uma doida que lembra
a minha mãe e me dá um beijo e diz que garoto

bonito que garoto bonito que garoto bonito

Ana é internada de manhã e amarrada na cama
não mama não come não nada e assim como o

procurador mente brilhante e brilhantina no cabelo
atesta que detesta eletrodos na testa mas adora

ouvir o funk carioca da favela que minas pow
paulista big brother e casa dos artistas

café e leite com água fervendo na cuca legal
macarrão no almoço e no jantar gardenal

na noite tem jogo da seleção e se enfermeira b
deixar deixará de novo a tv ligada na globo

e vc tudo haver ou a ver ou haverá ainda
outro céu que não as grades de ferro cromado

engolindo a noite e alua de Cortazar enforcada
e escaldada entre a química cerebral e Deus

quem pode com um ateu quem quer que seja eu
sei que Ana dorme no pé de Alfonso e presa a cama

babam e babam e babam enquanto tremo pedindo
piportil ou acneton ou a hóstia e a extrema unção

Monday, August 07, 2006

1. Pânico no circo
aladodas têmporas

Endorfinas macaqueando
a goiabada pineal

Volts em volta
Eletrodos todos

De branco culpados
culpas pecados

Haldol no leite
Ralo do tempo

Clitóris de plástico
na sopa de adrenalina

2. Nódoas nuas cristalizadas na nuca
Nunca injete tudo

3. Camisa sem mão sem mangas
Nos olhos apenas antolhos

Na janela áurea de peristilos
punção de morte fode

4. Peixes fisgando anzóis comicham no corpo
Baleias de chupeta

5. Na veia sossegada o leão caminha
inválido de juba cortada, cuspindo
vida curta

Em curto circuito fechado
faixas vendas ferem as paredes

Sem degraus as pilastras
Sem grade degrade

Degradado de sol
de lua

Chuva desbotada
Eletrochoque natural

Enguias guiam os volts
na cabeça dos cegos de si

Thursday, August 03, 2006


VENDE-SE.


Guelras e silêncio. As formigas passeiam pelos peixes. Jonas e sua baleia estão expostos. À mostra toda a tradição. Estandartes nas mãos. Crianças começam a cantar o estribilho do hino nacional. As bandeiras se masturbam no vento. Poetas discutem complexidade do mundo sem complexidade. O hino é belo e a flâmula é verde e amarela. Eu só queria romper a bolha que me prende a esta casa e a estes metros quadrados. Eu iria à feira ver os peixes mortos. Sentir o odor fétido das sardinhas expostas. E não ler num blogue que tudo está a venda. Inclusive as cabeças dos líderes da oposição poética. Um a um decapitados por serem diferentes.

Monday, July 31, 2006


de Paulo de Toledo e Rodrigo de Souza Leão

Thursday, July 27, 2006



Uma Temporada nas Têmporas

lamina na goela estéril da minha criatividade toda lux luxuosa e rubra ruboriza aquele horizonte onde dante e algum demônio se dilacera numa verdade e alguma turbina de um avião cadaveriza o aerador fênix mordendo jorge de lima revirando na cova por ter citado o seu nome nesta nova trova embolada onde ponho todo o meu coração apodrecido por fezes e cactos e sêmen-lhantes que abominam alguns trocadalhos mesmo assim quem sabe me invento inventando um vento que turbine a alma daquela vela próspera em ignecer minha designição
- Eu surgi do nada e nunca fui ninguém. Queria perdoar meu pai mas ele não me pediu perdão.
Marx e Nietzsche conversavam sobre Zaratustra temendo que o fogo daquelas labaredas próximas destruísse o abismo que limita o fim e o início dele. Ele era Deus e se recompunha de uma fase onde as chamas foram fartas mas não fatais. Criar e Destruir. Aqui está a modernidade enforcada com seu próprio paradigma. Quem sabe um novo Deus virá?
Daniel B. E seu boné peludo com um pênis pediu para que Picasso acabasse logo de fazer o seu retrato.
Eu querendo ser James Joyce.
(marfim tristeza onde derrubam a profusão de idéias tolas que circundam o que todos esperam é que o ser seja o que todos são e iguais assim seremos animais também) Derrubem uma vaca e a defequem quando gozam. Os pássaros foram feitos para morrer voando.)
Triste hospício em que me visto em que me vasto em que insisto em devastar têmporas de verde e.
Um tablóide sensacionalista publicou uma foto da lady Diana dando um beijo na boca de um surrealista. Foi quando eu qualquer fuzilei um por um dos meus ídolos e ficou claro que teria que deixar de ser sensasurrealista.
James viu Joyce que viu Frederico que viu Nietzsche. Trocaram sorrisos e disseram que mesmo um beijo rápido que trocaram, não significava amor. Por que amor é Camões. É o fogo que arde sem se ver. Entre eles não havia nada além de poesia. Gostavam dos mesmos poetas e tinham certa erudição vulcânica: transbordante. Mesmo quando esporraram e cuspiram palavras cruzadas e bombas de efeito moral, se diziam pessoas tristes e inacabadas. Alan Kardec lhes havia dito que Nietzsche iria voltar. Daniel B. chorou como quem abandona o silêncio de uma rua da infância. Marx foi sarcástico e pediu que Sartre fosse crucificado. Picasso sorriu, sorriu tanto que ruiu feito um edifício explodido.
- Mas eu nunca li James Joyce.
- Eu também nunca li nenhum destes caros, mas se você complicar bem a coisa...
O olho esquerdo de Marcel Proust caiu de sua boca.
- Voltar! – gritou Nietzsche. Porra eu quero ir eu não quero voltar porra nenhuma.
Ouve-se Mozart num piano de cauda tão longo que o infinito daquele ponto de interrogação comeu o horizonte no peito do Charada.
- Quero Ac. Quero Ac.
Keruac surgiu com Freud. Freud disse:
- Esse povo quando quer zona quer a tempestade de um Amplictil. Ficam com
estes trocadilhos que não levam a literatura para lugar nenhum. Mas quem quer chegar a algum lugar e que lugar é este?
Assim todos esperavam sua vez de esperar.
Era o soma que estava em falta naquele inferno place. Motel vagabundo onde Elizabeth Bishop e Emily D. onde Breton e Piva onde Marlom Brando e Elvis se encontravam com Lou Reed, Yma Sumac e David Bowie.
(MANIFESTO QUALQUERISTA: artigo1) Quero qualquer coisa qualquer nota qualquer dia e odeio aveia Quaker. Desejo o que respiro. Respiro o que desejo. Cada um é livre e pode se dizer poeta da forma como quiser e se expressar como quiser e a palavra poetastro será banida do dicionário. Todo o poeta é um bom poeta e Jesus Cristo que ia julgar os vivos e os mortos ainda não apareceu para me coroar com uma flor carnívora. Além do fim do poço há muita possibilidade de haver uma areia movediça no quintal de sua depressão. Por isso tudo pode piorar. Para que o Qualquerismo seja implantado é forçosamente necessário que os dez primeiros inscritos no movimento façam uma antologia poética com Os Cem Piores Versos dos Cem melhores Poetas de Todos os Tempos. Assim veremos que ainda somos piores do que o que os piores dos melhores.)
to cansado de escrever e como ninguém vai ler:
lamina na goela estéril da minha criatividade toda lux luxuosa e rubra ruboriza aquele horizonte onde dante e algum demônio se dilacera numa verdade e alguma turbina de um avião cadaveriza o aerador fênix mordendo jorge de lima revirando na cova por ter citado o seu nome nesta nova trova embolala onde ponho todo o meu coração apodrecido por fezes e cactos e sêmen-lhantes que abominam alguns trocadalhos mesmo assim quem sabe me invento inventando um vento que turbine a alma daquela vela próspera em ignecer minha designição
ao invés de enrolar prefiro copiar e colar:
(marfim tristeza onde derrubam a profusão de idéias tolas que circundam o que todos esperam é que o ser seja o que todos são e iguais assim seremos animais também) Derrubem uma vaca e a defequem quando gozarem. Os pássaros foram feitos para morrer voando.)
OS PÁSSAROS FORAM FEITOS PARA MORRER VOANDO.
MANIFESTO QUALQUERISTA: artigo 2) Partindo do pressuposto de que tudo é tudo e nada é nada como nos dizia um dos dez maiores filósofos contemporâneos - o Tim Maia -, é que o pilar das patas bovinas do Qualquerismo deve ser fincado. Depois de uma antologia com “Os Piores”, é a hora de aliciarmos o maior número de adeptos a nossa causa. Para isso o departamento esportivo estará fornecendo a carteirinha de sócio-atleta aos dez primeiros que chegarem depois daqueles dez primeiros. Assim poderão todos os vinte freqüentar a piscina cheia de ratos da modernidade, e ouvir esta “chupação” extraída daquela música de Cazuza. Lembre-se que uma vez Qualquerista sempre Qualquerista. Todo o Qualquerista carregará um Q de (abrir o MINIDICIONÁRIO SACCONI DA LÍNGUA PORTUGUESA E LER DA PÁGINA 555 ATÉ A PÁGINA 662) dentro do coração e estudará apenas nos manuais da Disney. Aos jornalistas nada melhor do que o Manual do Peninha. Aos magos, como o nosso querido Paulo Coelho: o Manual da Maga Patalógica. Aos escoteiros: o Manual dos escoteiros. Ao Manuel: o Manual do Manual que é a bíblia de todo o Qualquerista.
Marx e Nietzsche conversavam sobre Zaratustra temendo que o fogo daquelas labaredas próximas destruísse o abismo que limita o fim e o início dele. Ele era Deus e se recompunha de uma fase onde as chamas foram fartas mas não fatais. Criar e Destruir. Aqui está a modernidade enforcada com seu próprio paradigma. Quem sabe um novo Deus virá?
Impávido Caetano Veloso é que não agüento mais. Ë muito espaço para uma pessoa só.
Pedem os piolhos que peidam. Pedem as algemas que prendem. Tudo quer e o querer e a vontade de ser é o que habita o instante que não se repete mais. Heráclito está no amarelado lago de Van Gogh. Heráclito pede uma orelha enquanto Dennis Hoper beija na nuca de Agripino de Paula.
Paulada.
Pau.
Pau grande de poder para embocetar-te de porrada.
OS PÁSSAROS FORAM FEITOS PARA MORRER VOANDO.
Pardal voando louco no infinito de uma boca sangrando sempre a procura de outra boca em que pardais que voam no escarro de Augusto dos Anjos que deve morrer como eu morri. Perdão meu pai é o que queria dizer mas meu pai não me pediu perdão e não me lê e não me quer mais agora aqui. É um pássaro dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um dentro de um pássaro e dentro de um pássaro e dentro de um pássaro: tal vôo só é possível se todos os pássaros se unirem.
Daniel B. Pergunta a Nietzsche:
- Por que você quer voltar?
- Eu não quero.
Daniel B. tira o seu boné e o seu rifle e atira no criador do seriado em que foi Daniel B. Daniel B. chora.
- Diga a ele que eu fico – disse Nietzsche.
- Posso ir então.
- Kardec quer que eu vá.
- Kardec não é Deus. Deus é o circular.
Havia um círculo redondo na palma da mão de Daniel B.
Ele continuou falando:
- Sabe quando a gente é pequenina como a ponta de um dedal e a gente acha que sabe tudo. A gente chega a juventude e acha que sabe tudo. A gente chega a idade madura e acha que sabe tudo. Por que a gente sempre acha que sabe tudo?
Nietzsche olhou bem naqueles olhos que eram ciclones e que diziam o que Daniel B. queria. Queria profundidade de um personagem de Marcel Proust. Ele queria ser Marcel. Daniel Boone não gostava de ser Daniel Boone e queria ser um abismo como foram aquelas outras almas tão torturadas mas que no fundo podiam ser miragens, palavras, canções, desertos, história em quadrinhos e mais uma pá de coisas e de cal sobre o assunto. Assim tudo ficou durante o tempo em que penso em algo e foi o suficiente para me perguntar; “por quê me metalinguo?” Assim surgiu:
(MANIFESTO QUALQUERISTA: artigo3) O Qualquerismo não é um movimento pois se pretende estático. O único movimento que pode se equiparar ao Qualquerismo em proposta é o MRU: Movimento Retilíneo Uniforme. Parar é andar para frente por mais contrário que possa isso parecer. Ócio total. Ócio parcial.Ócio ossal. Parar e olhar a natureza dentro de cada prédio negro além da vidraça. Parar para sentir a brisa do óleo que sobe. Parar e cintilar no corredor de ar entre o vazio que a cidade tem. Parar com o movimento por aqui pois devo mover-me, devo demover-me, isto eu acho.
populacho
prepopula
própopula
copio e colo:
- Eu surgi do nada e nunca fui ninguém. Queria perdoar meu pai, mas ele não me pediu perdão.
“Tornar-se pessoa. Thor nasce tornado. Tornar-se Tornado. Thor nasce Thor”.
Toni Tornado.
Nietzsche não queria o que Daniel Boone queria mas ambos eram populares em demasiado. Um tão gênio e o outro tão burro. Ambos bem pop. Um astro esquecido e idolatrado por milhões. Outro o filosofo da moda. O cara que fazia a cabeça de quem inventa de Quem I. De QI.
- Eu falo com Kardec que você quer ir em meu lugar e é você quem merece ser, o criador do Qualquerismo – disse N.
- Também acho. Mas será que este cara vai ser feliz?
- Um gênio!
- Então irei sofrer para caralho sabendo de que a inteligência não me ajudará de nada. Mas irei por que como Daniel Boone eu fui muito amado e quero sentir o que é o ódio.
- Saberá bem. Aprenderá tudo que eu disse e o pior é que você não porá em prática meus ensinamentos pois quem nasce para Daniel Boone nunca chega a Frederico. Nunca. Você viu o filme Traído pelo Desejo. Um escorpião é um escorpião.
Roberta Miranda cantava “Vá com Deus”. Kardec cochichou no ouvido de Nietzsche e Daniel Boone baixou em mim num centro espírita. Disse que iria ser, o criador do Qualquerismo. O movimento do eu sozinho. Disse para que eu fosse o meu movimento. Para que eu fosse fiel a ele e que o importante era se movimentar mesmo pedra.
Nasci. Os pássaros foram feitos para morrer voando. Mas nunca morrem assim.
lamina na goela estéril da minha criatividade toda lux luxuosa e rubra ruboriza aquele horizonte onde dante e algum demônio se dilacera numa verdade e alguma turbina de um avião cadaveriza o aerador fênix mordendo jorge de lima revirando na cova por ter citado o seu nome nesta nova trova embolada onde ponho todo o meu coração apodrecido por fezes e cactos e sêmen-lhantes que abominam alguns trocadalhos mesmo assim quem sabe me invento inventando um vento que turbine a alma daquela vela próspera em ignecer minha designição

Sunday, July 23, 2006

.o lince corre das listras vestindo meias coloridas.

Wednesday, July 19, 2006



SINDROME DO PÂNICO

A minha casa está doente. Como eu a minha casa tem 4 cômodos e 6 pernas. Ela vai de corpo em corpo procurando um lugar onde morar.

Como eu a minha casa é o melhor lugar do mundo para ser sozinho como sou.

Há palavras que não encontro para definir a minha casa.

Talvez a mais exata seja: asa.

Sunday, July 16, 2006



SOMANDO DIMINUINDO IGUALANDO

poeta + poeta = nada
poeta – poeta = nada
poeta = poema
poema = nada
poema + nada = poeta
poesia + nada = poema
poema + poesia = poeta
poema + poesia = João Cabral de Melo Neto
poema – poesia = este poema
poesia – poema = matemática
poesia = tudo

Thursday, July 13, 2006





1. Algum palhaço
apontou um revólver
e divulgou seu nome
ao matar um macaco

O macaco morreu
desconjurando
O palhaço ria
pela primeira vez

Tantos macacos
vieram para o enterro
dar pêsames às núpcias
do palhaço com a dor

2. A tromba do elefante
limpa banha molha
os animais menores

Tempestade e pi
po
ca
porque quando escrevo agora
tudo chora
E o barulho da chuva na janela
lembra o da pi
po
ca
na panela

E o elefante no circo
E os animais menores
lascivam estáticos
escrutam o trapézio

(a cadeira nas rodas do trapezista)

que quer vôo
mola motor motriz lágrima grinalda e véu
e vento
Chuva
molhando
o poema

Água daquele elefante branco
sem o nó na tromba

3. O transferidor se abre bailarina
em poucas cores
piruetas e montanhas russas
E os alvéolos avelãs
de delicados se esticam
na ponta dos dedos
Linha finita limítrofe elástica tensão máxima
Ou o poema:
dança nas ancas
dobras e dribles
corpo agulha
Penélope baila

Monday, July 10, 2006



O copo quebrou
e não foi preciso mais nada
além da voz de Yma Sumac

O copo quebrou
no agudo do passarinho
dentro dela

O copo quebrou
e os cacos ficaram no chão
para algum faquir sorrir dor

O copo quebrou
e toda criança sabe
que a boa água é a da bica

Thursday, July 06, 2006


Freud dizia que defecar é um prazer
e que todo mundo ama sua mãe

Eis que defequei um filho com barba
Onde foram parar minhas hemorróidas,
eu pergunto

Só uma puta poderia te parir, respondo
E vou pondo naftalina na latrina
do dia-a-dia

Para não apodrecer de mim mesmo

Tuesday, July 04, 2006

COPA DO MUNDO 5

Perdemos. Foi bem perdido. O Brasil vive um caos interno e eterno. É hora de nos irmanarmos para a construção de um país que seja realmente vencedor. Um Brasil sem tanta desigualdade. Sem tanto político corrupto. Tão rico e tão pobre. Que a derrota sirva para abrir os olhos do povo brasileiro que só se une em época de Copa do Mundo. Eu preferia não ser pentacampeão e ter um país melhor. É hora de reflexão. Vem eleição aí e é temos que votar bem. Precisamos de tanta melhora. Estamos numa eterna UTI. Tomo meu Haldol das seis horas. Estou triste porque a gente perdeu na única coisa que a gente é considerado bom. Temos que ser um país. Liberdade, igualdade e fraternidade. O Brasil se nutre do caos que gera.

OS TRÊS AZUÍS FRANCESES

AZUL MARINHO

Quase Negro noite além
Perto escarra maresias
Cais, caos, faraós e faróis

No Egito um homem
Veste azul marinho
E enfrenta as estrelas

Vasculha o céu deserto
De algum puçá
Que o Escorpião que sou

Galáxia impura
Inocula o veneno próprio
Do amor impróprio

Pela tempestade
Nas pernas do Oásis
Chovem suicidas

“Liberade, Liberdade
Abre as Asas sobre Nós”

AZUL TURQUEZA


Todos são iguais perante a lei
Mas há os mais iguais

Há os mais iguais perante deus
Há os mais iguais perante a lei

Pior que os mais iguais perante a lei
São tão iguais quanto os perante deus

Pelo menos no céu occipital do Ocidente
Onde se arrependendo no fim de Hordelin

Rimbaud cuspiu a hóstia sagrada


AZUL FINAL


No final todos
Os amigos e os inimigos
Se reúnem num churrasco

E comem a carne do Bisbo
E as sardinhas

No céu os fogos de artifício
Entram pelos orifícios negros

E um dia voltam
Caindo na noite de natal
Feito um colírio no plenilúnio

Laranja do Pequeno John

Saturday, July 01, 2006


ARTE


Eu não sei captar lei
Capitularei

DESEQUILÍBRIO

A esquadrilha da fumaça polui
Tanto
O ambiente
Mais que um baseado
E ainda faz manobras de guerra

?

Um canguru
Pula mais que um cervo
Que pula mais que uma mola
A zebra é preta ou branca
Qual o caminho da boceta
É mais fodido e fedido
Para uma boca animal
Tudo é perguntar
Nem sempre com interrogação
Que é algo
A mais
Há mais??????????????????????????

DEPOIS DA MORTE

Se pudesse decidir pra onde ir
Riria

Thursday, June 29, 2006

COPA DO MUNDO 4

O time jogou muito mal, muito. Foi o pior jogo até agora. Deixou Gana jogar com gana. Dida salvou o Brasil umas quatro vezes. Haja Lexotam 6. Por que o país não se une tanto para fazer um país e só se irmana numa Copa do Mundo? O futebol é como a vida. Nem sempre os melhores ganham. Viva Gana e sua valentia e seu futebol pra frente e seu toque de bola. A seleção brasileira jogou no contra-ataque. Na encolha. Esperando para dar o bote. Mas este time ainda não convenceu. Tomara que o Robinho volte logo. Ronaldo, mesmo fora de forma, é o maior artilheiro de todos os tempos. Tem que tirar o chapéu pro fofucho. O gol de Adriano valeu, mas ele estava impedido. Placar moral Gana 4 x Brasil 2. Mas continuamos na vida de torcedor sem distorcer. Gana chuta mal a gol. Kaká não jogou bem. Cadê o nosso toque de bola? Ronaldinho Gaúcho não foi o mesmo de outros jogos. Um dia ruim. Zé Roberto foi eleito o melhor do jogo. É preocupante. Ainda bem que tomei Haldol hoje!

Tuesday, June 27, 2006




Tudo ficou dourado. O céu dourado.
O Cristo dourado. A ambulância dourada.
As enfermeiras douradas tocavam-me com suas mãos douradas.
Tudo ficou azul: o bem-te-vi azul, a rosa azul, a caneta bic azul, os trogloditas dos enfermeiros. Tudo ficou amarelo. Foi quando vi Rimbaud tentando se enforcar com a gravata de Maiakovski e não deixei.
Pra que isso Rimbaud? Deixa que detestem a gente. Deixa que joguem a gente num pulgueiro. Deixa que a vida entre agora pelos poros. Não se mate irmão. Se você morrer não sei o que será de mim. Penso em você pensando em mim.
Rimbaud tudo vai ficar da cor que quiser.
Aqui não dá pra ver o mar. Mas você vai sair daqui.
Tudo ficou verde da cor dos olhos de meu irmão e da cor do mar. Do mar. Rimbaud ficou feliz e resolveu não se matar.
Tudo ficou Van Gogh. A luz das coisas foi modificada.
Enfim me deram uns óculos.
Mas com os óculos eu só via as pessoas por dentro.

Sunday, June 25, 2006

COPA DO MUNDO 3

Finalmente o Brasil jogou. Os samurais não conseguiram conter Ronalducho e seus blue caps. É sempre estranho ver o Brasil jogar com calção branco. Parece a seleção do Vaticano. Foi um dia bom para a seleção. Os reservas mostraram que são melhores que os titulares. Repetiu-se o time da Copa das Confederações e a boa atuação veio. Ao invés de tomar 4 Lexotans, tomei 2. O 1x1 do primeiro tempo era injusto. A torcida brasileira ficou calada ouvindo os japoneses gritarem alguma coisa parecida com “Zico, Zico”. Zico foi o maior jogador que vi jogar e o maior ídolo do meu Mengão. Ele cantou muito o nosso hino nacional pelos gramados do mundo e, hoje, não foi diferente. O cara é um exemplo. Como disse um comentarista outro dia: “Se o Zico não ganhou uma Copa do Mundo, azar da Copa do mundo”. Hoje o escrete jogou que nem meu Rivotril, guardado para alguma ocasião de tensão. Foi forte. Incisivo. Jogou bola. O problema agora do Parreira é maior. Quem escalar? Juninho jogou muito. Eu desfazia o quarteto mágico e o seu abracadabra que nunca foi mágico. O Fenergam é mais um remédio amarelo que me impede de tremer tanto durante os jogos. Tremo já o suficiente. Que venha Gana, sem tanta gana assim, por favor.

Thursday, June 22, 2006

COPA DO MUNDO 2


Vencemos. Ronaldo mais atrapalha do que ajuda. Sufoco de novo. Dois a zero contra os fisiculturistas australianos. Nunca quis perder e nunca saí ganhando em nada. Sou um fracasso. Projeto na seleção. Ainda um projeto de equipe. A camisa amarela está lá. Repousa. Será que vou usá-la? Já disse q só ponho o amarelo se o Brasil for campeão. Um Lexotan verde, o de seis miligramas. Pelé que recebeu a alcunha de poeta, quando calado, acertou uma: o Equador está surpreendendo. Ronaldo tava com trique-trique. Ele disse que não vomitou no primeiro jogo. O jornal italiano diz o oposto. Ser ou não ser: o doente sou eu ou o Ronaldo? Manda um Gardenal na veia que ele melhora. Eu nunca tomei Gardenal, mas dizem que faz um bem danado. Tudo vale a pena quando a alma não é de adrenalina. A Alma apenas é. Sempre conheci os que levaram porrada. E a Austrália veio com tudo. Deixou marcas na canela dos brasileiros. Eles queriam ficar no nosso corpo feito tatuagem. A imobilidade do Brasil em campo é um reflexo da apatia do governo brasileiro. Ninguém se movimenta. Adriano num é ponta e quer jogar com Robinho. Deixa Parreira. Deixa o Robinho jogar desde o início. O time tem que mudar pra enfrentar o Japão. Acertar o time para as oitavas. Roberto Carlos, por enquanto, é só um cantor que é chamado de rei. Muda a seleção. Acho que não tem o Bagio nesta Copa para perder outro pênalti. Até o Obina, do Mengão, está melhor que o Ronaldo. Num teima tequinicu! Parreira tem uma cara melancólica. Toma um Lítio, meu caro. Esse cara é bipolar, hein!!!!!!!!! Vou ver o Raul Gil que me dá mais alegria.

Sunday, June 18, 2006



No aquário os peixes brisam
levando flâmulas e bandeiras

Essa bebedeira nunca passa
o porre parece ser eterno

Dia após dia vomito ventres
já não tenho um corpo material

Ser uma pétala ou página branca
bailando no vento do rabo do peixe

Thursday, June 15, 2006

COPA DO MUNDO 1

Ganhamos. Sufoco total. Dia do jogo do Brasil. Eu me preparei para esta Copa do Mundo. Comprei até uma camisa da seleção, mas só vou usá-la se o Brasil ganhar o caneco. Gosto de amarelo. A gravata de Maiakovski era amarela. Era a gravata que ele mais gostava. Na verdade era um pano que cortou e usou como tal adereço. Tomei um Lexotan e mais os remédios de praxe. Consigo enxergar com os meus óculos a gordura de longe. Ronaldo está tão gordo quanto Lula. O Lexotan é um remédio inofensivo que muita gente não toma para não perder a memória. Pra que serve a memória? Só serve pra eu lembrar de meus traumas. Todas as gaiolas voam. Sou um canário preso. Mas faço tudo voar dentro e fora. Voa canarinho, voa. Por isso tomo os remédios sem medo de ser feliz. Mas num sei se voto no Lula de novo. Aliás, eu não voto. Estou muito velho para isso e não pretendo fazer nenhuma viagem ao exterior. Só saio para ir ao jornaleiro para comprar jornais sobre o futebol. Vi quase todos os jogos até agora. Torci pelo Zico. Mas até agora surpresa mesmo só Trinidad Tobago! Não tenho nenhuma informação sobre Trinidad. Não quero pesquisar na Internet. Estou farto de pesquisas. O quarteto mágico deve estar no Google. E foi um membro do quarteto que, aos 43 minutos do primeiro tempo, deu a vitória ao Brasil. Kaká fez uma boa partida e Dida fez boas defesas. Foram os melhores. Um jogo duro é bom pro brasileiro ver q o time do Brasil não é isso tudo. Tem a Itália, a República Tcheca, a Argentina, a Holanda. Há outros times. Foi bom para tirar o peso de favorito. Para tirar a nhaca. Robinho tem lugar neste time. Pedala Brasil. Enquanto isso, enquanto espero os outros jogos achando que o nosso time tem que melhorar, tiro a camisa de força e o coração na boca pulsa de nervosismo. Mais um Lexotam e tudo bem. Que venha a Austrália e seus gangurus assassinos de camicases. O país se nutre do caos que gera. O Haldol é um remédio azul, bem que poderia ser amarelo.

Wednesday, June 14, 2006





Hoje em dia, quando alguém está doente, a família chama a polícia.

A polícia vem e bate um papo com o cara. Se for preciso, colocam a camisa de força.

Não tinha como resistir: eram três caras mais fortes do que eu.

Eles me levaram junto com o meu irmão. Acharam que eu não tinha nada, mas meu pai sentia um medo danado que eu fizesse alguma loucura.

Mas eu era um perigo só para mim mesmo.

Do meu começo podia sair o fim, mas não quero rimar pobre com nobre em versos de impacto, só quero um pacto entre mim e você.

Jamais poderia dizer que só faria mal a uma mosca.
Eram centenas e centenas delas, matei algumas por prazer.

Thursday, June 08, 2006



TORTA TORTA

Uma pitada de pó de abismo. Uma colher de sopa de farinha de fogo. Dois litros de leite de fósforos e cigarros picados ou moídos no liquidificador. Um cinzeiro de cristal triturado. Duas porções de batata frita em banha de crepúsculo. Duas bananas de dinamite. Uma dose de destilado de tornado. Cinqüenta colheres de AR-15. Alguns motivos pra viver em guerra. Outros tantos de rosas de chocolate. Um Impare State Building. Duas tochas de adrenalina. Alguma química de estrelas e buracos negros ao molho pardo. 20 litros de catarse. Cinco motins num espaço de um beijo. Um trovão. Um cavalo branco empalhado. Uma múmia viva. Quatro nozes de água benta. Uma flor de cianureto na lapela. Meia torre de Pisa inclinada. Dois Van Goghs al dente. 211 bispos sardinhas fritos. Outra porção de goiabada com nuvem. Quatro escorpiões mascando chiclete. Cinqüenta leões defecando o horizonte. Um mar de Fernando Pessoa. Quatro braças de braços da Vênus de Milo. 1 quilometro de algodão doce. 24 brigadeiros de terapia de grupo. 29 semanas sem beijar. Uma folha de olhos esbugalhados. Algum poema que termine no fim.

Friday, June 02, 2006

O Hermafrodita

Eu tenho 40 anos e nunca transei na vida. Nem com homem e nem com mulher. Mas posso dizer que sou heterossexual, já que o meu desejo é todo por mulheres. Sendo mais drástico ainda, posso afirmar que jamais beijei uma mulher. Digo de antemão que se masturbar é uma arte. Conviver com o próprio pênis é uma arte. Não sou padre, não estou preso, não é o fim do mundo, o mundo não acabou e sou o único sobrevivente. Não tenho medo de sexo, não tenho medo de broxar, não tenho pênis pequeno; apenas me dedico à arte de me masturbar. Tudo começou bem jovem, quando aos 11 anos, fiquei horrorizado ao ver um amigo se bolinando, mas, dias depois, num ônibus, quando uma mulher se sentou ao meu lado e roçou minhas coxas nas dela, pude sentir meu membro rígido. Cheguei em casa excitado e fui diretamente para o banheiro onde bati minha primeira punheta. Foi algo como o descobrimento de que podia voar. Nunca mais larguei o vício solitário. Jamais procurei uma psicóloga, muito fui a uma sessão... A mulher era bonita... Bati uma punheta na frente dela. Ela foi categórica dizendo que meu único problema era a falta de respeito. Nunca mais quis me ver, mas é, ainda hoje, alvo de minha mão e minha imaginação sexual. Ao meu pai foi dito que não tinha problema e era coisa da idade. O velho me levou para a zona. Lá me masturbei vendo as putas rebolando. Não senti vontade de beijar, acariciar ou outra coisa que não a masturbatória. Meu pai achou anormal, mas foi levando. Garoto novo. Eu tinha só 11 anos. O Vício é difícil de se largar. Uma vez cheguei a me masturbar 12 vezes num só dia. Considerava-me um super-homem até saber que Daniel, um amigo judeu, alardeava para todos que batera 25 punhetas num só dia. Daniel passou a ser o meu paradigma. Era o recorde a ser batido. Num dia de férias, dia 11 de fevereiro, consegui a façanha de me masturbar 28 vezes num só dia, quebrando o recorde de Daniel. A partir daí passei a privilegiar a qualidade e não mais a quantidade. No começo comprava revistinhas de sacanagem e me deleitava até as páginas ficarem coladas e impossíveis de serem manuseadas. Minhas punhetas eram sensórias, eu olhava as mulheres e corria para o banheiro para praticar o mais solitário dos vícios. Sempre estudei em colégio de padre e o padre Alceu era um chato que ficava policiando a masturbação alheia até ir dormir. Mas a madrugada era sempre uma criança e sempre havia um tempinho para deixar o líquido branco aquecer minhas mãos calejadas. Certa vez eu fui pego no ato e o padre me disse que iria ficar com a mão peluda e com o peito de mulher. Mas nada, nada me desviaria de meu destino de punheteiro. Pensava em louras, morenas, africanas, ruivas. Qualquer mulher era alvo de meu desejo. Eu era infiel na minha masturbatória. Sou um artista. Mas sou pudico e atento à moral e aos bons costumes. Nunca gostei de ver revista de sacanagem total – aquelas em que aparecem os membros dos homens. O único pênis que gosto é o meu, apesar de ele não ser o maior do mundo é o melhor. Tem um bom tamanho e um tratamento vip. Gostava de minhas colegas de turma também. Aquelas que não dormiam no internato. Havia uma Claudia que chegava com a saia nos pés e, no decorrer do dia, ela ia dobrando a saia até quase aparecer a calcinha. Ia para o banheiro e olhava Claudia pela fechadura e descascava ali mesmo a minha banana. Neste tempo me masturbava balançando o pênis lateralmente. Que prazer lembrar! A bunda passou a ser o alvo da minha perdição. Gostava daquelas bundas formatos pêra. Na feira eu mal podia passar por uma banca com pêras que eu ficava excitado. Mas nunca comi uma pêra. Até aí tinha meus quinze anos e papai me achava normal, mas começava a desconfiar de minhas atitudes em prol de um certo isolamento. O que é normal na sexualidade? A gente que estupra e faz horrores. Eu gosto de me masturbar. Todo o dia acordava de pênis ereto e todo dia era dia de índia. Havia coelhinhas da Playboy espalhadas pela parede do quarto. Os padres diziam que no céu não tinha essas coisas, mas, quem nunca punhetou que atire a primeira pedra. Nunca levei maça para professora nunca, eu levava pêra para as que tinham bunda pêra. Subitamente eu pedia para ir ao banheiro, depois de ter visto a abundância da professora, e espancava o macaco. Sempre foi assim. Aos 15 anos cheguei na fase das calças apertadas, não podia ver uma mulher numa calça atochada, num jeans atochado, numa malha de ginástica. Minha idola punhetal da época era a Erin Gray, do filme Buck Rogers. Ela usava uma malha apertada azul cintilante que me dava um tesão de babar. Não perdia um dia da série. E eu aumentava o ritmo e diminuía, segurava o prazer e soltava, o duro era manter o pênis duro numa hora em que a Erin Gray aparecia. Ejaculava na tela da TV. Êxtase. Orgasmo. Punheta total. Total. Tinha sonhos com meu falo cada vez maior. Uma fez pensei que ele podia ser o pé de feijão e me levar para o reino da masturbação visual. Numa piscina bati uma punheta dentro, dágua certa vez, o visual da mulher nem era tão bom, mas não tinha ninguém vendo e ela estava de bunda para o alto num biquíni pequenino e descasquei, mesmo amando as calças apertadas... Sonhava com meu falo. Falava do meu falo comigo mesmo. Meu pênis era coisa mais importante da minha vida. Não queria que ninguém o manejasse, que ninguém me tocasse. Nem mulher poderia me fazer feliz, só o meu caralho, só ele. Nada de Deusas. Nada de mulher. Sou dono dele e não solto e não ponho apelido. Apelido é mulher quem coloca. Ele faz tanto parte de mim que se chama o que eu me chamo e é o que eu sou. Não vou botar apelido nem para melhorar o texto e tirar os nomes caralho, pênis, falo etc e tal. Não vou fazer isso. Não quero ganhar o Nobel com um texto como esse. Apesar dele ser maravilhoso e falar de meu pênis sei que ninguém fala do assunto. Não existe tanta coragem assim na humanidade. A humanidade não é um espelho plano e eu nunca me masturbei olhando no espelho. Gosto de mulher. De mulheres que possam me dar prazer através da arte da masturbatória,, sem tocar em mim. Com 17 anos passei a bater punheta de cima para baixo. Era mais gostoso e demandava menos esforço físico. Por esta época chegou o vídeo cassete em casa. Meu pai comprou um para mim e me presenteou num aniversário dizendo que aquilo era para eu ver os grandes clássicos do cinema. Deu-me uma fitoteca em preto e branco. As mulheres eram lindas, mas não dava para ver as calças apertadas devido ao contraste da televisão. Mas o vídeo serviu para aprimorar a minha arte. Serviu para eu gravar a Erin Gray. A princípio tive uma fidelidade total à Erin mas depois estava gravando de tudo que me excitava nas mulheres: calças apertadas. Também neste momento passei a freqüentar “punhetalmente” outras partes do corpo feminino e outros tipos de roupa foram me fascinando. Em dias da discoteca do Chacrinha, Sarita Catatau me colocava nas alturas. Rita Cadilac também e Idem para Dalva e companhia. Broxei o dia que soube que a Índia Amazonense era um travesti. Chorei pacas. Senti-me traído pelo desejo. 99% do meu tempo livre passava me masturbando ou pensando em como gravar ou em formas novas de chegar ao prazer via a arte da masturbatória. Meu pai me chamou para uma conversa e me perguntou o por quê não tinha amigos e nem namorada. Dizia pelo menos você não é gay. Felicidade é algo mental. Eu sou feliz. Nenhuma mulher vai acabar com o meu relacionamento comigo mesmo. Comecei a malhar, mas fui expulso da academia, pois ficava muito tempo no banheiro. Fui expulso da aula de canto. Fui expulso do supermercado. Fui expulso do escotismo. Fui expulso do colégio. Nunca pensei em cortar os pulsos. O pulso é parte da mão, a coisa que vem em segundo lugar, mas é importante para a minha manifestação artística. Entrei na Universidade e a mulherada começava a dar em cima de mim. Eu Levava algumas para casa só para papai pensar que eu estava namorando. Comprei uma máquina fotográfica e fiz um álbum da cabelada. Só tinha boceta. Era uma maravilha. As mulheres se deixavam fotografar até eu ganhar um processo no sindicato por não ser fotógrafo profissional. Passeia usar uma luneta para vasculhar a vida alheia. Era pau na mão e luneta no olho. Maravilha. Mas o mundo me condena e ninguém tem pena. Ganhei um murro do vizinho quando ele me viu espancando o macaco através de uma outra luneta, esta em sua casa. Tudo bem. O vídeo foi feito pra quê? Os amantes da masturbatória devem pensar que só falo em mim e nas minhas experiências. Só me importo comigo, com o que falo e com o meu falo. Nunca roubei nada. Nunca cometi nenhum crime. Não matei e não feri mandamento. Sou um punheteiro. Formei-me. Fui demitido de vários empregos. Meu pai colocou uma micro-câmera no meu quarto e ficou observando-me por um mês. Revoltado com o que viu, no dia do meu aniversário de quarenta anos, ele me internou num sanatório. Estou sendo tratado numa cama onde minhas mãos estão amarradas e não posso me masturbar. Não é a mesma coisa pensar em mulher e gozar com a força da mente. Quero sentir o meu pênis sendo tocado por mim mesmo. Num falo. Num como. Num gozo. Num nada. Só queria sentir mais uma vez aquele líquido branco e quente inundando a minha mão e me fazendo tremer sem ser eletro-choque.
[Publicado na revista Oroboro número 5]

Friday, May 26, 2006






TENTANDO MELHORAR

Rasguei meu pulso com a tesoura.
Certa vez, quase implodi
E meu coração acelerou tanto
Que eu estava parado
A duzentos por hora.

Por ora estou acordado
E olho as luzes no teto:
São os carros em que ontem
Me joguei pela terceira vez
E hoje, não, nem, nunca

Agora usam um bisturi
Para costurar quem fui.
Isso se voltar um dia
A ser quem era
Eu, que nunca fui nada,

Mesmo.

Sunday, May 21, 2006


SOLUÇÕES SOBRE SOLUÇOS BREVES

1

ganhar a forma de esboço
pessoas

mortas

sobre a mesa
pára
e pousa
alguma ficção em

quem sabe eu fico cego também?


2

redoma de vidro alguém
andando dentro de mim
uma lapide belisca o ventre
ou o que poderá ser ou não

a busca pela bússola
opúsculo aberto
músculo que fere
o que procuro em mim

deserto
a dentro
passeia o maratonista
pra completar este dia

que desgraças maiores ainda estejam por vir

meu sangue frio se esquenta
e aguardo que meu prepúcio fale
com
o
eu falo

quem sabe meu pau se vê duro?

3

assim o poema foi feito
pra gravitar alguma questão
ou só perguntar ao porto
por que existe vida inteligente em nós

os barcos ébrios sempre voltam
na taquicardia do estetoscópio
enquanto
as crianças dormem

em limusines brancas

astros cheiram coca
e eu aqui sem poder tomar café

e agora Rodrigo?

pare de olhar seu próprio umbigo

Tuesday, May 16, 2006

 
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